segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Setembro de 2015: entre bárbaros e breiviks, a Europa, em guerra, vai syrizando os seus estertores






Imagem do Kaos




Setembro descobriu uma Europa totalmente pavlovizada. A Europa pavlovizada, que, afinal, não é uma descoberta de setembro, mas um estado endémico, no qual as estruturas anquilosadas salivam com dinheiro, sempre que soa a sineta do risco. Aparentemente, num mundo balofo, onde os grandes sobressaltos não passavam, em França e Bélgica, de manifestações de desperdício da batata e do tomate, onde logo uma gaja, com ar de tábua de engomar, passava um cheque, daqueles acabados em "liões", e a coisa imediatamente transitava para o orçamento seguinte.
Todavia, pela própria essência dos processos pavlovianos, todas as longas sessões de salivação ganham autonomia, e quando os sistemas, como o europeu, entram na sua fase barroca, a salivação torna-se automática e carece de estímulo.


Sendo a saliva metafórica, a verdade é que responder aos "migrantes" com cifrões é equivalente à rábula da Maria Antonieta Joana Joesefa com os brioches: mais tarde ou mais cedo, um curto circuito lógico acabará por guilhotinar a coisa, e a fome estender-se-á a ambos os campos, e começa aqui a dissecação.

No primeiro tomo, há uma guerra, e todas as guerras acarretam destruição, colapso dos nichos quotidianos dos povos, e desestabilização das vizinhanças. Quando a Europa aceitou mais uma das benesses obamianas -- esse gajo passou dois mandatos a fazer só merda... -- as "primaveras" árabes, estava, na verdade, a aplaudir a queda dos ditadores árabes, que mantinham um manto diáfano de repressão sobre as águas de uma insuportabilidade profunda. O resultado foi o que se viu, e um brutal emergir da realidade.

No segundo tomo, há uma Europa que detesta essa mesma realidade e a prefere sucessivamente substituir por diretivas comunitárias e verbas de manutenção pantanal dos sistemas. Essa mesma Europa preferiu ver em Obama o tal messias preto, sem perceber que o Obama não só não era preto, como não era messias, e muito menos vinha para nos salvar. Foi a primeira vez que um americano recebeu um mandato expresso para destruir a Europa, e o Continente adorou, pediu mais, e adaptou a sua ruína à marcha salvífica em que acreditava. A estupidez não tem fim.

No terceiro tomo, há redes mundiais de todas as coisas e das coisas todas misturadas, já não organizada por pés descalços, mas por consulesas francesas, cavalheiros das mafias e do Futebol, e os culpados do costume, com os senhores das armas à cabeça. Todos tinham lido Homero, e perceberam que o cavalo de tróia já não era de pau, mas de traumas ideológicos. De aí a porem ovos de cuco em tudo o que era a moralidade vigente, foi um passo.

O quarto tomo chama-se ignorância, e remete, enquanto causa e causalidade, para o terceiro, sendo que a ignorância, hoje em dia, é uma coisa difusa, com manifestações confusas. Passa, no que a nós interessa, por uma certa crença em que a cultura do hamburguer, e isso é verdade, se sobrepõe a muitas das clivagens tradicionais. O jornalista, um dos rostos canónicos da ignorância, pouco viajado, ou muito viajado e muito cego-- nunca fui lá e nunca vi, ou até fui lá mas nada vi -- esqueceu, completamente, as diferenças de trato entre o homem da rua do aculturamento cristão e o cidadão da medina islâmica. Entre um mundo de preços fixos, e um jogo de disputa de valores, entre lágrimas, lamentos e um empolamento dramatizado dos atos de transação, que tanto faz o encanto dos viajantes desses mundos, o gajo de serviço das câmaras preferiu a colagem à literalidade, e transpõe o discurso dos deslocados em massa para um testemunho típico da primeira pessoa. A coisa está toda estudada nas "Mil e uma Noites", mas crê-se fazer parte da ignorância que essa designação, desde Galland e da sua tradução, dedicada à Marquise de O, dama da corte da Senhora de Borgonha, respeite a uma magnífica coletânea de relatos, ao gosto persa, e não a mais uma merda cinematográfica homónima. De aqui deriva que tudo o que o deslocado encena para as câmaras deva ser tomado à letra. Muito choram as crianças "migradas" (esta também é certeira para os fundamentalistas) ...

