sábado, 13 de novembro de 2010

O Cabrão de Boliqueime III





Imagem do Kaos


Há um velho adágio que diz que uma árvore oportunamente posta à frente impede que se veja a floresta.

Vou invertê-lo, para começar a minha intervenção: uma boa floresta, habilmente orquestrada, acabará por impedir que a árvore seja vista, e vamos já passar do alegórico ao literal.

Eu sei que muita gente anda empolgadíssima com a Greve Geral, à qual, obviamente vou aderir, "et pour cause", mas os problemas dos países não se resolvem com greves de um dia. Num dia, só há duas coisas que resolvem e reviravoltam cenários: atentados e atos eleitorais. Os atentados ficam para quem anda a pensar neles, e não são poucos, portanto, eu vou já direto para o vexame eleitoral.

Acontece que, nesta turbulenta farsa a que chamaram "Orçamento de Estado", onde os principais culpados da Bancarrota se quiserem apresentar como salvadores, com uma enorme plateia de comentadores, enfim... "comentador" é um eufemismo, porque todos eles eram, ou foram, quota parte do presente desastre. (Aquele da queixada, o Braga de Macedo, imperou debaixo de Cavaco, com deficits fantásticos, ao lado dos de Catroga e Manuela Ferreira Leite...) ah, mas não vamos por aí, porque eu quero dizer é que, em Democracia, a melhor maneira de culpar os culpados é espancá-los através do voto, e quando falei da profusão de florestas queria tão só dizer que a cortina de fumo se destinou simplesmente a ocultar a primeira meta, a única coisa na qual nos devemos centrar, a mira absoluta do cidadão português, que é o próximo ato eleitoral. Ora, o próximo ato eleitoral, envolvido em incensos, ópios e pratas douradas é o do sr. Aníbal, usualmente conhecido pelo "Cavaco", e repitam comigo "Cavaco", porque, aqui, estamos no domínio da escrita, mas, estivéssemos nós no domínio da oralidade e vocês perceberiam o tom abominavelmente depreciativo com que eu pronuncio essa abjeta palavra... Cavaco... CAVACO...

Dia 25 de Janeiro, o objetivo de todos os portugueses que pensam é impedir que essa criatura seja reeleita para Belém, e eu aqui já reentrei na ficção, porque, ser português, ou seja um lineu da cauda da europa, implica a tentação de votar na maior fraude da história nacional do pós-25 de abril, que é a invulnerabilidade, a seriedade e a incorruptibilidade do... "Cavaco" (façam um esforço, e tentem ouvir o tom de desprezo com que eu lhe escrevo o nome...)

O "Cavaco" teve, aquando da nossa entrada para o Espaço Europeu, a maior maré de fundos com que algum primeiro-ministro alguma vez se deparou. Era dinheiro que a Europa injetava, para sermos mais cultos, termos operários mais especializados, cérebros a investigar, desenvolvermos a agricultura medieval e a indústria incipiente, herdadas do miserável de Santa Comba Dão, e brilharmos nas pescas, onde éramos, de alguma forma eméritos.

Em poucos anos, esses dinheiros foram transformados em contas na Suíça, em Ferraris, em vivendas de patos bravos, em putas de sainha em forma de frufru, um valentins loureiros, em isaltinos de morais, em BPNs, em vascos graça mouras, e nos piores comissários europeus que já tivémos: gajos que deviam representar a Sícilia, e não a Nação Lusitana: Cardoso e Cunha, um cadastrado de luva branca, e João de Deus Pinheiro, uma besta de imbecilidade, que tinha feito uns favores académicos ao "Cavaco" (insisto para que prestem atenção ao tom de voz da minha escrita, quando escrevo "Cavaco"...)

Estávamos, então, no tempo em que a Europa se desmultiplicava em redes de comboios de alta velocidade, enquanto o "Cavaco" (ouviram?...) desmantelava as linhas férreas e punha, no seu lugar, estradas de morte, para aumentar a dependência portuguesa das importações de petróleo, e fazer com que Ferreira do Amaral, outro cadastrado de luva branca, economizasse nas camadas de desgaste, provocando os mortos e mutilados dos célebres IPs, das curvas de patinagem artística, e inclinações para a tumba.

A Agricultura foi vendida por 25 tostões, dos antigos; a Pesca transformada numa sucata de barcos abandonados, e a frota restante reconvertida em cargueiros de droga, para abastecer a "elite" urbana, das discotecas da Anamar, dos restaurantes sado-masoquistas do Manel do "Frágil", do "Papa-Açorda" e do "Lux" e de toda uma geração de drogados, que, subitamente invadiu as ruas. Leonor Beleza economizava em sangue contaminado com HIV, o analfabeto Coelho chegava a secretário de estado da educação, e Santana Lopes fazia inveja com os violinos de Chopin, dos quais nunca se livrou.

