terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O País das "marquises"





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Pronto, como dizia o outro, depois de pendurado três dias numa feia de uma cruz, sem tomar banho, nem pôr desodorisante, "está consumado": os culpados foram colocados no lugar das respetivas culpas, e esta porcaria pode retomar a sua longa caminhada em direção ao "Pügrèsso", iniciada em 1985.

Nos escassos anos de democracia, já me tinha acontecido, e saudavelmente, ir às urnas votar contra alguém, e fi-lo muitas vezes, talvez a mais saborosa, contra a Carrilha, quando "ela" se andava a abalançar à Câmara de Lisboa, e ainda não a sonhar com ser o próximo manuel alegre de 2016, se lá chegarmos, mas nunca me tinha sucedido ir ter de votar contra quase todos os candidatos.

Os grandes vencedores da noite são, suponho que por consenso, o coelho da madeira, que vai fazer a vida negra ao alberto joão, nos próximos tempos, e isso é fantástico, porque me faz sempre lembrar aquelas lutas das mulheres na lama, e eu adoro chiqueiradas, senão, não tinha nascido português; o do PCP, que tem sempre uma "vitória moral", nunca se percebe por quê, por que arrecada sempre menos votos do que o pleno do partido, 50 000 enfermeiras a masturbarem-se, em direto, para fernando nobre, o alegre que se segue, e os comprimidos do professor lobo antunes, que já deram a volta ao mundo e ao tempo.
Pensando no caso de manoel de oliveira, acho que esses miraculosos comprimidos, ou "pastilhas", como se diz no sotaque de boliqueime, nos poderão assegurar um feliz sexto, sétimo e oitavos mandatos presidenciais, de qualquer múmia que lá se ponha. Quando crescem as exportações no "off-shore" da madeira, através da Wainfleet, a maior exportadora portuguesa, de papéis fantasma, da mafia russa, grande parte dessas exportações reais são, suponho, para manter vivo fidel castro, e, creio, ratzinger, o mais velho ayatollah ainda em exercício no hemisfério ocidental, Corre por aí, que, quando deixar de os pagar, como deixou de pagar os sapatinhos prada, o senhor, ou o espírito santo, ricardo salgado, o levarão para junto de si. Sempre diminuíam as emissões de co2, entre outras benesses.

Parece que o dia mais deprimente do ano é o dia 24 de janeiro: nós, como sempre fomos mais avançados nas coisas más, preferimos, para antecipar, o dia 23.

Ontem, dia 23, e regressando aquele epifenómeno a que chamaram "presidenciais", conseguimos uma coisa miraculosa, que já não se via desde a cova da iria e a cura milagrosa dos hemofílicos de leonor beleza, que foi juntar as causas naturais aos milagres da fé, e vamos já às causas naturais.

As causas naturais, de 23 de janeiro de 2011 resumem-se a que portugal, nação anexa das españas, e na eminência de entrar na tutela do fmi, conseguiu organizar um evento de cariz eleitoral, com o elenco da liga do últimos, uma superprodução de lix..., perdão, de luxo, que foi desde os candidatos aos eleitores, passando pelos engasganços dos meios de votação. A coisa foi bonita, cívica, "glamourosa", como diria aquele sacarolhas chamado zezé castelbranco, e acabou à altura dos intervenientes, com o milagre da fé de se ver uma criatura, em estado lastimável de saúde física e mental, conseguir reunir contra si 75% (!) da população do retângulo, e ainda aparecer ao lado de uma aparição de azul petróleo, embevecida, com o marido poder ir voltar a ocupar os jardins das tangerineiras de belém. Eu próprio, que só consigo chorar quando a traviata está a fingir que morre, comovi-me, e, enquanto andava pelo "facebook" a provocar as amigas, e deitava o rabinho do olho para a deprimência do que se passava nas televisões, abençoado por ratzinger, por ter sido ali que carlos castro conheceu o mandatário para a juventude de cavaco silva, chorei, porque maria de boliqueime fez o último grande papel da sua vida, a ver se os comprimidos do professor lobo antunes não se iam abaixo, antes do marido voltar a sair da marquise de belém , para a marquise do possollo, mas vou deixar as marquises para depois, porque ainda tenho de prolongar um bocadinho mais esta introdução.

