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segunda-feira, 7 de novembro de 2016

President Trump






Faço parte dos cidadãos do Mundo que têm observado a campanha americana com o sensor de tédio ligado ao máximo. Corrijo: faço parte dos cidadãos do Mundo cujo sensor de tédio há muito que discretamente me afastou dos desenvolvimentos da campanha presidencial americana. No outro dia, por desfastio, liguei a televisão e estava a passar uma gaja pausada, cheia de comprimidos. Rapidamente compreendi que ela se estava a candidatar contra um outro, bastante descomprimido e cheio de gajas, e que aquilo era o estado presente da coisa americana. Nada de estranhar, como nada é de estranhar, depois de Obama. Ela falava no mesmo tom com que as jeovás apocalipsam o fim próximo do Mundo, e ele no tom de quem acredita que é mesmo o Fim do Mundo, o que, da parte dele, é uma forma de imodéstia a mais.

A realidade é que no estado em que o Mundo está dá muito trabalho acabar com ele, ele, Mundo, e não Trump, e, depois de um pouco de observação, percebi que a senhora não tinha mais programa do que deixar que o Mundo não acabasse já, e o tipo, do que andar assustar a senhora com o trabalho que estava a conseguir dar a ela. Na verdade, numa termodinâmica de economias e consumos, ele gasta muito menos do que ela, já que, de cada vez que ladra, logo ela acorre a fechar todas as portas e janelas, o que é um colossal dispêndio de energia, para um simples ladrar. A coisa, ao fim de semanas, converteu-se num mero patético espetáculo de bancada, em que um apenas toureia os receios do outro, para que, por detrás do boneco da outra, logo venha uma multidão imensa compor o boneco, para se fingir que ela não está completamente borrada de medo, com o medo do boneco dele.

Acontece que, na nossa sociedade teresoaguilhermada, o boneco Trump até tem graça, e a graça do boneco Clinton é uma perfeita desgraça. E onde nada disto tem graça é que não estamos num reality-show, mas durante o processo de eleição para um dos cargos mais poderosos da Aldeia Global.

Alguns céticos comparam este processo penoso à fase catalética da Academia Sueca, e, num raciocínio de transitividade elementar, dar a Casa Branca ao Trump acaba por estar para o Donald, como o Nobel recentemente esteve para o Dylan, ou seja, o apertar de mão de duas formas muito próprias do vazio. O problema desta forma de analogias, é que, estando o Donald para o Dylan, também o Saramago teria estado para a Clinton, e isto começa a aproximar-se muito da realidade, já que radiografa a contemporaneidade americana, do mesmo modo que, ao longo dos tempos, o Nobel da Literatura nos foi revelando o relatório clínico da sua longa agonia.

Há muitos que preferiram lançar o Dylan no anedotário, mas o Dylan é uma coisa séria, aliás, ele é rosto de um estado de coisas muito sérias, tal como o Trump é a cara chapada de um certa seriedade do estado atual das coisas. Tudo o resto é axiomático, já que a morte da Literatura conveio muito bem à morte do Nobel da Literatura, depois de um processo em que o próprio Nobel procurou adiar a sua morte, aliando-se a alguns escritores, para depois se ter o inverso, com alguns escritores nado-mortos a procurarem no Nobel um impossível fôlego para a sua triste agonia, para chegarmos ao presente estado das coisas, em que este duplo velório mais não pode ser adiado.

Acontece que, como não sou pessimista, e a análise da coisa está mesmo num impasse, é importante que se lhe traga uma grelha mínima de leitura, e retomamos, ninguém duvida do estado moribundo da Literatura e do estado ainda mais moribundo do Nobel da dita cuja, e, não duvidando deste estado de coisas, era urgente que algo se fizesse, e assim se fez, atirando-se o prémio numa direção imprevista. A Academia fez o seu coming-out, e deu um salto kitsch, numa direção francamente hyppie. Mais friamente, e como caminhamos para uma Nova Idade Média, cheia de Webs Summits, onde a narrativa dos artefactos traz muito mais imaginação do que todos os milénios da Literatura -- sobretudo quando nessa literatura, como o Saramago, nenhum milénio estava guardado para qualquer poesia ou imaginação, -- a Academia resolveu atribuir o prémio a um bardo, relembrando que, nos anos da outra Idade Média, também a voz literária gravitava entre lugares da luz, só mantida pela voz dos trovadores, e aqui regressamos ao tema central, em debate nestas presidenciais, o próximo regresso à nova Idade Média.

Para os apologistas de que os políticos mais não são do que fantoches nas mãos dos interesses que os colocam lá, lanço agora o desafio de acreditarem piamente nas suas palavras, e olharem com os próprios olhos da sua perspetiva, na direção de Trump e da Senhora Clinton, já que, numa forma aguda, eles não representam mais do que o estado previsível dessa infeção. Para os seguidores de debates -- eu continuo a preferir os combates tradicionais de gladiadores --, esquecidos de que aquilo mais não é do que uma forma não muito sofisticada de entretimento, deve ter sido interessante perceber as jigajogas que estavam por detrás de um e de outro, sendo talvez a maior curiosidade destes eventos que, num puro desespero de causa, a viuvinha Clinton tenha desistido de defender qualquer ideia, e acabado a dizer que mais não era, afinal, do que o bastião final de defesa do atual estado de coisas.

Curiosamente, esse é o maior capital do Trump, uma personagem que se pensaria impossível, antes de termos assistido ao Putin, ao Barroso, ao Erdogan, ao Kim jong e a uns quantos outros que agora se instalaram pelos vários pelouros da contemporaneidade, já que, de cada vez que a outra se arroga vir, para defender todas as coisas tal qual como estão, imediatamente engrossam as fileiras dos cada vez mais prejudicados pelo establishment, e são muitos, e todos frutos das muitas facetas de tal estado insuportável de coisas. Trump é o Ronald Reagan possível de hoje.

Atrás, enganei-vos, quando vos disse que a Literatura estava morta. Não está, apenas mudou de palco, e escreve e continua a escrever, como eu acabei de fazer, e durante mil anos ela fez, rabiscando glosas e escólios na margem dos pergaminhos. Vocês caíram no erro e leram, validando a minha tese, e assim impugnando dylans, nobeles e saramagos, e assim vamos continuar. Creio que do desastre Clinton/Trump igualmente emerge uma leitura fria, que é a da agonia da Política. Depois de terça-feira, é provável que também regresse à margem dos pergaminhos, em glosas e escólios, queira lá isto dizer o que quer que seja. 


É óbvio que os perfis radicais podem ser perigosos, e, sem chegar a perorar, como certas cassandras, que é da massa dos Trumps que sempre se fizeram os hitlers, a verdade é que sempre foram as massas das clintons a permitir, no limite, que emergissem cada vez mais trumps, e eles são hoje, como se sabe, mais do que as mães. Está por comprovar que da massa das clintons emerjam quaisquer hitlers, mas não podemos dizer que dessa água não beberemos. Na verdade, as bolsas não têm hoje qualquer paciência para hitlers, e os catalisadores são-lhes indiferentes, desde que não colidam com a lógica dos mercados: quem se lhes oponha surge e evapora-se em dois dias, como os palermas do "Brexit", e este é o verdadeiro prognóstico da Era Trump, uma coisa que aí vem, independentemente do Trump. Depois de terça feira, iremos ver como é fraco o ladrar de qualquer político, perante as vozes de fundo das correntes que os mandataram, ou, mais frio do que isto, como essas correntes já podem prescindir do ladrar dos políticos para fazerem ouvir diretamente as suas vozes.



Aparentemente, tudo indica que o paradigma pós industrial está a querer mostrar, em direto, que já não precisa mais de atores públicos para se fazer representar social e politicamente, e isto é um ato profundamente político, já que terça irão eleger um balão vazio, perante uma plateia que está no mesmo estado do "À espera dos Bárbaros", do Kavafys, que nunca teve o Nobel. A isto chama-se "Era Trump", cuja maior encenação cenográfica, e preparação, tem sido, com bastante sucesso, o Daesh dos subúrbios.



