domingo, 1 de junho de 2008

O rapazola

Enquanto arrumava papelada antiga cá em casa dei de caras com um recorte de imprensa que guardei (duma crónica de Alfredo Barroso de há anos) e que pelo seu conteúdo se revela interessante partihar nos dias de hoje.
Eis algumas partes:
"O Doutor Paulo Portas, que é presidente do CDS/PP (...) não quer que o Estado português seja "anticolonialista", nem quer que a Constituição da República consagre esse princípio, porque tem muito "orgulho na história de Portugal" e acha que "os angolanos, moçambicanos e os timorenses nunca sentiram o racismo que houve noutros impérios". Abaixo a Constituição! Viva o neocolonialismo!
A gente ouve, lê e pasma. Mas é verdade. Foi mesmo isso que ele disse, ao discursar perante o XIV Congresso da Juventude Popular (JP). Uma sigla que, curiosamente, me faz recuar até aos anos 60 do século passado, ao meu tempo de universidade, e me faz recordar o movimento fascista Jovem Portugal (JP), cujos militantes também tinham muito orgulho na história nacional, usavam matracas e eram capazes de se juntar aos agentes da PIDE e à polícia de choque na repressão das manifestações estudantis e na caça aos grevistas, todos indicados como "comunistas" e acusados de "traição à Pátria", por serem contra o Estado Novo e contra a guerra colonial. Para Salazar, todo o oposicionista era um "comunista"!
Nesse tempo, ainda o nosso "Paulinho das Glórias" usava fraldas e não podia saber, coitadinho dele!, da "mão-de-obra escrava", dos "negros aprisionados nas roças de café", da "aldeia dos negros ao lado da grande fazenda", dos "espancamentos de pessoas que tinham fugido", das "mães a chorarem por terem filhos doentes e sem qualquer assistência" - como oportunamente veio lembrar a doutora Maria José Morgado, que tudo isso testemunhou no Norte de Angola, em entrevista publicada (...). O "Paulinho das Glórias" leu? Orgulha-se desta história? E de massacres tão brutais como o de Wiryamu?
Já agora, por que não impedir que a Constituição consagre um sistema democrático e pluralista, se é certo que grandes páginas da história nacional foram escritas por monarcas absolutos, como D. João II, e ditadores brutais, como o Marquês de Pombal?! Por que não eliminar os direitos, as liberdades e as garantias dos cidadãos, se as fogueiras da Inquisição, a tortura policial e as masmorras da PIDE ajudaram a "alargar a fé e o Império"?! E por que não ressuscitar a comissão de censura para calar a boca a quem (...) "diz mal da invasão do Iraque quando temos lá jovens portugueses a defender os nossos valores e a quem chama forças ocupantes"?! Onde isto já vai! E ainda se admiram de ouvir que a extema-direita tem assento neste Governo!
Perante estas discursatas demagógicas, passadistas, reaccionárias e antidemocráticas do doutor Paulo Portas, o menos que se pode dizer é que temos pela frente um indivíduo adulto que pensa e procede sem maturidade". Ora, segundo o dicionário, um indivíduo que se comporta assim é um "rapazola".
(...)
As ideias políticas deste rapazola são perniciosas e perigosas para a democracia. (...) O discurso político reaccionário do doutor Paulo Portas é infectocontagioso. Há que denunciá-lo, para que não se transforme numa arma de destruição maciça."

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