Como comecei por dizer, o vergonhoso número de teatro de revista de 23 de janeiro colocou todos os culpados perante as respetivas culpas, e escreveu-lhes importantes linhas biográficas. A primeira, talvez a mais lapidar de todas, foi ter associado o nome do senhor alegre, de águeda, à eleição de um morto político, cavaco silva, por duas vezes, uma, em 2005, a segunda, em 2011, e para um cargo que conseguirá, assim o esperamos, levar ao extremo do desprestígio, no prazo máximo de cinco anos. Compete ao senhor alegre, portanto, desaparecer agora de cena para sempre, ou ir para túnis, montar uma rádio própria, de onde poderá acompanhar como uma revolução de jasmim corre o risco de nos pôr um irão a hora e meia de voo de lisboa, e me impedir, grossa chatice, de ir lá comprar tapetes dos anos 40, à medina de Sousse. Já agora, pode levar com ele o bloco de vampiros de esquerda, que é melhor continuarem a sonhar com coligações ao nível dos zés que fazem falta do que com ministérios da cultura, do turismo,  e varandas afins.

O segundo carinho vai para o sr. aníbal, um homem honesto, que tentou rebobinar a história, mas se vai sair muito mal, porque, em redor de homens honestos não podem existir dias loureiros, oliveiras e costas nem leonores belezas, como salazar muito bem sabia. Há, em contrapartida, um povo, ou melhor, uma sombra com o peso de 75% da população, que lhe disse, expressamente, que, mais tarde ou mais cedo, vai ter de explicar por que é que nós, país pobre e de população degradada, temos de estar a pagar milhares de milhares de milhões, por causa de uma banca de lavagem de dinheiro, que suponho que nem ao sr. madoff, condenado a meio milénio de prisão, terá lembrado na américa.
Não quis explicar durante a campanha, pois que mande agora num papelinho escrito, como aquele que carlos cruz mandou ao "bibi", a lembrar-lhe que não se conheciam.
A maria até pode lê-lo em público, e dizer que dias loureiro nunca foi vizinho de cavaco, nem ministro, nem guardião das ações e das poupanças do saloio da coelha e da saloia da patrícia, nem sequer conselheiro de estado, e ainda menos exilado de cabo verde, paraíso da pedofilia.

O sr. aníbal pensa que, dia 23, recuperou aqueles 10 anitos do antigo regime, que uns gajos com cravos e tanques obrigaram a interromper, quando ele tinha uma prateleirita tão bem assegurada no seguimento do "antigamente", como outros que tais, que depois até deram dignamente a volta ao filme, como freitas do amaral, sá carneiro, ou marcelo rebelo de sousa, de entre alguns que agora me vieram ao correr do teclado. Ao contrário dos anteriores, o mendicante de boliqueime insiste em ignorar que existiram, para o bem ou para o mal, 11 anos, entre 1974 e 1985, que mudaram, para sempre o decurso da história de portugal, tornando obsoletas coisas que se lhe escapam, nos intervalos dos perdigotos e das semividas dos comprimidos do professor lobo antunes, como as assembleias "nacionais" (?), os dias da "pátria" (?) e as pensões do "pides".

Matematicamente falando, e isso é bom, porque a matemática é canónica, nós, portugueses, os tais da zona que consideram o sr. aníbal um cancro da democracia, ficámos, agora, com um dos maiores trunfos da nossa vida, porque assim como alegre vai desaparecer em duas semanas, uma coisa passámos a ter como certa: o prazo máximo para aguentar aquela assombração de boliqueime, vergonha do nosso rosto internacional, são 5 anos, sim, só 5 anos, com fortes probabilidades de que a doença -- e não se deseja mal a ninguém, mas também se aceita, se vier de boa vontade... -- até nos antecipe esse dia em dois ou três anos. É justo, até por que, com o aumento da esperança de vida, ainda temos muito tempo para restaurar a fachada da democracia, arejar-lhe os cantos, e deixar que venha algo de novo. Obviamente que não a Carrilha, por mais esperançada que esteja nisso.

A seu modo, e por mais extraordinário que isto possa parecer, o sr. sócrates, que tanto nos aldrabou, mas tem revelado, nos últimos tempos uma brilhante capacidade de patriotismo e malabarismo, ao tentar fazer com que portugal mantenha a cabeça de fora, pelo menos no setor terciário, depois de, durante 20 anos de persistência, o sr. aníbal e o seu gang de criminosos, nos ter destruído e vendido os setores primário e secundário, acaba por receber um inesperado balão de oxigénio. Pode ser que esta ansiedade de legislativas antecipadas lhe traga uma surpresa, daquela franja de 75% que VETOU cavaco silva. Vai ser o maravilhoso espetáculo dos próximos tempos, embora creio que o sr. aníbal e a sua ridícula maria só demasiado tarde venham a perceber o que lhes está a acontecer.

