sábado, 26 de fevereiro de 2011

2000 Anos de "Expresso"





Imagem do Kaos

Há uma corrente da Historiografia, muito próxima do senso comum, que diz que toda a História não é mais do uma série de tentativas falhadas  de narrativa. Hoje, não estou muito para filosofias, pelo que vou já pelas autópsias.

O "Expresso" completa hoje 2000 anos, e não é todos os dias que se alcança tal longevidade. Na realidade, como em todas as estações da vida, falar do "Expresso", em abstrato, é uma coisa tão lata como querer ver a Brigitte Bardot, curva e boazona, de outrora, naquele grande canyon neofascista de rugas, que, na contemporaneidade, se revolve entre línguas eróticas de gato e olho de vidro do Le Pen.

O "Expresso", para quem não se lembre, vem do tempo da Outra Senhora, em que só havia uma Verdade, a do "Diário da República", e a voz do Ministro da Propaganda. Se quiserem uma diferença entre os órgãos do Regime e o "Expresso" era a diferença que vai do café curto à meia de leite: com um pouco de sorte, sentavam-se à mesma mesa, e partilhariam longas conversas em família, se não tivesse havido um rotura de paradigma político que fez o "Expresso" passar a sofrer da Síndroma de Cavaco, ou das carreiras interrompidas. A seu modo, se houvesse um aligeiramento da Velha Senhora, as vozes sucessores da Propaganda já lá estariam todas a estagiar, como depois ficaram.

Como na Historiografia, o sonho do "Expresso" foi sempre substituir a Realidade por um narrativa contemporânea. Não precisava de ser muito convincente, mas só... à justinha. Num povo com grau de literacia baixíssimo, tudo o que aparecia na primeira página do "Expresso" era mais forte do que a Realidade, e ai de quem se atravesse a contrapor a Realidade à narrativa jornalística do "Expresso", e assim nasceram os monstros que nos conduziram ao presente impasse, sempre com um verniz de elitismo, só possível neste país de pés de chinelo.
O "Expresso" é, sempre foi, e arrisco que continuará, por mais cosméticas de revelações que prometa, o oposto das "Wikileaks": por detrás dessas "audácias", haverá sempre um frete político.
A maior virtude do "Expresso" era, é, sempre foi, a sua tenacidade, quer no louvor, quer na anatemização, talvez devido ao ninho de lacraus que é, e ai de quem lhes cair em desgraça, porque o espírito inquisitório tem o braço longo, e pode durar... milénios, éons, todo o tempo de Bilderberg :-)

A história do semanário não me interessa, talvez por que só o tenha comprado meia dúzia de vezes, mas recordo que, com o tempo, passou a sofrer dos vícios das matronas, muita base, muito baton, muito rimel, e roupas vistosas e quinquilharia para encher o olho. Na "période vache" já tinha sacos de plástico suficientemente grandes para a pessoa o poder comprar, despejar o conteúdo no primeiro caixote de lixo à mão, e poupar num saco do LIDL, trazendo o do "Expresso" no bolso, para o encher depois, com bens de primeira necessidade.

Do "Expresso", podemos dizer que tudo o que foi mau por lá passou, e sofreu dos problemas das rotundas, soluções urbanísticas que, como toda a gente que tem formação na área, como eu, sabe que são a maior asneira, no planeamento de tráfego: se, de quatro vias, que nela confluem, houver uma de escoamento rápido, uma média e uma lenta, ganha, passado dez minutos, sempre a lenta, tornando a rotunda num inferno. Como se sabe, isto é irrelevante para os autarcas corruptos, já que lhes permite pagar o mamarracho escultórico do centro, ao amigo do cinzel mais próximo.

