sexta-feira, 11 de março de 2011

O mais curto mandato de Cavaco Silva





Imagem do KAOS


Como dizem os provérbios, há sempre um tempo para as vinganças, que, quando vêm, melhor se servem em pratos frios.
Entre os tumultos e as inseguranças internacionais, nada se assemelha hoje mais a uma tempestade do que o mês de Março, em Portugal.
É bem feito: custou, mas foi. É o tempo justo, com os protagonistas certos nas posições corretas. Para os atiradores furtivos e para os atiradores diretos é o tempo do alvo e da mudança.

Dia 9 de Março, um dia funesto para a Nação Portuguesa, assistimos a um fenómeno que nos é particularmente próprio, o do lixo, em vez de cair para baixo, cair para cima, neste caso, para a mais alta magistratura do Estado, a Presidência da República.
Investido na sua segunda (in)dignidade, dizem que o discurso do Sr. Aníbal, de Boliqueime, foi uma vergonha. Não o vi, nem ouvi, pelo que estou perfeitamente à vontade para o comentar.

Concluído o Ciclo do Império, em que a Múmia de Santa Comba Dão deixou as colónias por explorar, e em que éramos senhores de algumas das maiores riquezas à face da Terra, deixadas escapar, para depois serem devastadas por caciques locais e predadores mundiais, ficámos perante o ciclo da última esperança, que era a de um retorno ao destino europeu.
A coisa era, então, elementar: havia um núcleo de países ricos, e desenvolvidos, que reunidos pelos critérios da manutenção da paz e da cooperação económica, iam adotando, um a um, os seus irmãos mais pobres. Portugal, recém saído da sua bruma de autoritarismo, a mais longa do Velho Continente, viu-lhe estendida a mão do Continente, nos idos de 1985. As condições não eram desagradáveis, e até tinham a melancolia da simpatia e a esperança da juventude: anualmente, em projetos conjuntos, reorganizava-se e modernizavam-se a Agricultura, as Pescas e a Economia, apostava-se fortemente na Educação e na afinação da classificação profissional, erradicava-se o analfabetismo, as batrracas e as manchas de pobreza, desapareciam as fronteiras, e passávamos todos a ser cidadãos de um espaço comum, de direitos, deveres, qualidades e distinções.

O que Portugal, ou, mais precisamente, quem governava Portugal, fez foi desbaratar esta derradeira oportunidade de modernidade e abundância. A Agricultura foi substituída por papéis fraudulentos, onde se inventavam tratores e sementeiras que nunca aconteceram, as árvores endógenas deitadas abaixo, para plantar eucaliptos, que forneciam, em monocultura, fonte de celulose para os ávidos importadores, e, se é certo que não chegámos aos extremos italianos de pôr árvores de plástico, que enganavam as fiscalizações apressadas das entidades europeias, multiplicámos esquemas cuja história, a ser um dia feita, revelaria o país infame, em toda a sua pequenez.

A rede ferroviária, espinha dorsal, desde a revolução industrial, de qualquer estado, foi desmantelada, e as suas alternativas transformadas em estradas e autoestradas desenhadas por amadores, que poupavam na camada de desgaste do pavimento, e faziam os percursos em ziguezague, de modo a coincidirem com os terrenos onde mais se pudesse sacar nas expropriações, ditadas por supremos juízes jubilados, ou mumificados, do regime deposto. O resultado foram pistas da morte, rios de dinheiro esbanjados, e anomalias viárias, que tornaram Portugal um potencial emissor do CO2 da gasolina e do petróleo, que não produzia, mas cada vez mais importava.

Os dinheiros da formação profissional, que incluíam pagamentos a formadores e formandos foram ficando pelas mãos das escolas fantasmas, ligadas aos tubarões da nova situação e a sindicalistas de caráter dúbio, que depois se casaram com badalhocas de Cascais, e desapareceram do mapa. O resultado foi mais uma multidão de analfabetos funcionais, rodeados de novas contas na Suíça, e por onde calhava.

