Toda a gente sabe que os grandes
responsáveis pelas emissões de CO2 são os vulcões, as plantas,
quando estão a dormir, e as vacas. Como não se pode andar a tapar os vulcões
todos, resta impedir as árvores de dormir e tentar pôr um travão nas vacas. Ora,
creio que impedir as árvores de dormir deve ser das tarefas mais penosas do
mundo, talvez só comparável com andar a tapar os vulcões todos, pelo que se
torna inevitável debruçarmo-nos mesmo sobre as vacas.
As vacas dividem-se em duas
espécies, as que deus e o intelligent design
já conceberam como tais, e as outras, que são fruto de um longo processo de
sociedade e aculturação. As vacas naturais existem na forma atómica, ou seja,
uma vaca, um corpo, uma emissão. Já as vacas culturais subsistem na forma
molecular, mediante uma ligação covalente, em que a vaca capta um ou mais bois,
e entra numa situação dativa, em que é apenas o boi, ou os bois, a fornecem os
meios de subsistência da relação.
Crê-se que isto é assim, pelo
menos, desde Eva e Dalila, até ter culminado no Santuário da Casa dos Bicos E
nada disto é chocante, nem penoso, posto fazer parte da mais elementar História
do Mundo. Torna-se, sim, inquietante, quando nos debruçamos sobre os números da
Demografia, que nos dizem que, aquando da Revolução Industrial, ainda andávamos
pelos 1 000 000 000 de andantes, quando agora, séc. XXI, já andamos a sonhar
com a poluição de dez mil milhões de almas penadas.
Num célebre exemplo da
Estatística e da importância da correlação na análise de dados, ocorrido na Inglaterra, de novecentos, da vaca pré-May, já se
tinha sinalizado um simultâneo aumento de criminosos e padres anglicanos. O
Marques “Magoo” Mendes, na sua iluminação, imediatamente extrairia de aqui uma
relação profunda entre o sacerdócio e o crime, quando a correlação é, de facto,
nula, e apenas se deve à existência de um terceiro fator, o do aumento brutal
das gentes, que simultaneamente conduziria a um brutal aumento de crimes e também
de... sacerdotes.
E já que aqui falámos de brutal aumento
de população, creio que é o tema ideal para começar este texto, esgotado o que
fica para trás, e vocês devem ler apenas como prolegómeno.
Deve entender-se que o brutal crescimento da população é, a par com os
vulcões, o sono das árvores e as vacas, a principal fonte de emissão de CO2.
E é-o por dois motivos, um imediato, o de que qualquer humano, na sua qualidade
elementar de qualquer vaca, é um libertador direto de CO2, e
igualmente um potencial libertador de CO2, na infinita plêiade de
lixo e pegada ecológica que a sua apetência por filhos, carros, casas, hambúrgueres,
roupas, viagens, festivais, skates, surfs, barbas, iPhones, iPads, Samsung Galaxy e outras
coisas afins provoca.
Deve entender-se que a simples
existência de cada humano, apesar de constituir tão-só 1/1 000 000 000 000 (e este número é mera ficção) da atividade de um vulcão, já é cerca de um milhão de
vezes pior do que os puns das vacas, e apesar de ser este número igualmente fictício,
creio-o largamente mais eloquente do que todos os puns dos vulcões.
Por outro lado, e pela sua
própria natureza, toda a gente sabe que, sendo todos os humanos iguais, há uns
que são bastante mais iguais do que os outros.
Assim, é já dentro dos humanos
que ocorre a explosão, ainda mais prejudicial, da vaca humana, a qual junta
todos os defeitos das vacas aos defeitos do humano. Sendo que, como disse, cada vaca se faz sempre acompanhar, por covalência, por um corno manso, e que a mansidão do
corno se encontra, na maioria das vezes, associada à potência da exibição da
alta cilindrada, a emissão de CO2 começa, só por cada vaca, a
tornar-se realmente inquietante.
(Dirão os otimistas que, se a vaca
se expande toda em CO2, já o boi é mais modesto, e põe a alta
cilindrada, por economia, a emitir o seu CÊ Ó UM (CO). No meu entendimento, a poluição deve
ser vivida como a mesma, sendo que a opção entre CO2 e CO se deve apenas
a uma opção de corno manso, cujo debate químico terei de atalhar aqui).
O Donald Trump abandonou, e muito
bem, o Protocolo de Paris, por que entende que ele deve renegociar-se em
condições mais favoráveis para os Estados Unidos. Creio que, com o seu piscar de olho, Donald Trump nos veio dizer que
pretende renegociar o papel da Ivanka e da Melania no rol da poluição do
Mundo, e nós devemos ser muito respeitadores e ficar a aguardar.