Queria terminar, como prometido, com as "marquises". Quando há crises, no reino unido, vêem-se baterias de câmaras paradas defronte de um prédio simpático, eduardiano -- não posso assegurar, mas isso é irrelevante para o discurso... -- à espera de fumo branco; os franceses preferem apontar as objetivas para Matignon ou o Eliseu, nós, dia 23, assistimos ao episódio mais deprimente das nossas existências, que foi ver as câmaras das televisões apontada para uma "marquise" de classe média baixa, cheia de manchas de umidade, onde o poder daquele casal, chegado ao topo da base, estava a encenar um "frisson" político, ao nível as expectativas do defunto "fontória", quando a mão da stripper sexagenária fazia tremer a cortina vermelha, a anunciar que ia entrar em cena. Os jornalistas, cujo sentido crítico se tem vindo a degradar, como o restante do país, entraram nas minúcias de analisar as oscilações quânticas do "estore", outra das categorias aristotélicas, muito ao gosto desta nossa brandoa generalizada, e a tentar perceber como é que o futuro da bancarrota, do fmi, e dos custos dos calotes do bpn, se resumiam, ali, em flashs de máquinas da patrícia, do bruno e da perpétua, ao som de grande amadora.

Suponho que este patamar das "marquises" seja tudo o que o patético casal de boliqueime tenha para propor, como programa existencial, a um país, como o nosso, no extremo limiar da angústia.
Só lhes fica bem, a eles e a nós, que neles não votámos.

Corações ao alto :-)


(afinal o quinteto era de "marquises", no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Uma Aventura Sinistra", no "Klandestino" e no infatigável, e insubstituível, "The Braganza Mothers")

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O Quarto Cavaquistão: de profundis tenebrae





Imagem do Kaos

Como deverão ter reparado, andei bastante apartado da campanha presidencial, por duas razões principais: a primeira, porque tenho muito mais que fazer; a segunda, porque, mesmo que não tivesse, o assunto é um tal nível de indecência que não deve fazer parte das preocupações das pessoas que vivem em mundos civilizados e subtis. O único problema, neste trocadilho, é que a questão, mesmo que lhe viremos as costas, diz dramaticamente respeito a cada um de nós, pelo que hoje merece este texto, com o qual  me despeço desta longa agonia que foi a exposição pública das figuras de terceiro plano, que, em janeiro de 2011, aspiravam àquela coisa sem nível, em que se tornou a "presidência da república" das bananas portuguesa.

O sr. aníbal, um fruto genético das feiras do algarve interior, fosse este um país viável, poderia ser o primeiro exemplo de um presidente, da nossa curta democracia, a não ser reeleito, e isso seria bem feito, para lhe manchar o miserável percurso..., enfim, vou substituir "miserável" por uma palavra mais ao jeito da personagem, e redizer "mesquinho percurso".
Tinha tudo para isso, pois chamo a atenção para um pormenor, que me tem movido sempre nas reeleições, e concedido uma coisa que eu adoro, que é a hipótese de não ter de votar útil, e poder votar onde bem me apetece, só para provocar estragos, e que consiste no partido que ocupa o governo costumar enturmar, nas segundas voltas, com a maré de alucinados que apoia o "paizinho" da véspera. O PS, de sócrates, honra lhe seja feita, quebrou esta tradição, e disse ao saloio de boliqueime que não lhe apetecia saloios de boliqueime. Lá foi a reboque de um etilizado de águeda, mas isso é um assunto que depois a história, no devido tempo, julgará.

O fenómeno, para o balizar, desde já, e impedir que se assuma como uma maré à moda de alexandre da macedónia, não é mais do que a apoteose da parolice de um povo, ignaro, deficiente, autocomplacente e cobarde, que encontrou uma efígie, na qual, votando, está comodamente a votar em si mesmo, ou simplificadamente, estas eleições são a ocasião ideal para o povo português colocar em belém o pior de si mesmo, numa forma descarada, assumida e decisiva.

Sociologicamente, isto é bom, porque traça, com carvão, a linha de água por onde vai passar a enchente, misto de descarga das pocilgas da ribeira dos milagres, com a cera reciclada do idolatrário de fátima, mais uma mulheres com bigode, os seus renatos seabras ao colo, e os seus maridos heterossexuais passivos, pela mão, e, portanto, permite-nos ver, claramente, onde não devemos estar, para não sermos levados pela enchente destas peles mortas da maré das "forças vivas".

