terça-feira, 15 de julho de 2014

Pequena fábula de um Espírito Banco, em forma de Caco Vaco Silva







Imagem do "The Braganza Mothers"




Para mim, um leigo da Teoria da Comunicação, incapaz de escrever um texto, ou uma notícia interessante, faz-me impressão, sempre que me debruço sobre as metamorfoses de ovídio, ocorridas na grande parte dos órgãos de comunicação social. Antigamente, creio que antes de os gases da Flandres terem extinguido os ulmeiros na Europa, os órgãos de comunicação se organizavam assim: a primeira página, onde vinha o essencial do local e do global, a segunda, onde a coisa se diluía pelas vizinhanças, e por aí fora, passando pelos lugares da Serenela Andrade, até voltar a culminar numa pequena excentricidade de rodapé, geralmente confinada ao canto inferior direito da última página. Existia, claro, a secção de anúncios, o necrotério, a meteorologia, a zona reservada ao ténis, ao pólo e aos desportos urbanos, e até as declarações em ponto de honra, de cavalheiros mal casados, que não se responsabilizavam pelos atos praticados pelas suas indomáveis bocas da servidão.

Isto parece do Triássico, mas não foi há tanto tempo assim.

Houve, depois, um período, eventualmente o que o Futuro chamará Era da Gangrena, em que se coligou tudo o que existia de pior à face da Terra: um traste apostólico, que vinha das minas da Polónia; um ator de segunda ordem, Reagan, que os Americanos consideram ser o seu melhor presidente de sempre, o que diz muito sobre os Americanos e nada acrescenta a Reagan..., e a Cona de Ferro, uma sopeira, madrasta da SIDA, de baixíssimo nível, que resolveu acabar com o poder dos sindicatos britânicos, e lançar a especulação global e a miséria globais, amparadas pela Senil de Calcutá. Surgiram, então os magnates da Comunicação, dois ou três filhos da puta, que iam inaugurar o novo paradigma, aquele em que uma ficção, acertadamente repetida no sítio adequado, acabava mesmo no "Diário da República", ou terminava em emenda constitucional. É posterior a isto a CNN, em que a coisa se tornou com mais... "glamour", e a Aljazeera, em que o Emir do Qatar se tornou naquilo que é: uma das sombras mais poderosas do Mundo.

Por cá, Cavaco fechava as minas, vendia a Agricultura, desmantelava a Construção Naval e as vias férreas, tornava Portugal numa fronteira de importação, e dava carta branca à ascensão da mediocridade absoluta, estado que se manteve, em piorado, até aos dias de hoje, onde, para chegarmos a uma notícia, temos de suportar uma hora de lixo futebolístico, e, garanto-vos, o sistema primeiro, estranhou-se, depois, entranhou-se, e há hoje uma multidão, que vai até ao horizonte, que pensa que a Realidade são as perninhas de senil do Cristiano Ronaldo, a barriga de aluguer dele, a mãe que o queria ter abortado -- soubesses, tu, senhora, o bem que tinhas feito ao Mundo... -- as férias de paneleiro, na Ilha de Mikonos, e a eterna Irina, que, como Penélope, foi transformada na ficção daquela que espera eternamente pelo seu macho, para, pelo menos uma vez na vida, ver o padeiro. Homero irina..., perdão, Homero iria adorar, embora, na minha ótica, ela devesse, de vez, mudar de padaria, mas isso seria desviar-me da linha deste texto.

A questão dos bancos, por que é essencial que abandonemos esta pequena viagem pelos últimos 30 anos, e nos centremos no âmago desta fábula, passa por ser fulcral que percebamos que o nome do carcinoma da sociedade atual se chama Capitalismo Selvagem, e é uma coisa praticada, com alguma diferença de temperos, entre Wall Street, a City, Cuba, o Dubai, Berlim, Moscovo, Luanda, Pyongiang, Tóquio, Singapura e Pequim, tudo ótimos destinos de férias para quem queira escravizar o seu igual...