Para mim, todavia, tal coisa não chega, e creio que, em vez de andarmos
a assinar Protocolos de Paris, que apenas asseguram que os presentes vão ter de
começar a viver pior, para poderem assegurar o viver ainda pior dos que aí vêm,
por que continuam a proliferar que nem coelhos, era a altura certa de pôr um
travão à Euforia do Falópio. A história da poluição do mundo confunde-se com a história da sobre ocupação do mundo, e a lógica está invertida nos termos, não é a Humanidade que está a produzir mais lixo, é apenas cada vez mais humanidade, que, produzindo o mesmo, ou até menos, lixo, estará sempre a criar maior poluição, e deve cortar-se na Humanidade e o lixo imediatamente se verá diminuído. E, já que a Religião tem andado a invadir todos
os cenários, era altura de nos questionarmos sobre por que é que ainda não foi retirado do clausulado religioso o célebre “crescei
e multiplicai-vos”’, e esta é a minha primeira proposta para a revisão do Protocolo
de Paris, que eu vou já enviar ao Trump da América.
O resto não é melhor, já que o “crescei
e multiplicai-vos” se faz por forma direta, e por forma indireta, sendo que, se
a forma direta já é má, a forma indireta ainda consegue ser substancialmente
pior.
Na forma direta, creio que o
futuro Protocolo de Paris, já revisto pelo Presidente Trump, deverá conter uma
séria recomendação, e com multas, aos credos que continuem a incitar a procriar. Pode
incluir drones que lancem choque elétricos, sempre que alguém se esconder nas
moitas para práticas sem contracetivo. Na forma indireta, estas recomendações e
multas deverão ser estendidos a todas as formas indiretas de procriação, a
saber, fufas e bichas que, com tanto
órfão, insistem em ir à pipeta, e, mais grave do que tudo, aos que, por soberba
e cobardia, recorrem às barrigas de aluguer, e aqui chegamos a um dos cúmulos
da emissão de CO2, e não só, Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro,
que nasceu da barriga, não de aluguer, da Dona Dolores, e até foi da mesma
criação, também não por aluguer, se entretanto não se pagou para se alterarem
os registos, da sua bela irmã Ronalda.
No tratado das vidas exemplares, Plutarco teria tido muito trabalho em encaixar o Cristiano Ronaldo, e, no entanto, ele foi insidiosamente
ocupando um protagonismo e um monopólio culturais, cuja nocividade só os
vindouros conseguirão avaliar na total extensão dos seus estragos. Começou
na infância, a qual, cumprindo a profecia, teve necessariamente de ser pobre e
indistinta, para depois se poder dar a revelação. Como a Irmã Lúcia, ambos não puderam ser crianças e vinham já
condenados a uma reclusão na idade adulta. A primeira cumpriu um voto de
silêncio, e ele deveria ter tentado cumpri-lo. Se a primeira até sabia falar e teve
mesmo de se calar, já o Ronaldo deveria ter-se limitado tão-só a aprender a estar
calado sempre que devia, e devia estar sempre calado.
Esta liquefação de papéis
culturais só encontra paralelo no Maxwell, da fusão do Campo Elétrico, e do
Campo Magnético, no Campo Eletromagnético. Em Portugal, o Campo Eletromagnético
foi fechado no Carmelo, e, em contrapartida, foi deixado à rédea solta no Real
Madrid.
A fase seguinte é a da ascensão e
dos maus exemplos. Ao contrário do
Ronaldo, a Lúcia usou sempre o mesmo par de botas, nunca se depilou, e tinha um
modesto orgulho no seu bigode. Consta que nunca fez milagres, a não ser na
fase terminal, e como era justa, deixou o protagonismo para os irmãos desvalidos.
Um dia, caiu uma criança no Brasil, e a criança sobreviveu, apesar da perda da
sua massa encefálica. Na realidade, o
verdadeiro milagre é o da atual sobrevivência dos milhões de rastejantes, independentemente
da conservação, ou não, das respetivas massas encefálicas. No final disto
tudo, foram o Francisco e a Jacinta que avançaram para a canonização, e a Lúcia,
prudente, ficou só beata, naquele princípio de que os mandatos das presidências
estão sempre limitados a oito anos, enquanto as vice-presidências se podem
manter vitaliciamente. Beata, mas não estúpida.
O Ronaldo começou por ser
ninguém, até uma mão ignota o ter convertido no melhor da sua pequena casa. Da pequena
casa, passou a ser o melhor da sua cova da iria, e, de cova em cova da iria, lá o transformaram no Melhor do Mundo. O atual processo já sonha com a extensão a
Marte, e lá virá. Depois do estádio e do aeroporto, falta o nome do exo planeta
e da galáxia. O processo está todo em Barthes, Castoriades, Lipovetsky, Eco e
muitos outros. Só que ninguém acreditou nesta semântica cultural, até ela se
ter instalado.
