terça-feira, 13 de abril de 2010

Contra Ratzinger, seguido de uma incurável genética nacional de Autos de Fé



Imagem do Kaos

Vamos começar por cima, e descer até à pocilga, o que, de acordo com Hermes Trimesgisto, é exatamente o mesmo.

Sou Europeu, Português, Maior, Adulto, Vacinado, Não-Ateu e Não-Cristão, ex-votante, para nunca mais, do Partido Socialista, e venho, ao abrigo dos valores do Iluminismo e da Liberdade de Expressão, arrasar duas detestáveis figuras da nossa contemporaneidade.

Joseph Ratzinger é um Alemão, o que já não augura coisa boa, para nós, que gostamos muito mais das brisas do Mar Latino.
Da Alemanha, vieram os três pretextos para os maiores holocaustos do séc. XX: Duas Guerras Mundiais, que quase iam irradicando, da Europa, a Humanidade e a Cultura, o flagelo de Marx, o flagelo das sequelas de Nietzsche e o horrível Mito da supremacia do Caucasiano.
Faltava-nos, ainda, esta cereja, chamada Ratzinger, que, à medida que se vai tornando evidente, foi, nada mais, nada menos, do que o cérebro negro e a eminência parda que esteve por detrás de todo o progressivo e irrecuperável divórcio entre a Igreja do pós-Guerra e a Humanidade.

Ratzinger está para a Igreja como Rasputine esteve para os dias finais do Czarismo: move os cordéis da sombra e é totalmente insensível às marionetes que os seus gestos fazem sucessivamente arder.
A Igreja apenas conheceu um Papa grandioso, enorme, generoso e vidente, na segunda metade do séc. XX, Chamou-se João XXIII, o Cardeal Roncalli e, infelizmente, durou pouco.
Não é do meu tempo, mas tenho, por ele, a mais sincera das reverências, e talvez houvesse conseguido o difícil milagre de me fazer Cristão, tivéssemos nós sido contemporâneos.
Compreendeu, pela emoção, e pelo pragmatismo, duas coisas que nos parecem imediatas, mas não o são: 1) que a Igreja é uma invenção do Homem; 2) Que a aparente incompatiblidade entre Crentes, Agnósticos e Ateus se resume afinal a arranjos linguísticos elementares. Para o Crente, Deus existe mesmo; para o Agnóstico, ou, melhor, para o Humanista, para tornar a base mais lata, Deus é aceite como uma necessidade humana da infinita miséria do macaco nu; para o Ateu, Deus é uma excrescência do percurso para a Razão, mas não mata, nem mói ninguém, e é compatível com o são convívio das sociedades.
Creio que o que acabei de escrever não justificaria quaisquer guerras religiosas, quaisquer perseguições, nem quaisquer fundamentalismos: como pregou o Profeta Jesus, nos seus espantosos Evangelhos, "Não chateies e também não serás chateado".

A seu modo, e muito à maneira grega, João XXIII compreendeu que o Homem estava no centro do processo, e, discretamente, colocou "Deus" e a Igreja ao serviço do Homem, o que faria o simultâneo contento de Crentes, Agnósticos e Ateus.
Morreu precocemente, e foi substituído pela "Marquesa" Montini, usualmente conhecido por Paulo VI, nascido em berços de seda, e totalmente alheio à Modernidade, convencido de que podia integrar a longa linhagem de aristocratas sumos-pontíficies, como era tradição italiana.
Caiu no erro, e já na sombra minava Ratzinger, de inverter os termos, e de tentar colocar a Igreja e o Homem ao serviço de Deus, sabendo já que "Deus" pouco tinha, nos conturbados Anos 60, de consensual.
Foi a época dos anátemas contra os divórcios, as derivas sexuais, e quem lhe deu o bem justo cheque-mate foi Peyreffite, uma "madame", escritora e diplomata parisiense, que lhe chapou na imprensa com o nome do amante, se não me engano, o filho varão de um industrial italiano. (A coisa vem toda contada em "Propos Secrets", e quem ainda souber francês neste miserável país, que o leia).
Acobardado, e caçado na sua varanda de S. Pedro, Paulo VI caiu no erro de o ameaçar de excomunhão, naquelas feiras do relógio a que a Basílica do Vaticano assiste todos os domingos.
Dizem os contemporâneos que nunca choveram tantos telefonemas em Paris, e Peyreffite subiu à glória, enquanto "Madame" Montini mergulhava nas trevas, dizendo que "os homossexuais deviam ser todos lançados aos ratos (!)"

Creio que o que queria era ser comido por um rato, mas morreu antes disso.

A conspiração da sombra continuou então, com a execução, à velha maneira renascentista e borghiana, do Cardeal Luciani, Patriarca de Veneza, que queria abandonar o Palácio Papal, e vir viver para um apartamento de Roma, com "jeans", e na boa linha de despojamento do Cristo.
Durou um punhado de dias, enquanto a Igreja saltava de escândalo em escândalo, assassinatos de Aldo Moro, enforcamento do Presidente do Banco Ambrosiano, colocação a nu das ligações entre a Mafia Episcopal e as Lojas Maçónicas viradas para o Crime, como a célebre P2.

