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sábado, 2 de abril de 2016

Daesh in the sky with diamonds





Dedicado ao soldado Alex Pushin, que nos devolveu as primeiras flores de Palmyra




Agora que o filme está a chegar ao fim, o Obamismo nada conseguiu produzir, exceto Donald Trump. É justo, por que a eleição de Obama sempre teve um programa de marasmo previsto, e Trump é uma forma de marasmo como qualquer outra, talvez com a diferença de que mais vale um Donald Trump do que o Obamismo ter parido coisa alguma, e arriscava-se agora a chegar ao fim, deixando-nos de mãos completamente vazias.

Semelhante ao Obamismo, só a deriva, rezam os livros de História, de Jimmy Carter, fraca figura, que, na segunda metade dos anos 70, deixou o Mundo à beira de cair nas mãos do Império Soviético: nunca Moscovo chegou tão longe, com a conquista da Indochina, a queda do Negus da Abissínia, uns grupelhos vermelhos a incendiarem a Península Ibérica (então, uma "geringonça" monopartidária, para quem se lembre...), uma Grécia à beira do soviete, uns acidentes pelas Caraíbas e o Afeganistão, finalmente, onde os porcos pós estalinistas se afundaram em miséria, como todos os invasores se tinham afundado, bem antes deles. Pior do que isto, só os solavancos maoístas e os gritos de perfeição do gueto albanês. Naquele tempo, se aquilo não era o fim, então, o que seria o fim, mas mais iria haver para ver.

Graças à Apple que a versão presente é mais iPhónica, e o preto americano é uma loa bem diferente da coisa sinistra que foi Ronald Reagan. Como diria Aristóteles, a velhice está para a juventude, tal como o crepúsculo está para a manhã, e assim estará Trump para Obama, como Reagan esteve para Carter. No final disto tudo, também há, e sempre houve, um títere Putin, com esse ou outro nome. Há quem lhe chame analogia, mas eu prefiro acreditar que é bem a voz de Spengler a falar da bela Decadência do Ocidente.

O Ocidente escolheu decair de formas diversas, e algumas delas inesperadas. Roma, quando soçobrou, transformou-se num subúrbio; o Ocidente preferiu acabar numa epopeia de suburbanos, gente gira, na ótica da Teresa Guilherme, gente fatal, na ótica dos poucos, que, como eu, estamos a viver a coisa na sua inevitável literalidade.

É inevitável que voltemos a Bilderberg e ao seu programa de "normalização" pela base. Com Bilderberg, apenas tenho um ponto de contacto e uma única coincidência, a de que o Mundo está superpovoado, e superpovoado por representantes da espécie cada vez mais desinteressantes e perigosos. Infelizmente, as religiões, que se apresentam sempre como tão sábias, foram sistematicamente incapazes de girar a chave do problema, através da enunciação de um simples "não procriarás"... De aqui deriva, embora não se ouse estabelecer a conexão, que a tão falada inevitabilidade de uma geração inteira a ir ter de viver pior do que geração que a antecedeu não é mais do que uma resposta dos programadores dos figurinos do Mundo a esta cultura do enxame multiplicado num mundo despovoado de recursos. Os sensores estão todos em sintonia, e há uma lógica do senso comum que realmente conflui numa conclusão inevitável, a de que a desenfreada multiplicação da espécie humana, uma das espécies mais tóxicas do planeta, é incompatível com uma igualdade de posse dos meios. Por outras palavras, chegamos à axiomática de que já não chegaria uma Terra inteira para produzir os bens do fascínio das grandes ilusões destas massas todas.

Mais interessante do que tal evidência é se terem tornado esquivos os corolários do anterior, já que, se as coisas não chegam para todos, então, a quem chegarão, e a resposta é extraordinária, posto que se não rege por um princípio do mais apto, mas pela lógica de Bilderberg, em que sobreviverão os piores, ou para dar rostos às coisas, sobreviverão os protagonistas e finalistas dos reality shows da, e vou repetir, Teresa Guilherme.

Como já deverão ter percebido, a Teresa Guilherme é aqui completamente irrelevante, já que ela não passa de uma espécie de Wally de todas as teresas guilhermes deste mundo. Ela não é mais do que um bodisatva de um budismo perverso e imprudente, que prega o desprezo por todas a regras do mundo e um salve-se quem puder assente nas volatilidades de um corpo com uma semivida de vinte anos, e dois ou três orgasmos falhados no chuveiro. Na realidade, esta insuficiência na posse plena de todos os recursos do planeta é espantosamente resolvida numa oval forma colombiana, do já que eles não podem ter tudo, e não podem desconfiar de que tudo já não é possível que esteja na posse de todos, então dêem-lhes o onírico às postas, simplesmente, invertendo a lógica do indispensável.

Esta gente foi filha de uma gente para quem a educação, o emprego, os cuidados de saúde, o estado social, as reformas e a estabilidade na velhice eram os pilares maiores de uma aventura da finitude. A grande aposta dos sabotadores do Mundo foi diminuir-lhes a esperança de vida, acenando com as glórias do êxito fácil, e os quinze minutos de fama do Wahrol, os quais foram esticados durante meses, a baixo custo, piores expectativas, e plena intoxicação da TVI: só tatuam os braços do cotovelo até às mãos aqueles que sabem que isso vai contra uma política de certos empregos e castas, e essa mimese é própria daqueles que subliminarmente já estão a ser preparados para a exclusão. Também a saúde não é importante, por que as doenças são problemas da velhice, e a velhice é um horizonte quimérico, uma coisa de que falam os avós, avós que nós nunca seremos, mas dos quais tanto continuamos a depender, durante os curtos anos da nossa sobrevivência.