Fundos para a edição de livros desapareceram em raízes de eucaliptos, muito deles mandados plantar por ministros sinistros, que tutelavam o Ambiente (!), ou faziam anedotas sobre hemodialisados, quando não poupavam em lotes de sangue infetados com HIV.

Os bancos, petrificados pelos excessos da Revolução, foram sendo vendidos a velhos donos, que, após indemnizações, imediatamente os vendiam a España, recebendo duas e três vezes pelo mesmo, ao colocá-los nas mãos do exterior.

O pato bravismo, que era uma receita do sou ignorante, mas quero, posso e mando, assaltou o poder, e os poucos lugares deixados vagos por um regime decapitado na rua foram ocupados por gente duvidosa, de baixa formação académica, baixa moral, péssimo civismo e desmesurada ambição, enfim, pura avidez no campo do desviar capitais.

O dinheiro abundava, podendo governar-se com três orçamentos, o do Estado, o das privatizações e o dos Fundos Estruturais.

Esta brincadeira durou dez anos, com gente a especular na Bolsa, através da posse de envelopes com informação cifrada, que anunciavam que ações iriam subir, ou cair, no dia seguinte. Fizeram-se fortunas miraculosas, ao ponto de a Bolsa ter de ser fechada, e o sistema desacreditado.

Havia gestores encarregados de fazer falir empresas, e colocar na rua operárias que se prostituíssem. Nas esquinas das pastelarias, abria um novo banco, sentava-se um novo drogado, e dormia um novo pedinte, e os industriais do Norte vinham buscar ruis pedros, para a sodomia, e a coprofilia.

O circuito da droga instalou-se, e o "jet-set" deste "bas-fonds" gastava, numa noite, o salário de multidões imensas, com o desprezo que a gentalha que subia pelas escadas fáceis nutria pelos menos espertos, que não sabiam como a coisa se fazia.

Multiplicaram-se cargos e assessores, de joelhos e na horizontal. As 100 famílias que governavam Portugal foram substituídas por 300, mais próximas das famílias da Mafia do que da Genealogia e do Apelido.

Era o "Pugrèsso", e estávamos no pelotão da frente da Europa, mano a mano com a Grécia, uma gente horrível, sem história, que se atrevia a desafiar-nos.

Quando a coisa começou a ser suspeita, resolvemos acelerar o processo, e desmantelar a frota pesqueira, cobrir os terrenos agrícolas de urbanizações de "luxo", onde se branqueavam os capitais da coca e da heroína, vender os têxteis, fechar os estaleiros, e passar, com esse dinheiro, a importar, de gente que dava comissões a alguns, à custa da destruição do trabalho de muitos, e da ruína de todos.

Dez anos passados, estávamos num pântano, e instalou-se a cultura do salve-se quem puder.

O "pügrèsso" de Portugal tinha sido falhar todas as metas para as quais a Europa tinha andado a injetar dinheiro.

Ah, esqueci-me de dizer o nome do homem que presidia a isto tudo: chamava-se Aníbal Cavaco Silva, e era sósia do cadáver que, dia 9 de Março, fez descer o cargo de Presidente da República à indignidade de o ver reeleito.

Este senhor Cavaco era casado com uma mulher de horizontes limitados, que dava o ano zero, na Católica, e que, mal o marido foi eleito primeiro ministro, passou a ir, no mini em que sempre seguia para as aulas, com motorista. O motorista do mini era o próprio pai, enquanto não arranjou dinheiro para pagar a um profissional (!)

Eu sei que tudo isto, contado assim, parece fruto de um cérebro doente, e é, mas não do meu, que sou só mero narrador: é o cérebro doente de um país inteiro, que se faz representar por esta gentalha.

Santana Lopes, que presidiu à Cultura, pagava fortunas por uma noite passada com uma puta brasileira, que fazia "cultura" como se faz hoje, mas a verdadeira epígrafe e epitáfio do regime foi o Arquiteto Taveira, um ogre, que copiava, como o Miguel Sousa Tavares, hoje, umas coisas que se faziam lá fora, e pareciam "modernas", cá por dentro, onde o gosto nunca foi famoso.