Nunca se roubou e desviou tanto dinheiro em Portugal, como nesse tempo, o tempo do.. "Cavaco".

Dias Loureiro, um cadastrado sem cadastro, foi, depois, a cereja em cima do bolo, e disparou, coisa que não sucedia desde o fim do Estado Novo, sobre a população. Foi nesse dia que o "Cavaco" (reparem, porque o tom de nojo e desprezo aumentou...) morreu.

Mário Soares, filho de outras matrizes, negociava noutros patamares, as comunicações, as redes mundiais e os negócios do seu prestígio internacional. Era um mafioso de luva branca, que gozou, à brava, com o saloio de boliqueime, como o gato joga com o rato, e esse foi talvez o seu contributo mais divertido, para a História de Portugal.

Cavaco nunca perdoou que o 25 de abril lhe tivesse interrompido a ascensão, de estudo maneirinhos, que dava o prestígio de ter "andado lá fora", coisa cujo valor vinha do tempo do Vacão de Santa Comba Dão, e era um sinal canónico do nosso provincianismo, do dele e do... "Cavaco". E como nunca perdoou ao 25 de abril, vingou-se, tornando a sua contemporaneidade e a dos filhos, o nosso tempo, num estrangulado beco sem saída.

"Cavaco" nunca passou de uma criatura que sonhava viver atrás de uma marquise, num beco da Capital. Nunca soube o que era uma grande avenida, e só fez uma coisa esteticamente válida, o Centro Cultural de Belém, não pela obra, mas pela quantidade de dinheiro que lá desapareceu, num sorvedouro que mereceria ser investigado.

Esta mesma criatura andou aos caixotes, enquanto Portugal se degradava, pela mão de Guterres, que sentiu que, depois de tal pilhagem, era preciso devolver aos cidadãos parte do dinheiro que durante dez anos lhes tinha sido sonegado, criando salários artificiais, que escondiam que nos tínhamos afastado ainda mais do centro da Europa do que quando tínhamos entrado. A corja que o rodeava, digna da do Cavaquistão, fez-lhe entrever um "pântano", cuja cereja era o "Casa Pia", e o homenzinho fugiu, porque ninguém, com um mínimo de decência, suporta armandos varas, sócrates, antónios vitorinos, jorges coelhos e paulos pedrosos.

Tudo isto foi História. Má história, e abismo económico, financeiro e cultural.

E foi então que o Cavaco regressou, depois de ter tornado Portugal num país importador, destruindo todo o tecido económico, desde a mineração à metalurgia e às indústrias de nata. Fechou a "Irmãos Stephens", cujo vidro de qualidade vinha do Marquês, e transformou a merda que era o nosso Teatro numa merda única, chamada La Feria, e que depois ainda se degradou mais, nos HBOs e nos "Vou a tua casa" e nas merdas de Cabrita Reis, entre tantas outras.

Só lhe devemos ter tratado o Saramago no baixo nível em que ambos, em pólos opostos, vegetavam.

Tudo isto nos afastou da Europa, do Mundo, e nos aproximou de... Boliqueime, aliás, Poço de Boliqueime, para não dizer, Fossa, ou Sarjeta, de Boliqueime, uma das epifanias da Cauda da Europa.

Acontece que esta  criatura, e os seus sequazes, está, presentemente, a aproveitar a Crise para gerir um sebastianismo da senilidade, próprio para viuvinhas, enfardadores de sandes de coirato, gajos com anéis de ouro nos dedos e dentes verdes, e parasitas de sacristias, que lhe garanta, de aqui a dois meses, uma presença bisada, em Belém.

Compete ao cidadão, que pensa, sabotar estas eleições, e transformá-las já num referendo do Regime, um ato coletivo de indignação, e torná-las num momento de confusão e estagnação tais que se não consiga eleger quem quer que seja, nem manequins dos anos 60 dos souks de Argel, nem consolos das enfermeirinhas de meia idade, nem manequins dos anos 50 da rua dos fanqueiros.

O objetivo imediato dos Portugueses, posto que a "Esquerda" não conseguiu encontrar uma alternativa a este desastre, é impedir, ou revestir do ridículo que merece, o penar do cadáver do "Cavaco" por Belém.

Portugal está completamente podre, e está nas nossas mãos escrevê-lo, em números, em votos brancos, e em disparos em todas direções, menos naquela para onde nos querem direcionar.

Não custa sonhar. Vai custar é acordar, nesse horrendo dia 25 de janeiro de 2011...

(Cesta coletiva, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Uma Aventura Sinistra", no "Klandestino", e no clássico "The Braganza Mothers")

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