quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

De Natura Sonora, ou, em mau Português, belíssima Sanfona de Sucatas




Imagem do KAOS

Vou tentar ser breve, porque hoje estou com uma cólica de minaretes. Eu explico: quando vamos à Suíça é para ver os Alpes, e quando vamos ao Magreb é para ver minaretes, tudo o resto é contra natura, e deve ser referendado pelo Senso Comum.
Também é do senso comum que eu, se, por acaso, vier a passar por uma porta e ouvir gemidos e agitação do outro lado, tenho o direito de espreitar pela fechadura e pôr o ouvido colado à porta. Se -- e continuamos nos "ses" -- eu fosse um GNR mal formado e descobrisse que a minha tronchuda estava do outro lado da porta, ajoelhada, a fazer uma valente mamada a um fuzileiro, e os grunhidos vinham de aí, para a história se desenvolver à latina, o GNR arrombava a porta com um pontapé, e dizia, "eu mato-te, minha puta!...", e matava mesmo, e, com um pouco de sorte, furava o fuzileiro também. Como Dante, no "Banquete", eu poderia dizer que esta minha história continha as quatro vertentes hermenêuticas do texto sagrado: o literal, o alegórico, o moral e o anagógico. O literal é que a gaja ia mesmo de ali com as tripas de fora, para alguma urgência de Badajoz, morrer espanõla, e o fuzo ficava no chão com um buraco em forma de alvo, no centro da testa, evitando voltar sem pernas do Afeganistão, por ter ido "obamamente" defender as Rotas do Ópio; alegoricamente, era mais uma cena dos divórcios simplex do solnado; a moral da história é que ele nunca deveria ter parado a ouvir grunhidos de prazer, do outro lado de uma porta de face oculta, porque podia estar a ouvir alguém conhecido; anagogicamente, isto era o "Face Oculta", à Portuguesa, ou seja, iam de ali para um tribunal de comarca ligeira, a gaja tinha direito a um bruto funeral, o fuzileiro ia a enterrar, ainda com as calças pelo joelho, e o GNR recebia uma repreensão escrita, com direito a liberdade condicional, e repetição do ato.
O restante Portugal, ainda mais literal, evita que estas coisas do rés do chão transbordem para os reles patamares do Estado, e, portanto, se num colar o ouvido à porta, eu, por acaso, oiço um Primeiro Ministro a atentar contra o Estado de Direito e passo adiante, das duas três, ou sou corno manso, ou o Primeiro Ministro já devia estar na rua há eras, ou não vivemos num Estado de Direito. O interessante da coisa não é se o escutado foi escutado, ou não, no devido local, e se foi, ou não, consentido, mas, sim, se o conteúdo do escutado era, ou não era, crime de Lesa Estado.
O cidadão comum já percebeu o que está em jogo, e que é o mesmo de sempre.
No fundo, já atingimos o patamar mínimo de poder emitir juízos de validade moral e de higiene pública, que nos permitem dizer que ouvir coisas destas -- mas vão MESMO ouvir -- ou destas, dispensam tribunais, procuradores da república e supremos juízos, para percebermos que, de facto, deveriam ter tido outro desenvolvimento processual e histórico.
São já matéria excedente, na qual o cidadão comum tem realmente o dever de exercer o seu direito de indignação, e, enquanto não o exercer, não estaremos nem num Estado de Direito nem numa Europa Civilizada.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