Quando um povo decide votar em si mesmo, o mais saudável é tirar um fim de semana prolongado, e deixar mesmo que o autoclismo autoregule o nível dos dejetos na sanita, e só então voltar, para ficar de bancada, e com sorriso cínico, a assistir aos episódios sequentes. Esta, é talvez, a melhor, e única virtude de cavaco: impedir que o palaciozinho de província, de belém, tivesse de ser ampliado, para albergar uns quantos milhões de atrasados, substituindo-os, antes, por um parzito caduco, apoiado por bastantes procurações, que lá irão representar esses pobres milhões.
Para nós, intelectuais, e cidadãos do mundo, a coisa é mais breve, mas também não é fatal: assim como os nossos pais e avós levaram, em cima, com o carimbo "viveu sob o salazarismo", nós vamos poder dizer, ufanamente, que "vivemos sob o cavaquismo". Ainda há bocado, estava a comer mel de incenso, coisa que o sr. aníbal nunca saberá o que é, e olhei para o espelho, para ver se a coisa me tocava. A verdade, pese isso ao medíocre algarvio, é que me não faz mossa nenhuma: de aqui a 100 anos, serei um escritor de referência, que combateu o cavaquismo, e o cavaquismo já estará referenciado como um período histórico degenerado e retrógado, onde a liberdade de pensamento, expressão e oposição foi incarnada por uma geração perdida de criadores e pensadores, lucidamente ciente da menoridade dos tempos da sua contemporaneidade, que decidiu "malgré tout", não se calar.
Como se sabe, os períodos mediocremente políticos sempre foram os inspiradores das melhores prosas.
Não se podia fazer pior epitáfio à "apoteose" cavaquista, do que chamar-lhe "musa", e já o fiz aqui, esperando que, otimisticamente, me acompanhem, nesta perspetiva animadora.

Historicamente, é notável que um povo, massacrado por uma sucessão de governos incompetentes, pontapeado por fraquíssimas figuras, obrigado a presenciar escândalos sem par, violentado, insultado, gozado, oprimido, e outras belíssimas coisas afins, e tutelado por um cobarde, cujo mandato, se espremerem bem, só ficará vinculado pela aprovação de uma coisa caricata, o chamado "casamento gay", e mais nada, historicamente, dizia eu, é notável que, mesmo assim, esta massa grotesca ainda tenha conseguido reunir forças, para afinar a quinta essência do pior de si mesmo, e transformá-la em votos no provinciano de boliqueime. Convenhamos que é bom saber que um povo, que tecnicamente já devia estar extinto, ainda teve força para esta metamorfose negativa, e para conseguir dar um salto, algures, entre os 50 e os 100 anos... para trás.

O nosso tempo, à exceção desta porcaria em forma de retângulo, é vertiginoso. Indo para o campo da metáfora, enquanto, pelas fronteiras da inovação, já vamos nas portas USB3, por cá, porque nós somos mais modestos, continuamos a lutar por usar aquelas disquetes précolombianas, maleáveis, do tamanho de um pires de chávena de chá, e com etiquetas em forma de... "pügrèsso".

O Quarto Cavaquistão, no qual vamos entrar, pode resumir-se, por si próprio, a poucas figuras notáveis: se excluirmos a criminosa leonor beleza, começou por produzir, há vinte anos, um dias loureiro, e culminou, agora, numa versão 2.01, chamada renato seabra. Pelo meio, deixámos de produzir o que quer que fosse, e voltámos à penúria sebastiânica: somos um orgulhoso país importador, que anda a tentar vender, lá fora, uma dívida, que se traduz, tão simplesmente, nisto: andarmos a mendigar, a juros de agiota, dinheiro para poder pagar aquilo que precisamos de comer e já não podemos, nem sabemos produzir.

Este foi o veneno do primeiro cavaquismo, e é saudável que tenha gangrenado à porta do quarto cavaquismo.

Simplificadamente, como diz o provérbio, é justo que cavaco seja reeleito, para poder comer o pão que ele, diabo, amassou, enquanto nós, que sempre o execrámos, ficaemos a assistir.

Não me vou alongar muito, até por que já perceberam o que eu queria, e entenderam que isto é uma antevisão do que aí vem.

