Mostrar mensagens com a etiqueta Ano terminal de Cavaco Silva. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Ano terminal de Cavaco Silva. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Marcelo Rebelo de Rans









2016 é um ano que nasce desde já em glória, pelo facto simples de que, aconteça o que acontecer, será o ano em que nos vamos livrar de Aníbal de Boliqueime. Há correntes que apontam para um livrar simples, e outras que antes apostam num livrar na generalidade; há mesmo os mais radicais, que chegam a falar de um livrar do Cavaco em profundidade, mas isso é improvável e quase impossível, já que a ligação entre o idiossincrático nacional e o sarro de boliqueime está ao nível do siamesismo incompleto das narcisas que nasceram unidas pelos falópios. Fiquemos, pois, pelo livrar simples, já que o próprio livrar na generalidade tem o que se lhe diga, e também lá iremos, um pouco mais tarde, quando lá chegarmos.

O Vacão de Boliqueime, uma coisa parda e cinza, que os vindouros virão a adorar dourar, ou ainda ensombrecer mais, conseguiu alguns dos feitos mais espantosos da Democracia, o último dos quais o de lograr degradar o seu posto de Presidente ao ponto de o tornar quase irrelevante. Assim sendo, e tanto quanto se percebe, só algumas afinações mais afinadas tiveram a coragem de dizer que a "campanha" em curso era um desastre, e é, já que, pela primeira vez na curta história do parlamentarismo restaurado, os figurantes que se apresentaram a concurso não demostravam virtude alguma e apenas um prolongado lençol de ausência de qualidadesPor outro lado, conseguiu algo de notável, o de mostrar que quem aguentou dez anos de Presidência em sede vacante poderá ainda aguentar os mais dez que agora se prefiguram.

Como não sou comentador político, posso-me permitir focar a coisa por onde bem entendo, e vamos já para uma perspetiva aritmética, posto que contar pelos dedos continua a ser a melhor defesa ancestral. Desse modo, se começarmos a folhear falanges, poderemos dividir os "candidatos" em três, se não quatro, categorias elementares: há os que vão conhecer as dezenas, os que nunca vão descolar das unidades, e aqueles que se poderão dar por muito felizes, se chegarem ao fim medidos pelas décimas. Creio que poderá ainda haver os das centésimas, mas o custo das lupas torna-os , neste momento, insignificantes, embora talvez lá passemos, se sobrar algum tecido para tais bainhas.

Comecemos, pois, pelas damas de honor desta Masque, e não preciso de as apresentar, já que diariamente se esgatanham, na sua imparável irrelevância: Maria de Belém é pequena e tem uma voz fininha, ou talvez não, é mais um timbre curto de latas, uma voz maneirinha, que, nos filmes de má captação de outrora, estava reservado às telefonistas, o dia inteiro sentadas num naperon de poltrona, com os pezinhos a abanar, e dar que dar, a dois palmos de distância de uma chauffage enferrujada. Aparentemente, ninguém sabe de onde a mulher veio, mas há uma sólida unanimidade sobre onde se irá apagar, e isso é bom, já que testemunha uma certa maturidade da nossa opinião coletiva. Com tal certeza de Opinião Pública, nada mais quero, pois, acrescentar, exceto um breve comentário musical: sendo a meã de voz contida e pouco fôlego, cantadora pouco extensa, talvez pudesse ter tido a sorte de um Walter Legge que a fizesse schwartzkopffizar, mas não teve, e vai acabar mesmo nas pastelarias, com um caniche pela trela, e uma torrada à frente, ou a fazer de guia turístico de visitas de chefes de estado a lares de velhinhos. Do outro lado, não melhor, nem pior, temos o Nódoa, uma coisa despejada dos aventais, e convictamente convencida de que vai ganhar. Continuo sem perceber o que é que ele vai ganhar, e quando e onde, mas nestas coisas, a fé é muito importante, já que continua associada a todas as curas de males desenganados, ou seja, jogando com as palavras, se o Nódoa está assim tão convicto de qualquer coisa que eu não entendo, que desagradável iria eu ser, nesta fase do campeonato, a vi-lo aquilo desenganar, não é?.... Servem, para isso, as urnas. Do lado da clínica, a coisa é mais severa, já que os doutores do gótico, quando o ouvissem falar, empurrariam, com o indicador, as lunetas para a cana do nariz, um profundo "hummm", e estava feito o diagnóstico, já que os pátios de todos os júlios de matos do planeta estão cheios destas síndromas napoleónicas. A verdade é que nunca se investiu tanto para se ser derrotado. Sei que me estão a fazer sinais, já que não esclareci qual, destes dois, incarnará a primeira e a a segunda dama, e realmente não sei, mas posso dar uma pequena pista, singularmente cínica: tudo o que o Manuel Alegre apoia perde sempre, pelo que se devem informar sobre se apoiou algum dos dois. Desconheço e ignoro, mas deverá bater certo.