Ratzinger, um cobarde, que tinha tido o pavor de que as sequelas de Maio de 68 destruíssem, de vez, o peso opressor da Igreja sobre os Povos, enveredou então pelo Fundamentalismo, aproveitando a boleia do que se estava a passar no Irão.
Como intelectual, sibarítico, inteligente e florentino, entendeu que a melhor maneira seria transformar a Fé numa Crendice, para anestesiar as bases, e evitar sobressaltos de cúpula: a sua genial invenção apareceu através de um rústico, ex-mineiro polaco, João Paulo II, que, ao longo do seu sinistro Pontificado, permitiu a propagação da Sida, pelo aconselhamento do não-uso do preservativo, em pleno auge da epidemia, esmagou as subtis conquistas da sociedade civil, e, definitivamente, incompatibilizou o livre pensamento com os chavões da Igreja.

Os grandes tempos do Culto tinham terminado, e começavam os miseráveis tempos da Crendice, com pastorinhas santas, balas perdidas, transformadas em milagres, uma chusma de merceeiros elevados à categoria de beatos, e sempre um severo "não" a tudo o que não fossem as aberrações comportamentais da castração do corpo humano, composto por todas as suas partes, exceto pelo... sexo.
A sua maior criação, para o meu gosto pessoal, foi a do preservativo de rendas (!), ao qual a Igreja, e creio que a Joana Vasconcelos também não, não se opunham...
Fosse Breton vivo, e esta ia diretamente para a "Antologia do Humor Negro".

O que Ratzinger fez com João Paulo II roça a imoralidade, a indignidade, a impiedade e o sadismo: sabendo da estrutura primária do Polaco, utilizou-o em todas as frentes, vendendo viagens, banha da cobra e sorrisos, enquanto inoculava nas multidões os mais perversos princípios contra-natura a que a Humanidade assistiu, em pleno séc. XX. Para o fim, fê-lo sofrer, enquanto corpo, oferecendo-nos horríveis imagens desumanas de um homem em sofrimento, às ordens da impiedade de uma sombra, sempre de nome Ratzinger.
Após vinte anos desta monstruosidade, como muito bem diz Laura "Bouche", não havia onde arrumar o carcinoma, tais eram as suas metástases, e o Conclave resolveu então empurrar a vérmina Ratzinger para o lugar onde menos poderia provocar estragos, paradoxalmente, a Cadeira de São Pedro.

Retomando a metáfora, era Rasputine que passava de Monge a Czar.

Vamos agora subir um patamar: muitas vezes, a História tem sido injusta nos seus processos: a Revolução Francesa deveria ter sido contra Luís XV, e não contra Luís XVI; o 25 de Abril deveria ter ocorrido contra Salazar, e não contra Caetano; a queda do Comunismo deveria ter ocorrido com Estaline e não com Gorbachov, "and so on".

Hoje, quando diversas vozes se erguem na Grã-Bretanha, para uma condenação do ser que se intitula "Bento XVI", mas continua a ser o homem Joseph Ratzinger, cabeça de todos os males que entretanto ocorreram dentro da Igreja, na estrutura social, e na destruição do nível emocional que deveria ligar os Cristãos à sua Fé, uma culpa com meio século de prolongamento e agonia, essas vozes britânicas estão, por uma das raras vezes da História, a exigir que a Culpa caia sobre o verdadeiro Culpado.

A personalização do Problema Ratzinger na Pessoa Ratzinger é dos momentos mais oportunos da nossa Contemporaneidade, já que se trata de caçar o rato no momento em que julgou atingir o instante mais alto da sua impunidade.
Nunca a Humanidade, desde os Bórgias, assistiu a este escândalo de se ver, ela própria, Humanidade, mais a Igreja, e "Deus", seja Isso o que for, ao serviço de um mortal, de ar maligno, fisionomia de cadastrado, com Lombroso o leria, e de seu nome Josef Ratzinger.
Nós precisamos de ar puro, e não podemos aceitar que nos venha visitar um réptil, com palavras de condenação sobre a vida sexual dos outros, os divórcios, a liberdade de nascer e morrer, o puritanismo da condenação do outro, quando encobriu um dos mais miseráveis crimes de que o Homem é capaz: a violência das pulsões sexuais da Besta Pénis sobre o frágil corpo das crianças, dizendo, ao mesmo tempo "que os pedófilos deviam ser todos afogados", não, alma negra, Ratzinger, nós, esse nível, de impiedade e hipocrisia, não permitimos, e esperamos que tenhas, já em Lisboa, o ensaio daquilo que te espera na tua visita (?) ao Reino Unido: condenação, rejeição e profundo mal-estar.
Pela minha parte, tudo farei para que tal suceda.

O final é um pouco mais abaixo: é por Igrejas como a de Ratzinger que assistimos a autos-de-fé.
O Sistema Judicial Português, inquinado por uma revolução que nunca sofreu, pelo menos, desde os tempos da Santa Inquisição, está-se a preparar para afrontar a Opinião Pública através de uma das mais escandalosas provocações a que teremos assistido: na véspera da constituição de uma Comissão Parlamentar, para chamar à pedra o cidadão José Sócrates, por presumíveis atos de Lesa-Estado, vai haver peões que, no Baixo Vouga -- lamento, mas não tem metro perto, logo, não sei onde fica, nem sequer se existe... -- vão destruir provas e testemunhos da nossa História presente.


Cidadãos, a iniciativa é vossa.

(Quarteto sinfónico "a la Brahms", no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")

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