terça-feira, 10 de junho de 2014

Cavaco Silva, ou a indigna "reação vagal" em que Portugal se decompôs, após uns meros e ininterruptos, cousa pouca, 900 anos de História




Para quem frequente bruxas, como eu, que sou usuário semanal de videntes, solzinhos que dançam e deitadoras de búzios, toda a gente sabe que, quando os sinais surgem, não são para ignorar. Há uma semana, se bem me lembro, por que tenho memória cada vez mais curta para as anomalias do Regime, Passos Coelho, uma das mentes brilhantes do nosso séc. XXI, reclamou sobre o Tribunal Constitucional, dizendo que os juízes do mesmo deviam ser "mais bem escolhidos", e acho que tem toda a razão, já que sendo a sua escolha por proposta política, indica, por polissilogismo, que os políticos que os escolhem também deviam ser "mais bem escolhidos", e que, como os políticos são escolhidos pelos partidos, os partidos igualmente deviam ser "mais bem escolhidos", e os cidadãos que neles votam, com acrescidas razões ainda fruto de uma muito melhor escolha, e aqui vamos direitos ao assunto, já que todas as hierarquias eleitas das sociedades democráticas são fruto, mais ou menos direto, da iliteracia que as elege.

Eu sei que isto é chato de se ouvir, e até vou revelar onde está a falácia, que é relativamente elementar, e reside naquele hiato em que os que votam "com o coração" em certos partidos -- e têm todo o direito cívico de o fazer -- muitas vezes se esquecem de que estão a passar carta branca para que os partidos em que votaram depois lá enfiem quem muito bem lhes apeteça, e isso é mato, matagal, floresta, o rosto mesmo da corrupção e decadência em que hoje estamos completamente imersos. Todavia, há 10 anos que digo que deveríamos ter cuidado em quem pomos como Chefe do Estado, já que não podemos incorrer no risco de terem mais "ataques" em ocasiões públicas.

Por que há um tempo para envergonhar, e um tempo para resignar.

Quanto aos juízes, há duas qualidades de juízes: os que vêm do tempo da Santa Inquisição, e nunca foram substituídos, ou seja, sobreviveram, incólumes, a todas as revoluções políticas, e os outros, que, afetados pelos solavancos políticos tiveram a sorte de ser substituídos por outros, piores do que os anteriores. O Tribunal da Relação, também conhecido pelo "Tribunal da Prescrição", é exemplo disso, embora eu, iliterato judicial, desconheça se pelas causas primeiras se pelas segundas, o que aqui é irrelevante, já que converteram a Justiça inteira num Gato de Schrödinger, e só mesmo esventrando o juiz se perceberia se era dos "antigos", se daqueles nomeados pelas seitas modernas... Para os apreciadores, há os nichos de espécie, com pequenos ecossistemas associados, como os célebres desembargadores jubilados, que, mesmo depois dos 80 e 90 anos conseguiam decidir, no primeiro Cavaquismo, se as expropriações do IP4 valiam, para os estranhos 1€/m2, e para os "amigos" 1000 vezes mais.


A minha questão é que o Tribunal Constitucional é coisa pouca, já que a sua única função é apenas defender a Constituição, um papel, ora, em período de crise é injustificável que se andem a pagar salários milionários para um bando de Chancerelles de Machete andarem a defender um mero... papel. Para isso, arranjava-se uma solução mais barata, enchendo aquilo de Relvas, Galambas, Pintos da Costa, Joanas Vascocelos e Inêzes, Pedrosas ou de Medeiros, consoante o gosto e o timbre. Acontece que acima, ou, pelo menos, ao lado, está o Supremo Magistrado da Nação, que hoje, depois de um "reação vagal", distribuiu caricas por tudo o que era a Brigada do Reumático, desde a Romana, a Ágata, a Teresa Guilherme, o Tony Carreira (está mal, coitado...), a Fanny, da "Casa dos Segredos" e a Betty Grafstein (está quase ligada às máquinas...) Até o Eduardo Lourenço apareceu, mas num estado de quem já nem percebia o que estava a fazer ali.