A pegada ecológica disto é
gigante. Na ausência de um oscar wilde interior, Ronaldo não procurou o melhor
de tudo, mas aquilo que, de tudo e em tudo, fosse sempre o mais caro, e o caro
torna-se inevitavelmente ainda mais caro, se for por ele, Ronaldo, patrocinado.
É paradigmático que o Ronaldo
seja agora caçado pelo Fisco, não pelo dinheiro do que joga, por que sobre isso
as opiniões até são as mais diversas e contraditórias, mas, sim, sobre essa coisa
suspeita do que são os seus “direitos de imagem”. No ar de fábula de que este texto
se revestiu, é urgente relembrar o existencialismo lafontainiano de Cristiano Ronaldo,
e de como não lhe chegando ser rã, tanto o empurraram que acabou por se tornar num boi.
O mais grave nem é o que tudo o que é ditado por estas estrelas do mau exemplo, mas o ser imediatamente imitado por milhões, pelo planeta fora. Pouco interessa o que o Ronaldo faz, ou não faz, mas sim a tal plateia sombra que há muitos anos estava à espera de que o Cristiano Ronaldo fizesse para validar o poderem fazer também. E assim proliferaram as depilações, os brincos, as pulseiras e as sobrancelhas arranjadas. A nossa era, a Era Trump, é deplorável, e mais deplorável ainda é o tempo de antena que a Civilização perde nisto... E, assim, é aqui chegado o momento de perorar sobre toda a (in)finitude da vaidade humana.
O mais grave nem é o que tudo o que é ditado por estas estrelas do mau exemplo, mas o ser imediatamente imitado por milhões, pelo planeta fora. Pouco interessa o que o Ronaldo faz, ou não faz, mas sim a tal plateia sombra que há muitos anos estava à espera de que o Cristiano Ronaldo fizesse para validar o poderem fazer também. E assim proliferaram as depilações, os brincos, as pulseiras e as sobrancelhas arranjadas. A nossa era, a Era Trump, é deplorável, e mais deplorável ainda é o tempo de antena que a Civilização perde nisto... E, assim, é aqui chegado o momento de perorar sobre toda a (in)finitude da vaidade humana.
Nos reflexos da Natureza, compete
à fêmea, no apagamento natural dos dotes do seu corpo, propagar a vaidade do
seu pavão. O preço é cruel, já que ela oferece ao progenitor uma réplica eficaz
daquilo que ele perdeu anos a contemplar no espelho, mas a contrapartida é sempre
cruel, por que lhe exige faturação e sustento para todo o resto da existência.
Estas são as leis da natureza, e tudo o resto são soluços da Teresa Guilherme,nua, desnuda, pelada, à poil & stark naked.
A comissão de promoção do
fenómeno Ronaldo também aqui foi prudente, e seguiu o consuetudinário das
normas da Igreja: não casar o padre, para que o património não sofra diluição.
Por um princípio de máxima satisfação, conseguiu assim dar a vaidade ao progenitor,
através da solução de um clone de um plano pré-pago: ela recebe à cabeça pelo
serviço, e evitam-se depois protagonismos e divórcios. O Ronaldo, demiurgo, desta
forma cumpre as pegadas de Jesus e de Apolónio de Tiana, e concebe, não sem
pecado, mas sem gaja, por que as gajas são sempre uma chatice, exceto quando se tornam urgentes e necessárias para as foder. Os menos sofisticados preferem as bonecas insufláveis e as bonecas sem ossos, da Deep Web. A solução Ronaldo é uma espécie de meio termo moderado, para consumo lato na forma de pacote integrado. Creio que os maus tratos às mulheres também deverão estar para ser, em breve, validados.
Cristiano Ronaldo é a apoteose da misoginia, e o pontapé, do alto dos seus voláteis trinta anos, em trinta mil anos do louvor da Mulher na Cultura Humana. E assim se cumpriu mais um suspiro das claques.
Cristiano Ronaldo é a apoteose da misoginia, e o pontapé, do alto dos seus voláteis trinta anos, em trinta mil anos do louvor da Mulher na Cultura Humana. E assim se cumpriu mais um suspiro das claques.
Na fase sequente do milagre,
passou do filho único aos gémeos, ou seja, numa ótica fisicista elementar, se,
no primeiro processo, foi necessário ter uma barriga de aluguer para assegurar a
parturição de um filho, já no obrar de dois gémeos devem ter sido necessárias
duas barrigas de aluguer. Ora, somada a primeira às duas últimas, isto faz três
barrigas de aluguer, com todo a consequente emissão de CO2 que isso comporta.
