sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O comportamento dos sistemas longe do equilíbrio, d'après Prigogine, com a Assembleia "Nacional" como miserável pano de fundo




Imagem do Kaos


Hoje, vinha escrever sobre a mulher mais poderosa do Mundo, mas a súbita degradação do clima social português obriga-me a voltar à teoria dos sistemas.

Num patamar eidético, todas as imagens televisivas, com as infindáveis montagens permitidas pelas televisões e outros órgãos de intoxicação social, são sulfurosamente mais poderosas do que o enunciar dos discursos. Algures, num desses canais de paralelização da Realidade, na forma de metadiscurso ideológico, passaram, ontem, imagens de violentas cargas policiais, entremeadas de um Cavaco, senil, e idêntico à imutável caricatura de si mesmo, que cultivou, desde os idos de 80.

No imediato, e no subliminar, a mão organizadora do instrumento visual estava a fazer um apelo à indignação, nas formas extremadas da sublevação.
Há um axioma da Sociologia que diz que, quanto menos forem sofisticadas as sociedades menos terá de ser sofisticado o encriptamento subliminar, e isto é um enunciado trivial, tão trivial que, para espectadores posicionados em patamares infinitamente afastados da base, como é o meu caso e o dos meus leitores, o caráter sistematicamente pouco elaborado dos processos de instigação torna-se inquietante, porque revela que o público alvo, decididamente, deixámos de ser nós, e a "target", neste momento, desceu aos tristes limiares da claque de Futebol-very-lights, dos apreciadores literais da "Casa dos Segredos" e dos tristes rastejantes de Fátima.

Num isomorfismo da Lei de Jakobson, e passe-se a controvérsia que, nos seus fundamentos, a abala, por excessiva simetria, há uma hierarquia do progressivo grau de intoxicação dos enunciados miméticos da Realidade que é inversamente proporcional ao nível crítico dos seus intervenientes.

Posto isto por palavras simples, há que perguntar aos atores dos crescentes combates de rua se têm consciência do que ali estão a fazer, em benefício de quem agem, e qual a real consequência dos seus comportamentos.

Num espaço teórico, comportamental, com N graus de liberdade, o que aproximaria a nossa análise da Utopia, mas simultaneamente lhe confere uma enorme franja de crítica, a quem queira desconstruir este texto, e num espaço de monitorização, com um número propositadamente mais restrito de níveis de variância, que poderei enunciar, para ajudar a acompanhar o raciocínio, o sucessivo crispar dos esgares do Saloio de Boliqueime, o precoce envelhecimento de Passos Coelho, ou o número de vezes que a palavra "filho da puta" é enunciada, por aposição ao nome de qualquer político, nesse espaço teórico de liberdade, como noutro texto referi, há uma aposta no tratamento topológico daquilo que designarei por hipersuperfície do descontentamento social dos Portugueses.

Por razões cartesianas, e aprioris kantianos, esse desenvolver topológico, que está a ser ensaiado através de gradientes ocultos -- para os incautos -- só nos é sensível e visualmente inteligível em cortes de dimensão máxima 3, ou seja, em eventos cuja tridimensionalidade nos seja acessível, embora comporte uma brutal elisão das restantes variáveis em jogo. Na verdade, o aumento de tensões, em níveis muito acima desses 3 graus, está a gerar aquilo que os comentadores de sola de sapato, como o Mister Marques "Magoo" Mendes, o perpétuo indignado Medina Carreira, que, por lapso, por fim -- descaiu-se!... -- se percebeu que papel estava, desde sempre, a desempenhar ali, o de arauto do colapso do Estado Social, uma criação dos governos liberais, para evitar o predomínio das correntes extremistas de teor marxista, como o recentemente desaparecido Hobsbawm bem acentuava, em contraposição com as correntes de "esquerda" de hoje, que já se esqueceram de que não têm dele a paternidade, a não ser na forma do "contra vós foi feito"; ou de outras anomalias, de patamar mais baixo, como aquelas que despacham o noticiário sério, em cinco minutos, para depois poderem estar a perorar meia hora sobre o que realmente interessa, o Futebol, a Seleção e o enxerto de porrada que o filho das barracas, Quaresma, deu no polícia.

As grandes culturas afundaram-se na proliferação dos espetáculos efémeros. Roma multiplicou-se nos combates sanguinolentos, ao ponto de levar à extinção muitas das espécies selvagens da orla afro mediterrânica. Constantinopla foi destruída, durante a revolta de Niké, por causa de lixo, ao nível dos clubes do Pinto da Costa, e daqueles que atiram petardos, naquela aberração arquitetónica -- o "berço" -- que os nossos fundos desviados construíram defronte do Colombo, tão má que conseguiu fazer do Colombo um Guggenheim de sarjeta, e a nossa civilização está-se a afundar nas drogas sintéticas e na iliteracia, que, numa meia dúzia de anos, se chegarmos a ter essa folga, levará a quem nem se perceba o que está escrito num cartaz de protesto.