O quinto tomo encaixa neste misto do estranho isomorfismo cultivado entre o jornalista e a realidade. A escola balsemânica, ensinada em muitas das madrassas contemporâneas, prega o primado do relato. Sempre que a realidade está em desacordo com o relato, corrige-se a realidade. Quando a realidade está completamente em desacordo com a notícia, passa-se para a novidade seguinte.

O sexto tomo é, e não é, mais complexo já que deveria ser regido pelo estrito rigor dos balancetes de contas, mas acaba por se espraiar pelo difuso dos estados de alma, e aqui tenho de explicar: até ao verão, a Europa, ou as europas, se preferirem, agonizavam, entre os pobres, que estavam em crise, e os ricos que exerciam o seu sadismo da severidade. No dia em que as redes de traficantes a bombardearam com mísseis humanos com balas ao colo, começaram a salivar, e mostraram que o pavlovianismo, à falta de melhor, estava vivo, e recomendava-se. Imediatamente apareceu dinheiro para tudo, e lugar para todos. Creio que o Syriza irá adorar.

O sétimo tomo é um mera nota cínica, de rodapé, fundada no anterior, em que se pergunta como é que estados que estavam em pré bancarrota, e outros, que tanto falavam em contenção e austeridade, subitamente abrem, para os filhos dos outros, os cordões à bolsa, depois de os terem fechado para os seus.

O oitavo tomo é aquele em que os que apontaram a mira aos cavalos de tróia misturaram tudo o anterior, e decidiram fazer uma simples guerra de efeitos, baseada na surpresa e na publicidade doentia dos órgãos de intoxicação social. Pavlovianamente, onde sabem que o jornalista saliva com crianças, encheram de crianças as televisões; onde a Europa saliva com fundos de emergência, despejaram os seus excedentes populacionais.

O nono tomo também não seria possível sem os anteriores, e fundamenta-se numa espécie de crise da culpa, que geriu os estados europeus pós coloniais. Aqui, já se fez a mistura entre os desgraçados a quem destruíram, com a guerra, a pátria, e os que foram enganados com a miragem do eldorado. Curiosamente, vendeu-se bem a versão daqueles que pouco tinham e iam em busca dos lugares onde havia mais, Cinicamente, esse "mais haver" é igualmente proporcional, e, na teoria, dar me ia direito a invadir as mansões de East Upper Side, só por ter ouvido dizer que lá se vivia melhor, e haver uma lei imediata de justiça universal, que me permitia só olhar para cima, chegar, agarrar e instalar.

O décimo tomo é o de um problema ao qual ninguém decide atribuir um nome, já que a história dos "migrantes", se retirarmos os que realmente tiveram de fugir, e não fugir para lugares pré definidos, mas tão só para onde podiam fugir, é uma espécie de história de uma cruel agência de viagens, que vendesse lugares apenas de ida, sem se preocupar com assegurar lugares e reservas no hotel de chegada. O corolário disto tudo é uma surpreendente paródia, que nem ao Solnado lembraria, em que alguém imprevistamente despeja, às portas da Europa, e às horas estudadas dos noticiários, milhares de bilhetes de ida, para um hotel que não foi avisado. Creio que esta versão desagrada profundamente às madrassas balsemânicas, pelo que a escarrapacho já aqui.

Por fim, vem o lado kafkiano da história, em que, postos em curto circuito circular, as fronteiras europeias empurram, de umas para as outras, o longo carrocel da paródia em que se tornou o "eldorado" dos mísseis humanos. No limite, a coisa deveria ter sido estendida a Praga, e os "migrantes" passariam o resto da existência a circular em comboios de trajetórias infinitas e fechadas, enquanto, também kafkianas, se multiplicariam cada vez mais altas muralhas da china. Excluída a literatura, esta situação aponta para o despertar, na Europa, do pior da Europa, das defesas nacionalistas e ultranacionalistas, e a gangrena do Totalitarismo, eventualmente, a única coisa que une, num só fôlego, Obama, Putin, ISIS, Bilderberg e traficantes, diferentes rostos de uma mesma idade das trevas.