Embriagado pela sua saloice, o bimbo de boliqueime esqueceu-se de duas coisas: a primeira, a de aquela imagem do cacique, arrogante, que nunca se enganava, e andava rodeado da pior escória de arrivistas que portugal conheceu, e que queria passar agora pela máscara do avozinho acolhedor, acabou: mal seja reeleito, vai ter de pagar, uma a uma, as favas dos crimes todos, e do beco sem saída para onde nos empurrou. Não se pode desejar pior a um filho da puta, pelo que sou o primeiro a congratular-me com que ele esteja no lugar de exposição do tiroteio que aí vem; a segunda, de que, como já atrás disse, há três estranhos vencedores destas eleições: o povo profundo português, filho da cópula contranatura entre Neanderthal e Cromagnon, e que gerou esta permanente distrofia entre o desejo e a culpa, que levará, dia 1 de fevereiro, renato seabra a ser declarado um estudo de caso, e a posse do seu cérebro atrofiado e degenerado por 900 anos de mães de bragança e cantanhede, de interesse científico para a sociedade americana; os comprimidos do professor lobo antunes, que, por mais miraculosos que sejam, duvido que se aguentem cinco anos, e aí vamos ver o cavaco a ter ataques atrás de ataques, até que tenha de suspender o mandato; e, por fim, o grande vencedor destas eleições, Sócrates, que, qual fénix, e tenho de lhe tirar o chapéu, vai fazer gato sapato da múmia de boliqueime, quando os portugeses acordarem, e perceberem que têm de se escudar nele, para impedir o neosalazarismo que a criatura pensa poder vir a ser o seu segundo mandato. Como poderia trocadilhar, foi ao golfo buscar sarna para o outro se qatar.

Pela minha parte, vou votar nas franjas, para mandar à merda, no mesmo pacote, o aníbal, o bêbedo que o colocou lá, em 2005, e o vai voltar a colocar, em 2011, e a aquela coisa caricata do Nobre. Domingo, na hora do voto, estarei tranquilíssimo. Quando sair a vitória do sr. aníbal, ainda mais tranquilo estarei: é justo que a criatura que destruiu portugal seja chamada à pedra, pela história, para pagar a fatura dessa destruição.

Muitas fraldas vai a maria ter de lhe mudar, ao longo destes penosos cinco anos de decadência física e psíquica que aí vêm.


quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Aníbal Cavaco Silva, Grande Timoneiro da Wainfleet, Pavilhão da Mafia Russa, em Portugal







Já me zanguei e reconciliei com muita coisa, neste desastre adiado, a que ainda chamamos Portugal. Contudo, há uma com a qual, irredutivelmente, nunca me reconciliarei, aliás, considero-a uma excrescência da minha contemporaneidade, e em todos os textos que escreva, ela será referenciada como o grande tumor da liberdade nacional. Evidentemente, não falo de Sócrates, mas da sombra, que, in extremis, me poderia fazer reconciliar com a pessoa que mais tenho combatido, ao longo do consulado desse mesmo José Sócrates.

José Sócrates é aquilo que os Franceses chamam um "parvenu", um novo rico, recém chegado, com poucas habilitações e umas sapatilhas, que o calçavam, e calçam, da cabeça aos pés.
Aníbal, ao contrário, é uma espécie de irmã badalhoca daquelas Cinderelas dos contos, que tentou calçar as botas de Salazar, e, quando as quis tirar, já se lhe tinham soldado aos pés.
A criatura é muito baixa, e até já parecia desativada pela doença, mas o ímpeto da campanha, a promiscuidade com os caixões, as velhas com cheiro a bolor, os crucifixos rançosos, os velhos camaradas do baixo crime, os ares frios de Viseu, as santarias, os comprimidos do Professor Lobo Antunes, e, penso, alguma iluminação de faróis extintos, que vêem nele o último fôlego e oportunidade de se instalarem na prateleira dos abutres da Nação, deram-lhe algo parecido com as melhoras da morte.

Naquele país de que eu não gosto, e que, em ficção, o poderia reeleger, para destruir o pouco que resta, e lhe deixar nas mãos o título efetivo, que, em potência já tem, o de Carrasco de Portugal, andam a movimentar-se demasiadas forças subterrâneas, para o meu gosto.
O homem é sinistro, e está a voltar aos ardores de antigamente, quando não se enganava e mandava disparar sobre os Portugueses. Não posso vê-lo, e sempre que o vejo, tenho vontade de vomitar. Aníbal Cavaco Silva representa os antípodas de tudo aquilo em que acreditei, acredito, e acreditarei. A sua existência é-me totalmente irrelevante, porque, de aqui a cem anos, ele será uma mancha na História, e os meus textos, modéstia à parte, integrarão a crónica da lucidez, de quem chamou os bois pelos nomes, e traçou os rostos da desgraça da Nação, com ele à cabeça.

