segunda-feira, 4 de maio de 2009

Diálogos das Prostitutas (depois de uma leitura de Aretino)

Imagem do KAOS
Este texto é dedicado à Hurtiga, que acha que eu tenho escrito pouco, e tenho, mas quem é que tem vontade de escrever num país onde tudo se arquiva e há uma população inerte, a achar normal que os familiares dos mortos de Entre-os-Rios paguem as custas de um sistema que indemniza Paulo Pedroso?...
Não, o tema desta noite não é Vital Moreira: hoje, estou muitíssimo mais preocupado com aquela varanda que caiu no Bairro de Campinas, e provocou alguns feridos, graças a deus, já fora de perigo.
A queda das varandas, em Portugal, é um risco iminente: quando eu vi aquelas imagens, de um pardieiro completamente degradado... parecia os muros da Serra de Sintra, tudo cheio de líquenes e musgos, e, por baixo, uma ligeiríssima camada de betão, para fingir que aquilo ainda pertencia ao setor da Construção Civil.
Não pertencia: antes era uma prova da arqueologia viva deste país, e mais uns anos, e seria declarada património da humanidade, sobretudo, se acabasse despovoada, com o extermínio dos moradores, por sucessivas quedas de varandas.
A queda de uma varanda, do ponto de vista científico é uma coisa complexa, já que a varanda é estruturalmente dimensionada para aguentar com uma determinada carga, geralmente, acima da carga máxima que usualmente lhe passa em cima. Não era o caso, e eu passo a explicar: a Portuguesa típica, quando chega à fase da Vénus de Willendorf, já só consegue enfiar cuecas de elefante, e, mesmo assim, fica com grande parte das pregas de banha de fora do cinto cor de rosa. comprado nos ciganos, com desconto, porque são os vizinhos do lado. Com o aumento do Desemprego, a coisa agrava-se, porque a tronchuda passa as manhãs à porta da Segurança Social, a ver se aparece um posto de trabalho de acordo com a sua baixíssima qualificação académica. Para se pôr de pé a horas, entra no regime da bica, e vai de bica em bica, e bolo em bolo, até que a noite caia e o crepúsculo da obesidade lhe caia mais 300 g/dia em cima.
Antropologicamente, a gorda das varandas dos bairros sociais tem, ao seu lado, um bisonte à maneira, o chamado homem sem neurónios, que Robert Musil gostaria de ter conhecido, e bastava ter vindo a Portugal.
O homem sem neurónios é um subproduto de ginásio de subúrbio, onde acha que, enchendo-se de anabolisantes, e levantando halteres, está a rodear de músculos a picha pequena. O problema, todavia, é que a pequena picha é a glândula pineal, e gere todo o seu cérebro, desde o insulto ao árbitro, ao carro transformado e ao Tony Carreira, com variantes que se encostam à Extrema Direita quando lhe dá para achar que o preto de cima tem um chouriço maior do que o dele, e até tem.
O bisonte de subúrbio costuma confundir sexo com esfregar-se nas tetas da farinheira fêmea do prédio do lado: são bairros conhecidos por se casar sempre em casa, e ela aparecer subitamente prenha de uma ejaculação precoce, daquelas noites quentes de S. João, como a de hoje. Depois, já com uma criança, ligeiramente retardada mental, aos berros tardes inteiras, a apanhar estaladas, e a ter os primeiros contactos com a Língua Portuguesa através daqueles palavrões que o Vital Moreira vai conhecer de cor, quando acabar o seu calvário das Europeias, o machão de tora curta costuma pôr-se na varanda da escada de serviço, a mostrar aos vizinhos que tem uma Willendorf em casa, como muita gente gosta de pôr os Jarrões Ming, ou os Arraiolos, a descorar ao sol da janela. Ora, a varanda, velha, cheia de líquenes e musgo, desvitalizada, não está preparada para a esfrega de dois mastodontes, como vem em qualquer manual de cozinha. Agrava-se ainda que a gorda tem sempre uma amiga, gulosa e ainda descomprometida, que passa todo o tempo, de mão na anca, a assistir às bestialidades eróticas da parelha humana, a dar palpites, a salivar e a soltar bitaites, até que chega o amigo do troncha, também segurança no Centro Comercial da zona, e se junta À manada.