A grande prática do Cavaquismo foi o sexo anal, tal como o senhor Taveira evangelizou.

e foi esse senhor Aníbal que também deixou que proliferasse tudo o que era falso, de universidades privadas, de cursos de papelão, a escritores de escaparate de hipermercado e famílias de serviçais, que faziam, a metro, o que a baixeza e a mediania consumiam.

Eram tempos difíceis, como dizia o escroque do Senhor Júdice, ligado à Pedofilia e ao tráfico de armas e influências, quando aconselhava a miúda, da Geração à Rasca, que queria ser atriz, a servir, de dia, à mesa (!), e a a representar, à noite. Supomos que seja assim que o cavalheiro tenho posto o paneleiro do filho à frente da Quinta das Lágrimas, nas urbanizações de Coimbra, em mata protegida, e a pagar 150 € de renda por um restaurante de luxo, quando a atriz decerto estará a penar 600 €, para toda a vida, por um cubículo frio na Margem Sul.

Esta escumalha, que se instalou em todos os lugares decisórios, não os quer abandonar, a bem, nem permite que se exerça o direito de sucessão. Como todos os medíocres, necessita de se rodear de ainda mais medíocres, para que possa, por relação, brilhar, de preferência, para sempre.

Todas estas coisas somadas destruíram um país, e tornaram a coisa de tal modo imobilizada que já não será pelas forças da Razão que se resolve: são décadas de compadrio, de vícios, de coisas feitas por debaixo da mesa, de sociedades secretas que violam o princípio da paridade e da transparência, que violam o direito de isenção da Lei, que fundem os poderes político e judicial.

Elas são os princípios do Cavaquismo, a serem levados ao seu último apuro e estertor.

Quando, a tremer, o homem que passa por Presidente da República de 15% de Portugueses pronunciou o seu ridículo discurso, pronunciou-o demasiado tarde. Devia ter apelado à insurreição social, quando entrava, em cascata, o dinheiro que podia ter desenvolvido Portugal, e ele o fazia desaparecer imediatamente.

Em 1994, toureando-o na Ponte 25 de Abril, com o criminoso Dias Loureiro a disparar sobre a multidão, o Povo fê-lo cair o chão.
Não teve vergonha, e voltou, dez anos depois, esquecido de ter patrocinado todos os horrores atrás descritos. Não se lhe ouviu, nesse discurso, uma palavra sobre os 9 000 000 000 € (!) que estamos a pagar, por causa das brincadeiras dos seus amigos cadastrados do BPN, nem da incredulidade que gera a manutenção dessa obscenidade, nos mercados financeiros internacionais.

Cavaco Silva deixou sucessores, que terão levado a esta geração à rasca, mas a grande obra dessa criatura, cobarde e reptilínea, não foi uma, mas várias gerações, um país inteiro, à rasca. Quando agora apela a sublevações sociais, não é a razão que o está a fazer falar: são o medo e a cobardia, o mesmo medo ressuscitado daquelas multidões da Ponte, que o poderiam ter apeado, como qualquer múmia do Magreb.
Não era um Presidente da República que discursava: era um gajo acagaçado, um tal Aníbal de Boliqueime, filho de um poço e de uma marquise, a tentar pôr-se de lado, como se ele não fosse o alvo primordial do protesto desta geração do pântano.

Em 1985, este homem gangrenou a Democracia, a Cultura, a Economia e viabilidade do mais velho estado nação da Europa. Ele é o inimigo público nº 1, de Portugal, foi o ovo da serpente, permitiu que a serpente se tornasse fértil, e procriasse, multiplicou-a, transformou-a em sucedâneos, e deixou-a espalhar-se em prole. Hoje, senil, mal se move, senão pelos discursos farseados dos canalhas que dele precisam, na retaguarda, para sobreviver.
Todavia, é uma serpente mumificada, que, já nem no chão, agora, se consegue contorcer: vão ser preciso fortes patadas, para que volte a apresentar sinuosas curvas, na sua pele mumificada de remorsos.


(Quinteto da indignação, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino", no "Uma Aventura Sinistra", e em "The Braganza Mothers")