O epílogo disto tudo não será dignificante. Se formos otimistas e excluirmos o previsível banho de sangue, entre polícias, milícias, protestos e populares -- a Sérvia ainda não esmagou, por que está à espera de integrar o marasmo europeu -- as verdadeiras defesas da fronteira comum só agora se irão posicionar: com o dia 23, entra em campo o batalhão Outono, que, entre ameaços e arrepios, anuncia o General Inverno, sempre grande e incontornável vencedor, pelo dizimar, destas deslocações, se bem estarão lembrados os nossos antepassados, Napoleão e Adolph de Áustria.


(Quarteto da estação fria, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

O império das coisas do costume







A grande novidade da semana foi os lisboetas descobrirem que existia um bunker contruído, bem no centro do Bairro dos Atores, muito perto da Alameda, o Bunker da Abade Faria. Comprovaram-no duas romarias providenciais, D. Adelaide Monteiro, de banda larga, que mostrou que as Testemunhas de Jeová são sempre as primeiras a inaugurar as novas portas, e Mário Soares, dolente e condolente, o próximo velório da República. Creio que  o caso deste bunker não deverá ser um caso isolado, e, então, a existência destas infraestruturas, em plena capital, decerto revela uma minuciosa e prudente previsão de defesa, dos tempos agrestes a vir. Os lisboetas, podem, portanto, estar descansados, pois fica claro que nesse dia, da Cela 44 para o bunker da 33, lá haverá quem se irá conseguir safar.

Comparada com esta novidade da semana, só a grande novidade do mês anterior, em que Maria de Belém Roseira veio mostrar que o manuelalegrismo, uma doutrina da decadência lusitana, não estava morto, e que tinha entrado na sua versão 2.0. Mais claramente, depois de ter colocado duas vezes Aníbal de Boliqueime no Palácio de Belém, o manuealegrismo 2.0 vinha agora colocar the next Cavaco, exatamente no mesmo sítio, e durante mais dez anos. Tal precisão de aterragem e cumprimento de tempos orbitas deveria fascinar a NASA, mas, infelizmente, não passa de matéria da nossa mais profunda inquietação: ser profeta de Argel durante 20 anos, no fundo, equivale a meia trombose salazarista, pelo que, se juntarmos os dois cavaquistões, tudo isso fará uma manhosa soma de um século entregue a três sarnentos, o que é brilhante e genial.

Para os seguidores de Varoufakis e da célebre punheta dos jogos, a questão, no fundo, até se resolveu no nível semântico: bastou meter no copo Sampaio da Nódoa, Maria de Belém e o Palhaço colossal, agitar, e deitar na mesa. Uma vez cá fora, já vinham os atributos baralhados, e convinha recompor a paciência, ou ficavamos com a Maria da Nódoa, ou a Nódoa Palhaçal, ou a Maria Palhaço, ou o Sampaio de Belém. Como o Sampaio já lá tinha estado, e demasiado, tempo, só nos restava o Palhaço de Belém, ou seja, o próximo, ou seja, aquele que Manuel Alegre, pela terceira vez, lá irá colocar. A seu tempo analisaremos quem é, já que agora a hora é só de bunkers e maratonas parlamentares.

Curiosamente, sob o pântano diáfano da fantasia, desta vez é altamente evidente a panóplia onde não votar. Resta, infelizmente, saber onde colocar a cruz, e aqui começa a dor e a inquietação, já que se trata de escolher entre um governo péssimo e um ainda pior. De um lado, temos o Cabaré do Ressentimento, em que o Partido Socialista se converteu, um longo desfile de inconseguimentos em busca de reescrever a História, como se a História fosse passível de ser reescrita, depois dos seus atos cometidos. Invariavelmente, são todos eles monótonos e patéticos, e chamam-se Ferro Rodrigues, Paulo Pedroso e Vieira da Silva, para poderem representam o gostinho da infância nacional. Do outro lado, só vejo rosnar a impaciência dos adolescentes, o Galamba, o Duarte Cordeiro e mais uma molhada de outros, ávidos de se precipitarem sobre os remanescentes poleiros do Estado. Uns pelos passado, os outros, pelo futuro, não prestam, não se recomendam, e estão geneticamente incapacitados para os cargos com que sonham. Pelo outro lado, a alternativa não é melhor, e apenas se distingue pela brilhante campanha que estão a fazer, um princípio do faz de conta, um entrar mudo e sair calado, que assenta naquela incapacidade, típica do português, de não conseguir mais do que uma memória de curto prazo, capaz de branquear todos os atos, e já quase que branquou. Evidentemente,  num mundo ideal, o juiz Carlos Alexandre deveria vir prender, à saída de um qualquer comício, Paulo Portas, por problemas submarinos, e, uns atrás dos outros, muitos dos políticos do sistema acabariam os seus dias preventivamente detidos, resolvendo, de per se, este pântano eleitoral. Quanto a Sócrates, encarregado da campanha eleitoral dos compinchas, num horizonte ideal, conseguiria, depois da cela 44 e da piscina aquecida 33, de cada vez que abrir a boca, uma bela prestação, até chegar a uma generosa fatia eleitoral de 22. Não custa sonhar, mas a realidade será outra, e fatal.