Com o "Expresso", sucedeu o mesmo: era, foi, é uma rotunda do pensamento, onde se cruzaram mentes brilhantes, monos e puros medíocres. Pelo processo entrópico, as mentes brilhantes foram fugindo e brilharam os monos medíocres. Eu sei que toda a gente espera que eu torne a coisa nominal, e eu torno: do bom, relembro Luísa Schmidt, e os seus textos, inimitáveis, na qualidade da forma e da informação cívica: dos maus, só me estão a vir à cabeça duas criaturas que provocaram o maior desastre cultural dos anos 80 e 90 de Portugal, chamavam-se, e chamam-se, Alexandre Melo e Clara Ferreira Alves. Do primeiro, dizia-se que promovia os artistas que o comiam, e os que lhe ofereciam obras, quando não gostavam de o comer. Entregou a criação portuguesa aos subúrbios da Fundação Luso-Americana, a soldo da qual arruinou a especificidade cultural nacional por subprodutos que uns quantos pobres diabos repetiam por cá, depois de saídos de moda em Nova Iorque. Lixo, com o nome de Pedro Cabrita Reis, entre outros. De Clara Ferreira Alves, ignara e vingativa, corria que lançava os escritores que a cobriam. O meu editor fez-me claramente a proposta, mas eu preferi a obscuridade à indignidade, sabendo que o Tempo tudo depois reporia.

O tempo mais triste do "Expresso" veio com o surgimento do glorioso "Independente", que inaugurava uma maneira impoliticamente correta de falar dos acontecimentos, sem o tom de Diário da República, tão ao gosto do Sr. Balsemão.
Como se sabe, nada do que é bom dura sempre, e o mau pode eternizar-se. O "Independente" desapareceu, a Blosgosfera abalou, para sempre, o "Expresso" e todos os jornais, e, por lá, ainda peroram, hoje, nulidades do calibre de Sousa Tavares, ou Inês Pedrosa.
Amanhã, garanto, será pior.

Como este é, apesar de tudo, um texto laudatório e de parabéns, vamos a ele, já que o "Expresso" foi pioneiro nas edições "on-line", e manteve, durante um período glorioso, algumas caixas de comentários às quais devo, de facto, estar a escrever aqui, enquanto heterónimo, especificamente criado para por lá metralhar. O primeiro "Arrebenta", nome que execro, divertiu e divertiu-me, ao divertir muita gente. Acabou, como era de prever, quando o enorme luto, chamado Cavaco Silva, voltou a ensombrar Portugal.

Este é um texto de rotina, apenas comemorador da efeméride, já que o que hoje realmente me preocupa é aquela Jugoslávia do Magreb, chamada Líbia, que vai manchar a segunda década do séc. XXI com as suas atrocidades e estilhaçamento. Isso fica para amanhã. Hoje é dia de dar os parabéns aos bons profissionais do "Expresso" e de dizer aos outros, que sempre consideraram o autor do "Arrebenta"... duvidoso, e lhe tentaram apagar o rasto, que o autor do "Arrebenta" aqui continua, todo este tempo passado, vivo, ativo, e a considerá-los, igualmente... duvidosos, e a apontar-lhes todos os vícios dos rastos, de que nunca se conseguirão libertar.

Continuem, que a gente, no fundo, até gosta :-)

(Quinteto pífio, à la Balsemão, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Uma Aventura Sinistra", no "Klandestino", e em "The Braganza Mothers")


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O Dia da Ira





Imagem do Kaos


Fazia parte das minhas pequenas fantasias ver o Sr. Aníbal, de Boliqueime, atascado na merda que fez em Portugal, desde 1985, mas, desta vez, a fazer de Grande Timoneiro num país sem capitais.
Começou por nos atraiçoar, depois de termos sido espremidos pelo FMI de Soares, e deve, por critérios de justiça, penar agora, às mãos desse mesmo FMI.
Quero ver o tal Cavaco, que nos arruinou com tsunamis de dinheiro, a tirar-nos do buraco da penúria, sem um cêntimo no bolso.
É a minha "revanche" contra essa figura irrelevante do panorama mundial, que durante décadas no vexou no exterior.

