quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Aníbal Cavaco Silva, Grande Timoneiro da Wainfleet, Pavilhão da Mafia Russa, em Portugal







Já me zanguei e reconciliei com muita coisa, neste desastre adiado, a que ainda chamamos Portugal. Contudo, há uma com a qual, irredutivelmente, nunca me reconciliarei, aliás, considero-a uma excrescência da minha contemporaneidade, e em todos os textos que escreva, ela será referenciada como o grande tumor da liberdade nacional. Evidentemente, não falo de Sócrates, mas da sombra, que, in extremis, me poderia fazer reconciliar com a pessoa que mais tenho combatido, ao longo do consulado desse mesmo José Sócrates.

José Sócrates é aquilo que os Franceses chamam um "parvenu", um novo rico, recém chegado, com poucas habilitações e umas sapatilhas, que o calçavam, e calçam, da cabeça aos pés.
Aníbal, ao contrário, é uma espécie de irmã badalhoca daquelas Cinderelas dos contos, que tentou calçar as botas de Salazar, e, quando as quis tirar, já se lhe tinham soldado aos pés.
A criatura é muito baixa, e até já parecia desativada pela doença, mas o ímpeto da campanha, a promiscuidade com os caixões, as velhas com cheiro a bolor, os crucifixos rançosos, os velhos camaradas do baixo crime, os ares frios de Viseu, as santarias, os comprimidos do Professor Lobo Antunes, e, penso, alguma iluminação de faróis extintos, que vêem nele o último fôlego e oportunidade de se instalarem na prateleira dos abutres da Nação, deram-lhe algo parecido com as melhoras da morte.

Naquele país de que eu não gosto, e que, em ficção, o poderia reeleger, para destruir o pouco que resta, e lhe deixar nas mãos o título efetivo, que, em potência já tem, o de Carrasco de Portugal, andam a movimentar-se demasiadas forças subterrâneas, para o meu gosto.
O homem é sinistro, e está a voltar aos ardores de antigamente, quando não se enganava e mandava disparar sobre os Portugueses. Não posso vê-lo, e sempre que o vejo, tenho vontade de vomitar. Aníbal Cavaco Silva representa os antípodas de tudo aquilo em que acreditei, acredito, e acreditarei. A sua existência é-me totalmente irrelevante, porque, de aqui a cem anos, ele será uma mancha na História, e os meus textos, modéstia à parte, integrarão a crónica da lucidez, de quem chamou os bois pelos nomes, e traçou os rostos da desgraça da Nação, com ele à cabeça.

Não sou inovador, nem tenho pretensões: o desastre do final da Monarquia, e o desastre da Primeira República tiveram suficientes escritores de craveira, para denunciar excrescências do tecido político muito semelhantes a Cavaco. A diferença é que, antes de Salazar, a crítica da Coisa Política tinha um cheiro, e depois de Salazar, qualquer ente que a ele se queira comparar, é hiperbolizado pelo vómito, e pelo anacronismo de uma tentativa de vogar num tempo em que é, e terá de ser,  irremediavelmente obsoleto.

Quando o algarvio -- e a precisão geográfica é aqui propositadamente ofensiva -- recomenda aos outros que "nasçam duas vezes", para lhe poderem chegar aos calcanhares, eu aceito o desafio, e alinho numa reincarnação conjunta com ele, mas para poder voltar a escrever o mesmo, e com o duplo tom de acidez, de desprezo, e de rejeição que ele me inspira.

Suponho que nem Deus, ao banir Lúcifer, tenha sentido tudo aquilo que eu eu sinto, de asco, por Cavaco Silva.

O grande argumento, que geralmente se cola a Salazar, é o de que foi um "homem honesto", e isso é-me desinteressante, porque Salazar não integra a minha história pessoal, mas, ao pensar na minha história coletiva, reservo-me o direito de dizer que é complicado que haja um país onde um homem honesto, por plenos poderes, tenha conseguido transformar um simpático litoral no país mais atrasado do Continente.
Para mim, sonhador e romântico, cri que isso pudesse ter acontecido uma vez, e servido, de emenda, para sempre.
Não serviu: o ranço, o cheiro a bafio, as teias de aranha mentais, intelectuais, culturais e a visão limitada do Sr. Aníbal e da Srª. Maria são tanto mais incomportáveis quanto estamos no século dos desvarios tecnológicos e das maiores proezas da imaginação humana. Gosto das torres do Dubai, das arquiteturas orgânicas da Nova China, dos computadores quânticos, dos espantosos aviões paquetes, das magníficas fibras dos novos vestuários, da glória das potências emergentes, das casas inteligentes, onde os cidadãos do mundo instalarão as suas proles educadas. Portanto, não suporto que, sempre que abra as janelas à procura de coisas dessas no meu território de residência, o veja, por oposição, pejado de presépios, com vaquinhas em forma de Leonor Beleza, com santinhas de joelhos esfolados por sucessivas idas e vindas a Fátima, por urubus, vestidos de negro, de cujas cabeças saem pensamentos que nem aos inquisidores canónicos lembrariam, e, sobretudo, não suporto que o velho argumento do "homem honesto" me ponha a pagar BPNs e porcarias afins. Só num país destes é que o BPN ainda não foi imediatamente declarado falido, encerrado, e as criaturas que o criaram e dele viveram, no regime de dona branca, não tenham sido desde logo enjauladas, ao lado do seu mentor, esse tal de Sr. Aníbal.

O Sr. Aníbal não tem perfil para coisa nenhuma, exceto para vender em cobertores de feira, como fazia o seu defunto pai, que dizia "o meu filho é o homem mais inteligente de Portugal". Do Portugal dele, suponho, que, pelo que atrás escrevi, era, e é,  totalmente disjunto do Portugal abstrato em que vivo, ou gostaria de que me deixassem, pelo menos por uns tempos, viver.

O Sr. Aníbal era bom para deixar o Palácio de Belém, e ir dirigir, agora que o BPN já "não está a dar", com o Dias Loureiro e a Leonor Beleza, a Wainfleet, a maior empresa exportadora de "Portugal", pilar da Mafia Russa, e que muito deve ter contribuído para este artificial aumento das exportações, 25% das quais passa pelo célebre "off-shore" da Madeira, onde não se vende nada, exceto papéis, onde os produtos em trânsito são artificialmente encarecidos, e a pior escória de Portugal enche os bolsos, à sombra do Sr. Alberto, outro "homem honesto", que nem sabe (?) que isto lhe acontece debaixo do nariz. Podiam fazer-me essa favor: de facto, em 23 de janeiro, não reelegiam Cavaco Silva, para acabar em agonia, na Presidência da República, mas nomeavam-no para a direção da Wainfleet, com a sua Maria, tão importante neste bolor das coisas, como padroeira da "Swatch", outra das maravilhosas grandes exportadoras de Portugal, que tanto faz passar e sair por aqui, sem nada cá produzir, e até podiam continuar a fabricar Mourinhos, como sobremesas.

Só peço desculpa, por este texto, aos 1800 postos de trabalho, que, na Madeira se dedicam ao preenchimento de papéis fantasma, para defraudar o Fisco: alegrem-se, Cavaco Silva será um bom patrão para vocês.

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