sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O Segundo Cavaquismo, como justa catarse do Primeiro





Imagem do Kaos

É quando a tormenta é grande que se vê a fraqueza das  naus, ou, parafraseando Álvaro de Campos, também eu prefiro estar sentado, a viajar, já que este é um tempo soberbo para se estar de poltrona.
É público o desprezo que nutro pelo Cavaquismo e pela sua figura inspiradora, um saloio dos interiores do Algarve, que atirou Portugal para fora da Oportunidade Europeia, incarnando, mais uma vez, aqueles velhos atavismos que fizeram como que ficássemos a roncar, no banco da estação, sempre que os comboios da História passavam por nós.
Politicamente, não me apetece fazer elaboradas conjeturas.
Há uns meses, escrevi que gostaria de ver Sócrates face a Cavaco, nestes momentos finais da agonia. Confesso que os derradeiros desenvolvimentos me levaram a afinar a posição, e a considerar que o palco é agora ocupado pelos justos atores, se excluirmos algumas figuras menores, os chamados "figurantes", como Passos Coelho, Portas e outros de que ainda não sei os nomes.
Na realidade, tal como uma mão lava a outra, e já que estamos na Dramaturgia, diria que o Segundo Cavaquismo, em que estamos enterrados até ao prepúcio, é a catarse do Primeiro, que soube ser histriónico, e pensava ir sair impoluto, mas teve o azar de os ciclos e contraciclos do Devir fazerem suceder-se o tempo da farra e o da punição.

Naqueles manuais de retórica política e económica, que ninguém lê, ou lê tanto como os suplementos do "Expresso", costuma dizer-se que os períodos socialistas estão associados ao despesismo, e os períodos conservadores ao repor das reservas. Cá, costumou ser o contrário, com as breves ADs a destruírem o pouco que havia, e os Socialistas a conterem, até se revirar tudo, com Guterres e Sócrates, e estes gajos, os jovens turcos de junho, a apanharem, agora, com uma experiência realmente europeia. Na verdade, o mal inicial, o conservadorismo cavaquista, uma espécie de neosalazarismo de gente pobre de espírito e horizontes, a tal época em que os Fundos Estruturais choviam em Portugal, para que nos alinhássemos com a marcha europeia, foi um dos mais espantosos períodos de pilhagem a que assistimos, na nossa História. Bastava folhear semanalmente o defunto "Independente", para ver como a "coisa" crescia. Creio que seria necessária uma década, duas, três, para que um batalhão de investigadores, muitos deles com formação policial e, mesmo, forense, conseguisse elaborar o manual completo da Arte de Roubar, durante Cavaco Silva. É certo que o homem era "hónesto", e nunca espoliou, apenas deixou que todos os outros roubassem por ele, ao ponto de, depois, lhe fazerem "uns jeitos", que lhe estão mais nas deformações do caráter do que o espírito do furto. São coisas poucas, o que também traduz a menoridade do cúmplice, já que os pequenos calotes das ações do BPN, da concessão da Praia da Patrícia, na Costa, a Quinta da Coelha, e umas parvoíces afins, tão ao gosto de uma certa esquerda da Festa do "Avante", são ninharias, mais reflexo de uma estrutura mental, e de rapina, menor, do que verdadeiros casos. Ninguém precisaria de nascer duas vezes para lhe os apontar, por que lhe são inatos, genéticos, e inoperáveis, mas eu preferia voltar ao Teatro, já que, neste período de Tragédia, até as heráldicas dos Hemiciclos foram recuperadas. Enquanto Dias Loureiro, um criminoso, com ligações internacionais a tudo o que é sórdido, e protagonista de uma coisa semelhante à que atirou com uma pena de 150 anos de pena, para Madoff, se passeia impunemente pelas ruas de Cascais, à espera dos dias de caçada com Abdul Rhaman el-Assir, às quais, desta vez, Kadhafi e os filhos já não irão, ah... nem Duarte Lima, outros dos escroques do Primeiro Cavaquismo, já surgido na forma de Besta, no Segundo, ou a Beleza, Presidente da Fundação for the Unkwown, ou em bom Português, Presidente da Fundação do Sabes Muito.

Abreviando, os esboços de personagens do Primeiro Cavaquismo, tal como a crisálida antecede a borboleta, surgem, no alvor do Segundo, como tipologias criminosas bem delineadas, que só a passividade de um Povo que continua a ver o solzinho a dançar, nos brincos do Cristiano Ronaldo, foi incapaz de levar à barra do Tribunal. Acontece que a Justiça tem vários patamares, e esta sistemática fuga aos palcos forenses básicos está, progressivamente, a ser substituída por uma espécie de grande julgamento da História.