Eu sei que isto nos vai custar a todos, mas é um pouco a vingança do ceguinho. A Europa, a mesma, da qual ele desviou, e permitiu que fossem desviados, os fundos fundamentais, para que Portugal tivesse dado o salto da sua pequena mundividência de Santa Comba Dão para coisas mais elevadas, como Milão, Londres ou Paris.
Sei que há um tempo para a ingenuidade, e outro para a verdade.
No tempo da ingenuidade, havia quem acreditasse que o Sr. Aníbal raramente tinha dúvidas e nunca se enganava. Eu era dos poucos que não tinha dúvidas nenhumas, e sabia que, mais tarde ou mais cedo, haveria uma multidão que iria ver o preço de estar a ser completamente enganada. Aparentemente, esse dia está próximo, como indicam os sites de apostas, onde diariamente se especula sobre o que virá primeiro: o encarceramento de João Paulo II, em Rikers Island, a canonização de Renato Seabra, ou a Bancarrota.
Por mim, virão as três em conjunto, mas isto é só uma opinião.

O Governo, previdente, na reta final de mais de vinte anos de Cavaquistão, do qual herdou todos os vícios e manhas da segunda geração, está em agonia, o que quer dizer que se encontra relativamente de boa saúde, quando comparado com o país, que já está morto.
Há uns sectores do comentarismo hilariante, como o eterno Professor Marcelo, que acredita, qual Maria Cavaca, que, com a exportação de presépios, vamos ter retoma ainda em Março, logo que a Múmia de Boliqueime, dada a Constituição que temos, tome posse do par de sapatos de cimento com que logo a seguir vai ser empurrada para o Tejo.

Defronte do Palácio, parece, já está a ser convocada uma manifestação, por sms, para repetir a cena da Praça Tahrir, em que o grunho ainda haverá de estar a perdigotar "juro, por minha honra...", etc, no meio dos babas do costume, e, já cá fora, os 11% de desempregados, os 30% que vivem abaixo do limiar da pobreza, os hemofilizados com HIV, os diplomados sem utilidade, os reciboesverdeados, os funcionários públicos que estão a pagar o BPN, o BPP, os submarinos, os assessores de levar na peida do cartão do Partido, os endividados e os sobreendividados, os que já não têm pão para os filhos, os que odeiam a simples ideia de ter Aníbal de Deus Thomaz em Belém, e enquanto o grunho diz "juro, por minha honra... etc", toda a gente tirará o sapato, e começará a mostrar-lho, e a ulular, para o outro se borrar pelas pernas abaixo, mais o traste da sua Maria, que sofre de elefantíase da cintura para baixo e de microcefalia da corcunda para cima.

Desta vez, não teremos Dias Loureiro para mandar disparar sobre a multidão, mas talvez a multidão decida disparar sobre Dias Loureiro.

Eu não quero este Portugal, e não sou o único.
É chegado o dia da ira, e eu não sou daqueles que gostam de profetizar a desgraça: prefiro que a desgraça recaia agora sobre a cabeça dos que nos desgraçaram, e que, em vez de pessimismo, lhes suceda toda a multidão de coisas péssimas que nos possam desagravar.

Mal cá entre o FMI, vai perguntar o que é isso do BPN, que está completamente falido, e consome um milhão de euros de prejuízo por minuto, e quem está, esteve e estaria ligado a ele; quanto ganham os cabrões que administram empresas sistematicamente ruinosas, e que abismo justifica os lucros de monopólios de escravidão, numa sociedade pretendida de concorrência e mercado.

Parece que a coisa é já para Abril, mas é indiferente Abril, Setembro, Outubro ou Novembro: o importante é que regressem os pavões à base, e o Sr. Constâncio e o Sr. Barroso, por exemplo, sejam julgados em praça pública, e interrogados sobre como foi possível deixar o Estado chegar ao momento de ruína em que se encontra. Se estivéssemos em 1793, não chegariam as guilhotinas para essa corja toda, mas as guilhotinas são hoje outras, e a coisa vai acabar mal: somos demasiado magrebinos, pela miséria, e temos antecedentes históricos, lusitanos, de balear gente que não presta. Não por acaso, as operações de brigadas stop multiplicam-se, mas aquilo que elas procuram, garanto-vos, já está suficientemente resguardado para impedir o que aí vem, e vem forte, como os ventos deste Inverno.