Não sou inovador, nem tenho pretensões: o desastre do final da Monarquia, e o desastre da Primeira República tiveram suficientes escritores de craveira, para denunciar excrescências do tecido político muito semelhantes a Cavaco. A diferença é que, antes de Salazar, a crítica da Coisa Política tinha um cheiro, e depois de Salazar, qualquer ente que a ele se queira comparar, é hiperbolizado pelo vómito, e pelo anacronismo de uma tentativa de vogar num tempo em que é, e terá de ser,  irremediavelmente obsoleto.

Quando o algarvio -- e a precisão geográfica é aqui propositadamente ofensiva -- recomenda aos outros que "nasçam duas vezes", para lhe poderem chegar aos calcanhares, eu aceito o desafio, e alinho numa reincarnação conjunta com ele, mas para poder voltar a escrever o mesmo, e com o duplo tom de acidez, de desprezo, e de rejeição que ele me inspira.

Suponho que nem Deus, ao banir Lúcifer, tenha sentido tudo aquilo que eu eu sinto, de asco, por Cavaco Silva.

O grande argumento, que geralmente se cola a Salazar, é o de que foi um "homem honesto", e isso é-me desinteressante, porque Salazar não integra a minha história pessoal, mas, ao pensar na minha história coletiva, reservo-me o direito de dizer que é complicado que haja um país onde um homem honesto, por plenos poderes, tenha conseguido transformar um simpático litoral no país mais atrasado do Continente.
Para mim, sonhador e romântico, cri que isso pudesse ter acontecido uma vez, e servido, de emenda, para sempre.
Não serviu: o ranço, o cheiro a bafio, as teias de aranha mentais, intelectuais, culturais e a visão limitada do Sr. Aníbal e da Srª. Maria são tanto mais incomportáveis quanto estamos no século dos desvarios tecnológicos e das maiores proezas da imaginação humana. Gosto das torres do Dubai, das arquiteturas orgânicas da Nova China, dos computadores quânticos, dos espantosos aviões paquetes, das magníficas fibras dos novos vestuários, da glória das potências emergentes, das casas inteligentes, onde os cidadãos do mundo instalarão as suas proles educadas. Portanto, não suporto que, sempre que abra as janelas à procura de coisas dessas no meu território de residência, o veja, por oposição, pejado de presépios, com vaquinhas em forma de Leonor Beleza, com santinhas de joelhos esfolados por sucessivas idas e vindas a Fátima, por urubus, vestidos de negro, de cujas cabeças saem pensamentos que nem aos inquisidores canónicos lembrariam, e, sobretudo, não suporto que o velho argumento do "homem honesto" me ponha a pagar BPNs e porcarias afins. Só num país destes é que o BPN ainda não foi imediatamente declarado falido, encerrado, e as criaturas que o criaram e dele viveram, no regime de dona branca, não tenham sido desde logo enjauladas, ao lado do seu mentor, esse tal de Sr. Aníbal.

O Sr. Aníbal não tem perfil para coisa nenhuma, exceto para vender em cobertores de feira, como fazia o seu defunto pai, que dizia "o meu filho é o homem mais inteligente de Portugal". Do Portugal dele, suponho, que, pelo que atrás escrevi, era, e é,  totalmente disjunto do Portugal abstrato em que vivo, ou gostaria de que me deixassem, pelo menos por uns tempos, viver.

O Sr. Aníbal era bom para deixar o Palácio de Belém, e ir dirigir, agora que o BPN já "não está a dar", com o Dias Loureiro e a Leonor Beleza, a Wainfleet, a maior empresa exportadora de "Portugal", pilar da Mafia Russa, e que muito deve ter contribuído para este artificial aumento das exportações, 25% das quais passa pelo célebre "off-shore" da Madeira, onde não se vende nada, exceto papéis, onde os produtos em trânsito são artificialmente encarecidos, e a pior escória de Portugal enche os bolsos, à sombra do Sr. Alberto, outro "homem honesto", que nem sabe (?) que isto lhe acontece debaixo do nariz. Podiam fazer-me essa favor: de facto, em 23 de janeiro, não reelegiam Cavaco Silva, para acabar em agonia, na Presidência da República, mas nomeavam-no para a direção da Wainfleet, com a sua Maria, tão importante neste bolor das coisas, como padroeira da "Swatch", outra das maravilhosas grandes exportadoras de Portugal, que tanto faz passar e sair por aqui, sem nada cá produzir, e até podiam continuar a fabricar Mourinhos, como sobremesas.

