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sábado, 2 de abril de 2016

Daesh in the sky with diamonds





Dedicado ao soldado Alex Pushin, que nos devolveu as primeiras flores de Palmyra




Agora que o filme está a chegar ao fim, o Obamismo nada conseguiu produzir, exceto Donald Trump. É justo, por que a eleição de Obama sempre teve um programa de marasmo previsto, e Trump é uma forma de marasmo como qualquer outra, talvez com a diferença de que mais vale um Donald Trump do que o Obamismo ter parido coisa alguma, e arriscava-se agora a chegar ao fim, deixando-nos de mãos completamente vazias.

Semelhante ao Obamismo, só a deriva, rezam os livros de História, de Jimmy Carter, fraca figura, que, na segunda metade dos anos 70, deixou o Mundo à beira de cair nas mãos do Império Soviético: nunca Moscovo chegou tão longe, com a conquista da Indochina, a queda do Negus da Abissínia, uns grupelhos vermelhos a incendiarem a Península Ibérica (então, uma "geringonça" monopartidária, para quem se lembre...), uma Grécia à beira do soviete, uns acidentes pelas Caraíbas e o Afeganistão, finalmente, onde os porcos pós estalinistas se afundaram em miséria, como todos os invasores se tinham afundado, bem antes deles. Pior do que isto, só os solavancos maoístas e os gritos de perfeição do gueto albanês. Naquele tempo, se aquilo não era o fim, então, o que seria o fim, mas mais iria haver para ver.

Graças à Apple que a versão presente é mais iPhónica, e o preto americano é uma loa bem diferente da coisa sinistra que foi Ronald Reagan. Como diria Aristóteles, a velhice está para a juventude, tal como o crepúsculo está para a manhã, e assim estará Trump para Obama, como Reagan esteve para Carter. No final disto tudo, também há, e sempre houve, um títere Putin, com esse ou outro nome. Há quem lhe chame analogia, mas eu prefiro acreditar que é bem a voz de Spengler a falar da bela Decadência do Ocidente.

O Ocidente escolheu decair de formas diversas, e algumas delas inesperadas. Roma, quando soçobrou, transformou-se num subúrbio; o Ocidente preferiu acabar numa epopeia de suburbanos, gente gira, na ótica da Teresa Guilherme, gente fatal, na ótica dos poucos, que, como eu, estamos a viver a coisa na sua inevitável literalidade.

É inevitável que voltemos a Bilderberg e ao seu programa de "normalização" pela base. Com Bilderberg, apenas tenho um ponto de contacto e uma única coincidência, a de que o Mundo está superpovoado, e superpovoado por representantes da espécie cada vez mais desinteressantes e perigosos. Infelizmente, as religiões, que se apresentam sempre como tão sábias, foram sistematicamente incapazes de girar a chave do problema, através da enunciação de um simples "não procriarás"... De aqui deriva, embora não se ouse estabelecer a conexão, que a tão falada inevitabilidade de uma geração inteira a ir ter de viver pior do que geração que a antecedeu não é mais do que uma resposta dos programadores dos figurinos do Mundo a esta cultura do enxame multiplicado num mundo despovoado de recursos. Os sensores estão todos em sintonia, e há uma lógica do senso comum que realmente conflui numa conclusão inevitável, a de que a desenfreada multiplicação da espécie humana, uma das espécies mais tóxicas do planeta, é incompatível com uma igualdade de posse dos meios. Por outras palavras, chegamos à axiomática de que já não chegaria uma Terra inteira para produzir os bens do fascínio das grandes ilusões destas massas todas.

Mais interessante do que tal evidência é se terem tornado esquivos os corolários do anterior, já que, se as coisas não chegam para todos, então, a quem chegarão, e a resposta é extraordinária, posto que se não rege por um princípio do mais apto, mas pela lógica de Bilderberg, em que sobreviverão os piores, ou para dar rostos às coisas, sobreviverão os protagonistas e finalistas dos reality shows da, e vou repetir, Teresa Guilherme.

Como já deverão ter percebido, a Teresa Guilherme é aqui completamente irrelevante, já que ela não passa de uma espécie de Wally de todas as teresas guilhermes deste mundo. Ela não é mais do que um bodisatva de um budismo perverso e imprudente, que prega o desprezo por todas a regras do mundo e um salve-se quem puder assente nas volatilidades de um corpo com uma semivida de vinte anos, e dois ou três orgasmos falhados no chuveiro. Na realidade, esta insuficiência na posse plena de todos os recursos do planeta é espantosamente resolvida numa oval forma colombiana, do já que eles não podem ter tudo, e não podem desconfiar de que tudo já não é possível que esteja na posse de todos, então dêem-lhes o onírico às postas, simplesmente, invertendo a lógica do indispensável.

Esta gente foi filha de uma gente para quem a educação, o emprego, os cuidados de saúde, o estado social, as reformas e a estabilidade na velhice eram os pilares maiores de uma aventura da finitude. A grande aposta dos sabotadores do Mundo foi diminuir-lhes a esperança de vida, acenando com as glórias do êxito fácil, e os quinze minutos de fama do Wahrol, os quais foram esticados durante meses, a baixo custo, piores expectativas, e plena intoxicação da TVI: só tatuam os braços do cotovelo até às mãos aqueles que sabem que isso vai contra uma política de certos empregos e castas, e essa mimese é própria daqueles que subliminarmente já estão a ser preparados para a exclusão. Também a saúde não é importante, por que as doenças são problemas da velhice, e a velhice é um horizonte quimérico, uma coisa de que falam os avós, avós que nós nunca seremos, mas dos quais tanto continuamos a depender, durante os curtos anos da nossa sobrevivência.

Curiosamente, e por um princípio de entropia, este empobrecimento em massa repercutiu-se a montante, afetando a geração anterior, forçada a sustentar esta massa enorme de desempregados, de desapossados do teto próprio, e nos quais é sistematicamente necessário injetar os capitais que permitem os sinais efémeros de sobrevivência: a representação social das roupas, dos eventos musicais, das discotecas, e da troca, segundo a moda, dos tablets e smartphones, e a droga, necessária à permanente anestesia. É um interminável narcisismo, afundado no vazio, na virtualidade e no combustível das substâncias. Vales e és o tamanho do teu Facebook. Tudo o resto se tornou irrelevante, e não integra a cultura da deseducação. Desde que os pais paguem, os filhos podem concentrar-se na posse dos poucos objetos que os validam na vacuidade contemporânea. Na verdade, nós não quereremos imaginar o que vão ser os filhos destes filhos, criados no caos e na precariedade, mas acreditamos que já virão dotados de um princípio de amnésia, que os fará esquecer de que as coisas nem sempre foram assim. No final disto tudo, estará uma guerra, entre os que ainda têm e os que nunca tiveram, entre os que ainda se lembram e os que já não guardam memória, e, sobretudo, entre aqueles que vivem do não esquecimento e os que sabem que o registo da memória é um incidente letal. A violência começa no estádio, e estende-se até Palmyra. E é aqui que chegamos ao ponto essencial deste texto, já que nós viemos aqui para falar de guerra.

Sendo a História perigosa para estes sistemas, é fundamental que regridamos no tempo, e regressemos à memória, ou seja, ao ponto em que, historicamente, este cenário foi manipulado, para chegar à desagregação que preparava. Não voltaremos a falar das derivas neoliberais, por que são já do senso comum, mas importa recordar que esse é o big bang do colapso presente, ditado pela irracionalidade do salve-se quem puder, mesmo que, no final, ninguém se chegue a salvar. Esse é um dos cenários de Bilderberg, ditados pela lógica do extermínio, e nós vamos alegremente nessa direção.

O princípio do empobrecimento global, que entre nós teve muitos rostos, gera imparidades crescentes, já que a lógica do pântano não é sincrónica com o afundamento de todas as camadas da sociedade. O subúrbio da exclusão, com o seu princípio de reconquista dos centros abandonados, é uma das maiores glórias desta nova idade média: começou-se por caçar os picas e acaba-se a decapitar no teatro de Palmyra.