Como se costuma dizer, cá se fazem, cá se pagam. Não tirámos lição nenhuma do apodrecimento da Monarquia, nada aprendemos com o fedor da I República, nem com as conversas em família do período de Alzheimer da Velha Senhora.
A III República vai apanhar com uma lição doutoral: o seu professor será gigante, e dará aulas em ruas repletas de gente insurreta.

(Cinco quinas, a relembrar Portugal renascido, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino", no "Uma Aventura Sinistra" e em "The Braganza Mothers" )

sábado, 12 de fevereiro de 2011

As Múmias de Boliqueime: do alto deste palácio, quarenta anos de atraso vos contemplam





magem do Kaos

Há revoluções que são como os rios: começam por um simples fio de água e espraiam-se, depois, em infindáveis oceanos.
Creio que esse seja o espírito do Nilo, e, hoje, o Deus Serápis voltou a levantar os braços no Cairo e Alexandria. Para um cético, como eu, prefiro fixar-me nas imagens, e pelas massas que ondulam, em vez de me embrenhar pelos abismos da futurologia. De aqui a muitos anos, aconteça o que acontecer, serão essas imagens que guardarei comigo, como no dia em que o Muro de Berlim se desfez, e em muitos outros, raros, dias, da nossa memória finita.
O futuro das revoluções só é julgado muito tempo depois, pelos vindouros, para quem elas foram eventos de um distante passado.
Hoje é tão só o dia das marés de gente, das cores das bandeiras e dos civismos de multidões pelas quais passaram alguns dos mais altos momentos da História.

Hoje, no Cairo, dança nas ruas a memória do Unificador das Duas Terras, Ptah e Imoteph, a triologia de Gizeh, a impenetrável Abidos, a grande Hatschepsut e Tutmés, o Grande, o hermético Akhenaton, Nefertiti, o trono infantil de Tutankhamon, os Ramséssidas e os tesouros núbios de Tânis, a voz de Necao, que mandou os fenícios fazer o primeiro périplo de África, Nectnanebo II, que compunha cartas astrológicas para Olympia, a mãe de Alexandre, os Lágidas, César, António e Cleópatra VII, Cesárion e Ísis, Selene, o Farol, o Museu e a Biblioteca, Euclides, os tradutores gregos do Biblion, Hipatia, Justiniano e os homens do deserto, Heráclio, Saladino, os Mamelucos, os sultões escravos, Kavafis e um rio enorme e eterno, que desenha no Céu e na Terra, a monstruosa barragem de Assuão.

Hoje é hoje, e o hoje não é amanhã. O amanhã logo se verá, e vivamos, como as bacantes, as noites dos ardentes dias de hoje. Quando, pelas cinco da manhã, o sol escaldante do deserto voltar a recortar o eterno sorriso de Kéfren, grafado na Esfinge, deveremos questionar o futuro, porque o futuro será feito de coisas que aí vêm, muito breves, mas hoje não me interessam.

É bom saber que o Mundo, cansado da sua impenetrável idade, voltou a respirar uns quantos raros momentos de juventude, e que, mesmo eu, inveterado pagão, avesso aos credos do Livro e da chacina, estou agora a olhar, mudo e quedo, para o Nilo das gentes que ainda acreditam nas mudanças.

Nenhumas destas coisas são passíveis de comparação, mas, enquanto o Norte de África se liberta do seu bolor, sem saber o que lhe reservarão os dias próximos, nós, Portugueses, povo sem solução, mais uma vez deixámos que se arrastassem para o topo do Estado cadáveres adiados sem futuro, carregados do pior bafio.
O Tribunal Constitucional desta coisa agonizante, chamada "República Portuguesa", parece que relembrou que o cidadão Aníbal Cavaco Silva iria, a partir de Março, exercer uma lenta agonia no Palácio de Belém.