O final deste texto é técnico. O sistema eleitoral americano -- que, no fundo, irá aproveitar esta oportunidade para mostrar que, contrariando tudo o que escrevi atrás, felizmente está vivo, mas na peculiar maneira -- assenta numa sólida topologia de alternância. A grande lógica do seu modelo matemático é uma invariância global dos ciclos de sístole/diástase, o que, trazido para a linguagem política, fala de uma estabilidade do modelo de sucessão entre períodos democratas e períodos republicanos. Por outras palavras, é o ciclo de alternância que é imutável, e são apenas os seus protagonistas que vão variando, assegurando sempre o mesmo programa eleitoral, petróleo, fabrico de armas e status quo. Os eleitores limitam-se a validar vagamente um xadrez de colégios eleitorais, e a isto se chama por lá democracia. A última demonstração da frieza deste sistema revelou-se quando Bush, a quem tinha sido incumbida a Missão Nine Eleven, teve mesmo de vencer Al Gore, independentemente da contagem local dos votos. Se é certo que este mesmo modelo revela algumas exceções, elas estão sempre associadas a períodos fortemente atípicos, que é o que aqui nos interessa, já que esta eleição, em novembro de 2016, apenas nos vai dar o sinal de estarmos perante um ciclo de estagnação, ou de necessitarmos mesmo de uma emergência de rotura, capaz de inverter a lógica do ciclo. Deste modo, creio que nos devemos serenamente concentrar em apenas três questões: "processa-se esta eleição num período de tal modo crítico que o ciclo de alternância se veja coagido a alterar-se momentaneamente?"; "É a Senadora Clinton de tal modo extraordinária que permita uma extensão anómala do ciclo democrata?" e "É Donald Trump realmente tão mau que mereça destruir a própria lógica profunda da alternância?".

Se respondeu uma vez "sim" a pelo menos uma destas questões, eu, e todos nós, já ficamos imediatamente a saber onde o meu caro leito iria votar. Pela minha parte, e sem querer ser pessimista, prefiro continuar a responder "não" às três questões, sendo certo que também não voto, nem quereria, num cenário destes. Certo é que todos nós, na próxima terça feira, nos iremos espantar com mais uma irónica solução da História.

Lá estaremos para ver, companheiros :-)




Quarteto da Era Trump, no adormecido "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e no "The Braganza Mothers"

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

As Presidenciais de 2016 e os abortos do Tempo Novo





O PCP fez uma sondagem à boca da hóstia e perdeu. A Roseira fez uma sondagem ao gargalo do Alegre, e foi-se. O Sampaio da Nódoa fez uma sondagem à boca da Pilar del Rio e jangadou daqui para fora. O Henrique, o Jorge e o Cândido puseram-se ao espelho, e o espelho quebrou-se. Já o Morais parecia uma caricatura de si mesmo, e assim continuou, e assim vai continuar a ser. A partir daqui, podemos dizer que ganharam todos, e assim se fez o Tempo Novo, e assim sempre foi, e assim sempre haverá de ser.

Depois deste arranque de humor, vamos passar a uma análise mais fria, e científica, para esta breve não sofrer das mesmas insuficiências do "Also spach Zaratusthra", em que a coisa começa altíssimo, e depois se confunde com a cinematografia toda do Manoel de Oliveira, tirando o "Bobó" do início. E, sendo a coisa científica, passamos já aos números, para fundamentar as nossas evidências. E, assim, sendo, também poderemos aritmeticamente dizer que, nestas Presidenciais de 2016, de raquítica memória, ganharam todos os números ímpares, e, a partir daí, todos os pares começaram a perder, sendo que ímpares são, pela ordem que lhes conferiu o Inteligent Design, o Marcelo, dos cataventos, a Marisa, das manifs, e o Tino de Rans, de Rans, e pares, o Da Nódoa, a Anã e o Prete Rosso. Como diria o Woody Allen, o Tino até é par, mas lá se pôs numa posição ímpar, só para disfarçar, e disfarçou, e disfarçou muito bem, pelo que está de parabéns. Numa análise mais fina, só possível nos programas da Cristina Ferreira, o próprio Vitorino se converteu e exprimiu em números, e praticou uma comovente numerologia de pacotilha: foi o sexto de uma prole numerosa de seis filhos, vinha em sexto no boletim de voto, e, como ficou em sexto lugar, esqueceu-se de concluir que 6 e 6 e 6 até faz 666, o número da besta, que muito bem se adequa ao tempo que vivemos e ao sucedido em 24 de janeiro...

... 24 de janeiro que entra para a História como o primeiro tiro de salva da partida de Aníbal de Boliqueime, a figura que começou por degradar o papel do Governo, arrolando toda a casta de facínoras e futuros cadastrados, arruinou depois a motricidade parlamentar, com o seu camaracorporativismo das enchentes maioritárias do seu sim-sim senhor doutor, e acabou com a ruína da própria instituição presidencial, transformada num cabecismodeabóbora, sem abóboras e com cabeça ainda muito menos. No meio destas três ruínas, também teve tempo para arruinar o país inteiro, sendo que, até 9 de março, com um pouco de sorte, ainda poderemos assistir à falência de mais um banco, perdão, ao maniqueísmo de mais um balcão financeiro, dividido entre a luz do Bem e as trevas do Mal, a mostrar que em Portugal nada se eleva, nada se fale (só os escritores se podem dar ao luxo de fletir tempos verbais inusitados...), tudo se encrença, e acaba por contabilizar. A cereja em cima do bolo foi marcada por abortos e por vetar casais passivos do mesmo sexo poderem adotar os abandonados dos casais passivos do sexo oposto.

Depois disto, qualquer dos ímpares até nos seria indiferente, já que o Palácio de Belém está no mesmo estado de Fukushima, depois das fugas radioativas, e bem fez o Marcelo em refugiar-se já em Queluz, como a Lamballe se meteu um dia nas portas dos fundos do Hameau, em busca de ricos pastorinhos, embora o risco mais imediato do Marcelo seja, de facto, o Vírus da Zika, caso ele se lembre de começar a parturir microcéfalos, na Cauda da Europa, um risco iminente, depois da fuga de todos os cérebros do passosportismo. Marcelo não está no mesmo estado de degenerescência de Cavaco, mas a sua recorrente "paragem glotal", deixa antever algumas derivas pelos tiques do queixo nervoso, razoavelmente suportável, desde que não enverede por babar-se em público... Já Marisa Matias contou espingardas, e chegou aos dois dígitos, para muita dor e rancor dos que achavam que o lugar dela era o espaço deles, o evento de uma carinha larocas, um pouco prognata, mas dentro dos horizontes libidinosos de quem nunca levantou os olhos acima dos aventais e das saias rodadas pelo joelhos, dos bailes da Atalaia. A verdade é bem outra, e com o seu queixo habsburgo, tivesse a Marisa nascido no tempo de Vélasquez, e acabaria agora pintada nas paredes da Zarzuela, muito rodeada de amorosas marias de belém. Já Tino de Rans me parece ser a única pessoa capaz de defender os valores de uma certa tradição, e o único que, em 9 de março, poderia avançar para o cargo com o facho de salvar o brilhante espólio da agonizante Maria de Boliqueime, mas a História não o quis assim, e iremos, de aqui a pouco mais de um mês, assistir a mais uma queima de bibliotecas de alexandria.

Passando aos perdidos, é unânime que o PCP finalmente inaugurou o seu declínio, com os votos fiéis a fugirem em todas as direções, e um certo portugal profundo a avisar que os padres devem estar de um lado e as cassettes devem estar do outro, sob pena de as cassettes ficarem num canto, a rezar as suas missas solitárias. Igualmente esperamos que Maria de Belém encerre aquele penoso período de declínio manuelalegrista do nosso folclore, em que nos vimos forçados, pela estupidez de um cavalheiro decadente, que já não se enxerga, a ver sucessivos ciclos de eleição, e reeleição, por 5 anos, de todo o sarro conservador, por apostas erradas e quaisquer inexistências de alternativa. Na mesma ótica, também Sampaio da Nódoa, que já se sentia "a pensar como Presidente" -- pensou, e pensou mal --, vai agora regressar à Universidade, e faz bem, por que continuamos com algumas dúvidas sobre o que se passou em redor do ano de 1982.

