quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Noctívaga divagação sobre uma tremenda Panela de Pressão

Imagem do KAOS
Hoje, dia 3 de Dezembro, é um dia importante, para testar a maturidade da Democracia Portuguesa. Não sou de greves, sou mais gajo de livros e de paisagens. Por estranho que pareça, tenho o meu autor ao meu lado, a ler atentamente cada linha do que eu escrevo, o que é perigoso, para uma simples personagem de ficção.
Nunca vendi panelas de pressão, mas creio ser evidente, para quem as compra e quem as vende, que aquela pequenina pipeta giratória, lá no alto, que gira e assobia, é, para quem entende de Física, um perigoso aviso de perigo.
Eu, não, que sou personagem, mas o meu autor conhece membros da família do Sr. Sócrates, que se intitula, indevidamente, de "Engenheiro". Um é um filho da puta, que vendeu a alma do pai e da família ao Diabo: nada foi poupado pela sua vaidade; a outra, minha amiga de uma vida inteira, no seu pior período, acabou a falar com Deus, e isso também é profundamente mórbido.
Este Governo desconhece a lógica das panelas de pressão, e, ignaro em tudo, não percebeu que está perante uma panela de pressão, sem pipeta, e na iminência de estoirar. Mais: cerrou fileiras em redor da figura mais odiada de Portugal, e parece apostado em cair, com ela, da pior maneira, na rua.
Maria de Lurdes Rodrigues não presta, mas foi extremamente saudável que com ela se viessem agora solidarizar todas as figuras pardas do Regime: a ela deram-lhe, pois, uma solidez conjuntural, que já ultrapassou, em larga escala, aquele aspecto empobrecido de viuvinha de um gajo de agência funerária obsoleta. Assim como a Maria do Cavaco "ajeitava" as toalhas do Palácio de Buckingham, quando era convidada para os jantares de Estado, esta pobre limita-se a puxar as peúgas dos mortos para cima, antes de os embarcar na urna do esposo.
É uma figura patética, mas teve o condão de nos conduzir a um processo de reflexão social sumamente importante.
O que hoje irá acontecer não será uma grevezita de professores: conseguiu por ascese e ascensão, distanciar-se de uma pequena entorse, chamada "avaliação", para se posicionar em coisas mais vastas, que eram as regras do jogo do próprio exercício docente, ou seja, questionou a possibilidade, hoje, de uma verdadeira Deontologia, num quadro viciado e mal enformado, e foi subindo mais, aqui se entendendo, por "subir" uma coisa bem mais diversa: o descer às catacumbas das próprias raízes éticas, morais e emocionais de uma descontrolada deriva.
Normalmente, as "greves", coisas desgastadas de séculos passados, contrapunham-se a questiúnculas, em redor de proventos financeiros, ou discórdias de alíneas, enfim, solavancos de diferentes interpretações da Retórica. Maria de Lurdes Rodrigues e o horror que a cerca conseguiram levar a coisa bem mais fundo: questiona-se agora todo o campo possível de exercício da actividade mais sensível de cada Sociedade, a Educação, e, cavalgando o trocadilho, passámos para a Etiqueta, ou seja, aquele verniz de regras que separa a Boa da Má Educação.
Para mim, mero espectador de um ciclo de declínio político e moral, essa mulher está, irremediavelmente, do lado da Má Educação, e morreu, no dia em que sobrepondo-se a decisões de Juntas Médicas, a direitos de ausência, de oposição de consciência, ou de mero exercício do direito de greve, convocou, com o disfarce de uma Requisição Civil, todas as hostes sob a sua Tutela, para assegurarem uns ridículos exames de Estado, que não aqueceriam, nem arrefeceriam, normalmente, qualquer outro país.
Hoje, à distância, a resposta deveria ter sido a de uma desobediência civil, com todas as consequências que isso pudesse ter, e ver se a criatura -- o monstro -- se atreveria a avançar para o grau de emergência superior, o da Requisição Militar.
É o que dá apanhar as pessoas de surpresa.
Nesse mesmo dia, enviei-lhe um email, cuja cópia guardo, a dizer-lhe, frontalmente, que eu, que, por polidez, não dou ordens às minhas empregadas, me recusava a recebê-las das domésticas dos outros...
Interiormente, saudei essa capacidade de se sobrepor às decisões de Juntas Médicas, e passei a tratá-la, carinhosamente, pelo epíteto de "A Curandeira", como tratava a defunta Santa da Ladeira.
Acontece que não se tratava de uma Curandeira: tratava-se de uma mente criminosa, que, logo a seguir, enviou cidadãos portugueses para a Morte, no exercício das suas funções. Já, aí, nesse momento, deveríamos ter avançado com uma queixa, para o Tribunal Internacional dos Direitos do Homem, e não avançámos, porque creio que ninguém se aperecebeu de que aquilo era profundo, estrutural, para ficar e repetir, embora com outros cheiros, cromatismos e sabores.
Reza o Artigo 19.º da Constituição Portuguesa que em qualquer situação se pode proceder a uma suspensão de direitos, liberdades e garantias, salvo em caso de sítio ou de estado de emergência, os quais só podem ser declarados, no todo ou em parte do território nacional, nos casos de agressão efectiva ou iminente por forças estrangeiras, de grave ameaça ou perturbação da ordem constitucional democrática ou de calamidade pública.