Curiosamente, e por um princípio de entropia, este empobrecimento em massa repercutiu-se a montante, afetando a geração anterior, forçada a sustentar esta massa enorme de desempregados, de desapossados do teto próprio, e nos quais é sistematicamente necessário injetar os capitais que permitem os sinais efémeros de sobrevivência: a representação social das roupas, dos eventos musicais, das discotecas, e da troca, segundo a moda, dos tablets e smartphones, e a droga, necessária à permanente anestesia. É um interminável narcisismo, afundado no vazio, na virtualidade e no combustível das substâncias. Vales e és o tamanho do teu Facebook. Tudo o resto se tornou irrelevante, e não integra a cultura da deseducação. Desde que os pais paguem, os filhos podem concentrar-se na posse dos poucos objetos que os validam na vacuidade contemporânea. Na verdade, nós não quereremos imaginar o que vão ser os filhos destes filhos, criados no caos e na precariedade, mas acreditamos que já virão dotados de um princípio de amnésia, que os fará esquecer de que as coisas nem sempre foram assim. No final disto tudo, estará uma guerra, entre os que ainda têm e os que nunca tiveram, entre os que ainda se lembram e os que já não guardam memória, e, sobretudo, entre aqueles que vivem do não esquecimento e os que sabem que o registo da memória é um incidente letal. A violência começa no estádio, e estende-se até Palmyra. E é aqui que chegamos ao ponto essencial deste texto, já que nós viemos aqui para falar de guerra.

Sendo a História perigosa para estes sistemas, é fundamental que regridamos no tempo, e regressemos à memória, ou seja, ao ponto em que, historicamente, este cenário foi manipulado, para chegar à desagregação que preparava. Não voltaremos a falar das derivas neoliberais, por que são já do senso comum, mas importa recordar que esse é o big bang do colapso presente, ditado pela irracionalidade do salve-se quem puder, mesmo que, no final, ninguém se chegue a salvar. Esse é um dos cenários de Bilderberg, ditados pela lógica do extermínio, e nós vamos alegremente nessa direção.

O princípio do empobrecimento global, que entre nós teve muitos rostos, gera imparidades crescentes, já que a lógica do pântano não é sincrónica com o afundamento de todas as camadas da sociedade. O subúrbio da exclusão, com o seu princípio de reconquista dos centros abandonados, é uma das maiores glórias desta nova idade média: começou-se por caçar os picas e acaba-se a decapitar no teatro de Palmyra.

A falácia seguinte assenta na representação, e nos valores visuais da representação, já que a lógica do subúrbio tem heráldica, uniforme e ritos: ninguém, melhor do que o neoliberalismo, importou para os cânones do visual os estigmas do novo nomadismo: as mochilinhas, os capuchinhos, os óculos escuros, as barbas a despropósito, e a mais recente estética dos pés em forma de martelinhos de cordas de pianoforte, a emergirem na ponta das calcinhas lycradas e apertadas. De aqui aos fundamentalismos das madrassas de Kandhaar e de Fahti é um passo, e este cortejo dos falhados do Ocidente, que invadiram as nossas ruas e praças, nada mais é do que um generalizado cavalo de tróia do nosso colapso civilizacional. Só se espantarão os incautos de que os servos do aeroporto de Zaventem tenham celebrado os atentados de Paris. Toda a superpopulação gera violência. Faltava-lhes ainda o enquadramento religioso, e nisso os bilderbergers falharam, já que não bastou a "geringonça" de dois papas fundamentalistas e um totó para subverter séculos de aggiornamento e laicização. Porquanto todo o empenhamento fanático e a cruzada antierótica de Woytila e Ratzinger não foram suficientes para fazer o Ocidente empolgado atravessar o limiar da jihad. Esse teria sido o cenário de guerra ideal, em que um Ocidente fundamentalizado se apropriasse dos recursos das civilizações vizinhas. Mas, como a guerra era indispensável, foi necessário, encontrar um casulo mais radical, que, impossibilitado de se encostar aos fanatismos sionistas, encontrou bom porto nas derivas ortodoxas do Islão. O Islão não é senão uma segunda escolha de cenário, falhada a tentativa do fundamentalismo cristão. Para aqueles que dizem que o Daesh é um subproduto das políticas de relaxe do capitalismo selvagem tem de se fazer o reparo de que esta gangrenosa infiltração dos tecidos sociais por elementos estranhos e radioativos é, pelo contrário, fruto dos laxismos das culturas da integração e da mestiçagem, os piores flagelos das sociedades rendidas às "geringonças", que, no limite das suas necessidades de defesa, acordam nas formas estranhas dos donalds trumps destes mundos.

Esta é uma guerra que não assenta na posse de territórios, mas na uniformização do pensamento. O seu fim final é o colapso da Democracia e o fim da herança ateniense. Brevemente, que é o hoje já, todos teremos integrado os argumentos das correntes extremistas e totalitárias como postulados elementares das nossas mesas de café. Ao nosso lado, todos os que se sentarem e não partilharem do nosso pensamento estarão ao alcance da rapidez de autos de fé tecnológicos e literais, perpetrados pelos novos escravos do precário e dos 500 €, e imediatamente publicitados no Twitter e no Instagram.