Diz ele que estava em Genebra, entre dois despachos de reitores e ministros (aí, fadista!...) a fazer um curso concluído em dois anos, dado o "seu enorme afinco"(!)... O meu, nem com afinco, consegui eu reduzir abaixo de cinco, e cremos que, nesta ótica das cidades, nem Bolonha alcançou ser tão generosa quanto Genebra foi com ele... Como diz o burlesco João Jardim, o Nóvoa é "um Tino de Rans para académicos", e é, mas não só, pois é pior e mais profundo. Passado este pensamento ácido, convém que olhemos mesmo para a coisa bem de frente, já que a derrota do Lânguido das Reitorias não foi uma derrota qualquer, antes foi a derrota de um dos mais descarados e vergonhosos conluios de interesses da modernidade portuguesa. Talvez fosse verdade que a sua candidatura não fosse imediatamente política, nem sequer partidária, mas nem precisava de o ser, já que antes era um fenomenal casamento dos impulsos do Ente Supremo casados , à nossa frente, com os empurrões do Senhor Santo Deus, ou seja, o dernier cri das núpcias maçónicas com as trevas da Opus Dei. Desta perspetiva, o fracasso de Sampaio da Nódoa é um mero movimento de recuo das próprias defesas do eu profundo da coisa portuguesa, e de uma impossibilidade, de facto, de certas sombras se apessoarem da totalidade do cenário, através de alianças perversas, sistematicamente derrotadas. É sobre estas reiteradas recusas que o Gil e o Lourenço se deveriam debruçar, já que constituem uma matriz profunda da raiz nacional, e um incómodo ressalto, nesta terra que tudo admite e tudo suporta, contra certos contornos da maré excessiva. Na prática, o himeneu do cilício e do avental, corresponderia à estética perfeita do sufocante, com cada uma das tendências a elidir, até ao pormenor, todas as possibilidades de autonomia, com tapar a totalidade das frestas da autenticidade, um mundo de determinismo ao qual nem o próprio Marquês de Laplace se atreveria. Como Calvino, a condenação do nosso destino estaria, para sempre, determinada pelas velhas caras do "Tempo Novo". Com muito azar, também era comunista, e cumpria assim a fusão dos piores totalitarismos do tempo novo do milénio passado. 
Sampaio da Nódoa foi o Golem do fracasso das bodas do Cilício e do Avental, com o apadrinhamento da Santa Foice. Foi-se.  Com algum desagrado da História, a velha Europa exilou-o em Santa Helena, e veremos que Santa Helena irá reservar a este rosto sombrio do "cidadão novo" e às suas metástases.


Marcelo Rebelo de Sousa é infinitamente mais complexo, já que representa um princípio de inércia, que, passando por Cavaco Silva, e assumindo agora um zénite flácido na sua pessoa, mais não é do que um monótono fluir de sucedâneos do Estado Novo, na impossibilidade de gerar novos arquétipos de sustentabilidade. Marcelo Rebelo de Sousa está para o Caetanismo como o Período Saíta está para o Império Antigo, mas com o interior virado do avesso, já que a ressonância não assenta na mimese das formas, mas muito antes na monotonia das sensibilidades. Nesta perspetiva, a vitória das luzes de Celorico de Basto está ferida de uma inevitável melancolia, já que na ótica do Estado Novo, Marcelo nunca poderia despertar mais do que sorrisos salazaristas a quaisquer aspirações presidenciais. Nem sequer, quando, com 25 anos, se punha em bicos de pés, para ser notado, num esforço de irrelevância de cartas, pelo próprio caetanismo. Nesta ótica, e por que devemos estudar o ser no seu próprio ambiente, não foi Marcelo que amadureceu, ao ponto de ascender ao lugar do qual agora virá a tomar posse, mas antes o cargo que empobreceu, ao ponto de Marcelo o poder vir hoje a ocupar. Sobre tal, nenhuma novidade, já que é o retrato latente de toda a contemporaneidade, e uma radiografia do estado das coisas: não é interessante, nem notável, mas apenas o lugar de um incontornável reparo.

Resta o Marcelo homem, na sua multiplicidade. Como bom esquizofrénico, arrastará para Belém a sua multiplicidade. Nestes recentes tempos, houve um Marcelo que se atreveu a candidatar, e mesmo um Marcelo que o impulsionou ao ponto de poder ganhar. Dia 24, vimos um outro Marcelo, o que ganhou, a citar penosamente um outro que se encontra num idêntico estado de permanente delírio, Bergoglio, o Francisquinho do Vaticano. Dia 9 de março, outro marcelo tomará posse, e vamos ver que marcelo ocupará nos dias seguintes o Palácio de Belém. Quando chegar a hora dos confrontos políticos, haverá um marcelo que decide e um marcelo que comenta, e outro, ainda, que se comenta, e mais outro, que se porá a comentar os outros dois; haverá um marcelo que afronta e um outro marcelo que desiste, um marcelo que se pavoneia e um marcelo mais perturbador, que se contentará com exibir. Não sei se este recital chegará a tornar-se alguma vez interessante, penso, antes, que deve ser assim que as civilizações colapsam, ou, porventura numa ótica mais otimista, que os cargos, pela sua progressiva irrelevância, assim se esvaziarão, ao ponto de se permitirem a epiderme deste mero espetáculo quotidiano.



(Quarteto ligeiramente pós caetanista, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Os doces diplomas da nódoa









Com a campanha presidencial a entrar na sua période vache, não quereria deixar de vir regar aqui, com um pouco mais de gasolina, esta triste fogueira branda. Tem a eleição de 24 de janeiro o mérito de ser aquela que menos me aquece e arrefece, por ser uma eleição reprise, um triste bis das legislativas de outubro, dado que, tal como, há três meses, quando toda a gente desejava que o Coelho perdesse, sem que o Costa ganhasse, este domingo será marcado pelo mesmo vorrei e non vorrei, onde toda a gente normal, no fundo, deseja que o Marcelo perca mas o Nódoa também não ganhe.

Pronto, eu já sei que toquei no nervo da coisa, mas a ideia era mesmo tocar nesse nervo da coisa, pelo que vou continuar a sofismar, sempre orientado pelo tempo novo. Um dos sinais do tempo novo, como outubro demonstrou, é que se podia ganhar, mesmo quando se perdia. Há umas vozes negativas que defendem que o Costa já tinha a golpada toda combinada com os seus parceiros da "esquerda", e que ganharia sempre, mesmo que perdesse. Há uma certa melancolia nesta análise, é certo, mas eu vou acreditar em que também temos o direito de ser melancólicos, e tentar perceber como é que este tempo novo poderá permitir que o grande perdedor de 24 de janeiro, lá para a madrugada de 25, já se possa apresentar como vencedor.

Por uma redução ab absurdo, temos de tentar entender quem poderia ganhar, caso o Marcelo de Rans perdesse, e há uma certa frieza lógica que nos leva imediatamente a excluir os candidatos da coisa coitada, e vou agora à página da Comissão Nacional de Eleições, muito bem comportadinho, para lhes tentar retirar os nomes, já que estou como a História, que brevemente os vai devorar, e os não sei sequer de cor. Risquemos, pois, aqueles que o tempo novo já declarou como vencidos: Paulo Morais, Henrique Neto, o Tino de Rans, Jorge Ferreira e Cândido Ferreira. Se não me engano, já despachei cinco, pelo que agora já só me falta despachar os restantes.

