segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Ascensão e queda do sistema financeiro português, durante a decomposição termodinâmica da carcaça física e neuronal de Aníbal de Boliqueime






Não, não é uma criação do Kaos: é um flagrante ridículo da página oficial da República Portuguesa (coitada da Janet Baker, que vergonha...)




Faço parte daqueles portugueses, brutos e de poucos estudos, que acham que o Zeinal Bava já devia ter sido corrido, há muito, com uma paulada nos cornos. Em contrapartida, dadas umas "Lux" que fui lendo, sofistiquei a paulada nos cornos de "light" para "hard", ou seja, acho que ela será muito mais bem dada pelos Brasileiros, que se regem por uma jurisprudência próxima da Americana, do que pelo nosso faz de conta, de onde se infere que prefiro que a coisa seja tratada no Senado e o gajo esquartejado em Brasília, e vexado publicamente, nas redes "Globo" e "Record", do que andar a arrastar-se por aqui, anos, nas prescrições da Relação.

Todavia, para explicar o título desta narrativa, temos de nos reportar aos tempos em que o Sr. Aníbal, de Boliqueime, filho de Teodoro, neto de Jacob e bisneto de Abraão, de onde foram trinta gerações, desde a bomba até à recém criada Universidade de York (1963), recebia um bolseiro da Gulbenkian, "bem integrado no Regime", e ávido de se doutorar no novo estábulo, e assim fez, -- naquele espírito chauvinista dos ingleses, dos, coitadinhos, também precisam -- em 1971, e deus, e Salazar, viram que era bom. Há, num pequeno parêntesis, uma enorme pena -- a minha -- de não poder aceder a esse texto, A Contribution to the Theory of the Macroeconomic Effects of Public Debtpara o poder arruinar, como fiz com os célebres escritos de Nuno Crato, mas, como está enfiado na base de dados de teses do Reino Unido, Ethos, e isso devia implicar pagar, ou enviar alguma coisa para lá, dá muito trabalho, e agradeço que o façam por mim. Todos os Portugueses deviam ter acesso a esse Mein Kempf do Cavaco, para perceberem a desgraça em que estão, há mais de 20 anos, imersos.

Até o nome do lugar do doutoramento era bom, já que para um que vinha, acabadinho de chegar, do Poço de Boliqueime, teve de ser doutorar em Eboracum, o nome de buraco que os Romanos davam a York.

Por mim, dispenso pornografia, e prefiro fazer como o Hawking, ficar sentado na bordinha, a tentar apanhar, de quando em vez, com alguns estilhaços dessa radiação de fronteira do buraco negro do algarvio.

A verdade é que recém doutorado na banlieu inglesa, o homúnculo já trazia uma aspiração salazarenta dentro de si: ainda cheirava a mofo a mossa deixada no chão, em Catalazete, pela nuca da queda do Vacão, e o aboliqueimado deve ter sentido o chamamento da carne, para ir ocupar o lugar vagal deixado pelo doutorado de Coimbra. Acontece que entre ele e o de Santa Comba Dão já ia um abismo, que não era só de gerações, mas de uma certa estabilidade de horizontes: Salazar sabia que estava num país sem recursos, mas a quem as circunstâncias podiam deixar uma miraculosa e infindável panóplia de possibilidades de intervenção na atualidade, enquanto o do pingo da bomba tinha uma tacanhez de rumos tal, para a qual, quaisquer ventos favoráveis sempre iriam conduzir às piores soluções falidas, independentemente dos recursos, e assim se fez, e deus viu que era bom.

Já desmontei a fraude Aníbal de Boliqueime até à exaustão: ele não passa da neoplasia da III República, e tudo o resto não passa de polarizações e de novos ângulos pelos quais optemos fotografá-lo. O último, todavia, ainda me conseguiu surpreender, já que o Grande Timoneiro, que décadas se reclamou de sapiências em Finanças Públicas, acabou, com o caso BES e o que vier a seguir -- e vai ser MUITO (nem vocês imaginam...) -- por ser o rosto e o cancro da ascensão e derrocada do sistema financeiro nacional. Se Salazar passou para a História como o travão de mão da contemporaneidade, mas com algumas benesses de neutralidade, Cavaco também já se inscreveu no nosso roteiro pelas razões opostas que desejaria, e agora é muito tarde, mesmo que nascesse duas vezes, para repetir, em pior, os mesmo erros.