A falácia seguinte assenta na representação, e nos valores visuais da representação, já que a lógica do subúrbio tem heráldica, uniforme e ritos: ninguém, melhor do que o neoliberalismo, importou para os cânones do visual os estigmas do novo nomadismo: as mochilinhas, os capuchinhos, os óculos escuros, as barbas a despropósito, e a mais recente estética dos pés em forma de martelinhos de cordas de pianoforte, a emergirem na ponta das calcinhas lycradas e apertadas. De aqui aos fundamentalismos das madrassas de Kandhaar e de Fahti é um passo, e este cortejo dos falhados do Ocidente, que invadiram as nossas ruas e praças, nada mais é do que um generalizado cavalo de tróia do nosso colapso civilizacional. Só se espantarão os incautos de que os servos do aeroporto de Zaventem tenham celebrado os atentados de Paris. Toda a superpopulação gera violência. Faltava-lhes ainda o enquadramento religioso, e nisso os bilderbergers falharam, já que não bastou a "geringonça" de dois papas fundamentalistas e um totó para subverter séculos de aggiornamento e laicização. Porquanto todo o empenhamento fanático e a cruzada antierótica de Woytila e Ratzinger não foram suficientes para fazer o Ocidente empolgado atravessar o limiar da jihad. Esse teria sido o cenário de guerra ideal, em que um Ocidente fundamentalizado se apropriasse dos recursos das civilizações vizinhas. Mas, como a guerra era indispensável, foi necessário, encontrar um casulo mais radical, que, impossibilitado de se encostar aos fanatismos sionistas, encontrou bom porto nas derivas ortodoxas do Islão. O Islão não é senão uma segunda escolha de cenário, falhada a tentativa do fundamentalismo cristão. Para aqueles que dizem que o Daesh é um subproduto das políticas de relaxe do capitalismo selvagem tem de se fazer o reparo de que esta gangrenosa infiltração dos tecidos sociais por elementos estranhos e radioativos é, pelo contrário, fruto dos laxismos das culturas da integração e da mestiçagem, os piores flagelos das sociedades rendidas às "geringonças", que, no limite das suas necessidades de defesa, acordam nas formas estranhas dos donalds trumps destes mundos.

Esta é uma guerra que não assenta na posse de territórios, mas na uniformização do pensamento. O seu fim final é o colapso da Democracia e o fim da herança ateniense. Brevemente, que é o hoje já, todos teremos integrado os argumentos das correntes extremistas e totalitárias como postulados elementares das nossas mesas de café. Ao nosso lado, todos os que se sentarem e não partilharem do nosso pensamento estarão ao alcance da rapidez de autos de fé tecnológicos e literais, perpetrados pelos novos escravos do precário e dos 500 €, e imediatamente publicitados no Twitter e no Instagram.

Foi esta cultura nómada da mochilinha obsessiva que nos tornou invisível o bombista suicida do metro de Lisboa. Foi esta cara tapada pelos óculos, pela barba e pelo capuchinho, que tornou o nosso vizinho do lado vizinho do militante do Daesh, encarregado de se vir fazer explodir nas rotundas do Colombo e nos saldos do El Corte Inglês. É o puro triunfo da estupidez, replicado e assistido por milhões, nas cenários da ninfómana, Teresa Guilherme, que marca a irrelevância da educação, e que permite que se tenham dinamitado os templos de Palmyra, tal como se dinamitaram os Budas afegãos. Brevemente, não haverá livros, mas apenas estádios de futebol. Sabemos que o Sr. Balsemão, como muitos, gosta disto e aplaude. Talvez goste menos, quando chegar a vez de ser a sua cabeça decapitada a decorar a capa de alguma edição extraordinária do "Expresso"...



(Quarteto da esplendorosa Tadmor-Palmyra, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")



segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Setembro de 2015: entre bárbaros e breiviks, a Europa, em guerra, vai syrizando os seus estertores






Imagem do Kaos




Setembro descobriu uma Europa totalmente pavlovizada. A Europa pavlovizada, que, afinal, não é uma descoberta de setembro, mas um estado endémico, no qual as estruturas anquilosadas salivam com dinheiro, sempre que soa a sineta do risco. Aparentemente, num mundo balofo, onde os grandes sobressaltos não passavam, em França e Bélgica, de manifestações de desperdício da batata e do tomate, onde logo uma gaja, com ar de tábua de engomar, passava um cheque, daqueles acabados em "liões", e a coisa imediatamente transitava para o orçamento seguinte.
Todavia, pela própria essência dos processos pavlovianos, todas as longas sessões de salivação ganham autonomia, e quando os sistemas, como o europeu, entram na sua fase barroca, a salivação torna-se automática e carece de estímulo.


Sendo a saliva metafórica, a verdade é que responder aos "migrantes" com cifrões é equivalente à rábula da Maria Antonieta Joana Joesefa com os brioches: mais tarde ou mais cedo, um curto circuito lógico acabará por guilhotinar a coisa, e a fome estender-se-á a ambos os campos, e começa aqui a dissecação.

No primeiro tomo, há uma guerra, e todas as guerras acarretam destruição, colapso dos nichos quotidianos dos povos, e desestabilização das vizinhanças. Quando a Europa aceitou mais uma das benesses obamianas -- esse gajo passou dois mandatos a fazer só merda... -- as "primaveras" árabes, estava, na verdade, a aplaudir a queda dos ditadores árabes, que mantinham um manto diáfano de repressão sobre as águas de uma insuportabilidade profunda. O resultado foi o que se viu, e um brutal emergir da realidade.

No segundo tomo, há uma Europa que detesta essa mesma realidade e a prefere sucessivamente substituir por diretivas comunitárias e verbas de manutenção pantanal dos sistemas. Essa mesma Europa preferiu ver em Obama o tal messias preto, sem perceber que o Obama não só não era preto, como não era messias, e muito menos vinha para nos salvar. Foi a primeira vez que um americano recebeu um mandato expresso para destruir a Europa, e o Continente adorou, pediu mais, e adaptou a sua ruína à marcha salvífica em que acreditava. A estupidez não tem fim.

No terceiro tomo, há redes mundiais de todas as coisas e das coisas todas misturadas, já não organizada por pés descalços, mas por consulesas francesas, cavalheiros das mafias e do Futebol, e os culpados do costume, com os senhores das armas à cabeça. Todos tinham lido Homero, e perceberam que o cavalo de tróia já não era de pau, mas de traumas ideológicos. De aí a porem ovos de cuco em tudo o que era a moralidade vigente, foi um passo.

O quarto tomo chama-se ignorância, e remete, enquanto causa e causalidade, para o terceiro, sendo que a ignorância, hoje em dia, é uma coisa difusa, com manifestações confusas. Passa, no que a nós interessa, por uma certa crença em que a cultura do hamburguer, e isso é verdade, se sobrepõe a muitas das clivagens tradicionais. O jornalista, um dos rostos canónicos da ignorância, pouco viajado, ou muito viajado e muito cego-- nunca fui lá e nunca vi, ou até fui lá mas nada vi -- esqueceu, completamente, as diferenças de trato entre o homem da rua do aculturamento cristão e o cidadão da medina islâmica. Entre um mundo de preços fixos, e um jogo de disputa de valores, entre lágrimas, lamentos e um empolamento dramatizado dos atos de transação, que tanto faz o encanto dos viajantes desses mundos, o gajo de serviço das câmaras preferiu a colagem à literalidade, e transpõe o discurso dos deslocados em massa para um testemunho típico da primeira pessoa. A coisa está toda estudada nas "Mil e uma Noites", mas crê-se fazer parte da ignorância que essa designação, desde Galland e da sua tradução, dedicada à Marquise de O, dama da corte da Senhora de Borgonha, respeite a uma magnífica coletânea de relatos, ao gosto persa, e não a mais uma merda cinematográfica homónima. De aqui deriva que tudo o que o deslocado encena para as câmaras deva ser tomado à letra. Muito choram as crianças "migradas" (esta também é certeira para os fundamentalistas) ...

O quinto tomo encaixa neste misto do estranho isomorfismo cultivado entre o jornalista e a realidade. A escola balsemânica, ensinada em muitas das madrassas contemporâneas, prega o primado do relato. Sempre que a realidade está em desacordo com o relato, corrige-se a realidade. Quando a realidade está completamente em desacordo com a notícia, passa-se para a novidade seguinte.

O sexto tomo é, e não é, mais complexo já que deveria ser regido pelo estrito rigor dos balancetes de contas, mas acaba por se espraiar pelo difuso dos estados de alma, e aqui tenho de explicar: até ao verão, a Europa, ou as europas, se preferirem, agonizavam, entre os pobres, que estavam em crise, e os ricos que exerciam o seu sadismo da severidade. No dia em que as redes de traficantes a bombardearam com mísseis humanos com balas ao colo, começaram a salivar, e mostraram que o pavlovianismo, à falta de melhor, estava vivo, e recomendava-se. Imediatamente apareceu dinheiro para tudo, e lugar para todos. Creio que o Syriza irá adorar.

