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O tema é-me penoso, e nunca deixará de o ser, mas o país está mergulhado nele, aliás, vive, há quase dez anos, gerido só por ele e por todos os seus arredores.
Suponho que, com o acordão do "Casa Pia", documento que nunca lerei, porque tenho mais que fazer, se acabaram de vez, as lamentações do coitadinho do Carlos Cruz, que está inocente, as opiniões e os palpites das peixeiras da Ribeira e do Bolhão, as indignações das donas da rua, de cabelo platinado, dentes gordurosos de torrada e verniz desgastado das unhas: havia, de facto, uma enorme porcaria, e, para mais, continua a haver uma enormíssima porcaria, e essa porcaria domina o pretenso Estado de Direito, que Portugal já não é, definitivamente, desde o dia de hoje.
Há um condutor, um Bibi, um típico português do usucapião, que usou e abusou, como em todos os internatos, do sistema instalado: carne nova é necessariamente pasto do gado mais velho, e toda a gente, ou sabe disto, ou é estúpida, e ainda acredita em Fátimas, Futebóis e Saramagos.
Até aqui, a coisa está no idiossincrático: desde o padre ao homem das obras, o Português de base é pedófilo, o que quer dizer que apenas espera a ocasião para brincar um bocadinho aos/às enfermeiros/as, seja com a respetiva prole, ou a prole do vizinho.
Este é, como diria o Padre António Vieira, o peixe da arraia miúda, mas nós, povo sórdido e sem rumo, da Cauda da Europa, capaz de tudo, e do além do tudo, parou aqui na alegoria, e instalou o socialismo da manjedoura, o que, trocado por miúdos, quis dizer que, mal o peixe médio e o peixe graúdo descobriram que havia alimento, imediatamente se ajoelharam à mesma mesa, e começaram a comer, com as mãos, e outras partes do corpo, tudo o que ali havia.
Somos desprezíveis, e habituamo-nos a desprezar o nosso próximo, no momento em que não vem dos estratos bem pensantes, bem alimentados, e bem frequentados da nossa sociedade. Por outras palavras, os intermediários, embora o ignorem, estão, desde o início, condenados à eliminação, mal soe a sineta do alarme.
A Pedofilia é uma patologia sem horizontes. Como pulsão, não se insere na longa prateleira dos exercícios sexuais: a Pedofilia é um ato que usa os órgãos sexuais, não para obter prazer, mas para regredir a estádios pré humanos, no qual se inserem a Zoofilia e o Canibalismo, e é isto que é tremendo, pois sendo o instinto sexual o centro da nossa existência, é penoso admitir que exista quem force os órgãos do sexo a atividades de pura e cega violência.
Como nas esferas cerradas da Droga, a conivência é o elo de proteção, e o deslize, a Morte. Qualquer pedófilo sabe suficientemente que saber ver-se envolvido num jogo de profanação de um corpo de 4 , 6 ou 10 anos imediatamente o exclui do palco do respeito humano, e, mais ainda, lhe retira a designação de humanidade. Ele negará até ao fim, e olhará para as câmaras, olhos nos olhos, e negará, até que a garganta lhe doa, porque nada lhe resta, senão negar, pela impossibilidade de qualquer reintegração humana. E será sempre frio.
Este é o retrato do monstro, mas ainda há o monstro do monstro, que é podermos supor existirem sociedades secretas que integrem, nos seus rituais de fratria, a violação de corpos-objeto, a sua hóstia maçónica, da qual depois se descartam, pelos processos que não vêm escritos nesse penoso acordão, mas que são sabidos e públicos: uma vez viciada a criança na droga, tal como os proxenetas viciam as suas prostitutas, para as manterem agarradas, é fácil libertar-se dela: uma vez declarada usada, inútil, incómoda, ou fora de prazo, nada melhor do que lançá-la no circuito da prostituição, onde a doença, o crime, o abate ou o suicídio, o farão desaparecer do mapa.
Há, nisso, um enorme manto de luto, no alto do Parque Eduardo VII, onde reinam o "Eleven" e aquela indecente bandeira de uma República que protegeu todo este estado de coisas.