Confesso que, depois daquele dia aziago de janeiro, em que uma maioria absolutíssima de portugueses disse a esse homenzinho que o tempo dele tinha acabado, pensei, enquanto escritor, que estivéssemos a assistir a um mero roteiro e virar de página de jornal descartável do metro. Votavam no homenzinho, só para que ele pudesse escrever no currículo que tinha sido duas vezes presidente da vergonhosa coisa portuguesa, mas não foi assim: de facto, o disparate desse dia iria corresponder a uma longa indução em coma, com previsibilidade de duração de 5 anos. Quer isto dizer que, quando o Magreb do Sul, hoje, se começou a livrar das suas múmias, nós, Magreb do Norte, alçámos ao nosso pequeno teatro de revista mais um miserável número de "vaudeville", presépios e visitas a lares de mongolóides.
A preceito, esta enorme paralisia cerebral coletiva precisava da sua Praça Tahrir, aliás, precisava de várias, de marés de gente cheia de espontaneidade, que tirasse os sapatos e os mostrasse a esta corja, agora incarnada por uma mumificação algarvia.

Nada disto, aliás, não cheira nem bem, nem mal, porque já perdemos o olfato e nos deixámos anestesiar por uma ignominiosa rotina de passividade. Perdemos a História e o Tempo, e, enquanto os nossos vizinhos vêm para a rua cantar agora o rumor das massas esperançosas, nós veneramos o pão bolorento, endividados, até à Eternidade, por uma multidão de crimes sem castigo.

Essa... "coisa"... que o Magreb do Norte vai colocar no palácio presidencial português é a sombra de um dos maiores desfalques dos dinheiros públicos a que este país já assistiu, o BPN. Eu sei que não têm verdadeira ideia da dimensão disso, esse... BPN, mas eu vou traduzi-lo por palavras: o BPN é uma espécie de casa pia do freeport de entre os rios dos fundos sociais europeus, onde o apito dourado soava como a fundação hemofílica de um furacão da noite branca, a cobrir de modernas, independentes e lusófonas, a cortiçosa mancha do processo do parque de portucale, no meio de um som de ensurdecedoras sucatas de submarinos.
A fatura será um buraco sem fundo, até à morte dos nossos netos.

Se isto fosse um país, e não um ajuntamento de pessoas, quando as caricaturas de Boliqueime se dirigissem, em Março, a Belém, para nos envergonhar mais cinco anos, deveria haver umas milícias da renovação, que os agarrassem pelos braços, e os obrigassem a uma reclusão, para sempre, nas suas aberrações arquitetónicas do Quinta da Coelha, para tratar dos netos, lembrando que o povo que outrora dominou as Rotas da Pimenta não pode agora estar condenado a respirar pó de múmia para todo o resto da sua História.

(Quinteto de Alexandria, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino", no "Uma Aventura Sinistra" e em "The Braganza Mothers")

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

As Presidenciais, vistas por uma dentadura





Imagem do Kaos, e dedicado ao  Kaos, que acha que não há textos à altura das imagens dele...


As Presidenciais e o Egito levaram-me a fazer contas, coisa na qual sou profundamente incompetente, mas, olha, fez-me bem, antes isso do que um beijinho nas feiras, dado pelo Portastucale.

Então, é assim: Cavaco Silva, também conhecido pelo Saloio de Boliqueime, não foi eleito por 75% dos Portugueses; Manuel Alegre, o Garrafão de Águeda, não foi eleito por 80% dos nacionais; Fernando Nobre, o consolo das enfermeirinhas, levou um voto contra de 86% dos lusitanos; O Chico que faz falta não fez falta a 93% dos votantes; o Coelho divertiu muito, mas lá houve 95% de peregrinos de Fátima que não viram nele o solzinho a dançar, e por fim, o outro, de cujo nome nem me lembro, só ficou com a rapadura do fundo das urnas.