O sétimo tomo é um mera nota cínica, de rodapé, fundada no anterior, em que se pergunta como é que estados que estavam em pré bancarrota, e outros, que tanto falavam em contenção e austeridade, subitamente abrem, para os filhos dos outros, os cordões à bolsa, depois de os terem fechado para os seus.

O oitavo tomo é aquele em que os que apontaram a mira aos cavalos de tróia misturaram tudo o anterior, e decidiram fazer uma simples guerra de efeitos, baseada na surpresa e na publicidade doentia dos órgãos de intoxicação social. Pavlovianamente, onde sabem que o jornalista saliva com crianças, encheram de crianças as televisões; onde a Europa saliva com fundos de emergência, despejaram os seus excedentes populacionais.

O nono tomo também não seria possível sem os anteriores, e fundamenta-se numa espécie de crise da culpa, que geriu os estados europeus pós coloniais. Aqui, já se fez a mistura entre os desgraçados a quem destruíram, com a guerra, a pátria, e os que foram enganados com a miragem do eldorado. Curiosamente, vendeu-se bem a versão daqueles que pouco tinham e iam em busca dos lugares onde havia mais, Cinicamente, esse "mais haver" é igualmente proporcional, e, na teoria, dar me ia direito a invadir as mansões de East Upper Side, só por ter ouvido dizer que lá se vivia melhor, e haver uma lei imediata de justiça universal, que me permitia só olhar para cima, chegar, agarrar e instalar.

O décimo tomo é o de um problema ao qual ninguém decide atribuir um nome, já que a história dos "migrantes", se retirarmos os que realmente tiveram de fugir, e não fugir para lugares pré definidos, mas tão só para onde podiam fugir, é uma espécie de história de uma cruel agência de viagens, que vendesse lugares apenas de ida, sem se preocupar com assegurar lugares e reservas no hotel de chegada. O corolário disto tudo é uma surpreendente paródia, que nem ao Solnado lembraria, em que alguém imprevistamente despeja, às portas da Europa, e às horas estudadas dos noticiários, milhares de bilhetes de ida, para um hotel que não foi avisado. Creio que esta versão desagrada profundamente às madrassas balsemânicas, pelo que a escarrapacho já aqui.

Por fim, vem o lado kafkiano da história, em que, postos em curto circuito circular, as fronteiras europeias empurram, de umas para as outras, o longo carrocel da paródia em que se tornou o "eldorado" dos mísseis humanos. No limite, a coisa deveria ter sido estendida a Praga, e os "migrantes" passariam o resto da existência a circular em comboios de trajetórias infinitas e fechadas, enquanto, também kafkianas, se multiplicariam cada vez mais altas muralhas da china. Excluída a literatura, esta situação aponta para o despertar, na Europa, do pior da Europa, das defesas nacionalistas e ultranacionalistas, e a gangrena do Totalitarismo, eventualmente, a única coisa que une, num só fôlego, Obama, Putin, ISIS, Bilderberg e traficantes, diferentes rostos de uma mesma idade das trevas.

O epílogo disto tudo não será dignificante. Se formos otimistas e excluirmos o previsível banho de sangue, entre polícias, milícias, protestos e populares -- a Sérvia ainda não esmagou, por que está à espera de integrar o marasmo europeu -- as verdadeiras defesas da fronteira comum só agora se irão posicionar: com o dia 23, entra em campo o batalhão Outono, que, entre ameaços e arrepios, anuncia o General Inverno, sempre grande e incontornável vencedor, pelo dizimar, destas deslocações, se bem estarão lembrados os nossos antepassados, Napoleão e Adolph de Áustria.


(Quarteto da estação fria, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Entre Bárbaros e Breiviks, a Europa soçobra no seu pântano de indecência moral








Imagem do "Mirror", e dedicado a Aylan, aquela criança, cidadã do Mundo, que nunca acreditou que no Canadá seria grande




Creio que a grande expectativa deste miserável quintal será saber se esse denominado Conselho Português de Proteção Civil (CPCC) se demitirá sexta, será dissolvida no sábado, desaparecerá no domingo ou conseguirá arrastar-se até segunda. Qualquer outra hipótese é, obvia e presentemente, inegociável, mas aceitam-se apostas. Ser a Cauda da Europa não é estatuto menosprezável, e também tem as suas obrigações.

Nos últimos dias, como previsto, aquilo que, internacionalmente, já foi apelidado de "pornografia moral", invadiu as montras dos jornais e das televisões. Não há coisa pior, no mundo, do que o ócio de um jornalista. Como Goya dizia, o sono da razão produz monstros, e a intoxicação social, falha de dados, e incapaz de um juízo sintético, multiplicou-se em aberrações e anecdotes de consumo de primeira página. Do ponto de vista logístico, a explicação é fácil: uma reportagem de fundo, sobre a verdadeira causa deste flagelo, instalado em todas as margens do Mediterrâneo, saía caro, metia risco, e não podia ser feita nos écrans de gabinetes, a partir dos simples vómitos diários da Reuteurs e da France Press. Antes obrigava a vestir o capacete, calçar as botas, e partir para o terreno, e conhecer essa rede monstruosa, que está a desenraizar populações inteiras, para as transformar em nas novas armas de arremesso da Aldeia Global. Seria perigosa, e saía cara ao Balsemão.

Falha desta logística, o jornalismo caviar contenta-se com interpretar imagens, e tentar a contaminação do costume. Na terceira versão do recontar da história a coisa já entrou na náusea do senso comum, e nas conversas de transporte público, onde o cliente dos festivais de verão da NOS já conseguiu segregar uma versão própria do pensamento medíocre. Eu próprio, que me comovo sempre com estas interpretações do real, nascidas entre Fátima e o "Glorioso", finalmente recebi, pelas orelhas, um ovo de colombo da situação, já que um, daqueles das tatuagens e óculos escuros ray ban, tinha descoberto que isto, afinal, podia ser uma epifania para o problema demográfico da Europa.

A coisa não estava assinada Poiares Maduro, por que ainda ninguém se tinha lembrado de a galambizar, mas lá virá.

Eu sei que o cenário de guerra é sinistro. Aliás, esta, como estava anunciada, era a mais sinistra das guerras que iríamos presenciar, já que, enquanto é feito o frete de sermos bombardeados com imagens de crianças, mulheres, gente em massa, como nas grandes deportações da História, há um muro de silêncio sobre o que realmente está a acontecer nas muitas frentes de batalha, e muita coisa está a acontecer, alguma da qual estou inibido de revelar aqui, mas apenas acrescento que o desastre é absoluto. Uma saudação para os corpos especiais portugueses, que combatem esses cães, sem moral nem rosto, e para o tratamento que lhes dão, quando os apanham: pendurados de cabeça para baixo, e duas refeições ao dia, porrada ao almoço, e porrada ao jantar. Só se perdem as que caem no chão, mas isso não chega: devem estar agora muito encaralhados, os fazedores de opinião do costume, que passaram décadas a queixar-se da permanente intromissão americana nas frentes críticas, e, agora, bem precisavam dela. Pois, acontece, mas eu vou ser carinhoso, e dizer-lhes que, afinal, ela até está lá, só que numa forma porventura encapotada.

O obamismo, essa anestesia do Ocidente, que consistiu em eleger alguém cujo programa e objetivos não eram a América, mas tão só, entre sorrisos e palmadinhas nas costas, destruir a Europa, entreteve-se com as "primaveras" árabes, e depois deixou-as à solta, esquecido daquela velha máxima que diz que pensamento corânico e democracia são dois pólos inconciliáveis, numa longa marcha paralela, que a Europa tinha feito, em sentido inverso, para desgastar a sua longa praga fundamentalista cristã, e que parecia ter chegado a um patamar neutro, não fosse o reeclodir do Obscurantismo, pela mão nefasta do Reagan do Vaticano, Woytila, e seus piores seguidores, mas tudo isso seria uma outra história e outro texto, e mais não acrescento.

Basicamente, o ISIL e arredores, uma mistura explosiva de subúrbios decadentes do Ocidente, obamistas, neomaoistas, fundamentalistas, extremas de todos os extremos, gajas com falta de homem, mafias de todos os tráficos, e meros excessos populacionais, também descobriu o seu ovo de colombo, que mais não é do que ter encontrado a arma mais barata do Mundo, o míssil humano. O míssil humano é uma marca da indecência e do triunfo da trivialidade: auto replica-se, auto destrói-se e é reciclável. Goza da proteção de todas as religiões, e as suas muitas fábricas vivem ao abrigo do religioso "crescei e multiplicai-vos". Nunca os grandes traficantes de armas americanos e ingleses se lembrariam disto, mas o fim da Humanidade, incarnado pelo ISIL, lembrou-se, e a receita acabou por triunfar.

