sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Steve Jobs: da incompletude da Perfeição




Há um axioma da Estética que diz que é muito difícil criar algo de novo, a que se seguem diferentes declinações, em redor de "obra prima", que deve ser entendida como um epifenómeno marcante, paradigmático, e, pela sua própria semântica, inimitável.
Toda a História da Arte é construída em redor de obras primas que estiveram em silencioso diálogo com todas as que as antecederam. Essa infinita busca da perfeição, que Borges tão bem traduz numa frase, que é um epíteto, e adjetiva, por impossibilidade de definir, fala da "iminência de uma revelação".

Explicar isso a quem nunca o sentiu é um dos trabalhos de Hércules, mas a Humanidade é eternamente feita desses espantos, e anseia pela plenitude.

Steve Jobs está agora posicionado noutro dos lugares que a Arte define como "difícil", e, sentado ao lado de Hípias e Sócrates. Dir-se-ia que alcançou esse gigantesco país dos silenciosos sorrisos, o campo restrito que Wilde evocava, quando dizia ter gostos simples, por apenas gostar do melhor de tudo.
Para nós, forçados ao convívio do irrelevante, do impertinente e do Feio, imersos numa volatibilidade de não valores, de "Nòbeles" diariamente despejados pelas televisões, os suplementos impressos de coisas nenhumas, ou os infindáveis discursos apologéticos dos vendedores do Vazio, ou do lixo financiado pelos Ministérios da "Cultura", custa-nos crer que estas coisas miraculosas que saíram da mão de Jobs se tenham tornado no mais elevado patamar do Gosto, o do Desejo, sem nunca terem ido ao "Eixo do Mal", recebido o Nobel, ou passado do rosto discreto do "homem da rua", o oposto do miserável Mourinho.

Umas atrás de outras, na vertigem do querer, as obras primas da Apple criaram uma estranha dinâmica, na qual a anterior era, como nas palavras de Borges, a iminência da revelação da seguinte, moveram massas, fizeram correr mais depressa o sangue nas veias, provocaram insónias e vertigens, e desviaram o olhar dos homens da atração da Guerra.
Quando nos sentamos a pensar naquele prometido admirável mundo novo, e o povoássemos com o seu mobiliário próprio, vários objetos de Jobs aí seriam indispensáveis, e isso é tão evidente, que corresponde à maior glorificação possível, em vida.

Infelizmente, no início deste séc. XXI, o Mundo não presta, ou não serve, e, como Klee, outros dos únicos, preferiu morrer, antes de que o Mundo se afundasse no seu Segundo Holocausto.

Essa América, que Jobs tornou grande, e a quem tantos "jobs" ofereceu, tão longe da arte da guerra, para a criação de objetos de arte, obras de arte e obras primas da Tecnologia e do Sonho, essa mesma América está moribunda, no próprio dia em que ele morreu, e entrou, por oposição à Primavera Árabe, no Outono Americano, no qual muitos anteveem a antecâmara do Inverno Europeu.
Os céticos dizem que é apenas um ponto de vista, e esta precedência Outono/Inverno é apenas um tropismo do lado leste, ou oeste do mesmo oceano e um pouco da história do copo meio cheio, ou meio vazio.

Na sequência dos seus mais incompetentes presidentes, Obama -- e suponho que muitos dos que me estão a ler farão parte daquele número de logrados que viu, no mulato, o Messias -- é um digno sucessor de Bush, talvez ainda mais estúpido e alheado da realidade, e talvez ligeiramente melhor do que Reagan, já que, igual ou pior do que Reagan, só saindo da América, e percorrendo os seus arredores, prepara-se para viver a agonia dos seus últimos dias.~

Suponho que na sua vaidade, só igualável pela saloice de Cavaco Silva, Obama nem perceba o que lhe está a acontecer.

Há tempos, quando a Europa, catalética, e nas mãos de um ex maoista, de fedor português, lhe dava o Nobel da Paz, avisei para que Obama iria substituir o Sonho Americano pelo Sonho Mexicano, e estava profundamente enganado, já que Obama nem isso tinha para oferecer aos Americanos, mas apenas uma antecâmara do Caos, que é a pior vingança que os povos podem oferecer aos seus mais irrelevantes e perigosos dirigentes.

O braço de ferro é mortal: pela primeira vez, as sombras que governam na sombra foram desentocadas, e estão relativamente à vista. Como em "Matrix", começa a perceber-se que alguém esculpiu um enorme cenário tridimensional, mefistofélico, e nos antípodas das utopias de Steve Jobs: é a metáfora do Judeu Avaro, que prefere que a cidade se afunde, a ceder um, que seja, dos seus dobrões.

Curiosamente, quando o velho De Gaulle, pela primeira vez, insinuou que o petróleo poderia deixar de ser negociado em dólares e suportaria ser comprado numa divisa europeia, as Sombras da América inventaram, em Berkeley (1964), uma coisa, que imediatamente exportaram para o outro lado do Oceano, chamada Maio de 68, que foi objeto de onanismo de várias gerações, e mais não era do que um espantoso logro: a Europa, de pé, a aplaudir, como com a eleição do caneco Hussein Obama, um movimento que tinha, como única finalidade, deixá-la arrasada e de joelhos, depois do espantoso crescimento do pós Guerra, que apavorava a Grande Sião Americana. Esse movimento gerou milagres e... monstros, criminosos contra a Humanidade, como Ratzinger, entre outros, e uma enorme geração de oportunistas reciclados, que substituiu o Livrinho Vermelho de Mao Tse Tung pelo Ultraliberalismo, que agora nos conduziu ao abismo.