O resto da história é, como verão, do domínio do Egito e da Ortodoncia.

Aníbal de Boliqueime, uma arrastadeira em forma de Américo Thomaz, com os seus 75% de Portugueses que foram incapazes de ver a forma radiosa, e de esperança, que dele, e do seu coirato-fêmea, emanam, teve uma eleição que pareceu hermética, mas era uma esperança de futuro: o Egito, à cautela, enviou duas das suas múmias para Belém, uma espécie de arca de noé das múmias, não fosse a coisa dar para o torto, mas enganaram-se, porque, se o mundo arder, aquelas duas múmias não vão poder assegurar, pela reprodução, que o mundo se volte a repovoar de múmias, pelo que a espécie se deverá extinguir ali. Portanto, por favor, não deitem fogo ao Tutankhamon, senão, ainda se arriscam a assistir ao Sr. Hawass, esse vampiro das antiguidades, a reclamar que o Sr. Aníbal e a Ti Maria voltem a repousar nos seus sarcófagos poeirentos do Cairo, ou no Vale dos Reis, rebatizado, Vale dos Bimbos.
Com Portugal em rotura de financiamento externo, só a Irmã Lúcia saberá se esse dia não esteve mais perto.
Era uma benção, confesso, para mim, e para mais 75% dos Portugueses...

A segunda parte é mais interessante, e prende-se com a Ortodoncia, e creio que o que vou escrever é tão revolucionário como o dia em que Copérnico resolveu desenterrar Hiparco, ou o Tio Einstein escreveu uma parvoíce do género que achava que dependia do ponto de vista da claque do clube se eram os comboios que andavam, ou as linhas férreas. Em dia de greve da CP isto é quase litúrgico, e premonitório.

Suponho que os 75% de votos de inteligência contra o Vacão de Boliqueime, responsável pela destruição do tecido agrícola, industrial, ferroviário, produtivo, cultural e educacional de Portugal, enquanto primeiro ministro, e, agora, na sua nova fase da ternura da algália, ainda não foram abordados por um prisma que considero extremamente interessante, quer do ponto de vista etnológico, quer sociológico, quer, et pour quoi pas?..., higiénico.

A verdade é que 25% dos dentes de Portugal votaram no Manequim dos Anos 50 da Rua dos Fanqueiros.

Ora estes 25% não são 25% de quaisquer dentes, mas de dentes que viveram as glórias do último Salazar, que rangeram em Fátima, que votaram contra o aborto, que apostaram na inocência de Carlos Cruz, que uivaram de cio, com as visitas de Paulo VI, João Paulo II e Benedito XVI, Ratzinger, que gemeram, quando a Irmã Lúcia deixou de estar calada para se poder tornar numa das maiores intriguistas e "códrilheiras" do Purgatório, que apontaram o dedo às moças brasileiras, que trabalhavam, por conta própria, na terra das mulheres de bigode de Bragança, que chamaram "puta" à Carolina Salgado, e "inocente", ao Pinto da Costa, que profanaram as cerimónias fúnebres do Carlos Castro, enfim, todos aqueles dentes profundo, que, de cada vez que Portugal dá um sacolejão para trás, estão sempre na posição dos caninos, e remoem o "Pügrèsso" no bafio dos molares.

Falta contabilizá-los, porque esta contagem de dentes eleitorais é fundamental, para a análise idiossincrática de uma Nação cansada de 900 anos de (pré) História.