Em Angola, de onde brevemente virá a segunda maré de retornados, onde um povo desgraçado é governado por uma família de criminosos, ao nível dos visitantes das cadeiras de Haia, e começou agora a ser esbulhado por uma segunda maré de milhafres, de todas as nacionalidades, uma espécie de Macau, do Clã Soares, e Melancia, na fase terminal, ri-se, nas ruas, sobre a forma como 40 000 000 de euros taparam um calote de 9 000 000 000, ou seja, como o "branco" deu ao "preto" Mira Amaral um "banco", de mão beijada.

A "Troika", essa entidade mítica, constituída pelo Pai, o Filho e o Espírito Santo, não consubstancial com Ricardo Salgado, como foi provado no Concílio de Calcedónia, em 451, incarnou, muito à Aristófanes, aquele pedido de duas medidas por dia. Acontece que as medidas são asneiras de todo o comprimento, e nunca se assistiu a um tal jorro de disparates. Menos dionisíaco, Cavaco, o pai e avô disto tudo, mostra que estamos mesmo, nos degraus de Epidauro, ou no Teatro de Herodes Ático, já que raramente vem a público, e fala atrás de uma máscara, o "Facebook", que seria estranha a Ésquilo, mas não nos é a nós: é o rosto tecnológico da cobardia, do político que sabe que pode cair na rua, como Américo Thomaz e Marcello Caetano caíram, em 74, que transpira das mãos, com medo dos atentados, e se fazia deslocar numa viatura blindada (!), coisa que nem Salazar, que tinha a alma bem pesada, sentia necessidade de fazer.
Depois do "Facebook" do mestre, vem o do epígono, um fraco Séneca, chamado Passos Coelho, que nunca devia ter passado dos "castings" do La Feria, onde ia tentar um papelzito de marialva, apreciador de sexo anal, a única linha que pode unir as "Doce" dele à Laura, e a uma coligação com um conhecido pederasta português, cujo nome não ponho aqui, porque é um dos nossos mais brilhantes oradores e demagogos. Ou seja, se o Primeiro Cavaquismo foi roto, o Segundo é mais apertadinho, e dominado por um certo esfíncter, a que chamam "Contenção", uma doutrina apregoada por um aluado, debaixo da influência de substâncias, que parece uma sebenta de Economia falhada, a falar. Troca Hayek com Keynes, até ao dia em que perceber o que o segundo afirmava, sobre a "poupança": "se todos – famílias, empresas e governos – começarem a tentar aumentar as suas poupanças ao mesmo tempo, não há forma de evitar que a economia caia até que as pessoas sejam demasiado pobres para poupar". Creio que Keynes nunca ouviu falar de Portugal, como Vítor Gaspar, essa figura de "vaudeville", sabe o que seja um País: "Durante a noite, Procrusto procurava adequar o viajante à cama escolhida, serrando os pés dos que optavam pela cama pequena ou esticando os que escolhessem a cama grande". Simplificando, para evitar a erudição, o manual de cozinha do "génio" é muito elementar, sobretudo para mim, que fiz "Economia" a copiar, nos anfiteatros do IST: ou se gasta, ou não se gasta; quando alguém gastou, a melhor maneira é de ir buscar aos bolsos dos outros aquilo que já desapareceu. Como aquilo que já desapareceu faria invitavelmente fazer rolar cabeças políticas, põe-se um ar de cátedra, e fala-se... de inevitabilidade. A inevitabilidade, meus amigos, é ir, agora, desentocar, um a um, os biltres que puseram Portugal neste estado, ou, por outras palavras, aproveitar a desvergonha e os holofotes que estas figuras do Primeiro Cavaquismo ganharam, com o Segundo, para se proceder a um breve desafogar do cenário.

Só um povo que se pode reler na prosa do Feio, de Saramago, admitiria que lhe "cortassem as gorduras". Cortem antes as gorduras do Clã Ferreira do Amaral, do Mega Ferreira, do Deus Pinheiro, do "Comendador", do Soba da Madeira e de tantos outros, que transformaram isto na chacota da Europa. Tudo, ou quase tudo o que os Finlandeses precisam de saber sobre Portugal está entre 1985 e o "Diploma" de 2007, ou, geograficamente, entre a Quinta da Marinha e a Quinta da Coelha, passando pelo "Eleven" e pelo Vale do Ave. Ficam de fora, propositamente, as célebres expropriações milionárias do IP5, já que muitos dos velhos juízes conselheiros de 80 e 90 anos já deverão, entretanto, ter morrido.
Ficam os Júdices, os Proenças de Carvalho e os da Relação.

Isto é um penoso Aristófanes, sem quaisquer palavras, ou humor. Para que o "vaudeville" possa passar a musical, devia-se derreter a figura de cera da Senhora de Mota Amaral, e fazer uma vela em forma das Caldas, com a cara e os pintelhos louros da nuca, da Lady Gaga, Sunsum Esteves, da Opus Dei.

Creio que outubro será uma boa estação para a... limpeza, para evitar que, como em Shakespeare, entremos no Inverno, amarguradamente mergulhados no nosso pior descontentamento.

(Quaternalíssima trindade, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")

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