Para os fazedores de opinião, confundidos com a multiplicação as suas "boas imagens", capazes de desviar a opinião pública do verdadeiro problema, as fábricas de mísseis humanos, as suas plataformas de lançamento e as suas proteções de percurso, serve a cosmética do final do processo, onde a Europa é convertida no lugar de aterragem de longas rotas manipuladas à distância, e a sua cegueira local é equivalente a alguém que, por estar com uma septisemia, é enviado para uma estiticista, para lhe pintarem as unhas e taparem os hematomas das extremidades. Para quem se situe, obstinadamente, nos patamares racionais, incólume a estes estados de alma e ao opinar errático, histórias como as dos "migrantes" que passaram, de bicicleta, as fronteiras do Ártico, estão no limite do kafkiano e são a prova de que, algures, num algures que pode estar muito próximo de nós, alguém deve estar a gargalhar profundamente. Creio que este lado caricato das coisas será o retrato futuro do obamismo, se houver futuro e alguém para poder fazer tais retratos, por que o estado das coisas é pesado, doentio e insuportável.

Não convém que escreva mais. A solução das coisas passa pela tal decisão que é incómoda tomar: ou queremos intervir na causa das coisas, e a isso chama-se guerra, ou, mais friamente, neste caso, uma política de extermínio localizado dessas hordas que se situaram de fora da Humanidade. Sobre essa coisa, chamada ISIL, uma hidra multiforme, creio já tudo estar dito, e só faltar intervir, já que não há lugar para sobreviventes, posto não estarmos perante uma guerra, mas perante uma patologia que atingiu alguns focos geográficos, que antes se encontravam povados por humanos. Deveremos interiorizar que, por muito que isso nos custe, se deu ali uma suspensão da vida, e que aquelas coisas que estão a desestabilizar a própria conceção de Humanidade devem agora ser erradicadas do cenário. Parece que querem destruir Palmira, ou que, noutras interpretações, estão a destruir o património cultural para esconderem o tráfico local das peças móveis, que invadiram o eBay, como aquando Bush saqueou Bagdad. (O processo, como em tudo é engenhoso: uma vez comprada a peça, financiado o terrorismo internacional, extraviada no percurso, e coberta pelo seguro da rede de comércio eBay, cumpriu-se o ciclo, e pagamos, do sofá, o saque de Nimrod).

Nesses atos acabaram de definir o seu próprio destino: estas gentes que ignoraram a História devem ter o seu rasto rapidamente eliminado da mesma, e nada mais se advoga para esse ISIL e para a sua plataforma de lançamento de mísseis vivos com que ensaiaram destruir a Europa. Compete à Europa destruí-los antes, e a seguir banir todos os obamismos. Como finalmente saiu, na forma de verdade elementar da boca daquele jovem de treze anos, eles não querem vir para a Europa, querem apenas que deixem de alimentar a guerra na Síria, e quem diz a Síria, diz todos os focos de desestabilização do bem estar das sociedades. O pequeno Aylan creio que aspirava a menos: apenas sonhava brincar, como todas a crianças de três anos. O Obama não deixou.



(Quarteto justamente nihilista no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")

sábado, 29 de agosto de 2015

Entre Bárbaros e Breiviks, a Europa desmonta a sua velha Muralha da China (director cuts)







Há uma doutrina americana que diz poderem contornar-se as sondagens das Presidenciais, esquecer o próprio escrutínio, e meramente observar o comportamento dos estados onde quem ganha sempre sempre ganha depois a América toda. Há ainda quem prefira os modelos sofisticados de Estatística, que prevêem a monotonia dos resultados imprevisíveis. Nós cá somos mais modestos, e preferimos entregar as certezas dos nossos juízos às oscilações de certos estados de alma e a homeopatia das coisas próximas.

Para não parecer que estejamos a falar de coisas crípticas, passo já a explicar quais são os sensores da nossa casa, e qual tem sido a pista das pitonisas a que usualmente recorremos. Há quem lhe chame o Barómetro da Coca, mas eu vou ser ainda mais comedido e colocar a coisa em termos decentes, já que criamos uma transitividade entre a maior ou menos proximidade do fim de Pinto Balsemão e um acréscimo ou decréscimo das calamidades do Mundo, assim como, nos tempos em que António Borges gastava o dinheiro dos nossos impostos para adiar o seu fim inevitável, a destruição do bem estar dos portugueses estava diretamente indexada ao seu emagrecimento e ao acentuar do fundamentalismo económico. O segundo já marchou -- não faz cá falta nenhuma -- mas o primeiro, infinitamente mais majestoso, continua a ensaiar o nosso Götterdämmerung, bilderberg após bilderberg, sendo que está seguro que esta camada de criminosos mundiais assentou, ou adoraria que o fim da Humanidade se confundisse com a finitude da sua miséria. Assim como o aquecimento global, uma miserável fábula, na qual o Homem se confere o poder de poder unilateralmente alterar o próprio planeta, esta geração nefasta, geralmente neomaoista, e invariavelmente Bilderberg, adoraria protagonizar uma extinção em massa, coincidente com seu dia de finados, tal qual o extermínio do séquito dos marajás, na velha tradição do Rahajistão.

Não me perguntem qual a probabilidade real de tal ocorrência, por que, como em todo o método experimental, o período probatório ainda se encontra em marcha. É certo que temos sinais, mas também não devemos avançar com certezas. Se temos coisas decerto encerradas, como Borges ter falhado fazer coincidir o colapso de Portugal com a sua agonia, de modo algum já dispomos de dados que nos permitam dizer que a miserável morte de Balsemão não venha a sincronizar-se com um fim de mundo.

Eu sei que estas palavras são dolorosas e parecem sectaristas, mas, infelizmente, deixei de ter dúvidas, e acerto sempre no que de pior vier do lado do Errado.

Depois do prolegómeno, vamos aos "migrantes", esse eufemismo com que os órgãos de intoxicação social agora designam os objetos das redes de tráfico humano global, e às razões pelas quais insistem em que olhemos para a árvore, evitando, a todo o custo, que entrevejamos a floresta. Ora, na lógica dos órgãos intoxicadores, nós devemos evitar olhar para o fluxo, e mergulhar no pântano individual das suas pequenas histórias. Houve uma, recente, debitada algures -- procurem -- em que uma "refugiada" somali tinha dado à luz, já a bordo de um barco de salvação de uma outra nacionalidade, com a ajuda de um médico alemão -- o alemão vem mesmo a calhar aqui -- uma menina, de nome Sofia. E, cumprindo toda a retórica da mitologia de Barthes, ela tem 3,3 kg e "está bem"... Não sei se começaram a chorar só no fim da frase, eu, um coração dolente, já tinha as lágrimas bem nos olhos a meio deste período. Infelizmente, como a dureza dos tempos manda que sejamos pragmáticos, e mesmo tendo gostado muito da notícia, ainda achei que poderia ser melhorada: faltou a presença, a bordo, de um turista português, simpatizante do "Livre", e a menina não deveria ter sido menina, mas sim menino, para a mãe lhe poder chamar Cristiano -- para os nossos mais próximos, CR7 -- e ele imediatamente chorar, num grande plano de câmara, capaz de comover todo o retângulo português. Esta era uma história, porventura, nem a melhor, mas suficiente, como amostra, desta espécie de multiplicação shakespeariana dos enredos caseiros, a que as televisões, quando não estão no Futebol, se têm agora sistematicamente dedicado.

Por cá, já há portugueses prontos para receber os "refugiados", e cremos que sejam os mesmos que ajudaram aquelas centenas de milhar de compatriotas, que o colapso do espaço português viu recentemente emigar. Mais assertiva ainda, "Maria Adelaide" Poiares Maduro -- um continuado erro de casting a quem ninguém tem a coragem de apontar um dedo decisivo e definitivo -- também considera, e parafraseio, que os refugiados podem ser uma mais valia para o desenvolvimento do país. Não sei a que país se está a referir, mas hipoteticamente é o mesmo que empurrou a sua geração mais qualificada lá para fora, certamente já a prever -- estes gajos são sempre de visão de longo alcance -- que nos íamos agora tornar num lugar privilegiado de acolhimento das redes de tráfico humano.

