domingo, 15 de janeiro de 2012

A agonia de Francisco José Viegas e restantes Megas





imagem do Kaos


Tenho, como regra, avaliar um Governo pelos trastes que coloca na Cultura e na Educação.

Paciência, cada um tem os seus barómetros, o meu barómetro é esse, e até vai mais longe: Portugal é um país onde qualquer coisa serve, para ocupar ambas as pastas. Já tivémos Ferreiras Leites, Coelhos, Lurdes Rodrigues, um que foi Ministro da Cultura por engano, Santanas Lopes, Carrilhos, e agora, bom, agora, parece que batemos mesmo no fundo.

Desde junho, quando percebi que este era um governo para ano e meio, quando muito, comecei por tentar perceber por onde é que se iria começar a desfiar. Aparentemente, a anomalia mais evidente era aquele permanente sorriso de merceeiro do "Ministro" da Economia, que conseguia ser "Ministro" de um país que trocara toda a Economia por BPNs, no tempo do segundo maior português de sempre, Aníbal de Boliqueime, também conhecido pelo Manequim dos Anos 50 da Rua dos Fanqueiros.
Engano de alma ledo e cedo, que a Fortuna não iria deixar durar muito, já que a verdade estava tão à frente dos olhos que não se conseguia focar bem.

Francisco José Viegas, a "coisa" do Pocinho, sofre daquele mal atávico de que sofrem todos os provenientes de buracos, covas, poças e cavidades da nossa geologia: o problema de nascerem abaixo da linha de água tende para que, por mero tropismo, leve a que todos os seus atos futuros sejam uma fatal atração por afundar tudo em seu redor. Salazar, que vinha de Santa Comba Dão, um lugarejo frequentado por morcegos, conseguiu arrastar-nos para 48 anos de trevas. Cavaco vinha do Poço de Boliqueime, e transformou-nos, em 10 anos, num poço sem fundo. Guterres saiu do Fundão, e deixou-nos, de raspão, no estado de afundados. A Cova da Piedade, do "Cherne", empurrou-nos para uma impiedosa sarjeta, que, com o desastre do vigarista de Vilar de Maçada, nos atirou do... do... má para Massamá, e cremos, que, a partir de aqui, só a Fossa das Marianas, mas com bilhete de ida, e sem volta.

A Cultura é uma assunto demasiado subtil, idiossincrático e lapidar, para que se compadeça com aves de voo raso, já que deve ser das poucas coisas sobre as quais ninguém tem mãos, nem burocracias, nem orientações, nem decretos lei, nem sugestões, intenções ou contenções. Transborda por onde calha, a arrasta consigo o que quer e espalha, por mais freios, censuras e desmoralizações rasteiradas, que lhe ponham.

Passos Coelho, com a sua visão das falésias de Massamá, infinitamente mais curta do que a do Infante, quando, em Sagres, contemplava o mar sem fim, sentado no seu sofá Moviflor, com a monstra, que, entre o anal e o Pau de Cabinda, o vai aconselhando, e dizendo, "olha, aquele deve ser bom para o Governo, porque aparece muitas vezes na televisão!", uma espécie de Maria Cavaca, remediada, mas com as membranas do mete mete ainda no ativo, chegou a brilhantes conclusões: o Crato, que vinha rosnar sobre ensino mnemónico, e percebe tanto de Educação como percebia a maçónica Alçada, e o Viegas, uma espécie de Professor Marcelo, em pobre, muito pobre, já que se achava sempre na crista da onda, sobre tudo o que era publicado. Sofria, e sofre, de uma doença grave, que é confundir livro com tudo o que é editado, e, mais grave ainda, Literatura com edição, o que é irrelevante, já que a matéria do prelo, em Portugal desceu aos seus níveis mínimos, com as culinárias do Sousa Tavares, as paixões da retrognata Inês Pedrosa e uns gajos que agora disparam muito, mas deve ser para dar saída à pasta de papel do excesso de eucaliptos, que empobreceu o nosso solo e a nossa Literatura.

Quando morreu a "Capital", um jornal de referência, lembro-me de ter aí um recorte, onde o Coitado do Pocinho dizia que ansiava avidamente pela chegada da edição de Lisboa, para poder devorar tudo, desde as letras, capitais, ao necrotério, e a chegada era longa e lenta, já que, naquelas paragens de Foz Coa, onde a pobreza artística nacional ainda continuava a rabiscar comboios a vapor, depois de ter raspado, milénios, aquela monótona vaca, nos xistos, num atraso de 35 000 anos, comparativamente a Chauvet, por exemplo, que alguns Portugueses só agora descobriram, embora valha mais tarde do que nunca, a arte era nula. Do Pocinho, reza a biografia, saltou para Chaves, a quem chamam a Nova Iorque de Trás os Montes, e, a partir de aí, terra fria, onde os homens copulam com as ovelhas, começou a rastejar na direção da maior aldeia de Portugal, que tem a típica patologia de atrair estas... coisas, que nunca deveriam abandonar o seu ecosistema.