A terceira dama é mais interessante, já que foi, ou ainda é -- desculpem-me a ignorância -- padre. Creio que a sua eleição corresponderia a um ensaio de transformar a presidência numa teocracia, o que seria original, e, por que não, uma experiência do "tempo novo", como diz o Nódoa, entre cilícios e aventais, a mostrar que aprendeu bem a lição do Balaguer, regurgitado pelo Hirto e Firme Eanes, outra sombra que "tarde" em desaparecer. Como não será eleito, fica o seu contributo para esta campanha penosa: é um homem que não sabe, e um padre que não crê -- ele, pecador, se confessa -- e o que não sabe vai ao ponto de não saber se a Coreia do Norte é uma ditadura. Quando, depois de Cavaco, pensamos ter batido nos mínimos, descobrimos agora que ainda faltava este mínimo dos mínimos: seria fantástico chegar a um presidente cuja geopolítica até ignorasse os sinais tintos coreanos. Edgar deve ser o nosso Donald Trump, e assim já está cumprido, e iremos, pois, passar adiante. Parece que o seu destino será, para o final do mês, depois de vir a terreno contar espingardas, ir dançar a rumba em Periscoxe, na linhagem dinástica do velho Cunhal.

A Marisa, com voz grossa, não tem qualquer estilo para dama de honor, e nem sequer sabe o que irá fazer com as suas poucas unidades, e nós ainda sabemos menos. Parece ter chegado como renovadora, mas esse pano já está irremediavelmente desgastado, e o seu estilo selfie dos cartazes não vai chegar para quaisquer veleidades e arranques mortagueiros, pelo que as suas percentagens não vão servir em nenhuma contabilidade, e muito menos na da própria. E aqui chegamos ao domínio do microscópico, com a última unidade a ser piedosamente dada ao Henrique Neto, um "engenheiro" com o mesmo nível de titularidade e diploma do de Vilar de Maçada. A partir daqui, temos de seguir na longa deriva do cómico, com um primeiro que diz ser contra a corrupção, mas soube servir bem, na Câmara do Porto, um lugar de gente séria, limpa e honrada, e um outro que se apresenta como "orador motivacional", para terminarmos num outro ainda, que deve ser mesmo finalizador, já que nem eu, nem ele, nem ninguém, sabemos sequer quem seja.

Ora, chegados a este momento, fica-nos pouco, mas fica-nos um certo modo do essencial, já que finalmente nos sobram os grandes titãs desta enorme paródia presidencial, o Tino de Rans e o Tino de Celorico de Basto. Em bom abono da verdade, há uma certa dificuldade em distingui-los, já que, para o meu ecossistema, muito egoisticamente confinado ao pendular do metro entre Roma e o Alvalade, Rans e Celorico de Basto são toponimicamente equivalentes, e não são cobertos pelo seguro nem pelo passe urbano... Eu sei que não, e... e... estão-me ali ao fundo a fazer sinais para ter cuidado com o que digo..., e... e... eu vou tentar ser mais cirúrgico: o Tino de Celorico de Basto, que agora se pretende apresentar como politicamente virgem, tem tudo menos virgindade e a sua política é demasiado extensa, perversa e antiga. Há mesmo quem diga que o Tino de Celorico incarna uma sacrossanta trindade, constituída pelo DDT Salgado, o dono disto tudo, passando pois pelo CDT de Boliqueime, o culpado disto tudo, e lá acabando no JDT de Sousa, o justificador disto tudo. Com efeito, tal como eu vos estou aqui, depois dos meus sete longos parágrafos, a sistematicamente enganar, com a coleante mentira da Escrita, também o Tino de Baixo, um sofista, ou "orador motivacional", acabado, anda, há quatro décadas, a enganar, dia após dia, semana após semana, mês após mês, o incauto espectador.