Foi esta cultura nómada da mochilinha obsessiva que nos tornou invisível o bombista suicida do metro de Lisboa. Foi esta cara tapada pelos óculos, pela barba e pelo capuchinho, que tornou o nosso vizinho do lado vizinho do militante do Daesh, encarregado de se vir fazer explodir nas rotundas do Colombo e nos saldos do El Corte Inglês. É o puro triunfo da estupidez, replicado e assistido por milhões, nas cenários da ninfómana, Teresa Guilherme, que marca a irrelevância da educação, e que permite que se tenham dinamitado os templos de Palmyra, tal como se dinamitaram os Budas afegãos. Brevemente, não haverá livros, mas apenas estádios de futebol. Sabemos que o Sr. Balsemão, como muitos, gosta disto e aplaude. Talvez goste menos, quando chegar a vez de ser a sua cabeça decapitada a decorar a capa de alguma edição extraordinária do "Expresso"...



(Quarteto da esplendorosa Tadmor-Palmyra, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")



segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Setembro de 2015: entre bárbaros e breiviks, a Europa, em guerra, vai syrizando os seus estertores






Imagem do Kaos




Setembro descobriu uma Europa totalmente pavlovizada. A Europa pavlovizada, que, afinal, não é uma descoberta de setembro, mas um estado endémico, no qual as estruturas anquilosadas salivam com dinheiro, sempre que soa a sineta do risco. Aparentemente, num mundo balofo, onde os grandes sobressaltos não passavam, em França e Bélgica, de manifestações de desperdício da batata e do tomate, onde logo uma gaja, com ar de tábua de engomar, passava um cheque, daqueles acabados em "liões", e a coisa imediatamente transitava para o orçamento seguinte.
Todavia, pela própria essência dos processos pavlovianos, todas as longas sessões de salivação ganham autonomia, e quando os sistemas, como o europeu, entram na sua fase barroca, a salivação torna-se automática e carece de estímulo.


Sendo a saliva metafórica, a verdade é que responder aos "migrantes" com cifrões é equivalente à rábula da Maria Antonieta Joana Joesefa com os brioches: mais tarde ou mais cedo, um curto circuito lógico acabará por guilhotinar a coisa, e a fome estender-se-á a ambos os campos, e começa aqui a dissecação.

No primeiro tomo, há uma guerra, e todas as guerras acarretam destruição, colapso dos nichos quotidianos dos povos, e desestabilização das vizinhanças. Quando a Europa aceitou mais uma das benesses obamianas -- esse gajo passou dois mandatos a fazer só merda... -- as "primaveras" árabes, estava, na verdade, a aplaudir a queda dos ditadores árabes, que mantinham um manto diáfano de repressão sobre as águas de uma insuportabilidade profunda. O resultado foi o que se viu, e um brutal emergir da realidade.

No segundo tomo, há uma Europa que detesta essa mesma realidade e a prefere sucessivamente substituir por diretivas comunitárias e verbas de manutenção pantanal dos sistemas. Essa mesma Europa preferiu ver em Obama o tal messias preto, sem perceber que o Obama não só não era preto, como não era messias, e muito menos vinha para nos salvar. Foi a primeira vez que um americano recebeu um mandato expresso para destruir a Europa, e o Continente adorou, pediu mais, e adaptou a sua ruína à marcha salvífica em que acreditava. A estupidez não tem fim.

No terceiro tomo, há redes mundiais de todas as coisas e das coisas todas misturadas, já não organizada por pés descalços, mas por consulesas francesas, cavalheiros das mafias e do Futebol, e os culpados do costume, com os senhores das armas à cabeça. Todos tinham lido Homero, e perceberam que o cavalo de tróia já não era de pau, mas de traumas ideológicos. De aí a porem ovos de cuco em tudo o que era a moralidade vigente, foi um passo.

O quarto tomo chama-se ignorância, e remete, enquanto causa e causalidade, para o terceiro, sendo que a ignorância, hoje em dia, é uma coisa difusa, com manifestações confusas. Passa, no que a nós interessa, por uma certa crença em que a cultura do hamburguer, e isso é verdade, se sobrepõe a muitas das clivagens tradicionais. O jornalista, um dos rostos canónicos da ignorância, pouco viajado, ou muito viajado e muito cego-- nunca fui lá e nunca vi, ou até fui lá mas nada vi -- esqueceu, completamente, as diferenças de trato entre o homem da rua do aculturamento cristão e o cidadão da medina islâmica. Entre um mundo de preços fixos, e um jogo de disputa de valores, entre lágrimas, lamentos e um empolamento dramatizado dos atos de transação, que tanto faz o encanto dos viajantes desses mundos, o gajo de serviço das câmaras preferiu a colagem à literalidade, e transpõe o discurso dos deslocados em massa para um testemunho típico da primeira pessoa. A coisa está toda estudada nas "Mil e uma Noites", mas crê-se fazer parte da ignorância que essa designação, desde Galland e da sua tradução, dedicada à Marquise de O, dama da corte da Senhora de Borgonha, respeite a uma magnífica coletânea de relatos, ao gosto persa, e não a mais uma merda cinematográfica homónima. De aqui deriva que tudo o que o deslocado encena para as câmaras deva ser tomado à letra. Muito choram as crianças "migradas" (esta também é certeira para os fundamentalistas) ...

O quinto tomo encaixa neste misto do estranho isomorfismo cultivado entre o jornalista e a realidade. A escola balsemânica, ensinada em muitas das madrassas contemporâneas, prega o primado do relato. Sempre que a realidade está em desacordo com o relato, corrige-se a realidade. Quando a realidade está completamente em desacordo com a notícia, passa-se para a novidade seguinte.