Depois do interregno dos "migrantes" e dos refugiados, e de alguns entusiasmo do Futebol, assim iremos ter esta maratona de deceção, acompanhada de muitos cânticos e reclamações. Apenas num aparte, foi com imensa comoção que descobri onde paravam, afinal, os célebres votantes perdidos do Cavaco, já que, durante 10 anos todos renegaram essa estranha inclinação das urnas: de cada vez que os lesados do BES se manifestam, há sempre um olhar choroso que olha em frente e solta um, "O Sr. Presidente disse...", e eu vejo, olha, lá estão os gajos!... Qual presidente, qual caralho, há dez anos que o cargo está em sede vacante, todavia, e aqui entramos na análise fina, para os indecisos, fica a ameaça das sondagens. Não me lembro de quem soltou a poia, mas tem cheiro a "Expresso": um empate técnico entre os corruptos do PS, e o desastre da Coligação. Fica à mercê de um voto o desempate, mas o telejornais  também já tinham a coisa prevista, para evitar trabalhos ao eleitor: ficaria a cargo dessa doença rara do "Livre" e dos macacos tirados do nariz, do Rui Tavares, tanto capaz de se aliar ao PS como ao PSD, desde que proviesse ganho. Há uma outra versão, para as viuvinhas e peixeiras, em que quem faz o papel do bom é o alucinado do Marinho Pinto. Para quem, como eu, não vai votar em nenhum dos anteriores, todo o anterior é um pesadelo em busca de concretização.

O melhor vem a seguir, já que, o Sr. Aníbal, em trabalhos de agonia, vai dar posse ao que para aí vier, e portanto convém que lhe concedamos o pior cenário possível: ou empossar a prova do fracasso das suas expectativas, e a cor é tição monhé, ou os seus delfins, na forma de maiorias à justinha. O ideal, mesmo era conjugar isto tudo, e ser tudo à justinha, e, o mais possível, em desacordo com o esperado pelo Vacão de Boliqueime. Não me apetecem previsões: dentro de um mês se verá.

Estando o texto a chegar ao fim, é justo que regressemos ao bunker do início. Na sua ingénua imprudência, os jornalistas falam de "uma construção recente", o que aponta para um fechar de olhos do Plano Diretor Municipal, e um certíssimo luvear do Plano de Pormenor. Como não me apetece andar em pesquisas, fica tudo para eles: descubram quem era o Presidente da Câmara de Lisboa, quando aquela aberração foi clandestinamente (?) construída, no meio dos quintais, e quem seria o Ministro do Ordenamento do Território. Tentem lá saber até onde foi a indignação das velhas da zona, aquelas que passeiam, de combinação à vista, os cães de perna arqueada e olhos esbugalhados, que as lambem na hora da telenovela. E tentem também saber qual a composição da Junta de Freguesia do Alto do Pina, que fica mesmo na esquina do quarteirão da fortificaçãoo: há uma versão romântica que diz que, numa noite de tempestade, José Sócrates saltará os muros dos quintais, e fugirá por uma porta da sede da autarquia, para se refugiar no banco de trás de um Audi, onde a sua Câncio o levará para bem longe, para Varennes. Outra, mais prosaica, que o túnel se encontra já escavado, e o destino não será Varennes, mas um apartamento de cobertura, no Rio, comprado, mais uma vez, sabe-se lá com que dinheiros "emprestados".