Edgar Silva é um caso à parte, já que, mesmo num tempo novo, e ganhando sempre o PCP, independentemente do resultado, Edgar Silva já ganhou, e dou-lhe por isso os parabéns, posto que isso me facilita a tarefa de me debruçar sobre os restantes quatro. A Marisa não me é antipática, como já deverão ter percebido, e tem a virtude de ter, na juventude, andado a pastar cabras. O texto é tão mau que se permite ter a assinatura da Câncio, e por isso aqui o evoco, com algum carinho, e pela simples oportunidade de me ter sido útil, neste tempo novo. Não creio ser um requisito, para a Presidência da República, que se tenha andado a pastar cabras, mas também não se deve excluir, por um princípio de paridade democrática, a virtude de as ter pastado, agora, ou num tempo novo. Consuetudinariamente, também Aníbal de Boliqueime o fez, no seu tempo velho, isso, e muito mais, e lá chegou, hirto e firme, pelo que Marisa Matias também já tinha direito ao seu precedente. Registamo-lo com algum brio, e fazemos o reparo de que tal se insere numa longa linhagem de políticos que vieram das brenhas e se acercaram da cidade. Marisa Matias distingue-se deles, pelo facto simples que, num tempo certo, deixou as cabras e se fez à urbe, e cansada da urbe, partiu para a Europa. Muitos fizeram menos, e limitaram-se a vir pastar cabras para a capital, quando não as continuaram, num tempo novo, a calmamente pastar numa desgastada Europa.

Maria de Belém Roseira é infinitamente mais patética, por que se insere na longa linhagem daquelas balconistas, cerzideiras e espartilheiras, do tempo antigo da minha avó, que acharam que, bastando trepar para cima do balcão e mostrar as ligas e a combinação chegavam a um patamar qualquer do vaudeville, e chegam, já que o país inteiro ora se degradou numa gigantesca palhaçada. Maria de Belém é o último Sonho de Gerôncio de Manuel Alegre, e depois disto cremos que começará a eternidade etílica. Toda ela é marcada pelo pietismo e toda ela se rege pelo princípio do à justinha, pequena, maneirinha e com algumas potencialidades. Cremos que o momento mais alto deste campanha tenha sido a sua visitação aos embaixadores, muito semelhante à chegada dos Três Reis Magos, mas em minúsculo, em que, durante alguns memoráveis minutos, enquanto o camerlengo dela repetia o erro de protocolo de dizer "o senhor embaixador de aqui, e o senhor embaixador de ali, e o senhor embaixador de acoli", em de vez de "o senhor ministro do estado tal, etc", a nossa miniatura do coração teve os ventrículos apontados para outro lugar, com todos os olhares a dirigirem-se para uma filha, muito grávida, muito empandeirada num canto da sala, onde, espojada, acariciava as curvas de uma barriga muito curva, muito inchada, de onde irá sair uma ínclita geração, para provar que, nós cá, Portugueses, num tempo novo, ainda sabemos emprenhar, e não precisamos de "refugiados" de burka alheia, para aqui virem aumentar as emissões de CO2 da atmosfera. O vídeo é memorável, e só não tem a assinatura do Manoel de Oliveira e a medalha de cavaleiro das artes do Tony Carreira, por que não calhou, e por já estarem ambos, por esta altura, demasiado mortos. Vejam, por que vale a pena. A Maria de Belém, 24 de janeiro dará um digno lugar, nalguma junta de freguesia de Lisboa, e todos nós, ela, e o Manel, ficaremos, num tempo novo, satisfeitos, com um tão generoso bem haja, e um voo tão raso dos aventais femininos.

Afastados estes horrores, ficam o Bucha e o Estica desta triste paródia. O Marcelo já levou a sua dose, e mais dose vai levar, no dia 24. Há certas correntes que defendem que o catavento está apenas a submeter-se a este vexame por vazio e vaidade, ou para provar que o país chegou a tal estado de degradação que lhe permite uma pista de aceleração, para "só ver no que dá", e, se, no dia 24 for eleito, resta-lhe ainda a oportunidade de dizer que agradece muito e não aceita. Para quem conheça o Marcelo, ele é capaz disso e até de muito mais, como se irá ver neste curioso ciclo negativo, à porta do qual, num tempo novo, estamos, e pelo qual ansiosamente esperamos.

Não por acaso, mas por premeditação, deixei para o fim o fenómeno das reitorias. Para quem pensava que tudo o que era mau, em termos dos "interesses", em Portugal, se tinha acotovelado atrás de Marcelo, ainda não tinha visto o rasto de Nóvoa: a sinistra Pilar del Rio, a par com a miserável Inês de Medeiros e o lúgubre Zé que faz falta. Não vou enumerar mais, por que já fiquei com vontade de vomitar. Gente desesperada e capaz de tudo, e de potenciar o clima, nem que, para tanto, tenham de matar o Almeida Santos, ou o Soares velho. Tanto quanto reza a sua biografia não oficial, Sampaio da Nódoa, filho da da Dona Saladina, veio de Cabeçudos, e pareceu cair dos céus, crente, cremos, de ser um novo Saladino, e creio que quem de lá o atirou de pára quedas ficou à espera de que o engolíssemos, já que nós costumamos engolir tudo e não resmungamos. Dizem que começou a instrução primária em Caminha, mas só a acabou em Nova Oeiras, pelo que ela se deve considerar extensa, não na duração, mas, porventura, na distância. É fundamental, para o país do Mourinho e do Ronaldo, que tenha passado a infância e a juventude com uma bola nos pés. Eu passei-a com Proust, Júlio Verne e Suetónio, mas creio que deve ter sido por isso que nunca me candidatarei a Presidente, nem a coisa nenhuma parecida. A parte seguinte não deixa de ser interessante, já que, em Coimbra, e matriculado em Matemática, passou o tempo entre os campos de futebol e os palcos de teatro. Quanto a estudar, omite-se o estudo e a palavra estudo... A fase seguinte já inclui os cafés, e as noitadas, e os relvados são trocados por uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, que dá razão àquelas línguas compridas que dizem que por lá passou tudo, até os elétricos.

Entre 1973 e 1976, como reza essa generosa biografia, e omitindo que houve uma revolução pelo meio, fala-se de muita animação cultural, dinamizações de cidadãos e "expressões dramáticas" (!). Curso é que não, mas curso para quê, já que se abalançou diretamente à "formação de professores"?... Percebemos, e continuamos, para 77, onde, dessa formação de professores chega às aulas de moto próprio, em Aveiro. Cansado da academia, embarca num Fiat 127, e ruma à Suíça. Ao contrário do seu padrinho Cavaco, que rumou à Figueira da Foz, no célebre Citroen que o conduziria à ruína do país, Sampaio da Nódoa vai somente a Genebra, de onde sai com um curso (?) e um pegar de empurrão para o doutoramento (!), generosamente sobre a história de (certos) professores em Portugal.

Cumpre aqui fazer uma pausa, para nos debruçarmos sobre o princípio da bola de neve, que começa do tamanho de uma noz e acaba a engolir cidades. Não nos espantará que, em 85, já alguém o tenha convidado para ser professor convidado num instituto de educação física, e que depois aterre nas famigeradas Ciências da Educação, que estão para o séc. XX como as Profecias de Nostradamus para o Nicolao Maquiavel. A partir de aí, são todos os fogos de artifício previsíveis, a agregação, a cátedra e a Sorbonne, para fazer um segundo doutoramento que tirasse as dúvidas sobre o primeiro. Sarastro empurra-o para a Reitoria, mas o Tamino só se contenta, como Carrilho, com a Unesco. 


Não sei quem redigiu esta biografia, mas é um texto notável do estilo do volátil e do generoso. Não chega a ser comovente, já que introduz os patamares do costume: há nisto uma mistura de Harry Potter com as equivalências de Miguel Relvas, e espera-se que ninguém se lembre de escrever as linhas seguintes, que, de acordo com a lógica do Avental, deverão incluir uma Presidência da República e o Bispado de Roma, para lá venerar um Ente Supremo.