Há muitos anos que Cavaco Silva devia ter sido depositado, por causas naturais, e para sempre, no "mau banco".

Impossibilitado de se integrar no Estado Novo, por causa de uma "crise vagal", chamada 25 de abril, o algarvio nunca se recompôs: passou a viver num quarto de assombrações, cheio de "Assembleias Nacionais", "Dia da Raça" e um ódio feroz a todos os que pudessem estar feridos da suspeita de lhe terem interrompido a carreirinha. Cobarde, sabia ao que ia, e o que pretendia, sendo que se tornou no primeiro político português a andar, mais a sua mastronça, de carro blindado, coisa da qual nem Salazar necessitara, ou pensara.

Com a nacionalização da Banca, passou a ter novos espetros, nas suas noites de pesadelo, os Pinto de Magalhães, os Pinto e Sotto Mayor, os Mellos, os Espírito Santo, os Borges e irmão, os Fonsecas e Burnay,  os Champalimaud e outros quejandos. Mal se apanhou no Poder, tratou de tentar, à boa maneira da Coreia do Norte, de reconstruir a história, naquilo que designaremos de Revisionismo Cavacal. O filme era longo, e não me apetece retratá-lo aqui, exaustivamente: investiguem, e aprenderão: começou pelo BCP, e pela introdução, à descarada, dos interesses da Opus Dei, proibida pelo Estado Novo, em Portugal. Desse parto, nasceu Jardim Gonçalves, que, como Aníbal, devia estar preso. Veio depois a reprivatização do Totta e Açores, para as mãos do Champalimaud -- que também devia estar preso, mas já não vale a pena, por que morreu -- que tratou imediatamente de "agradecer" ao cobarde do Boliqueime, vendendo o produto aos Espanhóis, e assim se fez, e deus viu que era bom. Resta pouco disso, exceto a gratidão demonstrada, pelo defunto, ao entregar a presidência da Fundação para o Unknown -- também conhecida pela Fundação de arrancar olhos aos coelhos -- a Leonor Beleza, que também devia estar presa.

No velho ditado, cada tiro, cada melro, de cada vez que o Sr. Aníbal e a sua corja se metiam a olear obsolescências financeiras, ou criavam golems ou frankenteins, como o Banif (do Horácio Roque, que devia estar preso, se não estivesse morto) o BPN (do Dias Loureiro, que devia estar preso, se não continuasse a ser visita assídua do Miguel Relvas, na Rua da Junqueira, e conselheiro secreto do seu amigo de sempre, o sr. "Presidente" da República -- é mesmo ali ao lado, caraças, até doía, se não fosse lá...) ou o BPP (do Rendeiro, que vai e vem preso, mas acabará, como sempre, prescrito, cá fora), o BPI (que vai dar muito que falar, com o sotaque da Dos Santos, e o Ulrich, que já era fascista no tempo do Fascismo, e acabará por dar razões para também ir preso), e agora... o BES.

Contas feitas, durante o I e o II Cavaquismo, de um extremo ao outro, todo o sistema financeiro português entrou em rotura, mistério que já devia estar previsto nas sagradas escrituras da tese do filho do gasolineiro de Boliqueime.

Voltando ao início, só um ingénuo acredita que esta história do "banco bom" e do "banco mau" são o fim da fábula: não, são o início do drama, e poderá haver tragédia. Irão cair como tordos, sobretudo quando todas as conexões se tornarem visíveis, e o buraco passar os cem mil milhões de euros. A Telecom é um brinquedo próximo, que levará o Bava numa espécie de delírio "oi", "oi", "oi", como fazem as travecas brasileiras de pegação de beira de esquina, o "pio", "pio", do Montepio, mais a TAP, onde o Prieto -- esperemos que não filho da Margarida de mesmo nome, senão as previsões são mais sérias... -- já avançou que não há TAP nenhuma, mas uma enorme camuflagem para branqueamento de capitais. E quem diz TAP diz mais umas quantas, que não é preciso puxar muito pela cabeça, e façam vocês o esforço: até se arrepiam, já que não existe país, mas uma espantosa bandeira de conveniência, povoada por agentes ao serviço do estrangeiro.