Só peço desculpa, por este texto, aos 1800 postos de trabalho, que, na Madeira se dedicam ao preenchimento de papéis fantasma, para defraudar o Fisco: alegrem-se, Cavaco Silva será um bom patrão para vocês.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Os últimos dias do resto do fim do Regime



Imagem do Kaos


Estamos em janeiro, e janeiro é sempre um mês muito longo, o mês mais longo de todo o ano.
Em 2011, janeiro já começou com todos os sinais nefastos, e o mais nefasto está ainda para vir, esse dia 23, em que vamos entrar em sede vacante da República. É verdade que a República nunca foi uma coisa particularmente entusiasmadora, como também a Monarquia já não o era, desde o final da nossa homérica Idade Média Portuguesa, pelo que o problema não deverá estar no regime, mas, como sempre, no substrato, essa coisa genérica, a que se chama "povo", e que nos vai mantendo, século após século, no pardo cóccix europeu.

Eu pensava que desta feita estaria imune ao ato, o eleitoral, mas a verdade é que o ato é demasiado grave para que dele me alheie, e eu passo a explicar: o problema Cavaco, a doença deste janeiro, o Cavaco, que a si mesmo se descreve como "não político", é isso mesmo: o saloio de Boliqueime, de facto, não se integra na galeria dos políticos, mas, sim, na galeria dos flagelos, e está para as sociedades democráticas, com as devidas reservas da hipérbole, como Hitler esteve para a República de Weimar. Os "cavacos", estes cavacos, são coisas, epifenómenos, objetos, aparentemente alheios aos sistemas, mas que neles se infiltram, os gangrenam, e acabam por levar ao colapso final. O grave deste grave, é que, pela onomástica e pela necessidade taxonómica que sentimos, para nos aliviarmos do insustentável peso do Tempo, essas aberrações culturais acabam por se tornar, pela negativa, nas etiquetas da era que conspurcaram. E assim houve o tempo do Estalinismo, e o Chavismo, e a Era Pinochet, e o nosso muito, muito, miserável salazarismo.

Quando abordo Cavaco, tenho, pois, a consciência, como sempre tive, de que a criatura era a luta para uma vida. Não se tratava de um simples problema político, mas de uma incompatibilidade histórica e existencial: enquanto intelectual e escritor, acho um vexame que a minha cronologia possa, naqueles futuros que não controlamos, ser etiquetada como "fulano de tal, tendo vivido no período [da má moeda] cavaquista".

Sei que nada se pode fazer contra isto, exceto algo de muito elementar, que é grafar a nota de rodapé da biografia: "foi, até ao final da sua vida, um adversário irredutível do Sistema..."

Se há Sistema, neste momento, a hipóstase do Sistema é Cavaco. Resume tudo o que de pior a nossa raça produziu: a mediania, o retorto e o cobarde, o turvo, o bafiento, o retrógrado, o mesquinho, o vingativo, o ressentido, o chicoespertismo, o irrelevante, o pardo, o estagnado, o repressor com surdina, o retraído, o pobre, o miserável e o arrogante, na sua pior forma, já que a ignorância sempre foi arrogante e exaustora dos primeiros planos, lançando para a sombra todas as aspirações acima da baixa mediania.

Dia 23 de janeiro, quando votar, e é indiferente, neste momento, em quem se vote, porque a República, estrangulada e suicidária, já se decidiu lançar num pântano sem descrição, irei votar contra Cavaco, não por razões políticas, mas por razões de dignidade pessoal e histórica: marcar posição, para que sobre o meu curto tempo humano e coletivo, essa sombra possa pairar, e durar, o mínimo possível. Contudo, para a nossa escassa finitude, Cavaco já durou tempo demais: ao completar o seu segundo mandato, se os prodigiosos tratamentos do Professor Lobo Antunes assim o tiverem permitido, terá consumido 20 anos da nossa democracia, ou, no sistema cronológico paralelo, durado meio salazarismo.

Sei que pôr a questão nestes termos pode parecer uma perspetivação pouco ortodoxa, mas não conheço outra, e é esta que me apetece. Sei que é preferível andar a discutir o homem privado Cavaco nas imundícies que o relacionavam com essa coisa execrável chamada BPN, mas o BPN é um pouco como o Casa Pia, um entretimento, um portugal dos pequeninos no qual eles andavam todos, quando não estavam a fazer pior. O BPN é um episódio tardio da enorme devastação que Cavaco Silva provocou no cenário económico, financeiro, social, educacional e cultural, português. Cheguei ao ponto de lhe o desculpar, já que se insere na lógica do colchão, uma coisa entre amigos, que, apesar de se falar na Bolsa, sempre era mais seguro estar de fora da Bolsa, e que fazia parte daquela mesquinhez tacanha que o homem de Boliqueime incarna superlativamente, e que, de forma irredutível, mais uma vez nos afastou dos padrões europeus, aquele sentido chão do pézinho de meia, do dinheiro contado, na forma do meio queque que dava aos netinhos, na "Pastelaria Carrossel", para que eles não ganhassem o mau hábito de comer um bolo inteiro... Se os bolos fossem recicláveis, este meio queque comido até poderia ser sempre o mesmo, como o célebre par único de botas, do Vacão de Santa Comba Dão.