(Quarteto do estes gajos são completamente, mas completamente, ceguinhos, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Entre Bárbaros e Breiviks, a Europa soçobra no seu pântano de indecência moral








Imagem do "Mirror", e dedicado a Aylan, aquela criança, cidadã do Mundo, que nunca acreditou que no Canadá seria grande




Creio que a grande expectativa deste miserável quintal será saber se esse denominado Conselho Português de Proteção Civil (CPCC) se demitirá sexta, será dissolvida no sábado, desaparecerá no domingo ou conseguirá arrastar-se até segunda. Qualquer outra hipótese é, obvia e presentemente, inegociável, mas aceitam-se apostas. Ser a Cauda da Europa não é estatuto menosprezável, e também tem as suas obrigações.

Nos últimos dias, como previsto, aquilo que, internacionalmente, já foi apelidado de "pornografia moral", invadiu as montras dos jornais e das televisões. Não há coisa pior, no mundo, do que o ócio de um jornalista. Como Goya dizia, o sono da razão produz monstros, e a intoxicação social, falha de dados, e incapaz de um juízo sintético, multiplicou-se em aberrações e anecdotes de consumo de primeira página. Do ponto de vista logístico, a explicação é fácil: uma reportagem de fundo, sobre a verdadeira causa deste flagelo, instalado em todas as margens do Mediterrâneo, saía caro, metia risco, e não podia ser feita nos écrans de gabinetes, a partir dos simples vómitos diários da Reuteurs e da France Press. Antes obrigava a vestir o capacete, calçar as botas, e partir para o terreno, e conhecer essa rede monstruosa, que está a desenraizar populações inteiras, para as transformar em nas novas armas de arremesso da Aldeia Global. Seria perigosa, e saía cara ao Balsemão.

Falha desta logística, o jornalismo caviar contenta-se com interpretar imagens, e tentar a contaminação do costume. Na terceira versão do recontar da história a coisa já entrou na náusea do senso comum, e nas conversas de transporte público, onde o cliente dos festivais de verão da NOS já conseguiu segregar uma versão própria do pensamento medíocre. Eu próprio, que me comovo sempre com estas interpretações do real, nascidas entre Fátima e o "Glorioso", finalmente recebi, pelas orelhas, um ovo de colombo da situação, já que um, daqueles das tatuagens e óculos escuros ray ban, tinha descoberto que isto, afinal, podia ser uma epifania para o problema demográfico da Europa.

A coisa não estava assinada Poiares Maduro, por que ainda ninguém se tinha lembrado de a galambizar, mas lá virá.

Eu sei que o cenário de guerra é sinistro. Aliás, esta, como estava anunciada, era a mais sinistra das guerras que iríamos presenciar, já que, enquanto é feito o frete de sermos bombardeados com imagens de crianças, mulheres, gente em massa, como nas grandes deportações da História, há um muro de silêncio sobre o que realmente está a acontecer nas muitas frentes de batalha, e muita coisa está a acontecer, alguma da qual estou inibido de revelar aqui, mas apenas acrescento que o desastre é absoluto. Uma saudação para os corpos especiais portugueses, que combatem esses cães, sem moral nem rosto, e para o tratamento que lhes dão, quando os apanham: pendurados de cabeça para baixo, e duas refeições ao dia, porrada ao almoço, e porrada ao jantar. Só se perdem as que caem no chão, mas isso não chega: devem estar agora muito encaralhados, os fazedores de opinião do costume, que passaram décadas a queixar-se da permanente intromissão americana nas frentes críticas, e, agora, bem precisavam dela. Pois, acontece, mas eu vou ser carinhoso, e dizer-lhes que, afinal, ela até está lá, só que numa forma porventura encapotada.

O obamismo, essa anestesia do Ocidente, que consistiu em eleger alguém cujo programa e objetivos não eram a América, mas tão só, entre sorrisos e palmadinhas nas costas, destruir a Europa, entreteve-se com as "primaveras" árabes, e depois deixou-as à solta, esquecido daquela velha máxima que diz que pensamento corânico e democracia são dois pólos inconciliáveis, numa longa marcha paralela, que a Europa tinha feito, em sentido inverso, para desgastar a sua longa praga fundamentalista cristã, e que parecia ter chegado a um patamar neutro, não fosse o reeclodir do Obscurantismo, pela mão nefasta do Reagan do Vaticano, Woytila, e seus piores seguidores, mas tudo isso seria uma outra história e outro texto, e mais não acrescento.