De Natura Boliqueimorum, seguido de Velhos Dias Felizes




Imagem do KAOS

Há quase um mês que não tenho vontade nenhuma de escrever, mas posso explicar, metade, por causas naturais, outra tanta, por milagres da Fé, e vamos já aos milagres da fé: como, desde nunca, desde que me lembro, Portugal parece estar agora bem, o Governo não se sente, e aquelas calosidades que, diariamente, nos massacravam na televisão, desapareceram. É certo que há umas recaídas, porque ficámos com a suspeita de que Portugal era governados por sucateiros, "de facto", e por pseudo-sucateiros, como Armando Vara, que não conseguia, por mais "Independentes" que tivesse frequentado, chegar aos esplendores de um verdadeiro sucateiro. Digamos, sem ofensas, que Vara estava para a Sucata como as cópias da Loja dos Chineses para os originais da Place Vandôme, e mais não digo. O País estaria, portanto, calmo, se a Maria, de Centro Esquerda, não insistisse em comportar-se, perante as mulheres da Cimeira Ibero Americana, como a doméstica de serviço, mas, nisso, ela até é um anti Vara, já que lhe veio na massa do sangue, e, quando levou a Rainha Sofia a ver a Paula Rego, mais uma das pedras negras do nosso imaginário, só lhe conseguiu fazer soltar um "sim, já tinha ouvido falar, mas nunca tinha visto...", ou coisa parecida, que é o equivalente Borbón, do "coitadinhos, também precisam..." Um dia destes, o Barahona Possollo passa a rasteira à Megera da Paula Rego, que vive de feitiçarias, e diz que as figuras dela "são más (!)", como se isso pudesse ser coroa de glória para um verdadeiro pintor, sobretudo para Goya, que ela bem tenta imitar, mas que, realmente, vivia sofridamente os horrores do seu tempo, ao contrário dessa doida, exilada em Inglaterra, e a tentar fazer-nos engolir, através de deslumbrantes aparatos técnicos, os quais a transformaram numa "deslumbrada", o seu miserável imaginário de côdea rançosa, mas..., olhem..., até estou farto dessa, vinha era falar de um País, onde um governo de arrogantes se escondeu num canto, à espera de que a Oposição o faça cair, e de uma Oposição que se juntou, noutro canto, à espera de que eles fiquem à espera de que eles os façam cair. Acho maravilhoso, e vale cem sóisinhos a dançar, na Cova da Moura, perdão, da Iria, e poderia continuar assim, eternamente, não fossem os números do nosso descalabro financeiro e económico estarem inexoravelmente a rolar, como numa irreversível ampulheta. Vamos ter mais dois mesitos disto, e depois caímos na real, e vai ser muito mau. O que a Sinistra Alçada fez já é disso ameaço: a bruxa da Lurdes escondia o estrangulamento das carreiras em coisas do tempo da Casa Pia dela, como "titulares" e "excelentes", e ainda me "ha dem" explicar o que seria isso no imaginário de porteira da outra, mas esta é pior, porque, com o seu sorriso de camelo, muito típico daquela estirpe de cínicas, já sacudiu a água do capote, e deixou-se de "excelências" e passou diretamente a falar de quotas ditadas por disponibilidades financeiras, astúcia velha desde Salazar, que é tirar o cavalinho da chuva, e deslocar as responsabilidades do Ministério da Educação para o das Finanças, velha retórica que nos colocou, durante todo o séc. XX, na Cauda da Europa. Há gente que está muito calminha, a acreditar na... "mudança".
Mas não era disso que eu vinha falar.
Hoje... (deixa-me cá olhar para o relógio), sim, hoje, dia 1 de Dezembro, faz anos que Portugal decidiu que tinha, idiossincrática e definitivamente, um bom par de coisas que o separava, forever and ever, da Coroa Española, e concordo plenamente com isso: amigos, amigos, negócios à parte, e cada macaco no seu galho, de España, nem bom vento nem bom esquentamento, e assim teríamos rolado, se não nos tivéssemos transformado, com o Senhor Aníbal, de Boliqueime, no Caixote de Lixo da Europa. Os sucateiros e limpadores de toxinas que se lhe seguiram só aprimoraram a tendência, e isto está realmente mau, como Soares, um dos construtores da velha Europa Utópica, recentemente referiu. É mau, para uma velha Nação, que o seu destino final tenha permitido ser colocado colocado nas mãos de dois indigentes intelectuais, de duvidoso cariz moral e imprópria formação académica. Para acabarmos, ao menos que tivéssemos acabado às mãos de pés de seis dedos de um degenerado de sangue contaminado, como aconteceu em Alcácer-Quibir, mas nunca nos calcanhares dos "porreiros, pá", da Cova da Piedade, e dos Diplomas da "Independente".
Dia 1 de Dezembro de 1640, uma Maria, de então, decidiu que mais valia ser Rainha, por um dia, do que Duquesa, toda a vida. Em 2009, por volta da mesma data, dois badochas, mais uma outra Maria, decidiram que, afinal, sempre mais valia ser mulher a dias toda a vida do que cabeças erguidas, por uma só mais hora que fosse.
Um dia, que já esteve mais longe, voltaremos a sair para a rua, porque as nossas profundas padeiras de aljubarrota não perdoam a canalha desta estirpe. E eu estou, muito sentadinho, à espera desse belo dia.