Marx, que era um obsoleto, dividia o Mundo em Trabalho e Capital, mal suspeitando ele que viria um dia em que apenas haveria Capital y Capital, bons e maus bancos, ou, parafraseando um dos nossos maiores pensadores contemporâneos, Aníbal de Boliqueime, a Boa e a Má Moeda, ou, ainda, nas minhas palavras de quarta classado de tempos passados, a Péssima e a Inacreditável Moeda.


A Inacreditável Moeda tem algumas singularidades, todas elas arrepiantes: o seu zero, que é o de não existir fisicamente, mas apenas em alucinados e cintilantes dígitos de monitores; a primeira, a de que está em todo o lado; a segunda, que estando em todo o lado, está sempre, predominantemente, nas piores mãos; a terceira, que, para poder existir, tem de minar qualquer (ainda) moeda boa, e tudo o que seja o valor do Trabalho; a quarta, que o faz sempre sem qualquer piedade, desde o extermínio local ao extermínio em massa; a quinta, que já se tornou independente das ideologias e até das religiões; a sexta, que nunca é passível de ser utilizada em qualquer das coisas taxadas como valores, à luz dos antigos parâmetros da Cultura e do Iluminismo; a sétima, que é metastática e tenderá para absorver tudo à sua volta; a oitava, que o seu preço será uma guerra global, sem previsão nem localização.

Estas coisas, todas revistas e somadas, têm depois as suas versões locais: foram, até ontem, um branqueamento de capitais numa das mais gloriosas potências emergentes do Mundo, o Brasil, e pelas mãos de uma bruxa asquerosa, praticante de magia negra e de todo o tipo de prostituições do corpo e da alma, chamada Dilma Rousseff. Passou, e bem, a bola assinada pela sua mãozinha sapuda, para as mãos de Putin, um ex KGB ligado a um país onde, outrora, uma mafia ideológica cobria a mafia dos elos sociais, para agora ficar apenas a teia sinistra, que se estende por todo o lado. Dizem que até o Fidel gosta, e sempre gostou: o fumo dos charutos cria eternas amizades....

Em Portugal, a coisa é mais comezinha, ou nem sei se isso, por que, estando o Regime em agonia, a tal coligação apenas presa pelas chantagens dos passados e presentes sórdidos de Passos Coelho e Paulo Portas; a Oposição inexistente, na forma de um vampirismo do temos-de-despachar-isto-depressa-por-que-há-uma-matilha-privada-de-mama-desde-2011; o país a desintegrar-se por tudo o que é lado, com gente que é incapaz de perceber que a Dívida Pública aumentará até ao infinito, posto que, não existindo Economia, e havendo, por exemplo, um crescente número de desempregados, as verbas do Desemprego crescerão exponencialmente. Felizmente, e aqui volto a citar um dos nossos maiores pensadores da viragem do século, o filósofo Aníbal de Boliqueime, a solução para todos estes males "é esperar que morram", e até lágrimas se me soltam, de tanta sapiência, já que isso se estende à Função Pública e ao Setor Privado, aos Reformados, ao empregados e aos desempregados, aos licenciados e aos não licenciados, aos Doentes e aos Saudáveis, aos homens e às mulheres, enfim, a tudo o que bem quiserem e vos apetecer.

A outra singularidade do momento português é que essa transição entre a Péssima e a Inacreditável Moeda se faz através de "pontes vagais", que tanto podem dar no 10 de junho, como no Natal, como e onde quer que seja.