Ninguém, mais do que Marcelo Rebelo de Sousa, nas suas conversas em família do segundo marcelismo, encontrou uma permanente justificação para o permanente desastre nacional. 

Marcelo é como o Atun das cosmologias do Egito Antigo, o deus primordial, onanista, que ejacula e ejaculará todo o devir presente. Iludido na sua permanente retórica, afundado nos miasmas da sofistica, confundindo a forma e essência, verbum sine verbo, ele tornou aceitáveis todas as bancarrotas, toda a falência dos sistemas financeiro, educativo e de saúde, todo o desemprego, a iliteracia, a ignomínia cultural, o esclavagismo do trabalho, o aventalismo e o opusdeismo, o nacional porreirismo, a insolvência, a incompetência, o compadrio e a mediania, a república e até a monarquia. Todo o discurso de Marcelo não consegue ir além de uma permanente teodiceia, sempre explicadora dos sucessivos males do Mundo com uma perpétua expectativa de reencontro com um espantoso Bem inicial: à falta de uma saudosa fusão com a Ação Nacional Popular, Marcelo passa o tempo a convidar-nos para uma perpétua boda envenenada com o Centrão, e, em dias de maior enlevo e volúpia, mesmo com o mais genuíno PPD profundo. Em décadas de orfandade, ele preparou minuciosamente o retorno de um inviável segundo marcelismo. Em 40 anos de campanha, Marcelo conseguiu transformar o declínio da nacionalidade numas permanentes núpcias de Cadmo e Harmonia.

Marcelo não passa de um homem da intriga do período final do Estado Novo, entubado por azar numa Democracia de valores agonizantes.

Se o Regime tivesse continuado, talvez Marcelo tivesse alcançado um lugar invejável, mas só no sopé das montanhas dos titãs, pois, com a queda dessa parda montanha, deu consigo a andar tão só às voltas, em redor da própria cauda. Marcelo é um ator presente de um cenário desaparecido, numa peça mal interrompida, e ameaça arrastar-nos na volúpia do seu desastre. Como Cavaco, teve o azar de o regime se lhe desmoronar aos pés, justamente numa fase inicial de ascensão. Com o tempo, nem precisaram de se esforçar para subir mais, posto que a nova situação se degradara de tal modo, ao ponto de bastar avançar com os dois pés, para lhe poder passar por cima. Cavaco assim o fez, e assim nos arruinou: chegou agora a vez de Marcelo, com a diferença de que o primeiro, anestesiado pela sua doença, nem nunca percebesse o que lhe estava a acontecer, enquanto o segundo, infinitamente mais hábil e palatino, só tem agora um receio, o de que possa ganhar estas eleições, dado o estado de impotência do próprio cenário eleitoral.

Em boa verdade vos digo, este é o tempo das Rans que queriam ser Boys.

Iremos acabar com alguma dolência e musicalidade. Com alguma calma, lhe recomendamos, leitor, o bem da serenidade, e, para que não pense que o poderia, ou quereria, deixar com algum sinal de desespero, ou sem esperança, o alerto para o facto de que, mais importante do que uma primeira, ou, sequer, do que uma segunda volta, tudo se irá jogar na terceira, quando, contados os votos, e suicidadas as pequenas vaidades, que, penosamente, tivemos de ver arrastar, o vencedor, ainda mal refeito da vitória, irá assistir a um cenário do improvável, dado que, contou-me um passarinho, todos aqueles restos e sobras que vão ser as percentagens de nove destes dez candidatos, se irão coligar, para constituir uma sólida bolsa de percentagem de vencidos, capaz de derrotar qualquer vencedor. Como diria o PCP, só não se presidenciará o perdedor se não quiser, bastando, para tanto, coligar-se com os outros perdedores, e esta é a mensagem de esperança que vos quero deixar: neste "tempo novo", tempo novíssimo, só muito depois de contados os votos, e de o ganhador ter anunciado a vitória, iremos saber quem realmente triunfou, fruto desta aritmética da congeminação e da conspiração. Podem achar que estou a exagerar, mas não estou: o próprio comentador Marcelo já montou um gabinete de crise, para poder perder, caso o Marcelo Presidente tenha o azar de ganhar, já que essa vitória seria um brutal decréscimo dos seus rendimentos de "Professor", posto que, muito acima, dos 292 000 do Rey de España, parece que anda a ganhar na casa dos  385 000 €/ano. Para ele, o mundo perfeito é já hoje, pardo, estático e imutável.