O sexto tomo é, e não é, mais complexo já que deveria ser regido pelo estrito rigor dos balancetes de contas, mas acaba por se espraiar pelo difuso dos estados de alma, e aqui tenho de explicar: até ao verão, a Europa, ou as europas, se preferirem, agonizavam, entre os pobres, que estavam em crise, e os ricos que exerciam o seu sadismo da severidade. No dia em que as redes de traficantes a bombardearam com mísseis humanos com balas ao colo, começaram a salivar, e mostraram que o pavlovianismo, à falta de melhor, estava vivo, e recomendava-se. Imediatamente apareceu dinheiro para tudo, e lugar para todos. Creio que o Syriza irá adorar.

O sétimo tomo é um mera nota cínica, de rodapé, fundada no anterior, em que se pergunta como é que estados que estavam em pré bancarrota, e outros, que tanto falavam em contenção e austeridade, subitamente abrem, para os filhos dos outros, os cordões à bolsa, depois de os terem fechado para os seus.

O oitavo tomo é aquele em que os que apontaram a mira aos cavalos de tróia misturaram tudo o anterior, e decidiram fazer uma simples guerra de efeitos, baseada na surpresa e na publicidade doentia dos órgãos de intoxicação social. Pavlovianamente, onde sabem que o jornalista saliva com crianças, encheram de crianças as televisões; onde a Europa saliva com fundos de emergência, despejaram os seus excedentes populacionais.

O nono tomo também não seria possível sem os anteriores, e fundamenta-se numa espécie de crise da culpa, que geriu os estados europeus pós coloniais. Aqui, já se fez a mistura entre os desgraçados a quem destruíram, com a guerra, a pátria, e os que foram enganados com a miragem do eldorado. Curiosamente, vendeu-se bem a versão daqueles que pouco tinham e iam em busca dos lugares onde havia mais, Cinicamente, esse "mais haver" é igualmente proporcional, e, na teoria, dar me ia direito a invadir as mansões de East Upper Side, só por ter ouvido dizer que lá se vivia melhor, e haver uma lei imediata de justiça universal, que me permitia só olhar para cima, chegar, agarrar e instalar.

O décimo tomo é o de um problema ao qual ninguém decide atribuir um nome, já que a história dos "migrantes", se retirarmos os que realmente tiveram de fugir, e não fugir para lugares pré definidos, mas tão só para onde podiam fugir, é uma espécie de história de uma cruel agência de viagens, que vendesse lugares apenas de ida, sem se preocupar com assegurar lugares e reservas no hotel de chegada. O corolário disto tudo é uma surpreendente paródia, que nem ao Solnado lembraria, em que alguém imprevistamente despeja, às portas da Europa, e às horas estudadas dos noticiários, milhares de bilhetes de ida, para um hotel que não foi avisado. Creio que esta versão desagrada profundamente às madrassas balsemânicas, pelo que a escarrapacho já aqui.

Por fim, vem o lado kafkiano da história, em que, postos em curto circuito circular, as fronteiras europeias empurram, de umas para as outras, o longo carrocel da paródia em que se tornou o "eldorado" dos mísseis humanos. No limite, a coisa deveria ter sido estendida a Praga, e os "migrantes" passariam o resto da existência a circular em comboios de trajetórias infinitas e fechadas, enquanto, também kafkianas, se multiplicariam cada vez mais altas muralhas da china. Excluída a literatura, esta situação aponta para o despertar, na Europa, do pior da Europa, das defesas nacionalistas e ultranacionalistas, e a gangrena do Totalitarismo, eventualmente, a única coisa que une, num só fôlego, Obama, Putin, ISIS, Bilderberg e traficantes, diferentes rostos de uma mesma idade das trevas.

O epílogo disto tudo não será dignificante. Se formos otimistas e excluirmos o previsível banho de sangue, entre polícias, milícias, protestos e populares -- a Sérvia ainda não esmagou, por que está à espera de integrar o marasmo europeu -- as verdadeiras defesas da fronteira comum só agora se irão posicionar: com o dia 23, entra em campo o batalhão Outono, que, entre ameaços e arrepios, anuncia o General Inverno, sempre grande e incontornável vencedor, pelo dizimar, destas deslocações, se bem estarão lembrados os nossos antepassados, Napoleão e Adolph de Áustria.


(Quarteto da estação fria, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")

sábado, 29 de agosto de 2015

Entre Bárbaros e Breiviks, a Europa desmonta a sua velha Muralha da China (director cuts)







Há uma doutrina americana que diz poderem contornar-se as sondagens das Presidenciais, esquecer o próprio escrutínio, e meramente observar o comportamento dos estados onde quem ganha sempre sempre ganha depois a América toda. Há ainda quem prefira os modelos sofisticados de Estatística, que prevêem a monotonia dos resultados imprevisíveis. Nós cá somos mais modestos, e preferimos entregar as certezas dos nossos juízos às oscilações de certos estados de alma e a homeopatia das coisas próximas.