Os sinais são sinistros. A América, afundada num deficit que faz parecer todos os deficits de todos os países da Europa brincadeiras de crianças, já nem escondeu que só estava à espera da caraça que iria ser eleita, para que a máquina oculta voltasse a pôr-se em marcha. Escolheram o caneco, e logo Tel Aviv foi bombardeada, para mostrar que a urgência era máxima. Se fosse o Romney, era o mesmo, porque a Guerra já está agendada. 
Afundados em fait-divers, como essas brincadeiras dos casamentos gay, entre outras, ou os sucessivos escândalos de pedofilia das hierarquias católicas, levam à enunciação de um aforismo, transponível para todas as sociedades anexas: quanto mais falam em casamentos "de ce genre", maior é o sinal de que estão divorciados da restante sociedade, a qual por extensão, acaba por ser a sociedade inteira, ou seja, o nível de divórcio dos políticos das massas é total e irreversível, já que os paliativos de redução de nível de violência são agora meramente transitórios.

Nas bancadas do derradeiro conforto, os manuéis alegres deste mundo, primeiras damas de honor da eleição e reeleição da Caricatura de Belém, continuam a falar do indivíduo, esquecendo-se de que a unidade mínima sociológica, nesta sociedade minada pelos excessos, pelas sobras e pelos inúteis, a unidade mínima é, hoje, a tribo, e, quanto mais primária, mais facilmente manipulável, nesta dinâmica do extermínio, que estamos a viver.

Já referi, e volto a referir, que os confrontos entre exaltados e barreiras policiais são mero desperdício de energia, já que, como alguns gritavam, "vocês (polícias) estão à frente, mas "eles" estão lá atrás", e isso deveria ser o leit motiv para os operacionais, que tardam a entrar em campo. A estratégia do Sistema é levar a topologia das massas, por extensão, a patamares de insustentabilidade de coesão, com superfícies de colapso de extensão e cronologia indiferenciadas, que levarão a um puro canibalismo dos processos. Estes germes de guerra civil deverão ser um dos mais sibaríticos momentos de contemplação e aplauso de quem, na sombra, está a elevar os patamares de entropia a tais níveis de insustentabilidade. Alguém terá de alertar as tribos que pensam estar a combater o inimigo de que o inimigo está, realmente, lá atrás.

Há uma corrente, pessimista, que diz que isto não é senão o começo, por mais que os anormais dos comentadores televisivos vos queiram fazer crer o contrário. Alguém utilizou a frase fatal de que esta violência era atípica, nos nossos processos sociais, o que é falso: ela costuma estar focalizada nos chamados alvos domésticos, ou semipúblicos, bater na mulher, violar crianças, queimar gatos, abusar de velhotas e animais, ou insultar os árbitros.
Deslocou-se, agora, para chamar "filho da puta" ao Passos Coelho, tratamento que ele nem merece, por estar substancialmente abaixo disso.
Esta violência, todavia, é a morfogénese de um sistema que, na ótica de Prigogine, tem estado demasiado longe dos seus patamares de equilíbrio, e é por isso que somos um povo atípico, já que a nossa normalidade são os patamares de instabilidade dos outros.
O que vem aí, agora que nos estamos a aproximar do desvio anormal da nossa idiossincrasia é... muito mau, e passará por coisas que não me apetece enunciar: citando os pessimistas, nada do que está a acontecer é o que parece, mas, tal como Hitler mandou incendiar o Reichtag, para dizer que tinham sido os Judeus, in extremis, o Parlamento acabará incendiado, antes do final do mês, como prenúncio de um "putsch", de extrema direita, em dominó, por todas as democracias do Ocidente, cujo sinal de arranque foi a reeleição de Obama, tal como poderia ter sido o advento de Romney.


Este é um texto desprovido de humor, pelo que é melhor terminá-lo com um sorriso: nos meus diários relatos da irrealidade quotidiana, para Laura "Bouche", exilada nas suas manilhas do broche algarvias, há sempre um suspiro de esperança: sonha com que os tumultos subam a Rua de S. Bento -- vulgo Rua Laura -- queimem o sacrário daquela que sustentava o Mundo, Amália Rodrigues, e lhe queimem uma das casinhas, mais a velha que mora por debaixo, e está sempre a telefonar aos Sapadores para cortarem a água à "vizinha", não vá a inundação engoli-la. A razão da vontade de ver a casota incendiada é elementar, o seguro cobre, pelo que fica já o convite ao movimento dos indignados: da próxima, em vez de apedrejarem polícias, peguem logo fogo à barraca da brochista!...

(Quarteto do ai-ai-ai, que vão desflorar a Senhora Bosca de Mota Amaral, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")

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