Não me apetece alongar mais sobre esta evidências. Nos tempos áureos da irmandade honesta, fez-se um exercício de estilo de oferecer um Imperador aos Franceses. Os tempos são, agora, infinitamente mais modestos, entre napoleões de goa e os cavacos de fancaria. Há muita gente espantada com os novos casamentos, também chamados "ménage à trois", que incluiriam, para lá da filiação base, núpcias espúrias entre comunistas e maçonaria, entre opus deístas e estalinismo, e, mais curioso do que tudo, entre seguidores do Balaguer e seguidores do Aventalinho. Se bem pensarem, a coisa nada tem de estranho, e explicaria muitos entroncamentos, como o par Constâncio, pai e filho, mas o mais estranho assenta numa espécie de balanço da revolução de abril, onde, muito mais importante do que as descolonizações, das transformações económicas, de mentalidade, no aumento da esperança de vida ou na liberalização do costumes, o grande aggiornamento tivesse sobretudo assentado naquela coisa estranha, que foi, não o acesso de todos aos estudos, mas a democratização da concessão de diplomas, de que Sócrates e Relvas são apenas os cumes cómicos de um curioso icebergue. Na realidade, o lado mais perverso da abrilada foi a proliferação destes faz de conta académicos, que se instalaram, num tempo novo, por toda a parte e de qualquer modo. Não voltaremos a falar desta "geologia das licenciaturas", já que ela espelha e traduz toda a inquietação profunda desta sociedade doente, que, num tempo novo, vai votar no dia 24.

O 25 de abril foi tempo novo dos diplomas de secretaria.

A pena residual que tenho pela derrota de Sampaio da Nódoa é do custo que ela vai significar, em vésperas do retorno da Troika, e do desgosto que vai provocar, naqueles que tanto apostaram neste derradeiro naufrágio. Na falta de números concretos, apenas poderei dizer que os aventais ficarão um pouco mais pobres, num tempo velho, o que, curiosamente, não acontecerá com os cilícios, já que os últimos, ao contrário dos primeiros, não costumam pagar, nem sequer num tempo novo, as derrotas, sobretudo quando perdem. Temos pena: arrivederci :-)



(Quarteto das núpcias falhadas do tempo novo do cilício e do avental, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")

domingo, 22 de novembro de 2015

Transcrições das Escutas da "Operação Marquês" - "O cabrão do Mão de Ferro já tem as instruções todas para ganharmos as Presidenciais, mas ainda precisamos de marcar o encontro"








Imagem do "Expresso"





Do CD 120, da série "collector's prize" do juiz Carlos Alexandre




(2 da manhã, toca o telefone no nº 33 da Abade Faria)


R.P.S. - 'Tou, Zé?...

Zé - 'Tou, sim. Tá tudo nos conformes?...

R.P.S. - Tudo na boa, tudo a correr como esperado, tá tudo "angolado", "cabindado", "luandado"... (risos) Que cena de ruído é essa?...

Zé - Pá, agora 'tou no jacuzzi. Queres vir cá ter?...

R.P.S. - Fogo, até parece a Fonte Luminosa, quando o monhé, o poucochinho vermelho, decide despejar uns paus para isso!... 'Tás a fazer o quê no jacuzzi a esta hora, chavalo?... A fazer a "duchinha", meu sacana?... (risos)

Zé - Duchinha faz a puta da tua tia, mano!... Quantas vezes já te disse para não andares com essas conversas de merda ao telefone?... Esse cabrão do Carlos Alexandre mandou gravar tudo, fogo, vocês não aprendem nada... Quem fica mal sou sempre eu, pá...

R.P.S. - Na boa, pá, na boa, pá, desculpa...

Zé - E mesmo que eu estivesse a fazer a "duchinha", que é que tu tinhas a ver com essa cena?... Isso são coisas da vida privada, uns fazem a duchinha e os outros não, mas essa cena é do intimo de cada um, a duchinha é como a religião, cada um tem a sua, ou não tem..., mas não anda para aí a chatear os outros, não é?...

R.P.S. - Ó, pá, isso da religião até dava uma beca de conversa, isso antigamente era assim, agora já não é, mano, olha aqueles gajos todos que estavam no desemprego e o panilas do Coelho mandou emigrar, lembras-te dessa cena, e agora andam todos a cortar pescoços e a largar bombas lá no deserto, não tens a crença deles, és logo morto, caralho!... Foda-se, chega para lá, carago, eles agora estão ainda piores do que a tua mãe, com a "Sentinela" e o "Despertai" na mão, a falar do Fim do Mundo... O Fim do Mundo foi agora, quando tu estiveste no Governo, e nós agora estamos mas é no Depois do Fim do Mundo, meu, no Depois do Fim do Mundo, ponto final!... (risos)

Zé - ... que é, ou não é, pior do que o que antes estava, hein?... Confessa lá, pá, nós estamos ou não estamos "piores" agora?... (risos)

R.P.S. - Foda-se, há quem esteja, nós cá estamos em transição, como se diz aqui na SAD, nós estamos na evolução na continuidade. E de aqui a sete anos, nós vamos estar na vanguarda do Futebol Português!... Comigo, o Belenenses vai sempre à frente!... P'rá frente, Belenenses, p'rá frente, Belenenses, carago!...

Zé - Boa, e para quem começou lá em cima, até já vai em Belém, não é mano?... Upa, upa!... (risos)

R.P.S. - Exatamente: Belenenses..., Belém..., tás a ver a cena, Beleneneses... Belém?...

Zé - Tu és um clubista à maneira, amigo!... (risos)

R.P.S. - Um clubista?... Um clubista do caralho!... (risos) O meu clube sou eu!... E o teu clube és tu, e o nosso clube somos nós!... E sabes por que é que eu estou no Belenenses?...

Zé - Quer dizer... acho que é por causa do Futebol...

R.P.S. - Na..., mano..., frio... frio... muito frio... 

Zé - Pá, fogo, isso então não sei mesmo... Não tenho cabeça para adivinhas, estou bué stressado com isto da domiciliária...

R.P.S. - Mano, é assim: eu estou no Belenenses, já te disse, primeiro, por causa de Belém, mano, e, depois, por causa de Belém e só de Belém, mano, eu estou no Belenenses por causa de Belém, mano, e sabes por que é que eu estou no Belenenses por causa de Belém?... Eu estou no Belenenses, de Belém, por que eu estou só a pensar em Belém, e quando eu estou a pensar em Belém, mano, eu estou só a pensar em ti, mano..., a pensar em mim, e em mim, e em mim, e no Belenenses, e no Futebol Clube do Porto também, mas sobretudo em ti... Em ti, mano..., em ti... e em Belém, mano!...

Zé - Pá, eu nunca tinha pensado nisso, mas não é que até está bem visto, porra...

R.P.S. - Claro que está bem visto, mano, o pessoal só quer é o teu bem, a nossa filosofia é o teu bem, carago, e o teu bem é o nosso bem, o bem do pessoal todo que gosta de ti, do pessoal que acredita em vi, do pessoal que te apoia, que te vem visitar, que te telefona, que não se esquece de ti, que acha que tu és o maior, carago, Zé, e tu és o maior, fogo, c'um caralho, Zé, tu é o maior político de Lisboa, do Porto, de Portugal, pá, e é por causa disso que o pessoal te quer pôr agora em Belém!... Sócrates a Belém!..., Já 'tás a ver o cartaz, meu, ainda com as corzinhas todas da PaF, mas os escritos já a falarem só de ti!... Olha aqui para as minhas mãos, Zé, as letrinhas a brilharem muito, assim, nuns flashes, "Sócrates em Belém", o nosso Sócrates, em Belém, Sócrates, o presidente de todos os portugueses!...

Zé - Tá bem visto, mas achas que vou ser mesmo de todos os portugueses?...

R.P.S. - Pá, de todos e dos outros também, pá..., o fundamental é um gajo chegar lá acima, quando já lá se está, aquilo vai doucement, doucement..., com calminha..., naturalidade, como (risos) como... a "duchinha", carago... (risos)

Zé - Mas eu não sei s'agora já é o tempo ideal para isso...

R.P.S. - Pá, estas cenas só têm um tempo ideal que é quando têm de ser, e a tua candidatura a presidente tem de ser agora, e o que tem de ser tem muita força, ou não é?... O que tem de ser tem muita força, Zé, é assim que é, e é assim que sempre foi..., e... escuta... sempre assim há de ser, Zé, pá, o que tem de ser tem muita força, carago, e o Zé em Presidente é uma coisa que tem mesmo muita força, tem a força toda, Zé, e tem de ser, Zé, porra... Já "óvistes" o que anda a dizer o "Mãozinhas", o Mão de Ferro, ou não?...