Quando deixamos a Cauda da Europa e marchamos na direção da cauda do Mundo em que se tornou a Europa, o discurso assenta na mesma identidade, e, aqui, começamos a recear que as teorias da conspiração tenham mesmo razão, já que a probabilidade de toda a gente, ao mesmo tempo, começar a dizer, sem concertação, que fechemos os olhos, é nula, ou corresponde a um estado delirante de toda a contemporaneidade.

O discurso pode parecer impiedoso, mas não é, é um discurso preventivo, de alerta, enfim, como se pudesse haver alerta numa coisa que já foi longe demais, e aponta para a necessidade imediata de tratar os bois pelos nomes. Na verdade, na lógica imprópria com que estas notícias são fabricadas, essa "coisa" em que tornaram as vítimas das redes de tráfico humano surge, como Atena da fenda do crâneo de Zeus, do nada, e vai imediatamente a caminho de Londres e da Escandinávia. Acontece que a história está muito mal contada, quer a montante, quer a jusante, e passo a explicar: o primeiro reparo, o que só agora estamos a assistir à fase tardia de um processo, logística e estrategicamente, muito bem pensado, cujas origens só, de aqui a algum tempo, poderemos descortinar. O anestesiar das opiniões públicas, poderá, eventualmente, ter coincidido com outras realidade sonegadas, e outros fantasmas cultivados, o mito do Boko Haram, o "Estado Islâmico", uma criação dos suburbanos europeus, e os invernos, perdão, "primaveras" árabes. Embora isto seja matéria para os historiadores, fica aqui o cheirinho de algumas pistas. Na verdade, como nos piores dias do desastre humano, temos narrativas de vagas de desalojados, desenraizados, traficados, seguidores de sonhos, facínoras e outras castas, misturadas com casos de aliciamento, de oportunismo ou de pura aventura. Noutro, seres humanos, fechados em tendas, a tirar selfies, em longas conversas de telemóvel, ou a clamar por avidez de "civilização" (?) Embora esta maré possa ter parecido originar-se nos referidos focos, a sua origem é agora irrelevante; importa, antes, pensar em quem lhes deu pernas para andar, e à medida que se colocam tais questões mais as respostas se nos afiguram sinistras.

Curiosamente, neste concertado processo de desfocagem da realidade, pode compreender-se que haja uns malandros que colocaram nas margens do Mediterrâneo embarcações precárias, a caminho das fronteiras do Ocidente, mas evita-se questionar como chegaram, até aí, essas caravanas longínquas, e, mais grave do que tudo, como lhes facultaram caminho até todas as Calais deste Continente... Creio que, com isto, ficaríamos falados, mas a verdade vai mais longe, já que, contrariamente a muitos de nós, europeus, que desconhecemos as circunstâncias locais de muitos destes paraísos artificiais, os reiterados testemunhos com, que incrédulos, somos bombardeados, mostram, muito mais do que a estatística poderia deixar entregue ao acaso, casos de minucioso conhecimento das cláusulas de acolhimento das seguranças sociais nórdicas, das regras alemãs, ou dos estatutos holandeses, e é isto que é grave, já que mostra, por detrás deste terrorismo mediático e insidioso, massas profundamente industriadas sobre o que querem, onde querem e, independentemente dos percursos, chegar. 

Os cabecilhas destas gentes estudaram a fundo as fraquezas estruturais da Europa, as suas regras de jogo e as ofertas mais vantajosas, e fizeram avançar, em turbilhão, mísseis humanos, capazes de provocar mais estragos do que qualquer atentado bombista.

Decerto não será por acaso que estas redes criminosas colocaram à frente da Grande Marcha as eternas parideiras dos excessos populacionais da África e da Ásia, pois já lhes consta que as legislações de benevolência e concessão com que, durante décadas, nos deixamos enfraquecer e tornar permeáveis, concedem, automaticamente, que criança nascida em determinadas fronteiras seja considerada sua cidadã. Se forem gémeos, nesta lógica, tanto melhor, e lá haverá um médico alemão para as ajudar a dar à luz, uma chamada Sofia, a outra Irene, e ele, Cristiano, suecos de carapinha. Desculpem, mas esqueci-me de que ela já vinha prenhe de três.

Com evidência que este conhecimento só se adquire em duas circunstâncias: ou é fornecido por traidores com sede nos países invadidos, ou deriva das longas operações em que a Europa, no laxismo das suas universidades, formou os estrangeiros, passando-lhes toda a informação cifrada necessária para a sua futura invasão. Nunca nos esqueçamos de que Khomeini, um dos flagelos do séc. XX, foi um subproduto do prolongado vómito francês. Depois disso, todos os cabecilhas deste desastre estão muito mais bem informados do que o comum cidadão intraeuropeu, permanentemente anestesiado com futebol e jogos informáticos, sendo certo que, como em toda a arte da guerra, ganha o que no momento detiver a melhor informação.

Não voltaremos a falar das respostas primárias a que este estado de coisas poderá conduzir os tecidos profundos das nossas sociedades. A completa subversão dos estatutos, através dos jogos de palavras, já provocou as suas maiores vítimas, os equivocados, e os verdadeiros casos de desastre humano que diariamente se afundam nesta dinâmica impiedosa. Incapazes de transmitir a realidade, os transmissores da intoxicação social, na velha escola de Balsemão, continuam a fabricar as suas pequenas histórias, e poderia ser interessante um movimento que convidasse cada jornalista acompanhante da invasão a receber em sua casa, pelo menos, um "refugiado", ou, melhor, um "refugiado" uma mulher e um filho.

Sei que poderia acabar aqui esta breve, que já vai longa, mas apetece-me ir ainda mais longe no cinismo. Curiosamente, na lógica bildebergiana, em que os piores acabarão por ascender mais alto, até poderíamos elidir esta miserável deriva humana, e limitá-los ao mero papel de figurantes do povoamento das televisões ajoelhadas. No fundo, brevemente os tocará, a todos, ou a muitos, a inevitável desgraça do extermínio, uma das regras do paradigma dos Senhores do Mundo, para quem a Orbe ora soçobra nos seus excessos populacionais. É verdade que estamos num tempo de eleições, entre as quais aquela em que compete substituir a testa das Nações Unidas. Curiosamente -- e voltamos do universalmente global para o carinhosamente local -- muito se falou de Guterres, e Guterres, como que por coincidência, é o Alto Comissário para os Refugiados. Como estaria a ONU, se presidida por um homem que no pior dos momentos, falhou em todas as suas funções?... Eu sei que estão, com a cabeça, a concordar, e até eu, curiosamente, também, não me tivesse lembrado, e voltamos à lógica do nosso quintal, de que o candidato de Balsemão não é Guterres, mas um dos maiores escroques que este Continente produziu, José Manuel Durão Barroso. Para ele, líder dos "palhaços" europeus, e, em Bilderberg, substituto, por razões de saúde, do seu mestre Balsemão, quanto mais "refugiados" e "migrantes" morrerem, melhor para a sua candidatura. Deitará a cabeça no joelho do seu instrutor, e, carinhosamente, pedir-lhe-á que não se apague, antes da sua eleição. Um verdadeiro amor.



(Quarteto da desolação absoluta, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")

domingo, 8 de março de 2015

Perversity Jane e a Soror Alcoforada de Vilar de Maçada






Imagem do Kaos



Hoje não me apetecia escrever, por que estou demasiado preocupado com Hatra, Nimrod e Palmyra. Há uma semana, fui buscar o livro à estante, e só hoje percebi o que, no subconsciente já me andava a preocupar, e é mesmo isso, o fim explícito da Humanidade, ou, como diria Santo Agostinho, de uma certa Humanidade, através do desaparecimento dos seus testemunhos maiores, mas isto é uma questão privada, e quem a perceber, como eu, que a viva, e perceba por que não deveria estar a escrever hoje, mas estou.

No nosso quintal, a coisa não anda melhor, e anda a ser rodada da forma do costume, ou seja, enquanto caminhamos aceleradamente para uma guerra, ou, melhor, enquanto já aceleradamente avançamos, dentro de uma guerra, o nosso esgoto continua preocupado com minudências, e vamos começar pela parte humorística, a daquela soror Mariana de Vilar de Maçada, que continua, como a outra, com o seu alcoforado enfiado atrás das grades. Parece que houve uma deriva do polo magnético da Terra, e, ao contrário da primeira, que tinha orgasmos fingidos em Beja, esta geme, como uma podenga, no seu descalçário carmelita de Évora. Creio que, sinal do fim de era, em que estamos, é que uma criatura, supostamente detida por risco de perturbação de inquérito, continue, na choldra, a emitir oráculos: "Ah, eu própria atraí sobre mim tanta desgraça!", dizia a outra, "De si nada mais quero. Sou uma doida, passo o tempo a dizer a mesma coisa...", e é verdade, pelo menos, desde que estoirou o escândalo do diploma, em 2007. "Mandar-lhe-ei, pelo primeiro meio, o que me resta ainda de si. Não receie que lhe volte a escrever, pois nem sequer porei o seu nome na encomenda. De tudo isso encarreguei D. Brites" (Esta Dª. Brites, que se saiba, ainda não está na lista de Rosário Teixeira, ou do Juiz Carlos Alexandre, mas é bom que eles se informem, por que a pista está lá, pelo menos, desde o séc. XVII...)