Para não parecer que estejamos a falar de coisas crípticas, passo já a explicar quais são os sensores da nossa casa, e qual tem sido a pista das pitonisas a que usualmente recorremos. Há quem lhe chame o Barómetro da Coca, mas eu vou ser ainda mais comedido e colocar a coisa em termos decentes, já que criamos uma transitividade entre a maior ou menos proximidade do fim de Pinto Balsemão e um acréscimo ou decréscimo das calamidades do Mundo, assim como, nos tempos em que António Borges gastava o dinheiro dos nossos impostos para adiar o seu fim inevitável, a destruição do bem estar dos portugueses estava diretamente indexada ao seu emagrecimento e ao acentuar do fundamentalismo económico. O segundo já marchou -- não faz cá falta nenhuma -- mas o primeiro, infinitamente mais majestoso, continua a ensaiar o nosso Götterdämmerung, bilderberg após bilderberg, sendo que está seguro que esta camada de criminosos mundiais assentou, ou adoraria que o fim da Humanidade se confundisse com a finitude da sua miséria. Assim como o aquecimento global, uma miserável fábula, na qual o Homem se confere o poder de poder unilateralmente alterar o próprio planeta, esta geração nefasta, geralmente neomaoista, e invariavelmente Bilderberg, adoraria protagonizar uma extinção em massa, coincidente com seu dia de finados, tal qual o extermínio do séquito dos marajás, na velha tradição do Rahajistão.

Não me perguntem qual a probabilidade real de tal ocorrência, por que, como em todo o método experimental, o período probatório ainda se encontra em marcha. É certo que temos sinais, mas também não devemos avançar com certezas. Se temos coisas decerto encerradas, como Borges ter falhado fazer coincidir o colapso de Portugal com a sua agonia, de modo algum já dispomos de dados que nos permitam dizer que a miserável morte de Balsemão não venha a sincronizar-se com um fim de mundo.

Eu sei que estas palavras são dolorosas e parecem sectaristas, mas, infelizmente, deixei de ter dúvidas, e acerto sempre no que de pior vier do lado do Errado.

Depois do prolegómeno, vamos aos "migrantes", esse eufemismo com que os órgãos de intoxicação social agora designam os objetos das redes de tráfico humano global, e às razões pelas quais insistem em que olhemos para a árvore, evitando, a todo o custo, que entrevejamos a floresta. Ora, na lógica dos órgãos intoxicadores, nós devemos evitar olhar para o fluxo, e mergulhar no pântano individual das suas pequenas histórias. Houve uma, recente, debitada algures -- procurem -- em que uma "refugiada" somali tinha dado à luz, já a bordo de um barco de salvação de uma outra nacionalidade, com a ajuda de um médico alemão -- o alemão vem mesmo a calhar aqui -- uma menina, de nome Sofia. E, cumprindo toda a retórica da mitologia de Barthes, ela tem 3,3 kg e "está bem"... Não sei se começaram a chorar só no fim da frase, eu, um coração dolente, já tinha as lágrimas bem nos olhos a meio deste período. Infelizmente, como a dureza dos tempos manda que sejamos pragmáticos, e mesmo tendo gostado muito da notícia, ainda achei que poderia ser melhorada: faltou a presença, a bordo, de um turista português, simpatizante do "Livre", e a menina não deveria ter sido menina, mas sim menino, para a mãe lhe poder chamar Cristiano -- para os nossos mais próximos, CR7 -- e ele imediatamente chorar, num grande plano de câmara, capaz de comover todo o retângulo português. Esta era uma história, porventura, nem a melhor, mas suficiente, como amostra, desta espécie de multiplicação shakespeariana dos enredos caseiros, a que as televisões, quando não estão no Futebol, se têm agora sistematicamente dedicado.

Por cá, já há portugueses prontos para receber os "refugiados", e cremos que sejam os mesmos que ajudaram aquelas centenas de milhar de compatriotas, que o colapso do espaço português viu recentemente emigar. Mais assertiva ainda, "Maria Adelaide" Poiares Maduro -- um continuado erro de casting a quem ninguém tem a coragem de apontar um dedo decisivo e definitivo -- também considera, e parafraseio, que os refugiados podem ser uma mais valia para o desenvolvimento do país. Não sei a que país se está a referir, mas hipoteticamente é o mesmo que empurrou a sua geração mais qualificada lá para fora, certamente já a prever -- estes gajos são sempre de visão de longo alcance -- que nos íamos agora tornar num lugar privilegiado de acolhimento das redes de tráfico humano.

Quando deixamos a Cauda da Europa e marchamos na direção da cauda do Mundo em que se tornou a Europa, o discurso assenta na mesma identidade, e, aqui, começamos a recear que as teorias da conspiração tenham mesmo razão, já que a probabilidade de toda a gente, ao mesmo tempo, começar a dizer, sem concertação, que fechemos os olhos, é nula, ou corresponde a um estado delirante de toda a contemporaneidade.

O discurso pode parecer impiedoso, mas não é, é um discurso preventivo, de alerta, enfim, como se pudesse haver alerta numa coisa que já foi longe demais, e aponta para a necessidade imediata de tratar os bois pelos nomes. Na verdade, na lógica imprópria com que estas notícias são fabricadas, essa "coisa" em que tornaram as vítimas das redes de tráfico humano surge, como Atena da fenda do crâneo de Zeus, do nada, e vai imediatamente a caminho de Londres e da Escandinávia. Acontece que a história está muito mal contada, quer a montante, quer a jusante, e passo a explicar: o primeiro reparo, o que só agora estamos a assistir à fase tardia de um processo, logística e estrategicamente, muito bem pensado, cujas origens só, de aqui a algum tempo, poderemos descortinar. O anestesiar das opiniões públicas, poderá, eventualmente, ter coincidido com outras realidade sonegadas, e outros fantasmas cultivados, o mito do Boko Haram, o "Estado Islâmico", uma criação dos suburbanos europeus, e os invernos, perdão, "primaveras" árabes. Embora isto seja matéria para os historiadores, fica aqui o cheirinho de algumas pistas. Na verdade, como nos piores dias do desastre humano, temos narrativas de vagas de desalojados, desenraizados, traficados, seguidores de sonhos, facínoras e outras castas, misturadas com casos de aliciamento, de oportunismo ou de pura aventura. Noutro, seres humanos, fechados em tendas, a tirar selfies, em longas conversas de telemóvel, ou a clamar por avidez de "civilização" (?) Embora esta maré possa ter parecido originar-se nos referidos focos, a sua origem é agora irrelevante; importa, antes, pensar em quem lhes deu pernas para andar, e à medida que se colocam tais questões mais as respostas se nos afiguram sinistras.