Zé - Que é que diz o "Mãozinhas"?...

R.P.S. - Pá, o que diz o "Mãozinhas" é o mesmo que diz o Carlos, e diz o Seixas da Costa, e diz o Tó Morais, e diz o "Gordo", e diz o Bataglia, e diz o Zé Paulo, e diz o Carlos, e diz o Barroca, e diz o Van Dooren, e diz o Lalanda, e diz o Perna, e diz o Godinho, e diz a Bárbara, e diz também a Sofia, e diz também a Mara, e mais a Inês, e a Rita, e a Fernanda, pá, e a Sandra, a Célia, e a tua mãe, pá, tu queres mais, foda-se?!... O pessoal, todo, o pessoal todo, todinho, todos dizem o mesmo, e só não falam os que não podem falar, mano, há pessoal que agora não pode falar, pessoal que tem de estar muito calado, pá, mas esse pessoal está todo a pensar, mano, e é muito pessoal, mesmo muito pessoal..., pessoal com muita força, mano, pessoal que agora tem de estar calado, mas que está contigo, mano, pessoal que faz força, muita força, por ti, carago, pessoal que acredita em ti, pessoal que sabe que foste o único político que pôs esta merda a rodar, a faturar, a andar, o único que deu visibilidade mundial a esta choldra, pá, esta merda era um pardieiro antes de tu teres chegado ao governo, lembras-te, mano, só lama e fumaça?... Isto os gajos deviam estar todos gratos, este país devia era estar todo de joelhos, a agradecer-te, pá, devia haver um Antes de Sócrates e um Depois de Sócrates, e o Antes de Sócrates até nunca existiu, meu, carago, só o depois!... Escuta lá, eu amanhã vou pôr os gajos lá da SAD a ligarem ao Francisquinho, para porem essa merda do Antes de Sócrates e Depois de Sócrates lá no calendário, tá?... (risos)

Zé - Rui, é assim, Belém acho qu'até me fica bem, assenta bem no meu estilo de vestir, maneira de estar, sei lá, pá, eu até acho que até fiz algumas merdas por este país...

R.P.S. - Claro que fizeste merda neste país, Zé, e este país sabe disso, Zé, este país sabe disso, da merda que tu fizeste, quantos portugueses é que não vieram procurar a tua porta, pá, bater às tuas portas todas, mano, a de casa, a de Évora, pá, gente que chorava à tua porta, eu vi, Zé, foi na televisão, mas eu vi, podiam ser as nossas mães, a chorar ali, de braço no ar, cartaz no punho, pá, mulheres... mesmo gente a sério, a chorarem, pareciam refugiadas, carago, aquela gente era capaz de morrer por ti, Zé, aquela gente vai votar em ti, acredita, Zé, e vai levar muito mais gente atrás deles, acredita no que eu te estou a dizer, Zé, aquilo são só votos, Zé, muitos votos..., a multiplicar..., votos a pingar..., votos a faturar..., é só tu quereres, Zé!...

Zé - Rui, eu neste momento não sei mesmo como é que está esta porra deste país...

R.P.S. - Esta porra deste país está como sempre esteve, pá!... Tu tens é de perceber em que país é que estás, e este país 'tá na mesma há muitos séculos, mano, se tu estiveres do lado do Futebol e de Fátima, tens tudo, se estás sem o Futebol e sem Fátima, não és nada, chavalo, és um merdas, um badochas, um mete nojo, um vale nada!... Esta merda é governada por aquilo em que as cotas acreditam e por aquilo em que as cotas não acreditam, se estiveres do lado daquilo em que as cotas não acreditam, estás lixado, agora, é assim, Zé, tu estás preso há quase um ano, o pessoal chorou por ti, foi visitar-te a Évora, tu deste entrevistas, foste tratado como um senhor, estiveste dentro, mas nunca te calaram a boca, não foi, Zé?... E isso quer dizer muito, quer dizer que mesmo o pessoal que te meteu dentro acreditava em ti, tinha muito carinho por ti, achava que tu ias longe, Zé, e vais, tens é de te colocar do lado do Futebol e de Fátima, se estiveres do lado do Futebol e de Fátima, se estiveres do outro lado, não tens nada, pá, agora tu estás na maior, mano, o martírio... já pensaste, pá, esses cabrões, o Carlos Alexandre, e o outro, o Teixeira, esses gajos deram-te o martírio, fizeram de ti um mártir, tu és um mártir português, estás como a Senhora de Fátima, as velhas acreditam todas em ti, rezam por ti, pedem para seres solto, só faltou irem a Évora de joelhos e de lencinho branco, pá..., que é que tu queres mais?..., já tens Fátima contigo, agora, só te falta o Futebol, mano, e o Futebol, Zé, o Futebol sou eu!... Ainda estás com dúvidas?... Porra, não estejas, agora já não há dúvidas, o pior já passou, agora é sempre a abrir, sempre a faturar, até à Presidência!...

Zé - A cena, Rui, é que eu já ouvi que o bêbedo está a apoiar a anã...

R.P.S. - Ó, pá, a anã nem entra nas contabilidades, aquilo foi uma manobra de distração... Tu para veres a gaja tens de olhar para baixo, pá, já pensaste nisso?... Os Portugueses precisam é de um candidato como tu, para os pôr a olhar para cima, não é para baixo!... Um gajo, quando se sente queimado, deve fazer como o Berlusconi, e não desistir, e apontar para cima, sempre para cima!... Olha para o Berlusconi, pá, aquilo é que deve ser o teu exemplo, quanto mais queimado estava mais subia, o gajo dez anos sempre a abrir, só esquemas, só calotes, só gajas boas, só gajos abatidos pelas costas, e a Itália acabou?... Não, não acabou, a Itália até progrediu, p'rá frente, sempre a abrir..., o milagre italiano, Zé, o milagre italiano!... O país precisa de ti, não é da anã!... Tu já ouviste a gaja a falar?... (risos) Parece que tem um supositório na boca, foda-se, c'um caralho, um supositório enfiado p'âquela boca adentro!... (risos) Aquilo não é a duchinha, Zé, aquilo parece mais a boca da chuchinha..., é a Chuchinha Vermelha, foda-se... (risos) a gaja começa a falar, a falar, com aquele tom de aconselhamento familiar... (risos) parece aquelas gajas depressivas que se andam a automedicar, com umas g'andas olheiras, toda amarela, caralho, a boca azeda, e a cheirarem a bafio, carago, (risos) a gaja está para ali, a falar do país e parece que está a receitar aspirinas... (risos) a gaja parece um Benuron mirrado a ganir!... (risos) um gajo a querer saber de politica externa e ela põe aquelas verrugas todas para a frente e começa a dizer, muito pausada, parece que tem uma canadiana enterrada na boca, "um meio ao pequeno almoço, e um meio ao almoço, e um inteiro ao deitar..." (risos) Aquilo mete pena, pá, fogo, este país desceu muito baixo, mesmo muito baixo, que tristeza, essa gaja devia era candidatar-se à "Pharmácia Ideal da Rua dos Correeiros"... (risos), e mesmo assim nem ia ser a diretora clínica daquilo, diretora um caraças, a gaja ia mas era ser a amostra clínica da farmácia, carago... (risos) Este país é uma paródia, mano, não se pode levar nada a sério, pá, é tudo a fingir, e quanto mais se finge mais os gajos acreditam..., Zé, acredita. os gajos acreditam em tudo..., pá, tudo... eles acreditam em tudo... isto é uma paródia, carago...

Zé - Ó Rui, pá, tudo bem,  mas o problema é que não é só a anã, pá... e se a anã já foi apoiada pelo "bêbado" de Argel...