Os crimes do Cavaquismo terão um dia o seu grafar histórico: são uma longa série de arrogâncias, intolerâncias, cobardias, e genocídios culturais, educacionais económicos e sociais. Invariavelmente, revestiram a pele do crime sem castigo, das leonores belezas, que, muito mais gravemente do que os buracos do BPN, cavaram as sepulturas das vítimas do sangue contaminado: também aí, como com Dias Loureiro, um facínora, a quem qualquer regime de bons costumes voltaria, por pudor, a cara, o horror foi perdoado e promovido: fundações, prémios costurados à medida, exílios em repúblicas das bananas, condecorações e conselhos de estado. Tudo isto traduz um regime doente, que vai a sufrágio dentro de duas semanas, e no qual medraram estas figuras, todas elas regidas por uma mesma autocomplacência, que foi a de terem atingido o topo da base, um patamar de aspirações muito especificamente representativo do pior de nós mesmos, com os matizes do que o topo da base foi para cada um deles: presidir a uma fundação, ser ministro, ou presidente de uma miserável república.

Poderia ficar por aqui, mas não fico: o que escrevo é mais intemporal do que este mês de janeiro de 2011. Estas gentes, as mesmas, pardas, dos rastejares de Fátima, dos dinheiros no colchão, dos narizes de batata a pingar ranho em cima de cachecóis pretos, os apreciadores das marisas, dos crentes em que temos o melhor clima do mundo, a serra mais bonita da Europa, a "saudade", que não há em mais nenhum lugar do mundo, exceto em todos, e uma multidão de inúmeros pequenos disparates, que são o reiterado espelho da nossa menoridade, estas gentes vão por cá ficar, depois de terem criado mais uma nódoa no nosso devir político, o "Cavaquismo", a ressoar conjuntamente com o "Salazarismo", para que as gentes lá de fora nos possam olhar, pelo séc. XX e XXI, e dizer, lá estão aqueles povos do sul, incapazes de democracia, e a recriarem permanentes caciquismos, em forma de paternalismos de aldeia com pocilga no andar de baixo, e matriarca de bigode, a cheirar a bacalhau, no andar de cima, depois de séculos de autos de fé e de queimas de passarolas. Como dizem as ratas de sacristia, assim sempre foi, e assim sempre será, porque há uma idiossincrasia de alcáceres-quibires, que nos é atávica. Na altura da escolha, escolhemos sempre o pior, o mais demorado, e o de mais difícil recuperação, mas isso não é novidade: de aqui a 500 anos, como há 500 anos atrás, se estas gentes tivessem pela frente um Cavaco, ou equivalente, lá iriam, cabisbaixas, estender-lhe a mão, para assegurar mais cem anos de afastamento da grande rota do mundo,  e de complacente estagnação.
Peço, pois, que me reconheçam o direito de me distanciar, como voltarei a fazê-lo, de cabeça erguida, em 23 de janeiro.


sábado, 1 de janeiro de 2011

Reflexão...

É Impossível que o Tempo Actual não Seja o Amanhecer doutra Era

É impossível que o tempo actual não seja o amanhecer doutra era, onde os homens signifiquem apenas um instinto às ordens da primeira solicitação. Tudo quanto era coerência, dignidade, hombridade, respeito humano, foi-se. Os dois ou três casos pessoais que conheço do século passado, levam-me a concluir que era uma gente naturalmente cheia de limitações, mas digna, direita, capaz de repetir no fim da vida a palavra com que se comprometera no início dela. Além disso heróica nas suas dores, sofrendo-as ao mesmo tempo com a tristeza do animal e a grandeza da pessoa. Agora é esta ferocidade que se vê, esta coragem que não dá para deixar abrir um panarício ou parir um filho sem anestesia, esta tartufice, que a gente chega a perguntar que diferença haverá entre uma humanidade que é daqui, dali, de acolá, conforme a brisa, e uma colónia de bichos que sentem a humidade ou o cheiro do alimento de certo lado, e não têm mais nenhuma hesitação nem mais nenhum entrave.
Miguel Torga, in "Diário (1942)"