Dizem os especialistas, que, dada a conhecidíssima higiene oral dos Portugueses, aliada a deficiências de alimentação, a uma carga genética, que vem desde a Lucy, e passou pelos austrolopitecos todos, até se fixar no Pinto da Costa, no Valentim e no João Loureiro, por volta dos 65 anos, o Português de Lineu, já só tem, dos 32 dentes iniciais, cerca de metade, baixando, aos 70, para 10, e passados os 80, para 3 ou 4, consoante tenha nascido em ano simples, ou bissexto. Ora, e considerando que distribuição dos dentes da boca dos eleitores do Sr. Aníbal é tudo menos uma Curva de Gauss, vamos adotar um modelo de regressão exponencial inversa, partindo de 16 dentes, até chegar, no caso daquela militante, que sempre votou, desde o tempo do Marechal Carmona, no Partido do Governo, Ação Nacional Popular, também conhecido pelas Avós de Boliqueime. Não quero incorrer no vício de me tornar demasiado técnico, como fazia o filho da puta do Constâncio, que arredondava os roubos dos Portugueses, pelo que vou já regressar à aritmética elementar, e fazer umas continhas à Ferreira Leite.

Tendo em conta que a Comissão Nacional de Eleições se enganou no número de inscritos, e cruzando os valores com a pirâmide etária portuguesa, que parece Keops a fazer o pino, ou seja, meia dúzia de casapianos na base, uns quantos renatos seabras nos socalcos acima, a Bocarra Guimarães e o Zeinal Bava a meio, o Zezé Castel Branco, no centro de massa do sacarrolhas, e as múmias todas do Cairo lá no topo, a receberem reformas milionárias, entre os 5000 e os 50 000 €,
dizia eu
de que
1 124 074, e mais um quarto de avózinha, votaram no Epilético de Boliqueime.

Se considerarmos que, deste número, cerca de 30% tem 16 dentes na boca (e os restantes em Fátima), os outros 30% já só tem 10 (e os restantes na campa das pastorinhas), e que mais os outros 30% já só têm 3, vá, lá 4... não, 3, porque estamos em austeridade, isto faz... deixa cá ir à calculadora... temos 5 395 555 mais 3 372 222 mais 1 011 666 de dentes que votaram no sarnoso do Aníbal, o que faz, ora faz... números cariados... aí uns 9 779 443 de dentes aboliqueimados, ora isto é muito dente, e, se fossemos autopsiar o fenómeno ainda mais a fundo, isto é quase a população toda de Portugal, em forma de dentes, só que há uns dentes mais iguais do que os outros, pelo que destes quase 10 000 000, teremos, certamente, os brancos, os amarelos, os semicariados, cinzento cinza, e os negros, da Nazaré.

Eu sei que faltam aqui uns 10%... já me estão a fazer sinais lá no fundo que me enganei nas contas... não não enganei, faltam 10% desta maltosa, cerca de 112 407, que só não vieram aqui, porque acabaram de chegar do cordão humano de apoio ao Estripador de Cantanhede, e da Petição da Estrelinha da Esperança do Afeto, ou lá que nome tem essa merda, em que há gente que ainda se enleva, e empolga, com assassinos psicopatas. Suponho que esses tenham, em média, 25 dentes. Feitas as contas, ao estilo BPN, vamos, pois, aos 10 000 000.

10 000 000 de dentes é muito, muito, dente.

Do alto desta tribuna, e, agora que tanto se fala de pôr 1 000 000 de pessoas a descer a Avenida da Liberdade, para exigir a demissão da "Classe" Política toda, eu quero chefiar uma contramanifestação, e pôr os 10 000 000 de dentes brancos, amarelos, verdes, cinzentos, negros, e cor de burro quando foge, que votaram no Bimbo da Bomba, a subirem a Avenida da Liberdade, para lutarem contra esses inimigos do Sistema, essa gente, gentnha, gentalha, que quer impedir que sejamos felizes e encolhidos, os mais modestos, do Salazar, em suma, que, ao contrário do Cairo, demos, aliás, "dêiamüs", o exemplo, e acabemos o Mundo... à dentada.

(Prótese dentária cariada, à espera do FMI, no "Arrebenta-SOL", no "Uma Aventura Sinistra", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino", e nas putas do "Braganza Mothers")