Pouco há a fazer: o comum dos mortais aprenderá a distinguir o Carlos Silvino, que jogava as regras da casa, dos tubarões que usavam o isco Silvino, para pescar o pequeno peixe para as suas enormes piscinas. Há o nível histriónico e romano de Ferreira Dinis, enlevado entre o pré efebo e o efebo, que se despe no seu consultório, o impotente Jorge Ritto, que brincava aos Tibérios na sua Capri do Restelo, para lhe lamberem as peles da glande flácida, o seboso Hugo Marçal, com a compulsividade toda estampada na cara, o Abrantes, protetor dos vícios de gente tão grande e poderosa, e Dona Gertrudes, porque há sempre uma badalhoca ligada a estas coisas, a fazer de Duclos, neste sórdido "Salo", à Portuguesa.
Estes nomes, como agora já sabem, não são mais do que uns ligeiros canapés de uma coisa mais grave, que se perfilava acima, e da qual Carlos Cruz não é senão a entrada de uma vasta ementa. Violentar crianças pode ser um "intermezzo", para apagar a tensão do tráfico das armas, da coca e do plutónio. De quando em vez, um BPN, e uma Dona Branca, chamada BPP, para dar juros de 10% ao mês. E quando é preciso que alguém morra, lá está a Noite do Porto, as Donas Rosalinas e o Carlos Motas, perdidos nas terras do Brasil, onde tudo (ainda) pode acontecer.
Parte do Poder Político não presta e a outra ainda presta menos: esse Senhor Eanes, com a sua fêmea, convencido de que o buraco era para procriar, e o outro que se lhe seguiu, o ceguinho de Boliqueime, que colocou a Defesa Nacional nas mãos de Eurico de Melo; de Soares, muito mais vivaço, mas que inaugurou a tradição de colocar Jaime Gama nos Negócios Estrangeiros, do Ferro Rodrigues, que é a nossa cara na OCDE; do asqueroso Sampaio, que sabia, e sabia bem, o que é que estava a proteger, e nessa longa e repelente lista de Segundas Figuras de Estado, como o da bengalinha, o Coxo, que sempre que batia na porta da "Casa dos Érres", já tinha, como em Pasolini, os miúdos ajoelhados, em semicírculos, a tremerem, à espera das desumanidades rituais.
No fundo de cada ser humano reside uma besta. No fundo de cada besta pode residir um político, alguém que lhe sorri na televisão, e, calmamente, se senta, para decretar o degradar do seu conforto, a sua idade de reforma, o seu salário, a destruição do seu espaço de lazer, a perseguição classista, a chacota do Sistema Jurídico, de Saúde, de Educação, o roubo, estupro e a violação dos seus direitos de cidadania, o destruir da Identidade Nacional. Numa velha tática, a sua ordem é semear o MEDO, para que você viva com medo e se esqueça de todos os atos ignóbeis que ele, e as sociedades secretas a que pertence, pratiquem. Isto, se ainda não percebeu, é aquilo que lhe quiseram vender como Realidade, durante 10 anos. Não abra os olhos, e ser lhe á vendida durante uma eternidade. Para um povo entorpecido, qualquer versão da Mentira serve, e tudo pode ser mistificado, até o horror, porque há mais horrores, para além da Pedofilia: nas câmaras de gás, quanto se recolhiam os mortos, verificava-se que as crianças tinham sido esmagadas, em pirâmide, pelos mais velhos, na ânsia de uma última golfada de oxigénio. Eu sei que isto o inquieta, mas foi grafado no História, e não desapareceu: tem 50 anos; mais cedo, ou mais tarde, a História encarrega-se de levantar os pesados véus com que as seitas a tentam encobrir, e aqui vai mais um, a daqueles sete ocupantes -- eu sei que você nunca soube -- cujos braços tiveram de ser quebrados, porque decidiram morrer assim, abraçados, no elevador do afogamento, daquele centro comercial do Funchal, tão perto de nós, e que a Comunicação Social ignorou. Também, um dia, os verdadeiros rostos do hediondo crime do Casa Pia, não os canalhas Carlos Cruz nem afins, mas os outros, verão os seus rostos refletidos no espelho da longa crónica da Miséria Humana. É a esse dia que eu dedico este texto, como (impossível) ressarciação dos pobres objetos humanos da Casa Pia.
(Quatro cantos de profundo luto e asco, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")
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