Se procuravam um justo retrato da decadência plutocrática do país, ele aqui está, cifrado em números, e nestes candidatos, que se confundem com a sua própria caricatura, e tudo o resto são trocos e teatradas, pelo que, em boa verdade vos digo que, assim sendo, no dia 24, será expectável, justo, e merecido, tal como previ, que o Palácio de Belém seja dignamente ocupado por um qualquer impante Tino, capaz de substituir o miserável cadáver adiado de Boliqueime, por que, depois das crises dos BPN, do BPP, do Banif e do Bes, nós precisamos de quem nos acompanhe, nestas horas de angústia da CGD, do Montepio e do BPI.

Já está perto, não está?...



(Quarteto das Rans que queriam ser Bois, no "Arrebenta Sol", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

As Legislativas de 2015, entre as Madrassas Balsemânicas e as Manas Mortágua








Para mim, homem do visual, que não assistiu a um único debate, toda a euforia da campanha se poderia resumir e assentar na riqueza dos cartazes. Como estou no nível mais básico de Parsons, todos os cartazes da campanha foram bons, e todos os cartazes da campanha foram iguais. Só depois desta seleção eu me ergui e fui votar. Eu sei este método pode ter parecido simples, mas também não é genuinamente verdadeiro, já que o toque final, na verdade, veio mesmo de um decisivo bouche/oreille, ou seja de um suspiro de última hora, apanhado num intervalo de duas caixas da Louis Vuitton: dizia um veterano para o outro se ele já tinha reparado nas Manas Mortágua, de onde fiquei a saber que as manas mortáguas eram aquelas damas esfíngicas dos cartazes do Bloco de Esquerda.

Eu gosto muito de esfinges, e sobretudo das do discurso subliminar que transportam. Se a PaF ganhou por fé, e foi fé até ao fim com o crucifixo -- e a dívida pública duplicada, creio... -- no bolso, já o Bloco de Esquerda teve uma forte ascensão sustentada pela líbido dos velhos babosos. Parece que as manas Mortágua não são as dos cartazes, mas isso também me é indiferente, posto que só votei nos cartazes, e apeteceu-me acreditar que aquele era um cartaz de manas, e o que é certo é que as manas dos cartazes fizeram tocar uma sineta qualquer do badalo da Terceira Idade. Por prolongamento e extensão, tudo aquilo que as gerações mais novas têm em si da terceira idade também acabou por se projetar no inconsciente baboso dos militantes de barba e cronologia menos definida: já que entre duas falsas manas e o lesbianismo o intervalo epistemológico é nulo, e onde o intervalo epistemológico é nulo há sempre lugar para uma enorme fantasia libidinosa, devem as Mortágua ter sido, por confusão, entendidas como as suas antepassadas Guardiolas, e o voto desvairado no Bloco de Esquerda obedecido assim a uma eufórica deriva de fressura. Não me atreveria a concluir, dada a literatura deste texto, que as grandes vencedoras da noite foram as fressureiras, mas para vocês fica esse sombrio tirar de ilações.

Numa perspetiva mais racional, da enorme degradação que foi a noite eleitoral, aparentemente, apenas um partido venceu o escrutínio, e venceu-o pelo mesma mesma métrica de fé e fidelização com que as velhas da Avenida de Roma foram todas votar na coligação que lhes tinha assaltado as reformas. Há um princípio genuinamente português, que se reveste de uma enorme universalidade, e que é traduzido na profunda espiritualidade da frase "podia ter sido pior", e esse é o verdadeiro epitáfio dos quatro anos catastróficos do Passosportismo. Tudo o resto são pormenores, e já foram esquecidos, já que tudo podia ter sido pior.

Há 900 anos que tudo podia ter sido pior, mas até não foi, e assim chegamos a esta imparidade insossa, de seu nome Portugal.

Dentro desta fatalidade, temos o timbre próprio do nosso infortúnio, que passa pela emoção própria do "ai, aguentam, aguentam", e do quanto pior, apesar de tudo, melhor. Há, neste permanente espírito do tripas à moda do porto, um implícito masoquismo histórico, com dupla face, já que, não sendo consensual, sempre que se estende ao masoquismo do parceiro se pode imediatamente revestir de uma forma particular de crueldade. Não será preciso reler Freud para encontrar o clássico par sadomasoquista, e toda a veia estrutural de um modo peculiar de estar, no qual, estranhamente, nos definimos como identidade histórica.