A verdade é que, ao contrário desta, afogueada pela falta de picha, a de Vilar de Maçada é mais de rancores e de ameaças de vingança, fala de gente próxima da "miséria moral", "O que aconteceu aqui foi uma total precipitação de quem estava tão cego pela sua intenção persecutória ou tão convencido da sua teoria e das suas presunções que avançou sem provas ou sequer fortes indícios de quaisquer crimes", e mais "procuro neste momento desculpá-lo, e sei bem que uma freira raramente inspira amor; no entanto parece-me que, se a razão fosse usada na escolha, deveriam preferir-se às outras mulheres: nada as impede de pensar constantemente na sua paixão, nem são desviadas por mil coisas com que as outras se distraem e ocupam", e é isto que nos deveria inquietar, por que, se o bicho preso já é assim, e assim se comporta, como seria o bicho se fosse largado cá fora, como tantos desejam, pois não acabaria o Mundo às mãos do ISIS, mas às dentadas de Vilar de Maçada, salvo seja...

"Não tenho nada que ver com a vida empresarial dele, ele nunca me pediu nada enquanto fui membro do Governo. A nossa relação fraterna é pessoal não é profissional", dizes, que nada que tu digas eu acredito, e vou mais pela voz maviosa da tua antepassada, com o grelo aos saltos pelo Marquês de Chamilly -- que a tinha grande e grossa, como o Nelson Évora --: "Amei-o como uma louca, tudo desprezei! O seu procedimento não é de um homem de bem. É preciso que tivesse por mim uma aversão natural para me não ter amado apaixonadamente. Deixei-me fascinar por qualidades bem medíocres. Que fez para me agradar? Que sacrifícios fez por mim? Não procurou tantos outros prazeres?", coitada, coitada, coitada, ai que apertada, que apertada, que apertada que eu me sinto, e não é para menos: "malas de dinheiro que iam para Paris; o milhão descoberto num cofre que nunca foi meu; e agora um fundo que eu teria para "esconder" os imóveis que nunca tive. Tudo invenções e mentiras", a dor que sente a verdade que deveras sente, "um amante que não voltarás a ver, que atravessou mares para te fugir, que está em França rodeado de prazeres, que não pensa um só instante nas tuas mágoas, que dispensa todo este arrebatamento e nem sequer sabe agradecer-to. Como é possível que a lembrança de momentos tão belos se tenha tornado tão cruel? E que, contra a sua natureza, sirva agora só para me torturar o coração? Ai!, a tua última carta reduziu-o a um estado bem singular: bateu de tal forma que parecia querer fugir-me para te ir procurar. Fiquei tão prostrada de comoção que durante mais de três horas todos os meus sentidos me abandonaram: recusava uma vida que tenho de perder por ti, já que para ti a não posso guardar." E fossemos nós só humanos, simples e mortais, já o nosso coração estaria aqui esvaído em lágrimas:
"Lindo! O ideal do Ministério Público será, portanto, o de um processo onde o arguido esteja em respeito, viradinho para a frente, sem se defender", sim, e "contra mim própria me indigno, quando penso em tudo o que te sacrifiquei: perdi a reputação, expus-me à cólera de minha família, à severidade das leis deste país para com as freiras, e à tua ingratidão, que me parece o maior de todos os males. Apesar disso, creio que os meus remorsos não são verdadeiros; do fundo do meu coração queria ter corrido ainda perigos maiores pelo teu amor, e sinto um prazer fatal por ter arriscado a vida e a honra por ti. Não deveria oferecer-te o que tenho de mais precioso? E não devo sentir-me satisfeita por ter feito o que fiz?..."

E aqui acho que já deverão estar mesmo, como eu, a chorar que nem marias madalenas, e a verdade é que, se até aqui, foi um puro exercício de estilo, um bocejo de escritor, como nós costumamos dizer, é agora necessário voltar à realidade, e a realidade é muito simples: como intelectual, detesto que me manipulem, e a questão das dívidas à Segurança Social de Passos Coelho não passa de mais uma manobra de diversão, num cenário que eu passo a explicar: neste momento, o governo da República, depois de anos de tormenta, entrou na reta final dos seus sinais de agonia. Do ponto de vista histórico, já cumpriu o seu papel, que foi fazer Portugal regredir décadas, destruir uma geração e arredores, mergulhar o país numa catalepsia económica, num pântano financeiro, e deixar à rédea solta todas as ilegalidades e violações sociais e constitucionais. 

Cumpre lembrar que, nesta situação, Passos Coelho não passa de um mero idiota a quem o frete foi encomendado, por quem, de direito, e na sombra, há muito, senão quase desde sempre, governa Portugal. Há gente para quem a palavra "Democracia" ainda faz tremer, e é a mesma gente que preferiria que a "evolução na continuidade" tivesse triunfado, e talvez nem fosse mau, como fez a España do então notável Juan Carlos. Quis a História que a coisa não fosse assim, e, enquanto soltavam as feras do enxovalho e da turbulência política e social, essas mesmas caras da sombra permitiram que o país profundo, o país do juízes que nunca mudaram, o velho sistema censório salazarista, permanecesse, basicamente intocável e intocado. Sempre que há uma manifestação dos descontentes dos amealhamentos de uma vida inteira, nós vemos aqueles inacreditáveis fácies, que foram fixados, desde Bosch, passando por Le Brun, e permaneceram, até Lombroso: aquelas são as verdadeiras caras de Portugal, as mesmas que aplaudiam nos autos de fé da Inquisição, as que queimaram a Passarola, as que ainda discutiam a Segunda Escolástica, no tempo de Descartes, as que votaram Cavaco e aplaudiram Carmona, as que sabem que Angola é nossa e até deles, exceto de quem deveria ser, os apreciadores do "Gatos Fedorentos", os metralhistas de todos os "Charlies Hebdo" que não temos, os fãs do Tony Carreira, da Mariza e do Zezé Castel Branco, enfim, tudo isto para dizer que essas mesmas mãos de sombra, que nos querem tornar em marionettes de outras marionettes, mais uma vez soltaram as feras, e transformaram o momento de desintegração e declínio da Nação numa espécie de novo circo, com imbecis atrás de imbecis, a comentar o Vazio, na impossibilidade de olhar para a vaga gigante que se está a avolumar sobre todos nós.

Olhar para a televisão e ouvir falar dos probleminhas de Passos Coelho é exatamente igual a estar a ver a "Casa dos Segredos" ou as longas horas dos anormais que comentam "Futebol": é a mão da manipulação a manipular, mais uma vez, todos os que pensavam que já não podiam ser manipulados mais, pois podem, e estão.

E, já que entramos na realidade, vamos mais fundo, por que a coisa se resume no modo em como a vou expor. Há um dado, no meu perfil existencial e de maturação intelectual que gosto de fazer sobressair e relembrar: sou dos raros Portugueses, ou talvez nem seja tão dos raros assim, que acha que, de tudo o que Cavaco fez, desde que nasceu até agora, nada se salva nem aproveita, e tudo foi nocivo para a Nação, e apenas aguardo, com o mesma ansiedade com que aguardaram aqueles que, noutro tempo, e noutras gerações, ouviram, um dia, dizer que Salazar tinha caído da cadeirinha, que Cavaco já não está entre nós, depois de 20 anos da mais infecta podridão política, sendo que os melhores anos das nossas vidas foram gangrenados pela mera existência dessa obsolescência política e histórica, que nos fez severamente crer que nunca poderíamos deixar de ser a Cauda da Europa.