Essa mulher não leu isso nesse célebre dia, nem quem o sabia o invocou, para desde logo a apear de toda a sua arrogância.
Suspendeu os direitos cívicos por uma bagatela, chamada "Exames", e conduziu, posteriormente, por cumplicidade passiva, e omissão de fiscalização, colegas de uma classe profissional para a Morte, violando, do mesmo modo, como uma bagatela, o Artigo 5º da Declaração Universal dos Direitos do Homem: "Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes", e aproveito a citação, para ascender, ainda mais alto, ou proceder a uma análise mais profunda. Quando em cada um dos seus actos, se percebe o sadismo imanente, e não são delas as palavras, mas de outra figura vexatória de qualquer Estado Democrático, Augusto Santos Silva, que admitiu que se tiveram de fazer "Maldades" (!) à Função Pública, nós transgredimos, largamente, o espaço de diálogo democrático.
Com estas pessoas não há qualquer tipo de Diálogo: há, esperar, que assumam responsabilidades políticas, e se demitam, de livre vontade, ou forçá-las à demissão, por permanente exercício do Direito de Indignação.
Com o crescer da pressão, essa Classe Profissional, os Professores, é hoje a vanguarda de todo o descontentamente português de quem sistematicamente viola a Constituição e a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Tais governantes vivem à margem dos Princípios Fundamentais do Estado de Direito, e deveriam ter sido arredados dos seus cargos, há muito tempo.
A maturidade cívica é isso mesmo: passar das alíneas da discórdia, para a discórdia e identificação dos preceitos básicos da Coexistência Democrática.
Hoje, passámos das minúcias da Legislação para o campo da impossibilidade do exercício da Deontologia, e ascendemos à violação da Ética, para lhes retirarmos, por fim, toda a validade Moral do exercício das funções para as quais foram mandatados.
É isso que, dia 3 de Dezembro, está em debate, e no puro campo da acção.
A imoralidade é de tal ordem e a perversidade dos processos de uma tal amplitude que conseguiram transcender todas as divergências políticas, diferenças de pensamento e posicionamentos locais, e pôr em marcha as chamadas Camadas Inertes da Sociedade: hoje, a Tutela da Educação é um mero exemplo da desautorização sistemática do exercício de uma profissão, e um fulcro, perfeitamente identificado, da violação de todos os códigos de relação das hierarquias de uma Profissão. Não são um epifenómeno: são uma epígrafe de um estado de coisas, e, como que por puro acaso, uma biópsia, generalizável a todo um estado patológico do Tecido Social: a da falta de respeito absoluto por um Povo.
Caminhando mais fundo, e para aqueles que têm conhecimentos de Psicanálise, os minuciosos processos de coacção, constrangimento, ameaça e sobressalto que invadiram o nobre exercício da Função Docente são o extremo oposto dos valores que competem, ao Professor, ser transmissor. Assistimos a uma Tutela onde há uma promiscuidade obscena entre os azares de um percurso existencial mal digerido, e uma necessidade de punição, castigo e prazer sádicos, no observar de um semear profundo de dificuldades, em quotidianos que têm, de facto, e por inerência, de viver de paz, calma e nobreza suficientes, para que os possam transmitir às gerações vindouras.
Nós, Portugueses, em nada somos responsáveis pelo sofrimento da Menina Lurdes, criança, nem estamos dispostos a guerrilhas, psicanaliticamente assestadas, a frágeis alvos do nosso próprio Inconsciente: não queremos reviver, na Idade Adulta, os filmes de terror e castigo que uma figura de má catadura insiste em projectar-nos, diariamente. Se a Senhora Ministra da Educação é um conjunto de traumas e frustrações, deve dirigir-se JÁ ao Serviço Nacional de Saúde, para que se inicie uma terapêutica adequada. É isso que é correcto e justo, não criar 10 000 000 de réplicas da mesma doença, nem comprometer, com a sua impiedade, a formação de todos aqueles que, no Futuro, nos virão substituir.
Por tudo isto, hoje, dia 3 de Dezembro, é um dia importante: inaugura-se um dia após dia, sem tréguas, nem cessar, em que o Inconsciente dessa mulher, sem remorsos nem piedade, deve ser reconfrontada com todas as punições que sofreu na Infância. É a mais negativa das Pedagogias, a do Olho por Olho, Dente por Dente, mas é a única linguagem que ela parece entender: fazer-lhe recordar, manhã após manhã, dia após dia, noite após noite, as humilhações, os vexames, os baldes de água fria e as vassouradas nas costas, com que, em hipótese, essa fria Casa Pia a terá tratado.
É pena ser um pedagogo a assinar este texto, mas há momentos da nossa vida em que, ou matamos, ou... morremos.
Não me apetece, como disse o outro canalha... ser "trucidado".
E é por isso que vos desejo hoje uma Boa Greve, Professores e não-Professores, antes de tudo..., Portugueses, sim, PORTUGUESES!...


(Rigoroso Pentagrama, no "Arrebenta-SOL", no "A Sinistra Ministra", no "Democracia em Portugal", no "KLANDESTINO", e em "The Braganza Mothers")

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