Curiosamente, neste concertado processo de desfocagem da realidade, pode compreender-se que haja uns malandros que colocaram nas margens do Mediterrâneo embarcações precárias, a caminho das fronteiras do Ocidente, mas evita-se questionar como chegaram, até aí, essas caravanas longínquas, e, mais grave do que tudo, como lhes facultaram caminho até todas as Calais deste Continente... Creio que, com isto, ficaríamos falados, mas a verdade vai mais longe, já que, contrariamente a muitos de nós, europeus, que desconhecemos as circunstâncias locais de muitos destes paraísos artificiais, os reiterados testemunhos com, que incrédulos, somos bombardeados, mostram, muito mais do que a estatística poderia deixar entregue ao acaso, casos de minucioso conhecimento das cláusulas de acolhimento das seguranças sociais nórdicas, das regras alemãs, ou dos estatutos holandeses, e é isto que é grave, já que mostra, por detrás deste terrorismo mediático e insidioso, massas profundamente industriadas sobre o que querem, onde querem e, independentemente dos percursos, chegar. 

Os cabecilhas destas gentes estudaram a fundo as fraquezas estruturais da Europa, as suas regras de jogo e as ofertas mais vantajosas, e fizeram avançar, em turbilhão, mísseis humanos, capazes de provocar mais estragos do que qualquer atentado bombista.

Decerto não será por acaso que estas redes criminosas colocaram à frente da Grande Marcha as eternas parideiras dos excessos populacionais da África e da Ásia, pois já lhes consta que as legislações de benevolência e concessão com que, durante décadas, nos deixamos enfraquecer e tornar permeáveis, concedem, automaticamente, que criança nascida em determinadas fronteiras seja considerada sua cidadã. Se forem gémeos, nesta lógica, tanto melhor, e lá haverá um médico alemão para as ajudar a dar à luz, uma chamada Sofia, a outra Irene, e ele, Cristiano, suecos de carapinha. Desculpem, mas esqueci-me de que ela já vinha prenhe de três.

Com evidência que este conhecimento só se adquire em duas circunstâncias: ou é fornecido por traidores com sede nos países invadidos, ou deriva das longas operações em que a Europa, no laxismo das suas universidades, formou os estrangeiros, passando-lhes toda a informação cifrada necessária para a sua futura invasão. Nunca nos esqueçamos de que Khomeini, um dos flagelos do séc. XX, foi um subproduto do prolongado vómito francês. Depois disso, todos os cabecilhas deste desastre estão muito mais bem informados do que o comum cidadão intraeuropeu, permanentemente anestesiado com futebol e jogos informáticos, sendo certo que, como em toda a arte da guerra, ganha o que no momento detiver a melhor informação.

Não voltaremos a falar das respostas primárias a que este estado de coisas poderá conduzir os tecidos profundos das nossas sociedades. A completa subversão dos estatutos, através dos jogos de palavras, já provocou as suas maiores vítimas, os equivocados, e os verdadeiros casos de desastre humano que diariamente se afundam nesta dinâmica impiedosa. Incapazes de transmitir a realidade, os transmissores da intoxicação social, na velha escola de Balsemão, continuam a fabricar as suas pequenas histórias, e poderia ser interessante um movimento que convidasse cada jornalista acompanhante da invasão a receber em sua casa, pelo menos, um "refugiado", ou, melhor, um "refugiado" uma mulher e um filho.

Sei que poderia acabar aqui esta breve, que já vai longa, mas apetece-me ir ainda mais longe no cinismo. Curiosamente, na lógica bildebergiana, em que os piores acabarão por ascender mais alto, até poderíamos elidir esta miserável deriva humana, e limitá-los ao mero papel de figurantes do povoamento das televisões ajoelhadas. No fundo, brevemente os tocará, a todos, ou a muitos, a inevitável desgraça do extermínio, uma das regras do paradigma dos Senhores do Mundo, para quem a Orbe ora soçobra nos seus excessos populacionais. É verdade que estamos num tempo de eleições, entre as quais aquela em que compete substituir a testa das Nações Unidas. Curiosamente -- e voltamos do universalmente global para o carinhosamente local -- muito se falou de Guterres, e Guterres, como que por coincidência, é o Alto Comissário para os Refugiados. Como estaria a ONU, se presidida por um homem que no pior dos momentos, falhou em todas as suas funções?... Eu sei que estão, com a cabeça, a concordar, e até eu, curiosamente, também, não me tivesse lembrado, e voltamos à lógica do nosso quintal, de que o candidato de Balsemão não é Guterres, mas um dos maiores escroques que este Continente produziu, José Manuel Durão Barroso. Para ele, líder dos "palhaços" europeus, e, em Bilderberg, substituto, por razões de saúde, do seu mestre Balsemão, quanto mais "refugiados" e "migrantes" morrerem, melhor para a sua candidatura. Deitará a cabeça no joelho do seu instrutor, e, carinhosamente, pedir-lhe-á que não se apague, antes da sua eleição. Um verdadeiro amor.