Na lógica da ascensão, passava-se
da beata Lúcia e dos santos Jacinta e Francisquinho para a próxima vizinhança
da virgindade de Maria. Depois da conceção sem pai se avizinhar da conceção sem
mãe, era preciso apontar mais alto, e mostrar que o novo Messias ainda
continuava a conter uma costela de humano. E assim se fez a Georgina, que nega
a gravidez, mas a sua negação da gravidez pode ser ainda mais grave do que a
gravidade do emprenhanço, por que se não é um futuro emissor de CO2 o que agora ali se anuncia, até pode ser que o inchaço nem passe mesmo de um imenso
depósito de metano. Quando ela o soltar, tal bufa fará tremer todo o Protocolo
de Paris e até os das cidades vizinhas, o que mais uma vez dá razão ao Donald Trump...
Do ponto de vista da Física, a
coisa é ainda mais grave, já que, com a
Georgina a contrapor-se às barrigas de aluguer, o problema se deslocou,
quanticamente, da incerteza da maternidade para a incerteza da paternidade. Tudo
o resto assenta na indecisão da numerologia: e, se, desta feita, já são três, fica
só a faltar agora o matrimónio para cumprir a profecia do Hermann: sempre
casados e sempre pais de três filhos.
No meio disto tudo, foi o Fisco Espanhol a finalmente vir deitar uma desagradável água fria neste noivado da indecência universal. A História dos Impostos divide-se inexoravelmente entre dois atores, os que nunca pagaram impostos e os que sempre tiveram de os pagar, sendo que a segunda categoria, num horizonte ideal, sonharia sempre com converter-se na primeira. Na hora da verdade, o olhar da justiça social só se projeta sobre os que são apanhados a meio da metamorfose, e foi aqui que a Fazenda justamente atacou, no momento exato em que o bloqueio ao Qatar revela como
Futebol e Terrorismo, tráficos, Daesh, branqueamento de capitais e fuga aos impostos andam de mãos dadas. A ascensão deste fenómeno destruiu o que ainda poderia
haver de desporto, no Futebol: mesmo para os que gostem de Futebol, hoje é impossível
falar-se de Futebol, sem que as discussões não sejam imediatamente canalizadas
para a poluição provocada por Cristiano Ronaldo.
Do ponto de vista do espectador,
a coisa é infinitamente nefasta. Do ponto de vista do jogador, creio que seja
igualmente preocupante: sempre que o Ronaldo entra em campo, qualquer
adversário seu já não se encontra a defrontar um qualquer jogador humano, mas a sofrer um
choque anafilático, de que nem Plotino se lembraria: contemplar, face a face, os holofotes brutais que o encandeiam e lhe dizem que nunca deverá ousar perturbar tal inquietante máquina de manobra e iluminação. Na realidade, só um louco ousaria defrontar essa
incandescência ex-machina com que a sociedade foi intoxicada, e, portanto, em
campo, perde-se agora sempre, e perde-se sempre que o Ronaldo agora entra.
O Cristiano Ronaldo é o exemplo mais gritante da Pós Verdade no Desporto.
O Cristiano Ronaldo é o exemplo mais gritante da Pós Verdade no Desporto.
É verdade que todos os episódios
sequentes são ainda imprevisíveis. Como se sabe, falta ainda o Mourinho. Avanço, como previsão, que uma vez ferida a
aura de Ronaldo, os bons jogadores, um após outro, o comecem doravante a
vencer. E esta reviravolta é tão miserável, na queda, como foi na ascensão, mas é
a lógica das reviravoltas. Está tudo previsto nas cúspides das Catástrofes de René Thom, mas a hora desta emergência continua a não deixar de ser injusta,
exatamente agora, quando iam começar a surgir os milagres da beatificação (em
vida) do Ronaldo.
Como podem supor, este texto
poderia torna-se infinito, fosse eu pelas emissões de CO2 da Dolores, da Katia e da Ronalda, pelo que cumpre suspendê-lo agora, até o voltar a retomar.
Adianto, pois, que, sendo a canonização do Ronaldo coisa ainda em profundo
segredo nos bastidores do Vaticano, apenas ouso avançar com duas pequenas
inconfidências: a de que o processo decerto passará pelo reconhecer do milagre do demiurgo que ousou
corrigir deus, sobretudo na forma por deus destinada aos seus dentes e
aos dentes da Dolores, e também o milagre desta espantosa fraude ter durado o
tempo todo que durou, e ainda continuar a durar. Assim seja.
Amén.
(Dueto do fim dos mitos, no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")