Contrariamente ao que atrás disse, a repulsa por Cavaco não é só minha, mas transversal a muitos dos setores do pensamento e da orientação política portuguesa. Cavaco foi o indivíduo para quem a Democracia sempre foi, é e será, insuportável, já que representou uma pausa existencial, na sua ilusão de um salazarismo continuado, ad aeternum, a quem ele um dia estenderia a mão, e do qual seria um severo continuador. A História não o quis assim, e ele vinga-se na História e na História dos Portugueses. O dia da sua morte será um dia de libertação, mas  o dia da sua humilhação, por muito que isto possa parecer estranho aos que me leem é, verdadeiramente, o que subjaz aos devaneios das dívidas de Passos Coelho, que me interessam tanto como os broches feitos ao Clinton pela Lewinsky, pela simples razão que Passos Coelho nunca existiu, mas foi uma mera fachada frouxa, para que se instalassem, na cena portuguesa, os interesses que a Alcoforada de Vilar de Maçada ainda não tinha deixado penetrar.

A nossa questão fronteiriça, a da "raia", voltou a níveis de inquietação e instabilidade medievais, não sabemos quem somos, onde começamos, nem para onde vamos. Apenas sabemos que estamos, e continuamos, a ser empurrados para lá, e aqui entra o segundo monstro deste filme de terror, Pinto Balsemão, o homem cuja morte, como a de Cavaco, finalmente poderá ser o verdadeiro 25 de abril português. Até lá, estamos numa agonia de vinganças proteladas, de facas afiadas e mentiras. Toda esta gente, a de Bilderberg, sabe que é mortal, e não suporta a sua finitude, preferindo arrastar consigo o fim de todas as realidades, entre Nimrod e Palmyra, ou um belo holocausto atómico em Teherão. Não é por acaso que os melanomas inoperáveis das pálpebras de Pinto Balsemão se manifestam agora, e reveem, nas atrocidades dos ISIS, e dos seus vídeos de execução, rodados nos bastidores cinematográficos da Alemanha. Nem Riefenstahl faria melhor, e o filme continua, e vai continuar, até ao descalabro final.

Num momento em que o Napoleão de Goa não está senão preparado para o seu exílio antecipado, em Santa Helena, com a Alcoforado ainda a gritar, de Évora, pelo extermínio de quem a condenou, com os muitos galambas ávidos de decapitações antecipadas, e um eleitorado completamente desinteressado e apavorado com o que possa ser uma disputa entre um governo já morto, e em pura gestão, e um governo nado morto e sem qualquer possível sustentação, nesse momento, estamos a discutir o sexo dos anjos, enfim, está quem a isso se deixou levar.

Como Clinton, Passos Coelho apenas fez aquilo com que todos os Portugueses sonham e sonhavam poder ter feito. Teve apenas azar, por que os tempos mudaram, e ele foi apanhado com as calças na mão. Quanto à história, a história não é essa, é a história dos afiadores de facas longas, entre os quais me incluo, e estranhos são os tempos em que me vejo cercado dos aliados que mais execro, mas unidos num único propósito, o de que Cavaco Silva, essa neoplasia do tecido democrático, não obtenha a última lápide com que sonha, a de que se diga que, durante o seu ranço e a sua tetraplagia física e mental, foi o único período pós 25 de abril em que uma coligação cumpriu, até ao fim, o seu mandato. Como se pode imaginar, só o prazer de poder tirar ao degenerado neurológico esta derradeira, e premeditada, consolação, me põe os olhinhos a brilhar, e digo, vamos a isso, e se a Segurança Social for a coisa que faça cair o Governo, pois que caia, só para ver o desespero da Múmia de Boliqueime, mas isto sou apenas eu, um nefelibata do vazio da contemporaneidade: a realidade é infinitamente mais vasta, e afastada de qualquer laplacianismo sonhado, por que, caído Passos, nada garanta que não volte, e revigorado, ou substituído por aquela indiscritível massa de podridão que rodeou o nado morto António Costa. Como sempre, nem "Podemos", nem "Syrizas", nem coisa nenhuma encontramos para substituir este impasse, atafulhados nos Acidentes Eucarísticos, e na trama da Segunda Escolástica, ou talvez o vejamos, inesperadamente resolvido, com uma coligação imprevista, entre os Pastorinhos, o Cristiano Ronaldo e a Teresa Guilherme, como Ministro de Estado.

Uma coisa é certa: isto vai, como em Nimrod, acabar profundamente mal.



(Quarteto do colapso civilizacional, no "Arrebenta- SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Teresa Guilherme como campo subliminar de treino do "Estado" Islâmico





Dedicado a Laura "Bouche", como prenda atrasada do seu Lauragenário, e memória do seu estatuto ímpar de única grande bicha portuguesa que andou à porrada com a Teresa Guilherme por causa de um macho, e perdeu. Fosse hoje em dia, e mais uma vez perderia...




Há um estado larvar da Semiótica que diz que os símbolos de inteligibilidade universal deverão ser de imediato acesso aos próprios iliteratos, o que, naquela dinâmica própria destes fenómenos, implica que aqueles que não conseguirem chegar lá com o intelecto, ou com a sensorialidade dos olhos, deverão, pelo menos, estar permeáveis ao seu impacto subliminar.

Como esgoto, a "cultura" contemporânea portuguesa, estrangulada entre saramagos, joanas vasconcelos, cristianos ronaldos, marizas, gatos fedorentos e juliões sarnentos necessita, pelo princípio do "panem et circenses" de poder alcançar todos os círculos do seu dantesco onanismo, sendo que os patamares mais baixos, por um princípio trismesgístico, deverão obter, na devida proporção, um grau de satisfação idêntico ao dos superiores. Chama-se a isto o socialismo do paupérrimo. Acontece, que na realidade, este postulado é falacioso, posto que a qualidade do engano e a miséria do produto é comensurável, em todos os estratos, acontecendo não ser isso o que move esse texto, pelo que apenas fica na forma de pista.

Teresa Guilherme tem algo de extraordinário, ao ponto de ter conseguido introduzir, no sacrossanto tripé salazarista, do Fado, Futebol e Fátima, uma nova premissa, na forma pleonástica de si mesma, o que, implicando aristotelicamente que duas coisas não podem ocupar simultaneamente o mesmo lugar no espaço, ela imerge numa certa indefinição quântica dos novos "quarks" desta merda, que, caleidoscopicamente, permitem que enunciemos Fátima, Futebol e Teresa Guilherme; Fado, Futebol e Teresa Guilherme, ou ainda Fátima, Teresa Guilherme e Fado. Num tom de piada para físicos, Teresa Guilherme está dotada de um spin próprio, obviamente fracionário, que, à la limite, permite que a declinemos como uma nova trindade, eventualmente a que mais me agrada, já que odeio Fátima, Futebol e o Fado me inspira pouco, como Teresa Guilherme, Teresa Guilherme e Teresa Guilherme, e aqui chegamos à confluência sociológica da coisa, que é o que realmente me levou a delinear esta farpa.

Platonicamente, o discípulo de Sócrates  -- salvo seja... -- pretendia que toda a nossa vivência sensorial não fosse mais do que uma reminiscência das coisas perfeitas, arquetipicamente armazenadas na Caverna. A trilogia, Teresa, Teresa, Teresa e Teresa Guilherme, como uma espécie de fusão sincrética da abjeção fletida por Fátima, Futebol e Fado, conseguiu, e é isso que é extraordinário, já que enformou todo o Cavaquistão, enquanto tempo passado, presente e futuro, e conseguiu que toda a nossa Caverna Platónica confluísse na "Casa dos Segredos", ou seja, tudo o que depois dela vivenciemos nada mais é do uma pálida sombra de todos os esplendores que ali se reúnem, reuniram e reunirão.

Para mim, um cético absoluto, totalmente indiferente às vicissitudes e oscilações do tempo presente, não deixa de ser extraordinário que toda a estrutura milenar, elegantemente geométrica, do "Timeu" e dos seus poliedros axiomáticos tenha sido imprevistamente substituída por uma prateleira de lêndeas, as quais a Demiurga, Teresa Guilherme, conseguiu sucessivamente fazer passar do Informe à Forma, e da Forma ao Sentido, conferindo-lhes um verdadeiro estatuto de Universais, se não, mesmo, de Transcendentais.

Pela lenga lenga teológica cristã, seria pressuposto que a Criação fosse feita à imagem e semelhança do Criador, o que conferiria uma dimensão de excecionalidade ao pequeno palco de marionettes, no qual ela se especializou. Na realidade, a própria estrutura topológica da Teresa Guilherme apresenta algumas particularidades e pontos de estabilidade que a tornam notável. Ao contrário daqueles célebres concursos de misses, que caíram em desuso, por todas as gajas se terem hoje tornado reles e galdérias, e onde imperava a aritmética das medidas do peito, da cintura e da anca -- a centimetragem da mulher-objeto... -- Teresa Guilherme, a Mulher Demiurgo é socialista, ou seja, ela consegue ser igual em todos os seus números e termos. Por outras palavras, syrizou. Para reencontramos tal cânone, teríamos de recuar ao Período Saíta, e aos sacerdotes cubos da XXVI Dinastia, onde a Sabedoria assentava nesse cânone monolítico, de dimensões idênticas.