(Quarteto da desolação absoluta, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")

terça-feira, 25 de agosto de 2015

A Europa, entre Bárbaros e Breiviks, desmonta a sua velha Muralha da China







Quando a Europa voltar de férias, estará em guerra. Minto: a Europa, quando partiu para férias, já estava realmente em guerra, e impotente para verbalizar tal problema de todos nós.

Resumidamente, enquanto o continente dormia, alguém o pôs na ratoeira do cão que morde a própria cauda, ao mesmo tempo que poderosas máquinas de invasão nos bombardeavam diariamente com infindáveis mísseis humanos.

Na ótica da Física, o cenário pode explicar-se pelo próprio princípio dos vasos comunicantes, e, linguisticamente, por uma certa osmose e baralhar das etiquetas. O resultado foi uma verdadeira miopia genérica, que irremediavelmente nos ofuscou a Realidade.

Por um lado, as décadas de suburbanização acabaram por substituir todo o padrão metropolitano pelo pensamento da gaiola económica, entre o guarda roupa da tribo e as insuficiências culturais, até ao eclodir das piores anomalias sociais. Cansados de repressão e da impossibilidade de imporem a sua lei da selva nos HLM de Paris, nos devolutos de Bruxelas e nas florestas pós industriais de Birmingham, todos os excedentes populacionais da Europa foram pastar o seu flagelo, na forma da mulher submissa e velada, nas penas de talião, no Fim da História, atolado nas pulsões do Presente, mais ISIS menos ISIL, e a anarquia do Esquecimento constituiu-se na única cartilha dos novos bárbaros, enfiados nas mais recônditas aridezes da Síria e do Iraque, 

Com uma Civilização minada pelos fracos poderes, dos quais Obama se constituiu na epígrafe histórica mais medonha, instaurou-se a impotência, e, depois da impotência, chegou agora a vez do Caos presente.

Se este é o retrato, a montante, da comunicação dos vasos, o seu refluxo na direção da Europa é muito mais assustador. Na verdade, quando Odisseu construiu o cavalo encarregado de minar Tróia, mais não estava do que a abrir a boceta de pandora de todas as mimeses e metáforas futuras do nosso próprio fim. Sistemática e estrategicamente, todos os cavalos de tróia do presente estão agora a ser enfiados por todas as frestas do pensamento, numa confusão de impotência de valores e maré de invasão. A insidiosa substituição da Realidade por sucessivas narrativas da complacência cumpriu todos os quadros do politicamente correto, e as minudências da quotidianização da História tomaram de assalto os canais da comunicação global. Agora, é só uma mera questão de tempo para que todos os invasores se convertam em histórias personalizadas de pietás com os filhos chorosos ao colo, perante nós, irremediáveis culpados de todos os males do Mundo.

A Europa descarregou os seus excedentes nos desertos, e o Mundo vingou-se, e vomitou-nos os excessos dele por cá.

O Império acabou assim, como todas as civilizações, que não perceberam que a complacência e a impassividade não eram compatíveis com a ideia da integridade cultural, acabaram por ser submersas pelas marés do Estranho. Seria interessante ver Roma a acolher de braços abertos os Hunos, e a levar ao colo a mulher e filhos de Átila, entre choros e pedidos de desculpas, por que é essa miserável imagem a que hoje assistimos.

Numa análise mais assertiva, enquanto os estertores do politicamente correto se deslocaram do senso comum para os construtores de narrativas da comunicação social, também, pelo mesmo princípio dos vasos comunicantes, se assistiu a uma transferência das reticências dos pensamentos radicais para o senso comum das populações. Curiosamente, quando Breivik fez a sua Matança Norueguesa, a preocupação maior foi sobre o seu distúrbio psíquico. Hoje, fica por saber até que ponto esta cruel explosão a montante não era mais do que premonitória, e, quando tivermos a resposta, vai-nos assustar muito estarmos porta sim, porta sim, com bárbaros e breiviks, o que, no fundo, conduz ao mesmo. Se há um silêncio ditado pela paralisia, toda a gente sabe que a História não é complacente com estes momentos de suspensão. O novo rosto do Terrorismo são estas ondas de "refugiados", que estão a trazer fortunas a quem os empurra. Brevemente, num tempo próximo, num lugar qualquer, este incrédulo passeio pelas televisões acabará numa chacina, e alguém finalmente perceberá o desastre a que nos deixamos, silenciosamente, conduzir. Não terá qualquer graça, nem futuro.



(Quarteto do impossível e do inacreditável, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")

terça-feira, 27 de maio de 2014

A aurora dourada do Syriza, na forma sublimada do "front populaire" de Marinho Pinto




Imagem do Kaos


Estava eu ontem, no "Frágil", naquele enlevo de alma, ledo e cego, que as sondagens não deixam durar muito, a esvaziar uma garrafa de "Black Vodka", com o Rui Tavares. Ele tinha apostado que enfiava dez amigos no Parlamento Europeu, mas eu, ligeiramente eurocético, continuei, até à última, a insistir em que ele nunca passaria de oito amigos, e um par de mamas, quando muito. Quando chegou o terremoto, ficou com o par de mamas na mão e um horroroso bafo de álcool, no ar. Pedi licença, e dei o fora, que a noite ia ser daquelas longas.

Como imaginam, isto é apenas a parte ficcional deste texto, pelo que vamos já à realidade, e a realidade é que que quero, do alto destas pirâmides, saudar o profundo civismo que representou a maioria absoluta representada pelos sessenta e muitos por cento de abstenção portuguesa. Para mim, perfecionista, teria ficado mais satisfeito com uns 70%, mas fica para as Legislativas.