Nos últimos dias, assistimos a uma "crise vagal" que pode parecer incompreensível, mas é linearmente explicável, se percebermos que o tempo se está a esgotar. Tecnicamente, Cavaco Silva, um criminoso, conseguiu ultrassalarizar Portugal, por exemplo, dando rédea solta a uma coisa que o Vacão, e tinha razão, não queria cá, a Opus Dei, mas o Algarvio enfiou, por todas as portas, por exemplo, na forma do BCP. Quando a Maçonaria de Sócrates atacou o Millennium, ao mesmo tempo que o banco do Cavaquistão se desmoronava, com a cumplicidade de outro, ainda mais criminoso do que Cavaco, chamado Vítor Constâncio, de repente, as sombras pardas que tinham pago, por um preço incalculável, a eleição de Aníbal de Boliqueime para "Presidente" da República, viram-se sem bancos físicos, depois de terem percorrido o BPP, o Banif, aquela coisa sinistra do BPI, com o Santander e o Barclays a fugirem, ou a falirem, enfim, abreviando, o que estava mais a jeito era um banco de família, aliás, o último banco de família, que vinha do "Antigamente". Podia escrever outro texto sobre isso, mas não me apetece: desta vez, ainda mais do que no BPN, foi à descarada, enquanto o Marques "Magoo" Mendes piscava os olhos, por que os calendários eleitorais estão aí, e a situação portuguesa é tecnicamente explosiva. O fenómeno não é único: esta súbita "urgência" dos ratos do Costa Concordia deu em várias frentes, nos solavancos da dieta da Ana Drago, nos abutres que se empoleiraram nos ombros do António Costa (parece que até o Taveira ele conseguiu ressuscitar...) e os gajos do Cavaco, as sombras do Regime, os aflitos que sabem que isto pode mudar imprevistamente de rumo, e têm de arranjar rocha para a sua lapa.

Como se sabe, não há banqueiros santos, exceto o São Balaguer, e aquele Jean-Baptiste Franssu (um Francês chamar-se Franssu é de ir às lágrimas, se não fosse para arrepiar....), chegadinho à Opus Dei, para mostrar que a Santa Sé, na sua longa senda dos seus 2000 anos de contra a natureza, conseguiu agora algo de ainda mais extraordinário, que foi juntar a avidez dos Jesuítas com a fome canibal da "Obra". Nada de diferente seria de esperar de um delirante argentino, e, continuando, como não há banqueiros santos, nada melhor do que pôr as toupeiras sapadoras de informações secretas, para descobrir os podres de Ricardo Salgado, que devem ser muito parecidinhos com os podres de todos os outros da Banca.

O que assistimos foi a qualquer coisa de extraordinário, chapado como "natural", pelo órgãos de intoxicação social, e que foi a tomada de assalto de um banco privado familiar pelo abutres do passos-cavaquismo, que andavam desesperadamente à procura de pouso. O cenário, aliás, é o ideal, por que estando Cavaco Silva naquela permanente e irreversível levitação vagal, ficou, como nos formigueiros, na posição da rainha-mãe: já tem o cu tão gordo que está impossibilitado de se mexer, deixando todo o terreno livre para os obreiros cavaquistas. Na sua memória apagada, ele ainda sonha, enquanto a matilha age.

Este é o derradeiro sobressalto do Cavaquismo.

Eu adorava dar um pontapé nesse formigueiro e acabar já com o assunto e os protagonistas, mas muita gente acharia que eu estou a delirar, e, como se tornou natural, e a coisa até nos foi apresentada como... salvífica, e talvez até seja, poucos devem ter sido os que deram conta de que, com a pressa, o processo ficou todo à vista: foi como se tivessem subitamente aberto a luz num dos quartos escuros das saunas de Bruxelas, frequentados pelo Morais Sarmento, e toda a gente tivesse sido apanhada com "ele" todo entalado... O resultado é evidente, temos o BES-Nosferatu, e agora vão chover "figuras próximas de", para preencher todas as frestas ainda deixadas em aberto. Ah, como estamos em Portugal, também já foi escrito o livro, na Leya, claro -- como eu adorava saber improvisar um livro em cinco dias, mas essas coisas são para os grandes escritores, como o Miguel Sousa Tavares e a Inês Pedrosa... -- e espera-se que venha ainda o melhor, que é a Mariza a recitar passagens desse diário da sordidez, como os outros cantaram Boaventura Sousa Santos (!); A Pilar del Rio, com algum (novo) "inédito" do defunto, a fervilhar nas bordas, e talvez a Joana Vasconcellos a ser subsidiada pelo meu amigo Barreto Xavier, para fazer uma merda temática e caríssima sobre o assunto.

A minha esperança, no fundo, é ver rolar a cabeça do Zeinal Bava e do Granadeiro, mas acho que o que vem aí é ainda pior: para a "OI", por exemplo, creio que não há mensalões grátis, nem Telecoms que durem sempre.

Olhem, acho que não me apetece escrever mais, pode ser, ficam bem assim?...

Então, boas férias :-)




(Quarteto do escândalo a céu aberto, BES, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")