Ora, 2 + 2 fazem quatro, o que significa quase uma tonelada apoiada em 8 pés, a esforçar a varanda decadente.
Parece que já tinha caído uma vez, e o senhorio (?) -- geralmente a "Câmbra" -- tinha mandado pôr uns ferros (?) para aguentar aquilo mais uns tempos,
Nós tentámos o mesmo, em 1640, mas, em 2009, a varanda voltou a dessabar, parece que por excesso de diálogo e de debruçagem sobre o parapeito, para trocar palavras grosseiras com as crias, cá em baixo, verdadeiro, clones, de 2 500 € o emprenhanço, pagos pelo bolso do Contribuinte para que o Português Reles, a raça típica da Lusitânia, não se extinga.
Foi horrível: sorte foi que não se agravasse com a passagem de Vital Moreira, mascarado de virgem... ah, sim, agora, vou fazer um pequeno parêntesis, para dizer que eu gosto muito de Vital Moreira, porque acho-o com uma excelente pontaria política, e só me faz lembrar quando o segurança do Bairro de Campinas, às escuras, julga que está a cavalgar a sua boca da servidão, mas na realidade, está a tentar esforçar-lhe o umbigo com a glande mal cheirosa.
Vital Moreira saiu do PCP a más horas, e entrou para o PS, quando isso já não interessava ao menino jesus. O seu próximo passo será a proximidade com o Cherne, e acabará a aconselhar padres, como fez a Rita Seabra.
Eu gosto muito de gente que anda a saltitar de partido em partido, porque isso mostra que têm convicções, aliás, uma só convicção, a de que a Política é uma escada fácil para satisfazer vaidades pessoais, e os exemplos multiplicam-se, todos eles ao nível do vómito: Maria Elisa Domingues, aquela cara de égua, a Laurinda Alves, que quer agora fazer descer a Política, do nível dos suplementos do "Expresso", ao da revista "Maria"; Zita Seabra, Pacheco Pereira, e mais uns quantos de que não me lembro, mas vocês preenchem os espacinhos em branco, tá bem?..., para este texto ser mais interativo.
O que aconteceu a Vital Moreira, e a culpa "ser dos comunistas" é uma coisa velha de Salazar. Não sou comunista, mas que grande satisfação que eu senti por os Portugueses finalmente recomeçarem a ter reações de gente, e a tratarem como merece esta Corja, que, pelas ruas, se passeia impunemente. Objetivamente, a coisa vai agravar-se mais, e, como antevejo, terá o seu ponto mais alto na campanha de Paulo Pedroso, em Almada, onde cairão várias varandas, em cima do cortejo, com sérios riscos que se passe dos feridos graves aos feridos para sempre, mas esse espetáculo é das coisas pelas quais mais anseio, e lá chegaremos, no devido tempo.
No fundo, como sou um romântico, até gostava de que a coisa terminasse bem: o segurança seria baleado à porta de uma discoteca, pelos gangs da noite, de Pinto da Costa, e a viúva, com 26 anos de cronologia, mas estragos de varizes, celulite e epiderme, ao nível daquela velha que ainda viu o solzinho a dançar "rap", na Cova da Iria, e hoje fez cento e tal anos... a viúva, dizia eu, apanhava o Vital Moreira na rua, levava-o para a escada de serviço, e punha-se, toda encostada ao parapeito, a dar-lhe daqueles linguados de bairro social, onde o hálito do alho se mistura com o das torradas da carcaça de três dias. Vital Moreira conquistaria assim mais votos, e quem sabe se a varanda, ao cair pela terceira vez, não coincidisse, com a passagem, em baixo, de alguma visita de estado a um contentor-escola, de Valter Lemos.
Isso, sim, é que seria a sorte grande, ajuntada às terminações e à raspadinha...


(Pentagrama do água-vai, no "Arrebenta-SOL", no "A Sinistra Ministra", no "Democracia em Portugal", no "KLANDESTINO", e em "The Braganza Mothers")

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