Tornando a coisa ainda mais epifânica e teológica, a Teresa Guilherme é como a Jerusalém Celeste, igual em comprimento, largura e altura, o que faz dela, para além de uma referência do Dogma, uma potencial referência da Física, que só pecou por ter nascido dois séculos depois de Napoleão.

Na verdade, esta indistinção entre dimensões, com as mamas em fusão topológica com os ombros, as tetas, enquanto cu metafórico, o umbigo semanticamente confuso com os buracos procriativos e as narinas, o colo do fémur a articular simultaneamente com as cervicais e com o cóccix, e o esterno feito numa espécie de garrafa de klein clavicular, entre dobras, pregas, atalhos dérmicos e confusões epidérmicas, enfim, ce bouillon Guilherme, essa sopa de pedra da anatomia disforme, que faz dela um Witkin vivo, ou sonâmbulo, numa peluda, depilada e de cerdas frisadas, na verdade, este ser perfeito do Intelligent Design estaria pronto para representar o metro padrão, muito melhor do que aquela barra de irídio-platina, que pretendia incarnar a décima milionésima parte do quadrante de um meridiano terrestre, coisa pouca, para ela, muito mais habituada a medir o mundo em jardas de picha de Matosinhos, Gaia e Trofa, e outros recantos afins do rebotalho nacional, onde ela se espelha e identifica, e muito mais perto da versão seguinte do mesmo comprimento, desde então, equivalente a 1 metro, percorrido pela luz no vácuo, durante o intervalo de tempo correspondente a 1/299 792 458 segundo, o qual, posteriormente adotado, se posicionou, porventura, muito mais próximo do tempo médio que ela leva a aviar as jardas anteriores,
mas

lá vamos,
posto que ainda estou a perorar aqui sobre a métrica e a quântica, em que ela poderia ser infinitamente mais útil, uma espécie de -- outra vez -- protótipo de irídio-platina de peso equivalente a um litro de água, sendo que para ela, quilograma ou newton são coisas totalmente indistintas, posto que Newton lhe agrada muito mais, por se assemelhar a um daqueles nelsons tatuados que, à falta dos Judocas da Universidade de Braga, ela costuma seriar, para ocupar o antro da sua teia, e aqui vamos começar a falar a sério, por que o grave da coisa não está na sua possibilidade, univolúmica, e indistinta, de poder ser padrão, mas no poder de ter padronizado uma espécie de vazio social, cultural e de relações, que contaminou, distorceu, perverteu e gangrenou todas as possibilidades de uma geração, já de si, fortemente fragilizada, pelas más influências de Cavacos, Lourdes Rodrigues, Cratos, Poiares Maduros, Carrilhos e anomalias afins. Reduzida, pela Crise, aos arredores e subúrbios literais ou figurados do nosso tempo, assim como uma prodigiosa máquina de gestão do Vazio permitiu a confeção de uma fatura nula, como Cristiano Ronaldo, seria necessária toda uma parafrenália de modos de sucesso abaixo, impedindo esta massa bruta de investir diretamente pela brutalidade e transformar as nossas ruas em Donetsks generalizados.

A verdade é que num país inibido, pelas suas próprias insuficiências, de criar Valentinos, Boss ou Armanis, o padrão Teresa Guilherme, do vigorético disforme, tatuado, com um ninho de cuco rapado no alto da cabeça, como forma envolvente do meio neurónio interno, vingou, e os sucedâneos desse novo platonismo alastraram, quer na forma, quer no comportamento, por tudo o que é beco, subúrbio ou vão de ginásio. Tudo isso é irrelevante, uma vez na posse da chave do processo que se deve medir a duas velocidades, a primeiro, como defende Prigogine, que a gaja, num tempo indefinível, os acabará por aviar a todos, e, se não os aviar no ato, os aviará mesmo, nem que seja só em potência; o segundo, de impacto social alargado, que o modelo de vazio fabricado no seu Antro dos Segredos, num outro tempo, acabará por alastrar a todo o desvitalizado tecido social desta ruína nacional, substituindo qualquer diversidade pela uniformidade guilhérmica. O guilhermismo formal, não fosse Marcuse um pulha idêntico ao pulha Carrilho, teria aqui, por fim, uma hipóstase do Homem Unidimensional, ou no vernáculo guilhérmico, o Suburbano Unidimensional. Teresa Guilherme é a autora sinalizada daquele disfarce perfeito com que o fundamentalista de cinto bomba um dia inesperadamente se fará explodir entre nós.

De novo, tudo isto seria irrelevante, se não fosse neste cadinho instável que o chamado "Estado" Islâmico, uma espécie de claque pinto da costista alargada, veio recrutar toda a espécie de facínoras, assassinos e marginais da contemporaneidade, e aqui teremos de relevar de outra métrica, de modo a tornar inteligível o paradigma, em toda a sua mediocridade que envolve as chamadas barbas de três dias.

Na mundividência, na qual me não incluo, dos ginásios, da promiscuidade e da vigorexia crónica, as pelagens do queixo -- tal como as tatuagens passaram a ser as novas epifanias dos triângulos auschwitzianos daqueles que Bilderberg exterminará, na hora de ser pressionado o botão do extermínio -- também, repito, as barbas de três dias passaram a integrar uma semântica elementar do duche, em que o macho mostra que está recetivo, para se tornar no vas indebitum da luxúria do duchado do lado, ou, abandonando o refúgio latino, o macho que ali está a dar músculo à fêmea que transporta dentro de si, está finalmente preparado para soltar a Sombra de Grey de si mesmo, e entregar o seu ponto G ao estímulo do macho de barba de três dias mais perto de si.

Evidentemente, explicar isto à tribo de anormais com que diariamente nos cruzamos, e para quem a Casa dos Segredos se tornou no Arquétipo do Sucesso seria tarefa tão inglória e votada ao fracasso, como tentar discutir Relatividade com a Clara Pinto Correia ou o João Galamba, mas também isto, para vosso descanso, é aqui totalmente irrelevante, já que podemos fazer uma époché sobre o conteúdo, e apenas nos ater aos contornos da forma: acontece que esta tribo, multiplicada por mil, dos retardados de subúrbio, aos quais juntamos a moda das barbas de profeta, de quem sente a insegurança da virilidade a tal ponto que tem de exibir permanentemente uma pintelheira no focinho, se tornou numa espécie de cavalo de tróia dos maiores riscos da contemporaneidade. Na verdade, o hiato epistemológico entre cada um desses trastes, teresa guilhermados, e as fuças dos assassinos do ISIS é tendencialmente nula, o que mostra que o padrão introduzido pela ninfomaníaca da TVI se converteu insidiosamente no modo mais perverso de podermos ter, entre nós, e já permanentemente infiltrados, potenciais terroristas, prontos para perpetrar um qualquer atentado, sendo a sua inversa igualmente verdadeira, ou seja, não ser preciso qualquer arranjo, para os podermos exportar diretamente, em massa, de Mem Martins, da Trofa ou de Caxinas, com a cabeça cheia de carros transformados, pastilhas, repetências, super-dragões e rastejamentos de Fátima, para as montanhas sírias.

A coisa poderia esgotar-se aqui, e ficar pelo humor, mas, uma vez que o Ocidente está em guerra, contra uma das formas mais profundas de barbárie com que nos confrontámos, desde o Nazismo, e como se torna necessário aprender a responder, à maneira israelita do olho por olho, dente por dente -- única linguagem que esse lixo humano compreende -- talvez lhes devêssemos enviar, por cada novo refém decapitado por um suburbano espanhol, português, ou inglês, a imagem da hidra decapitada, a própria Teresa Guilherme, em si mesma, de pescoço cortado pelo Carlos -- o tal que "roça o suor" numa das suínas que por lá anda --, ou, talvez, para ser ainda mais mediático, entregar-lhe o pescoço sapudo à fúria fundamentalista do Fábio Poças.

Há nisto, talvez, um pequeno senão: como já nada a satisfaz, ainda corríamos o risco de que se viesse toda, e em público, como adora, a ser degolada em pleno horário nobre...



(Quarteto da Decadência do Ocidente, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")