Basicamente, o ISIL e arredores, uma mistura explosiva de subúrbios decadentes do Ocidente, obamistas, neomaoistas, fundamentalistas, extremas de todos os extremos, gajas com falta de homem, mafias de todos os tráficos, e meros excessos populacionais, também descobriu o seu ovo de colombo, que mais não é do que ter encontrado a arma mais barata do Mundo, o míssil humano. O míssil humano é uma marca da indecência e do triunfo da trivialidade: auto replica-se, auto destrói-se e é reciclável. Goza da proteção de todas as religiões, e as suas muitas fábricas vivem ao abrigo do religioso "crescei e multiplicai-vos". Nunca os grandes traficantes de armas americanos e ingleses se lembrariam disto, mas o fim da Humanidade, incarnado pelo ISIL, lembrou-se, e a receita acabou por triunfar.

Para os fazedores de opinião, confundidos com a multiplicação as suas "boas imagens", capazes de desviar a opinião pública do verdadeiro problema, as fábricas de mísseis humanos, as suas plataformas de lançamento e as suas proteções de percurso, serve a cosmética do final do processo, onde a Europa é convertida no lugar de aterragem de longas rotas manipuladas à distância, e a sua cegueira local é equivalente a alguém que, por estar com uma septisemia, é enviado para uma estiticista, para lhe pintarem as unhas e taparem os hematomas das extremidades. Para quem se situe, obstinadamente, nos patamares racionais, incólume a estes estados de alma e ao opinar errático, histórias como as dos "migrantes" que passaram, de bicicleta, as fronteiras do Ártico, estão no limite do kafkiano e são a prova de que, algures, num algures que pode estar muito próximo de nós, alguém deve estar a gargalhar profundamente. Creio que este lado caricato das coisas será o retrato futuro do obamismo, se houver futuro e alguém para poder fazer tais retratos, por que o estado das coisas é pesado, doentio e insuportável.

Não convém que escreva mais. A solução das coisas passa pela tal decisão que é incómoda tomar: ou queremos intervir na causa das coisas, e a isso chama-se guerra, ou, mais friamente, neste caso, uma política de extermínio localizado dessas hordas que se situaram de fora da Humanidade. Sobre essa coisa, chamada ISIL, uma hidra multiforme, creio já tudo estar dito, e só faltar intervir, já que não há lugar para sobreviventes, posto não estarmos perante uma guerra, mas perante uma patologia que atingiu alguns focos geográficos, que antes se encontravam povados por humanos. Deveremos interiorizar que, por muito que isso nos custe, se deu ali uma suspensão da vida, e que aquelas coisas que estão a desestabilizar a própria conceção de Humanidade devem agora ser erradicadas do cenário. Parece que querem destruir Palmira, ou que, noutras interpretações, estão a destruir o património cultural para esconderem o tráfico local das peças móveis, que invadiram o eBay, como aquando Bush saqueou Bagdad. (O processo, como em tudo é engenhoso: uma vez comprada a peça, financiado o terrorismo internacional, extraviada no percurso, e coberta pelo seguro da rede de comércio eBay, cumpriu-se o ciclo, e pagamos, do sofá, o saque de Nimrod).

Nesses atos acabaram de definir o seu próprio destino: estas gentes que ignoraram a História devem ter o seu rasto rapidamente eliminado da mesma, e nada mais se advoga para esse ISIL e para a sua plataforma de lançamento de mísseis vivos com que ensaiaram destruir a Europa. Compete à Europa destruí-los antes, e a seguir banir todos os obamismos. Como finalmente saiu, na forma de verdade elementar da boca daquele jovem de treze anos, eles não querem vir para a Europa, querem apenas que deixem de alimentar a guerra na Síria, e quem diz a Síria, diz todos os focos de desestabilização do bem estar das sociedades. O pequeno Aylan creio que aspirava a menos: apenas sonhava brincar, como todas a crianças de três anos. O Obama não deixou.



(Quarteto justamente nihilista no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")