O lado bom da coisa é que finalmente assisti a umas eleições onde todos perderam, subterrâneo desejo que tenho, sempre que começa uma daquelas mobilizações de branqueamento de capitais, a que chamam "Futebol", mas costumo ter menos sorte, embora continue em crer que lá chegaremos, um dia, por que é preciso variar.

Os vencedores, evidentemente, foram o "galambizado" PCP (alguém, alguma vez, ouviu o PCP não se afirmar vencedor de qualquer eleição?...), a Coreia do Norte, que vai estabelecer parcerias estratégicas com Angola, a Nádega de Assis, que conseguiu uma vitória "estrondosa" sobre toda a "Direita", que não de Assis; O Coelho e a Zsa Zsa Gabor, que conseguiram reenviar para Bruxelas, o outro Coelho, ainda mais medíocre do que o segundo, ou o primeiro, sei lá, coordenem como quiserem; o Bloco de Esquerda, que pôs lá uma de tal Marisa, para poder excitar a líbido entorpecida das cadeirinhas de rodas alemãs, e... e... e... o Marinho Pinto, uma espécie de coisa em forma de assim, que realmente surpreendeu, e provou o estado a que chegou a "Coisa" Europeia.

A verdade é que o redesenhar das bancadas parlamentares apenas veio confirmar o estado de desagregação e dissolução do Projeto Europeu, minado por neo-maoítas, neo-liberais, senis de 68 recauchutados, porteiras de Leste de estalinismos falidos, o ranço dos Centrões, os democratas ajoelhados, os socialistas empalhados e as grandes surpresas da noite, que só surpreenderam os surpreendidos, e que foi o cavalgar das Extremas.

A Senhora Le Pen conseguiu colocar lívida a infinita sapiência do Professor Marcelo, que nem com os maiores bochechos de demagogia conseguiu esconder o facto, e encabeçou a tal mancha de deputados que não se encaixam em lugar nenhum, mas se arriscam a pôr o Parlamento Europeu inteiro a ter de se encaixar neles.

Nesta altura, o Rui Tavares já tinha passado da previsão de eleição de 10 para 11 deputados do "Livre", e eu já nem um par de mamas lhe tinha para oferecer, pelo que lhe enchi o copo de "Vodka Negro" e lhe dizia, "bebe, filho, bebe, que faz bem beber, para esquecer...", pensando que o Parlamento Europeu já estava minado de gatos fedorentos e oportunistas suficientes que chegassem.

Num nível mais elevado de análise, é bom saber que o Sr. Kissinger, quando empurrou o "Cherne" para a Presidência da Comissão Europeia, como o primeiro-ministro mais medíocre da Europa, estava realmente a apostar no homem certo: Barroso deixa um Continente à beira da Guerra, da Grande Depressão, da desindustrialização, da Deflação, da ascensão dos extremismos, da glorificação dos neo-nazismos, com um oceano de desempregados, de miseráveis, de mafiosos, escroques, novos ricos, carteiristas de dinheiro sujo, e que passou a ser uma espécie de cano de esgoto mundial, debaixo das gargalhadas da Rússia, da China e dos países que nos chamam "Museu do Velho Mundo".

O meu sonho, confesso-vos, vão mesmo ser os profundos diálogos entre o Marinho Pinto, a Ana Gomes, nos dia da bêbeda, e a Marine Le Pen: qualquer coisa muito, mas muito, para lá da marinada imaginação da Teresa Guilherme.

O Rui Tavares dizia-me que eu era um exagerado, e o homenzinho até era sério, já que tinha feito dois cursos ao mesmo tempo, um, aos gritos, em cima das mesas da Faculdade de Direito, e o outro em cima das mesas da Faculdade de História, com o Livrinho de Mao Tse Tung nas manápulas, clamando por "APTOS", que tantos cursos honestos deram à canalha política que nos conduziu ao abismo presente. Eu, como sempre, mais modesto, defendi que Durão Barroso, de facto, tinha feito História, mas História da negra, como tantos bandalhos da sua laia. A preceito, só lhe falta agora uma "saída limpa", como a de Mussolini e da Clara Petacci, eventualmente, com o Aníbal de Boliqueime a medalhá-lo, mas pendurado pelos pés, ao esvoaçar de uma bandeira de caricas coloridas.

Felizmente há luar. Para vocês, que já imaginarem o que aí vem, e é bem feito, ai, tão bem feito, -- não é Rui, já para aí caído, no chão do "Frágil", a sonhar com 111 deputados... -- felizmente há esperança: quando já pensávamos ter batido no fundo, Pinto Balsemão, o Governo Sombra de Portugal, há quase meio século, depois de ter atingido um mínimo absoluto de pores do sol no Cairo, ao convidar Clara Ferreira Alves para Bilderberg, consegue agora melhorar a sua melhor marca, em 2014, ao convidar para Bilderberg-Copenhaga, uma das almas mais medíocres que já passou pela Universidade Nova, a gaja dos voos semanais para Paris, Inês de Medeiros. Sim, mais abaixo, seria difícial, eventualmente, a Ágata, ou a Romana, mas ele lá terá as suas razões: não nos esqueçamos de que o Centro Cultural de Belém está órfão de cavalgaduras, desde o óbito do outro...

Creio que o Patrão das Sombras, depois do pôr do sol no Cairo, estará agora a preparar, para Portugal, um amanhã de auroras douradas que cantam. Faz bem, aliás, muito bem, como já começaram a afirmar os "Mão Morta"...



(Quarteto das extremas, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")