Não sei se o meu colega de academia, José Gil, quererá, nas suas reflexões sobre a idiossincrasia lusitana, desenvolver o tema, mas aqui fica o repto: particularmente libertos da responsabilidade de votar, dentro da flexão muito própria que foram as legislativas deste início de outubro, os Portugueses puderam finalmente dedicar-se ao exercício muito especial, de, em vez de mostrarem o que queriam, terem uma excelente oportunidade para mostrarem o que eram, e o que são é uma simples turba agachada, com pouco lugar para a imaginação.

Do ponto de vista dos grandes ciclos políticos, as Legislativas de 2015 também trouxeram uma alteração paradigmática, já que não incumbiram, como usual, o partido alternante de pagar as despesas do alternado. Para quem queira fazer algumas contas de cabeça, a tal coligação PaF, responsável por um dos períodos de maior desastre e atropelamento de valores, ficou assim incumbida, por um certo princípio de bonomia e crendice, de restabelecer a ternura da relação. Ignoro se, na célebre Síndroma de Estocolmo, estará incluído um princípio de redenção, no qual o carrasco se transforma no afagador. Tenho a minha opinião, mas prefiro guardá-la para de aqui a alguns meses, quando esta euforia toda se começar a deteriorar...

Esquecida a afetividade, fica a dureza própria dos ditames das Economia, e veremos se, depois das tempestades, das austeridades e das restrições assistiremos a um banho certo de realidade. A hipótese alternativa é mais adversa, já que poderia chegar à conclusão de que o caminho estava certo, e teríamos aqui uma receita para mais 40 anos de estabilidade...

A partir com isto tudo, assistimos a um dos mais perversos exercícios de contaminação da opinião pública, por parte das madrassas balsemânicas. Durante semanas, e com o apoio dos brilhantes publicitários que dinamizaram o Passosportismo, foram-nos substituindo a realidade por uma ficção tecida todos os dias. Na fase final, até já vinham as carochas do costume, na forma da voz etilizada das Manas Avillez, nas quais incluo o Júdice do Alto do Parque. Todos os esforços de Balsemão para que se chegasse a uma maioria absoluta forma gorados, sendo substituídos, como tanto ansiei, por um pesadelo para a Múmia de Boliqueime. Para o espectador de Lineu, ficaria, e ficará, sempre a incerteza de ter sido o que realmente aconteceu o acontecido, ou o produto de uma elaborada ficção. Mas, para não tornar indecente a ligeireza desta farpa, ficará para uma próxima.

Comecei por dizer que os Portugueses, libertos da responsabilidade de votar, se permitiram não escolher o que queriam, mas dizer o que eram. Estava a ser incorreto: ao escolherem o que escolheram, disseram o que eram, e o que somos impede-nos de qualquer modo de renovação, ou de ilusão da renovação, como na farsa grega. Na realidade, há uma claustrofobia coletiva que nos impede de ir mais além, e, mais grave do que isso, de estar permanentemente a deixar os outros ir. A recente morte do grande Vilhena, uma exceção num país de pantanosos saramagos, revela essa dura realidade: a Censura ficou por cá, em todas as suas formas, sem Estado que hoje lhe dê postura de estado, mas discretamente difusa por infinitos coios familiares, focinhos exaltados, fuinhas do ódio, hienas do mal, atrás dos seus pobres teclados manchados, numa longa e fracassada cruzada contra a expressão, liberta e una, como o artista a tivesse concebido. O lado interessante desta impossibilidade de diferença é a execução, no próprio ninho, das ascensão dos oportunismo epifenoménicos, como os ruis tavares e os marinhos pintos, e as próprias mamas penduradas e o golpe da barriga intentado pela outra.

Mais para escrever haveria, e ficará para uma próxima breve. De tudo isto só uma coisa generosa e certa emerge: depois de uma noite inteira de comentários, pode ver-se que o Professor Marcelo, o próximo Presidente, está num mesmo estado de tiques de boca do que o Vacão de Boliqueime: brevemente se afundarão ambos no mesmo pântano neurológico, o que explicaria, e apontaria, para um certo acordo pós eleitoral centrado em mais um Professor, desta vez, o neurologista Lobo Antunes. Um certo avanço, num país onde, como se sabe, se costuma ascender pela lógica própria dos desmanchos.


(Quarteto do bocejo, das mortáguas mortagueiras, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")