R.P.S. - Pá, o pessoal quer que esse "bêbado" s'â foda!..., o "bêbado" está todo desativado... todo queimado... todo queimadinho!... o "bêbado" já encostou às boxes, pá, já encostou, só que se esqueceram de o avisar (risos) já encostou às boxes, só que ele ainda não sabe que está todo encostado... (risos) ainda não recebeu o postalinho, a avisar... O, pá, o futuro, agora, é da gente, de ti, de mim, do Galamba, (risos) o "bêbado" está como a Amália, deixa-o andar, ele anda entretido, deixa andar, enquanto ele anda naquilo, não anda na droga, carago... (risos) E há mais, ó, Zé, tu não tens de te preocupar mesmo nada com esse caralhete, mano, por que tudo o que esse caralhete apoiou... perdeu... (risos) É, ou não é, Zé?... Tudo o que esse gajo apoiou... perdeu, mano, a começar por ele, a passar por ele, e a acabar nele, pá. Esse gajo perde sempre, mano, esse gajo o máximo que conseguiu foi meter o cabrão de Boliqueime duas vezes em Belém, mano, duas vezes, "óviste" bem, mano, duas vezes?... e o gajo não aprendeu nada, pá, nada, esse gajo não aprendeu nada, pá, esse gajo até parece que gosta de perder, carago, o gajo deve ser masoquista..., foda-se, deve ter o cérebro todo grelhado..., porra, meteu o Cavaco duas vezes em Belém, fogo, e não aprendeu, pá, o gajo não aprendeu nada, Zé!... E agora, c'um caralho, ainda vem apoiar a anã?... Deixa lá o gajo apoiar a anã, que s'â foda ele mais a anã!... Mau era se ele te apoiasse a ti, Zé, por que tu ainda perdias (risos) A gente não precisa desses apoios para nada, pá..., a gente aposta muito mais alto, muito mais forte, em pessoal com meios, meios a sério, pessoal que acredita mesmo nos seus fins, nos fins deles..., nos nossos fins, mano..., nos fins do pessoal que realmente interessa em Portugal!... A gente quer é ganhar!... É, ou não é, Zé?..

Zé - Claro que é, Rui, claro que é, mas há mais gajos em cena, para além da rodas baixas... há aquele gajo das universidades...

R.P.S. - O Nódoa?... Pá, mas isso é uma nódoa!... Isso é uma invenção do Eanes, do "fale assem", do "lá de cema", do "axo axim", esses gajos deviam estar todos na reforma, carago, parecem a brigada do cangalho, deviam estar todos nas sucatas do Godinho, mas ainda andam a arrastar-se por esta merda fora!... Esse cota é uma encomenda dessa merda da Opus Dei, para andar a fazer fretes ao de Boliqueime..., o gajo queria continuar a mama, começava no vovô Eanes e na freirinha dele, a Manuela dos aleijadinhos, borrava-se todo pelo Cavaco e pela Maria, e depois vinha agora o Nódoa, isso não era uma presidência, pá, isso era uma procissão de macas na urgência do São José!... Pá, fartos de nódoas andamos nós, foda-se, caralho!... Esses gajos precisavam é do "Vanish" tira-nódoas, com o "Vanish" essa merda saía logo toda..., ficavam no pano na primeira volta, e depois nem era preciso o "Vanish" Gold, ia mesmo com o "Vanish" barato!... (risos) Tu ouviste o gajo a dizer que já pensava como presidente?... Fogo, c'um caralho, o que eu me ri quando ouvi isso, ia-me mijando todo!... (gargalhada)  Estes gajos não se enxergam... (risos) Não se enxergam mesmo nada (risos) Vêm todos de um caralho de um poço, todos de um buraco qualquer, e depois trazem o poço dentro da cabeça, para Lisboa... Isto é o país dos gajos com um poço no lugar da cabeça... (risos) E querem chegar a presidentes?... Atrasados d'um caralho (risos) O gajo já pensava como Presidente?... (risos) Presidente sou eu, carago, presidente da SAD do Belenenses, o maior clube do Mundo, a carburar desde 1919..., exatamente, 23 de setembro de 1919, Zé, nós somos o clube do Restelo, a zona onde moram as gajas mais boas do país..., g'anda Restelo, isto é que é ser presidente, e eu sou o presidente do Belenenses e tu vais ser o Presidente de Belém e de todos os Portugueses, carago, e é já de aqui a três meses, Zé, tá no papo!... Queres apostar comigo, queres apostar?...

Zé - Mano, o problema é que o Nódoa até tem algumas ideias, no outro dia, estava numa conferência, a falar de... de... acho que era... poderes e limites da palavra presidenciável, acho...

R.P.S. - De quê?... A falar de quê?... (risos) O que é que esses gajos percebem da realidade, do país real, do país que vota?... O que ganha, neste país, é sempre aquilo em que as velhas acreditam, mano, mai' nada, só ganha aquilo em que as velhas acreditam, aquilo em que as velhas não acreditam não ganha!... Isto é muito simples, muito elementar, Zé, tu olha sempre para as velhas, tu orienta-te pelas velhas, mano, e ganhas sempre. Tudo o resto são gajos a delirar, só gajos a delirar nesta merda, o "bêbado" dizem que é por que bebe, mas esses gajos é que parece que estão sempre "bêbados", carago, isto parece um país só de "bêbados", fogo!...

Zé - O problema é que se essa filosofia pega...

R.P.S. - Filosofia, qual filosofia, Zé?... Que é essa merda da filosofia?... Quem é que anda aqui a falar de filosofia?... Filosofia é contigo, Zé!... (risos) Contigo e com o João Constâncio, o filho do outro, carago!... (risos) Vocês são muito bons em Filosofia!... Sabem muito, e até de filosofia... (risos) Vocês são uns grandes filósofos, mano (risos)... Vocês são os maiores filósofos de Portugal!... (risos) Deixa-te disso, o país não precisa de filosofias, o país precisa é de cenas reais, de gajos com tomates, de gajos em quem o pessoal acredite, Zé, de pessoal como tu, de pessoal que meta confiança, pessoal em quem o pessoal possa confiar, um gajo sério, na Presidência da República...

Zé - E o Marcelo?...

R.P.S. - Qual Marcelo?... Quem é o Marcelo, pá?... Quem é que te meteu isso do Marcelo na cabeça, mano?... Esse gajo, quando se sentir apertado, desiste logo!... Esse gajo, quando souber que tu vais concorrer... (risos) o gajo até se borra todo, o gajo tem mais medo de ti que do ISIS, do Daesh, caralho..., o gajo não suporta concorrência, é daqueles que só concorre para ganhar, quando percebe que pode perder, começa logo a escorregar, a perder o gás... O gajo não tem discurso, pá, tu já "óviste" bem o gajo a falar?... Está sempre a dizer as mesmas coisas, sempre às voltas, sempre às voltas, sempre a repetir-se, o discurso dele acaba sempre com a mesma palavra, é sempre a mesma, "PSD"..., isso do PSD já foi, pá, o pessoal, agora, as velhas, são todas do PS, estão todas de maioria de esquerda, estão todas contigo!... Tu já viste bem como o Marcelo está, esse gajo está todo tremeliques, parece a múmia de Boliqueime, mas em versão intelectual!..., a múmia tinha ataques, punha a boca em O, pá... mas esse gajo, agora, está muito pior, parece um peixe, sempre a abrir e a fechar a boca, o gajo, entre duas palavras, parece que tem de vir à tona respirar..., esse gajo já não se safa, carago..., este país parece que só consegue amanhar candidatos com defeito, porra, só doentes, 'tá tudo com tremeliques, tudo a babar-se, e é por isso que tu vais ganhar, pá, se não for à primeira, vais à segunda, os indecisos juntam-se todos à tua volta, e fazes um pleno da esquerda, e do centro, e até da direita, que há muito pessoal que ainda se lembra das manhas todas que aprendeste quando andavas na juventude da JSD, grande escola, meu cabrão de merda!... Ah, g'anda escola...

Zé - E a Marisa?...

R.P.S. - Eh, pá, isso é outro filme!... Essa gaja é muito boa, foda-se, quando vi aquele cartaz disse logo, esta gaja vai longe, e até pode ir, mas quem tratava dela era eu... (risos) Marisa com todos, fogo, essa é bué forte, pôr ali logo no cartaz que... que... aviava todos, essa gaja vai à segunda volta, acredita, aliás, se houver segunda volta, vão ser só vocês os três, tu, o Marcelo e a gaja, mas no fim ganhas sempre tu!...