Nada tenho contra a imigração, sobretudo interna, já que, assim, não vão, lá para fora, desgraçar, ainda mais, a nossa imagem, e, enquanto se deslumbram com as avenidas degradadas de Lisboa, pelo menos não vão assassinar bichas velhas, em Manhattan, como fez o Estripador de Cantanhede, ou herdeiras ricas, como o chefe da bancada parlamentar do Cavaquismo, mas volto a lembrar que, enquanto os outros povos buscam as grandes cidades para ficarem em estupefação pela sua grandeza, esta raça rasteira dos pocinhos, das covas e das buracas, mal chega aos sítios, imediatamente acampa, e tenta transformá-los em coisas parecidas com as dimensões físicas e mentais dos fojos de onde (nunca) saíram.

A mediocridade de Francisco José Viegas, que pelo Princípio de Peter, agora ficou, finalmente, debaixo dos holofotes, vai ser, aliás, já começou a ser, motivo das próximas, muitas, conversas, cujo tom se irá agravar, ao ponto de cumprir a minha profecia de ser ele o primeiro rato a ser chutado pela borda fora deste desastre político a que alguns ainda chamam Governo, mas deixo essa tarefa para outros, já que, neste preciso instante, ando fascinado com a numismática dos Ptolomeus, entre Paphos, Cirene e Alexandria, portanto, podem imaginar o quando o Francisco José Viegas está, e estará, na minha rota de interesses...

Poderão, e estão no vosso direito, de me perguntar por que fui, então, buscar essa anomalia, para a dissecar aqui, mas refugio-me no princípio da alegoria, já que, finalmente, conseguiram alguém que incarnasse o presente estado das coisas "culturais", em Portugal. Durante muito tempo, Carrilho com a célebre história das retretes do Palácio da Ajuda, epifania de quando ele se dedicava ao uranismo, nos sanitários defronte da Alfredo da Costa, e Santana Lopes, com as suas obras inéditas de Fryderyk Chopin, representaram o nível mais baixo que a "Cultura", aliás, os rostos que o Poder colocava na "Cultura", podiam alcançar. A diferença é que os outros ainda nos faziam soltar gargalhadas, este é, simplesmente... patético, e deixa-nos pensar que, no estado em que estamos, se calhar a tal Secretaria de Estado, que veio substituir o Ministério, antes devia ter sido convertida numa Direção Geral, tutelada pelas Finanças, ou, mais pragmaticamente, extinta, de vez.

Francisco José Viegas, como os próximos tempos, antes da sua demissão, irão mostrar, consegue estar ainda abaixo disso tudo, já que incarna uma vírgula entre dois vazios, o de uma página em branco, e o de uma cavidade completamente oca, exatamente à altura daquilo a que chegámos, mas isso faz-nos falta, para que percebamos por que é que as agências internacionais de todo o género mensalmente nos vão classificando de lixo atrás de lixo.

A nota positiva, já que agora se fala tanto de sociedades secretas, vai para o único talento que esse tal de Viegas demonstrou, qual infiltração, em ir-se insinuando por tudo o que era fresta. Para uns, ficou o estigma da Loja, esta semana, tão em moda; para outros, a pertença à "Obra"; para outros, ainda, mais modestos, o cartão partidário, ou o clássico "opening the legs". Francisco José Viegas conseguiu o cúmulo disso tudo, já que, como bem anunciava a sua miserável "Morte no Estádio", o importante não era o jogo, mas a angustiada psicanálise do homem casado, que espera, ansiosamente, nos sanitários do estádio, que a adrenalina das bestas de bancada dele faça, durante alguns momentos esmolados de sexo, a mulher frustrada que arrasta dentro de si. Essa foi a sua primeira porta, a da paneleirice, já que frequentava os balneários dos seniores, "Ler", "Jornal de Letras", "Expresso", entre outros, por onde pairava a sombra patriarcal dos Senhor dos Anais, Mega Ferreira. Do Avental, não reza a história, por ser demasiado óbvia, mas prefiro que investiguem vocês, que eu sou mais de literatura de rumores, mas a verdade é que andou muito pelo Futebol, já que balneários e suburbanos transpirados sempre deram boa literatura. A pérola do percurso, realmente, por que estas coisas só podem lembrar a uma mente de um calculismo absoluto, o que, à falta de talento, devo eu considerar como sendo de um rasgo talentoso, foi a conversão ao Judaísmo, coisa que não lembraria nem ao Diabo, mas, tão só, a um oportunista de carreira.

Nota negativa, como daria o Professor Marcelo, e que competirá às Finanças investigar é se as medíocres crónicas que, sob pseudónimo, continua a publicar, no "Correio da Manhã", são alvo de tributação, e passíveis de compatibilidade, com uma fraude que ocupa tão miserável lugar político.

(Quarteto do só por desfastio, que a criatura, já por si, está arrumada, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino", e em "The Braganza Mothers")

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