Contando comigo, fomos dois: eu e ele.

Todavia, realmente preocupante, foi a "reação vagal" do Vacão de Boliqueime. Há por aí um vídeo extraordinário, da "SIC-Notícias", (afinal é este, e é da "TVI"), em que se percebe que a criatura, cheia de comprimidos, para se manter de pé, quando começou a deixar de se poder manter em pé, e foi amparada por uma multidão se carcaças, nem sequer percebeu que já não estava ali, e que estava num estado que não era estado para estar onde quer que fosse, muito menos para estar a vexar um Estado chamado Portugal, no seu Dia Nacional. 

Como não há miséria que não atraia miséria, depois de arrastarem o cadáver adiado para detrás de um tapume, veio o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas reclamar que se respeitasse Portugal e as suas Forças Armadas, ora, a questão está posta ao contrário, posto que um país que decaiu ao ponto de estar mundialmente a ser representado pela Caricatura de Boliqueime, ainda por cima, Comandante Supremo das Forças Armadas, necessita urgentemente que essas mesmas Forças Armadas o ajudem a recuperar a credibilidade mundial, aconselhando o cidadão, visivelmente debilitado, a que se retire, enquanto estamos no tempo de manter a dignidade. Na verdade, Cavaco Silva está muito próximo do estado em que estava o Salazar, depois de cair da cadeirinha, só que nós ainda não percebemos, ou não queremos perceber isso.

Não são os cidadãos que estão a desrespeitar a República, é Cavaco Silva que a está continuadamente a vexar, com o beneplácito das Forças Armadas, que juraram defender a Constituição, que, como corre por aí em anedota, já deu origem ao "Violador de Massamá", de tantas as vezes que Passos Coelho a violou. Um Governo que todos os anos viola a Constituição não é um Governo, é uma associação de malfeitores, que decidiu, com o beneplácito do Doente de Boilqueime, trair a Pátria.

Miterrand escondeu, durante dois mandatos, que tinha um cancro na próstata, coisa irrelevante, por que a próstata não comanda países nem exércitos: grave é quando a próstata se chama degenerescência neurológica, e arrasta um país para o abismo, durante décadas e, mesmo assim, não descola. Creio que a tal "reação vagal" -- mas isto sou eu, um otimista, a pensar alto -- não tenha sido mais do que um sobressalto da consciência, daquelas visões que se têm na hora da morte, e Aníbal de Boliqueime tenha finalmente olhado para trás, e visto o enorme e vago vazio que foi a sua presença na História de Portugal. Ao contrário de Pascal, a quem o silêncio eterno daqueles espaços infinitos apavorou, talvez também Cavaco tenha entrevisto com que letras vergonhosas irá ficar manchado para a Eternidade.

Para que não seja tudo miséria, os parabéns para o criminoso António Borges, que também foi "caricado" postumamente, pelos serviços prestados, contra Afonso Henriques, à apátrida Goldman Sachs. Por fim, gostaria de celebrar Camões, e aqui fica uma única palavra para a grandeza, no meio dos dejetos atrás percorridos. Creio que, para além disso, também hoje aprendemos mais qualquer coisa, e que inverte o que nos ensinaram sobre repúblicas e monarquias. As últimas tinham a má fama de serem lá postas e ficarem para sempre; as segundas, de poderem saltar a qualquer momento. Como somos um país de aberrações, aquilo a que hoje mais uma vez assistimos é a prova provada do contrário: os reis começaram a perceber quando era chegada a sua hora de sair com dignidade; as lapas, depois de arruinarem uma nação, continuam a achar que têm direito a um prolongamento, sim, e têm, no país da Marisa, da Joana Vasconcelos e do Cristiano Ronaldo.

É a seleção da nossa seleção e é justo que perca até ao fim.


(Quarteto do inconseguimento vagal, sem classificação possível, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers") 


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