Suponho que em 25 anos de descarado crime público seja a primeira vez em que estou de acordo com o chefe da quadrilha: de facto, acabou o tempo das ilusões e é chegado o tempo de chamar os bois pelos nomes. Em Portugal, é elementar: basta ir à listagem dos membros dos Governos, desde que a Europa começou, em 1986, a investir em nós, para chegarmos ao Primeiro Mundo, ver onde começaram, e onde estão, que destino deram aos Fundos e que obra recebemos, como contrapartida. Em seguida, haverá como em Nuremberga, um Tribunal, que julgará a coisa, e tanto poderá ser em Boliqueime, como no Fundão, como em Vilar de Maçada. Por razões de preciosismo e precisão, eu voto em que as sessões plenárias se desenrolem no Tribunal de Boliqueime, vocês votem onde quiserem, já que essa é a essência da Democracia.

De um e do outro lado do Oceano, o Capitalismo, agonizante, começa a trazer multidões para as ruas. Haverá gente que já percebeu que a deslizante ruína de milhões tem, oculto na sombra, o vertiginoso enriquecimento de centenas. Muitas destas gentes querem saber quem são estas centenas, e justiçá-las. Estão no seu direito.
Em Maio de 68, respirava-se ideologia, e havia testas pensantes que alimentavam, com a sua gasolina intelectual, as alamedas de gentes, que enchiam as avenidas. Eram pessoas que estavam contra a Guerra, defendiam o hedonismo do Prazer pelo Prazer, e queriam vidas próprias, próximas do "selvagem" e do livre. Queimavam gravatas, e ansiavam por alucinogénios que lhes "lsdizassem" a Realidade.

Em 2011, a romaria tem infinitas diferenças: há gente super civilizada que percebe que está em risco de receber 500 € a vida toda, perante um impávido desfile de milhões de prémios, nas mãos de criminosos, de sociedades secretas e irmandades fechadas.
Isso pode ser o Capitalismo, ou o que lhe quiserem chamar.
Como guru, e tenho pergaminhos para me reclamar desse estatuto, só aplaudiria o colapso do Capitalismo se me dessem alguma coisa de substancialmente sólida e palpável, que o pudesse imediatamente substituir, não uma maré de gente que não quer ténis, mas ao contrário das gravatas e dos fatos que se queimavam em 68 está deserta, capaz de tudo, inclusivé de canibalismo, para poder ocupar esses postos pardos, de fato azul, gravata vermelha, mula emprenhadora e férias na neve, que outros ocupam vitaliciamente.
Nunca serei ideólogo desse retorno ao politicamente correto, pela simples razão de que sou demasiado Petrónio para suportar subprodutos da "Casa dos Segredos", onde a Teresa Guilherme anseia pela ralé que a irá montar, odeio discotecas, e adoro colecionar gravatas demasiado caras, só pelo prazer de nunca as usar. Portanto, só com assinamento de termo de sexo livre, plural, e de uma sociedade aristocratizada, assente no ócio, e nunca no trabalho, nem no lucro, apoiarei qualquer maré de renovação.

Talvez vos espante, mas defendo uma sociedade de senhores e escravos, onde eu possa estar numa esplanada de mármore, a beber ambrósia, e a contemplar todos os ocasos, enquanto canalha, feita de zeinais bavas, proenças de carvalho, carrapatosos, almeindos, varas, constâncios, cavacos, sócrates, barrosos, pilars del rio, júdices e quejandos estivesse, com grilhões nos tornozelos, a servir a mesa de todos os meus caprichos. Leonor Beleza seria a provadora dos meus jantares, para ter a certeza de que me não envenenariam, e eu todos os dias, os meus "unknown days", desejaria que me quisessem envenenar.

Começámos com a Utopia de Steve Jobs, e acabámos no limiar da escória que vê o solzinho dançar, lê Saramago, coleciona as crónicas de Clara Ferreira Alves, e não percebe que o lixo do Berardo devia ser deitado fora, para deixar salas vazias, com algumas perfeições da Apple, isoladas, no meio, em suportes de veludo negro, e monitores cromáticos a cintilarem todos os sonhos do Mundo. Entre as duas coisas, vai haver gente pelas ruas, muita gente, gente que chamará os carrascos da nossa felicidade pelos nomes, que abaterá, como em Bagdad, as estátuas de Reagan, como caíram as de Hussein; que queimará bandeiras de Poço de Boliqueime, como a bandeira verde do assassino Kadafi; que reenviará para o Quénia a maior fraude da segunda década do terceiro milénio; alamedas de gente, que descendo avenidas em todos os pontos do Mundo dirá que quer as cabeças dos verdadeiros culpados, e que, com lanternas de nevoeiro, os irá buscar, ao mais fundo das suas cavernas, para os obrigar a desfilar, nus, no grande levantamento de 15 de outubro.

Steve Jobs e eu, e tantos outros, que ainda acreditam na infinita beleza da Utopia, lá estaremos, para silenciosamente aplaudir, com enigmático sorriso, a queima dos falsos ídolos.

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