Zé - O Bloco vai apoiar-me???... Sinceramente... pá...

R.P.S. - Sinceramente... Pá, é assim, eu nunca fui dessas cenas, sabes que eu só tenho dois amores na minha vida, o Futebol Clube do Porto e o Belenenses, e, agora, as manas Mortáguas, foda-se, gajas tão boas, ali é que eu dava uma geraldina, punha as duas de perna aberta, sentadas em cima de uma mesa, ajoelhava-me... fogo, até podia ser de olhos vendados, a passar a língua de uma para a outra, eu acho que ia saber bué da bem, só pelo sabor, quem era uma e outra..., e depois levava as duas à segunda volta, ai, levava, levava..., e ah, g'anda segunda volta, e elegia as duas, à segunda volta, ai, não, que não elegia, caraças... ah, carago, que até já estou de pau feito!...

Zé - (silêncio)

R.P.S. - Foda-se!... Gajas tão boas!...

Zé - (silêncio)

R.P.S. - (silêncio) 'tás aí, Zé?...

Zé - (silêncio)... sim.

R.P.S. - Então ficamos como?...

Zé - Pá, eu não tenho nada contra, mas tem de ser uma coisa segura... E faz-se como?...

R.P.S. - Primeiro, vai ser preciso juntar fotocópias, fotocópias pequenas, grandes, apontamentos, documentos, livros, aquilo, a coisa, aquilo de que tu gostas muito, robalos, vinho, tudo o que vier à mão, e depois vamos buscar as fotocópias dos testes do Duda, mandar vir do país inteiro muitas garrafas, dentro de envelopes bem fechadinhos, e com fita cola (risos) vamos fotocopiar o país inteiro, e meter tudo dentro de envelopes, bem apertadinhos (risos). A tua campanha, Zé, vai ser um sucesso. Depois, temos de escarrapachar com essa merda toda nos jornais, nas televisões, na Net, no Facebook, no Tweeter. No "Notícias" a Nanda trata dessa cena, acho, a gaja é muito boa no que faz, primeiro, low profile, depois, mais assumido, uma cena a dar a cara, assim, repetida, com força, com militância, todos os dias... Não podemos é contar com o cabrão do Balsemão, mas damos a volta por fora, o que não falta são recursos, há o Paes do Amaral e a Fatucha...

Zé - Qual Fatucha?...

R.P.S. -  A Campos Ferreira, pá, essa puta já te fez bué d'a fretes, tirou-te de muitas merdas, ainda quando eras Prime, e de certeza que te faz mais, se a gente falar com ela, a gaja é segura, e é boa para a publicidade, pá, temos é de fazer a coisa com calma, nós temos... tu tens... mano, tu tens muitos amigos, acredita, mano, tu tens muitos amigos, pessoal que te deve muita coisa, e pessoal que gosta mesmo de ti, e pessoal que gosta só por gostar... sei lá, e depois tem de se fazer o anúncio público, dás umas conferências num sítio e noutro, e depois...

Zé - ... depois... E antes do depois?...

R.P.S. - Pá, o que é que queres saber agora?...

Zé - Pá, para todos os efeitos, eu ainda estou em domiciliária...

R.P.S. - Estás agora, mas não vais estar sempre, carago!... Ou vais?... Claro que não vais, aliás, o nosso esquema é dar a volta a isso, os gajos, mesmo que tivessem alguma coisa contra ti, e não têm, pá, acredita que esta merda vai dar toda em nada, não te esqueças de que estás em Portugal, na nossa terra, essa merda vai dar toda em nada, mas até lá tu és eleito, e ficas como o Berlusconi, com imunidade, pá, dez anos de imunidade, depois de dez anos quem é que já se lembra dessa merda toda?... Olha para o cavaco, não foi assim que o gajo se safou, enterrado até ao pescoço em merdas, no BPN, na Coelha, numa porrada de merdas, foda-se, o importante, agora é a eleição, e a domiciliária, pá... isso, isso... é uma coisa que se dá um jeito, é só um gajo querer, e dá-se um jeito, ou não é?...

Zé - Pá...

R.P.S. - Pá, não 'tejas preocupado, outra cena que tem de se fazer é calar as oposições, gente que gosta de fazer muito barulho... pá, a esses é cortar os pés antes de começarem a andar... Gajos que gostam de falar muito... a gente cala-os, arranja aí um tribunal para lhes calar a boca...

Zé - Mas um tribunal é mais complicado...

R.P.S. - É mais complicado o quê, carago, em que mundo é que tu estás?... Até parece que nasceste ontem, ó, Zé!... Os tribunais estão todos à distância de um telefonema, pá!... É o custo de uma chamada!... E se for naqueles pacotes grátis para todas as redes, ainda sai de graça...., ainda pagam!... (risos) Os gajos ainda te pagam... (risos) Temos é de telefonar para a pessoa certa!... E ficam com o bico calado para sempre!... Tem é de ser uma coisa bem feita, tipo, nem os deixar respirar, e se deixarmos essa merda bem tapada, acalmar uns quantos, a Cabrita, a Laranjo, e há esse gajo do "Sol", o Diogo Santos, esse gajo é perigoso, anda a tentar subir, já entalou o Relvas no "i", mas a gente trata dele, se for preciso, uns sapatos de betão, aliás isto não é para sempre, é só para durar meia dúzia de meses, depois, quando tu já estiveres eleito, os gajos podem ladrar à vontade, os gajos que ladrem, pá..., a ver se um gajo depois se importa, o importante é chegar lá, mas não te preocupes com isso, eu vou ver o gajo ideal para se telefonar, aliás, o ideal até era arranjar uma gaja, sim, uma gaja, as gajas são mais rijas, dão uma ordem e cai tudo logo de joelhos, é preciso é arranjar uma que tenha o rabo preso, para se mexer bem, olha..., estilo o Rangel, lembras-te?... foi só lembrar ao gajo que tinha o cuzinho a arder em Angola, a ver se o gajo não veio, muito meiguinho, comer à nossa mão... Veio, ou não veio, Zé?... (risos) Veio, ou não veio, logo, comer à nossa mão?... (risos) Parecia um passarinho, foda-se... (risos)

Zé - E tu tratas disso?...

R.P.S. - Claro que trato, Zé!... Alguma vez te falhei com alguma coisa?... Diz lá, alguma vez eu te falhei com alguma coisa?... Nunca falhei, pois não, por que ia falhar agora, carago?...

Zé - Rui, é verdade, confio em ti...

R.P.S. - E depois para arrematar esta merda toda, fazemos um almoço ou um jantar de apoiantes... Na Feira Popular até era o ideal, mas essa merda está toda fechada, é pena... Deixa cá ver... Pronto, fazemos na FIL, na antiga, talvez, a antiga fica mais próxima de Belém, e encenamos essa merda, os gajos vão lá para te ver, te apoiar... e depois... é isso, vou já mandar bué de convites, chamar o pessoal todo, para novembro, sim..., novembro é o melhor..., e quando estiverem lá todos a almoçar, Zé..., assim uma cena bué da íntima..., o pessoal a almoçar, todo empolgado, todo esquentado, pá, as garrafas a abrir, só gajos a olharem para ti... e então eu dou-te um toque com o pé, debaixo da mesa... e tu pedes um minuto de silêncio, mano, tu pões aquele teu ar sério, aquela pose de estado à Henrique Santana, que o pessoal adora, agarras no Soares pela mão, o gajo está choné, mas isso ainda põe as velhas mais comovidas, mais a chorar, mais concentradas em ti, e levantas-te, e dizes assim aos gajos..., pá..., isto é uma decisão irredutível, uma decisão irrevogável... e dizes que tu te vais candidatar à Presidência da República, pá..., vão chover palmas, as velhinhas a chorar..., apoios, it's raining men, meu... e, em janeiro Zé, em janeiro, já tu estás eleito, Zé, eleito nas calmas, Zé..., na boinha, meu, na imunidade, Zé, eleito o Presidente de todos os Portugueses!...


(Fim da gravação)




(Quarteto do José Sócrates Presidente, ah, pois, Presidente de todos os Portugueses, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")