Poderão dizer-me como identificar a "coisa", mas há uma regra simples, com duas faces: desconfiar de tudo o que aparece de repente, e se torna muito fashion, desde a Mariza e os Fedorentos ao Miguel Sousa Tavares, e também desconfiar de tudo o que desaparece de repente -- a Caixa Geral de Depósitos é um desses lugares -- e deixa de ser visto (quem se lembra do escroque, Fernando Gomes, da Câmara do Porto -- que devia estar preso --; a Cardona, a "peixeira azul", que percebe tanto de bancos quanto eu, ou o Armando Vara -- que devia estar preso -- entre tantos outros).

No meio disto tudo, Ricardo Salgado, para quem o conhece, e sabe que é um homem de ironia e bom humor, isto é ouro sobre azul, e deve estar a rebolar-se todo de gozo com o acontecido. Quando ele abrir a boca, é provável que esta listagem dos que "deviam estar presos" alastre, em mancha de óleo, pelo Polvo Português, e é bem feito. Numa alegoria darwinista, o que aconteceu com o BES é muito parecido com o que sucedeu com a extinção dos dinossauros: morreram todos os grandes e só ficaram os pequenos, na forma de osgas, lagartos e lagartixas, enquanto os mamíferos passavam de pequenos a gigantes, e desatavam a comer os minorcas da extinção anterior. Com o tempo, esqueceram-se de que vinham de paradigmas diferentes e incompatíveis, e até se comeram bem, com a revanche dos pequenos lagartos a darem em crocodilos comedores de novos pequenos e grandes ruminadores. Para os leigos, é como se Clara Pinto Correia, depois de ter aviado os alemães todos da Base de Beja, reaparecesse, na forma de febra velha, a ser recomida pelos "dux" da "Lusófona", sem saberem da antiguidade da carcaça. Na prática, Ricardo Salgado, ainda vinha da tradição do banqueiro familiar, num tempo de extinção, em que as grandes mafias financeiras, ditadas pela Goldman Sachs e amigos, já nem acreditavam que isso houvesse. Pois havia, e estava um aqui, bem a jeito, em Portugal. Ricardo Salgado, no refluxo das marés, de um dia opara o outro, perdeu o pé sem sequer perceber, ou percebendo demasiado tarde, o que lhe estava a acontecer, mas estava: Mario Draghi, da Goldman Sachs -- que devia estar preso -- certamente ouvido o seu cúmplice, Vítor Constâncio -- que devia estar preso -- disse ao Banco Central Europeu que devia cobrar de uma só vez os 10 000 000 000 € do BES, senão a casa mãe não tinha lucro, e assim se fez, e o sistema financeiro português, sob a alçada do doutorado em deficits e cobertores de feira de Alcoutim, o saloio das crises vagais, que não pesca nada do assunto, pelo que nunca tem dúvidas e raramente se engana, colapsou. Tudo o resto foram manobras para fingir que não tinha colapsado, e o Carlos Moedas, da Goldman Sachs -- que devia estar preso --, e deus, viram que era bom, mas não vai durar muito, acreditem, acreditem, mesmo...

Se o Ricardo Salgado era o DDT, Dono Disto Tudo, Cavaco Silva é o CDT, Culpado Disto Tudo.

Como podem imaginar, este texto arriscar-se-ia a tornar-se infinito, se eu pusesse a boca toda no trombone. Muito já fez o Queiróz, quando denunciou à CMVM os papéis falsificados, que não correspondiam a NADA, mas foram uma derradeira tentativa de fuga para a frente, portanto, vamos deixá-lo assim, tal qual está como aperitivo para as próximas realidades: a partida, pelo Princípio de Peter, da Albuquerque para Comissária Europeia, o que tem os seus lados positivos, pois nós livramo-nos dela, e poderá aprender algumas regras mínimas de higiene, como o hábito de lavar o cabelo, mais do que uma vez por semana, para que não se diga que Portugal é um país de badalhocas. Para mais, há quem diga que o Constitucional também se encarregará de reenviar o resto do "Governo", mas para os seus pequenos quintais de origem, embora isso sejam as cenas dos próximos capítulos. Nós, no Banco Bom, devemos agarrar-nos ao que ficou de sólido, os novos inéditos do Saramago, os corações da artista do Regime (não da dieta...), Joana Vasconcelos, e a virgindade (de mulheres) da Senhora de Mota Amaral, que conseguiu sobreviver a tudo, até ao colapso do Espírito Santo.

Deve ser por que, no meio deste descalabro, ainda ficou o resto da Santíssima Trindade, embora não por muito tempo.


(Quarteto do vamo-nos rir tanto, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers"